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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Tutuca recebe Bibi Ferreira para homenagem em escola da Faetec

 


Divulgação
Tutuca ao lado de Bibi Ferreira durante evento que homenageou pai da artista
Presença: Tutuca ao lado de Bibi Ferreira durante evento que homenageou pai da artista
Rio
Uma das mais importantes e consagradas atrizes brasileiras foi recebida na Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Pena, pelo Secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, Gustavo Tutuca. A escola que compõe a rede de ensino da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), preparou uma homenagem a seu pai, o ator Procópio Ferreira. Ao lado de sua irmã, a diretora e jornalista Lígia Ferreira, Bibi deu início à Semana Pedagógica 2013 da unidade, levando os alunos e ex-alunos a momentos de muita emoção.
Recebida com muitos aplausos, Bibi Ferreira demonstrou a todo tempo a satisfação de estar presente nesse momento da escola, que marca também o centenário de formatura da primeira turma de atores (1913/2013). Carinhosamente, ela retribuiu a recepção anunciando que irá doar todo o acervo de sua biblioteca teatral para a escola.
- Muito obrigada pela homenagem a meu pai. Fico muito comovida. É uma grande satisfação. Meu pai foi um homem singular, mas gostava de tudo no plural, ele ia gostar destes aplausos - disse a atriz.
Durante o encontro, o secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, Gustavo Tutuca, e o presidente da Faetec, Celso Pansera, ressaltaram a qualidade do ensino da escola teatral, reafirmando o compromisso do Governo do Estado de trabalhar para melhorar a estrutura do prédio, que é tombado.
Procópio Ferreira ingressou em 1914 na Escola Dramática Municipal (atual ETET Martins Pena) e estreou como profissional em 1917. O artista, que faleceu em 1979, aos 81 anos, chegou a interpretar mais de 500 personagens e entrou para a história do teatro no Brasil. Outros atores consagrados como Joana Fomm, Claudia Jimenez e Jayme Periard também passaram pela escola.
Durante o encontro, Bibi Ferreira e Lígia responderam a perguntas dos alunos sobre Procópio. Com muito bom humor, elas contaram passagens divertidas de seu pai no teatro. A equipe da ETET Martins Pena, que tem na direção o bailarino do Theatro Municipal Roberto Lima, produziu um vídeo com alguns momentos do ator. Ao fim da solenidade, os convidados se deliciaram com os quitutes feitos pelos alunos da Escola de Hotelaria de Quintino, coordenada pelo chef João Marcelo Coelho.
A programação da Semana Pedagógica segue até a próxima sexta-feira, dia 1º de março, com encontros de personalidades do cenário artístico como a bailarina Ana Botafogo, a coreógrafa Angel Vianna, a crítica de Teatro Tânia Brandão e o consagrado ator e diretor Aderbal Freire Filho. O objetivo é integrar os alunos com palestras e oficinas. O bloco Filhos da Martins e o Núcleo de Pesquisa Corporal em Dança para Atores também estão confirmados no evento, que acontece das 18h30 às 22h. A escola está localizada à rua 20 de abril, nº 14, Centro do Rio.
História da Martins Pena
A ETET Martins Pena foi fundada em 1908 e leva o nome de Luís Carlos MartinsPena, grande teatrólogo e um dos precursores da comédia de costume no país. Fundada sem um espaço determinado para abrigá-la, ocupou uma sala emprestada do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, no Instituto de Educação, na Avenida Venezuela e no Teatro João Caetano.
O endereço definitivo só veio em 1950 quando, a partir de 18 de dezembro, a escola passou a funcionar na rua Vinte de Abril, nº 14, em um prédio neoclássico de 1835, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) na década de 1930. O objetivo da escola era dar uma revolucionária base teórica e prática aos futuros atores. Em 2006, a ETET Martins Pena foi incorporada à Rede Faetec.
Última atualização em 26/02/2013, às 20h19


Leia mais: http://diariodovale.uol.com.br/noticias/2,69872,Tutuca-recebe-Bibi-Ferreira-para-homenagem-em-escola-da-Faetec.html#ixzz2M6rquXlW

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Jonas pede apoio a deputado para restauração da Igreja de Amparo

 

Divulgação
Reforma da Igreja está avaliada em R$ 2,5 milhões
Nossa Senhora do Amparo: Reforma da Igreja está avaliada em R$ 2,5 milhões

Barra Mansa
Tombada pelo patrimônio municipal em 2008, a Igreja de , recebeu nesta segunda-feira, (25) a visita do deputado estadual Gothardo Netto. A pedido do prefeito Jonas Marins, o parlamentar foi conhecer a paróquia e conversar com o pároco sobre o projeto de restauração do imóvel e de tombamento pelo Inepac (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural).
- Tenho muito carinho pelos moradores de Amparo e sabemos que a restauração da Igreja é um desejo forte da comunidade. Por isso, pedi o empenho do deputado estadual Gothardo para juntos conseguirmos realizar esse sonho - destacou o prefeito Jonas Marins.

De acordo com o padre Matias Moreira da Costa, a nave da Igreja está interditada desde abril de 2011, pois o forro está caindo e o telhado todo comprometido.
- Realizamos as missas e celebrações na Capela do Santíssimo, mas o espaço é muito pequeno. Além da reforma no telhado, precisamos urgente fazer a restauração de todo mobiliário de madeira, que está cheio de cupins, e a troca do sistema elétrico. Há risco iminente de incêndio, pois há fios em péssimo estado por todo lado - pontuou o pároco.
Segunda igreja mais antiga de Barra Mansa, o templo de Amparo começou a ser construído em 1834. A obra foi finalizada em 1865 e segue o estilo neoclássico. "Pelos registros, essa igreja é a única da região com paredes feitas de taipa de pilão", comentou o pároco, lembrando que em 2005 foi elaborado um projeto de Arquitetura para restauração completa da igreja.
"Na época, o custo total deste projeto era de R$ 2,5 milhões, valor inviável para financiamento com recursos da Cúria Diocesana. Só a reforma do telhado e a troca do sistema elétrico ficam em torno de R$ 1 milhão", disse o padre, destacando que já foi apresentado ao Inepac um projeto para o tombamento estadual do imóvel. "Se conseguirmos esse tombamento, a captação de recursos de empresas privadas se torna mais fácil".
Depois de conhecer as dependências da Igreja, Gothardo garantiu ao padre que irá levar a demanda ao vice-governador Luiz Fernando Pezão.
- Me comprometi com o prefeito Jonas Marins de apresentar essa demanda ao vice- governador para tentar viabilizar recursos para as obras. O primeiro passo será obter informações junto ao Inepac, para saber como está o processo de tombamento da Igreja e o que precisa ser feito para conclusão. Em seguida, vou entregar o projeto de reforma ao vice-governador e pedir que ele dê atenção especial. Quanto mais tempo a reforma demorar, mais a igreja vai se deteriorar - afirmou o deputado.


Leia mais: http://diariodovale.uol.com.br/noticias/0,69807,Jonas-pede-apoio-a-deputado-para-restauracao-da-Igreja-de-Amparo.html#ixzz2M1uMT4ZH

Barra Mansa terá nova feira livre

Barra Mansa

O prefeito Jonas Marins (PC do B) recebeu na tarde de segunda-feira, dia 25, um grupo de feirantes no auditório do Centro Administrativo para debater um novo modelo de feira livre no município. Os secretários municipais de Planejamento, Ronaldo Alves; de Desenvolvimento Rural, Leandro Maia; o superintendente da Fundação de Cultura, Cláudio Chiesse; e o vereador Beleza participaram do encontro.

Atualmente, 36 feirantes participam de feiras livres na cidade, que acontecem em diversos bairros. A intenção do governo municipal é organizar uma única feira livre, com padronização de barracas e promoção de eventos culturais. A ideia foi debatida com os feirantes, que puderam opinar sobre as condições que consideram necessárias para ampliação e melhoria da feira livre.
Com relação à padronização das barracas, o secretário de Planejamento, Ronaldo Alves, explicou que a prefeitura pesquisou modelos para facilitar o dia a dia dos feirantes. "Fizemos o projeto de barracas desmontáveis para agilizar o serviço e todas com o mesmo visual. Acreditamos que a feira vai ficar mais bonita e atrativa", disse o secretário.
Outra ação para melhorar as vendas é a introdução de máquinas de cartão de crédito e débito. "Para isso, o feirante precisa se tornar um empreendedor individual ou ser cadastrado no Super Simples. Dessa forma paga-se menos imposto e é possível vender muito mais, pois todo mundo hoje em dia utiliza cartão", explicou o secretário de Desenvolvimento Rural, Leandro Machado.
Para o vereador Beleza, o fortalecimento da área rural segue um ciclo: produção, comercialização e venda direta. "É na feira que há negociação direta com o consumidor e também resposta rápida. A feira é muito importante para este ciclo funcionar", reforçou.
O superintendente da Fundação de Cultura informou que projetos culturais da prefeitura, como o Música nas Escolas, poderão ter participação na feira. "Vamos dar oportunidade aos artistas locais e projetos da prefeitura para deixar a feira mais animada. Estamos confiantes que vai dar certo", disse Cláudio Chiesse.
"Envolvemos a Cultura para dar mais vida à feira. Nossa intenção é promover shows no fim da feira e fomentar a praça de alimentação", disse o prefeito, ressaltando que novos feirantes serão cadastrados e licenciados. Ele pediu aos secretários envolvidos rapidez nas ações. "Espero que em dois meses eu possa apresentar a nova feira", finalizou Jonas.


Leia mais: http://diariodovale.uol.com.br/noticias/4,69839,Barra-Mansa-tera-nova-feira-livre.html#ixzz2M1rVh97q

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Plano Estadual de Cultura será debatido em Barra Mansa





Na próxima quarta-feira, dia 27, Barra Mansa vai sediar a reunião regional do Médio Paraíba para apresentar e debater o Plano Estadual de Cultura. O encontro, realizado pela Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro em parceria com a Fundação de Cultura de Barra Mansa, reunirá gestores públicos e agentes culturais de 11 municípios da região para debater as propostas contidas no plano.

- O documento está em consulta pública no portal [www.cultura.rj.gov.br] e aberto a contribuições. Qualquer pessoa ou entidade pode participar - pontua Cláudio Chiesse, superintendente da Fundação de Cultura. Ele explicou que o Plano Estadual de Cultura está sendo criado a partir do diálogo com gestores públicos dos 92 municípios do estado, representantes de entidades, agentes culturais, artistas, Comissão de Cultura da ALERJ e o Ministério da Cultura para apontar diretrizes para as políticas públicas no estado do Rio de Janeiro.

- Ao final das reuniões regionais, a secretaria estadual irá sistematizar as contribuições recebidas e o novo documento será enviado à ALERJ, anexado ao Projeto de Lei Estadual de Cultura - explica Chiesse. Depois da aprovação da Lei Estadual de Cultura, serão definidas as ações e metas do Plano, derivadas das diretrizes e estratégias. O Conselho Estadual de Cultura, que será reformulado pela Lei Estadual de Cultura, terá um papel importante na discussão sobre as ações e metas.

- A sociedade civil, que produz nossa cultura, está, desde já, convidada a participar desta reunião em Barra Mansa. A contribuição de todos é fundamental para enriquecer e legitimar ainda mais esse processo - finaliza Chiesse.


Leia mais: http://diariodovale.uol.com.br/noticias/3,69783,Plano-Estadual-de-Cultura-sera-debatido-em-Barra-Mansa.html#ixzz2LxRonK80

Oscar: Vitória de Argo gera questionamentos e críticas no Irã


O anúncio da vitória do Oscar de melhor filme para "Argo", de Ben Affleck, realizado pela primeira-dama Michelle Obama, gerou forte repercussão no Irã. As agências de informação locais classificaram o filme de “distorção da história” e a participação da esposa de Barack Obama de “politização dos prêmios”.


Argo
Argo, de Ben Affleck 
"Argo" é uma história de ficção baseada em fatos reais que relata o resgate de seis funcionários da Embaixada dos Estados Unidos em Teerã em 1980, logo no início da Revolução Islâmica no país.

A agência Mehr afirmou que "o Oscar mais político" foi concedido para "um filme anti-Irã" e acrescentou que o fato de Michelle Obama ter feito o anúncio foi um claro indício da politização dos prêmios. Com este Oscar, "Hollywood sacrifica o cinema artístico e de qualidade para premiar as palavras políticas de ordem e a distorção da realidade", disse a Mehr, que destacou outro filme indicado, "Lincoln", de Steven Spielberg, como merecedor do prêmio de melhor filme.

A agência estudantil iraniana "Isna" afirmou que "Argo" é um filme que "distorce a história" e o classificou como "político". Segundo a Isna, Hollywood "tenta colocar um filme vulgar no mesmo nível das melhores obras do cinema" com esta premiação.

Já o cineasta iraniano Behruz Afjami, em comentários divulgados pela Mehr, afirmou que "Argo" foi produzido "com fins propagandísticos" e que o fato de ter ganhado o Oscar de melhor filme "é o maior golpe contra o prestígio da Academia de Hollywood".

No site do jornal "Aftab", outro cineasta local, Sirus Alvand, disse: "'Argo' não merecia o Oscar; se não fosse pelo tema, sua produção não o mereceria por nada".

A fita dirigida e protagonizada por Ben Affleck é um drama político sobre o rocambolesco resgate de seis funcionários da Embaixada dos Estados Unidos em Teerã em 1980, durante o episódio histórico conhecido como “crise dos reféns”, e também conseguiu os prêmios Oscar de melhor roteiro adaptado e melhor edição.

Após o triunfo da Revolução Islâmica do Irã, no dia 4 de novembro de 1979 um grupo de estudantes islâmicos, com apoio do regime, ocupou a Embaixada dos EUA em Teerã durante 444 dias, e mantiveram 66 cidadãos americanos como reféns no princípio, dos quais 52 ficaram até o final.

Em maio de 1980, Washington rompeu suas relações com Teerã, cujo regime era liderado pelo fundador da República Islâmica do Irã, o aiatolá Khomeini.

Fonte: Opera Mundi

Cooperifa: "A gente quer fazer poesia"


No bar do Zé Batidão não faltou cerveja; nem poesia. Por entre as mesas daquela quarta-feira à noite (30 de janeiro) o silêncio também era uma prece. Mas só para deixar que Zumbi ou Nossa Senhora pudessem se transfigurar a partir do microfone. Poderia ser dito,“se pá”, que aconteceu até declaração de amizade em forma de poesia. Entre as declamações como não se comover com a voz possante e pulsante de Dona Edite, uma das estrelas da noite?



Passada uma hora e meia de poesia, um dos maestros da noite, que quando criança passava o dia todo lendo no bazar do pai, pausa a venda de camisas do sarau para “trocar uma ideia” com o Brasil de Fato.

Cem anos de solidão o “chamou” para viver como poesia. Uma vez disse que, quando criança, não sabia que era pobre porque todos ao seu redor eram iguais: “Só quando visitei o Bexiga [bairro central de São Paulo], com seus prédios, compreendi melhor as coisas”. Para ele,“viver dói, por isso o sonho”. E agora, Sérgio Vaz? O que vai nos dizer na esquina do bar do Zé Batidão?

Brasil de Fato: Estou aqui em Piraporinha, zona sul de São Paulo, no Sarau da Cooperifa, quase que me sentindo numa igreja, mas no bom sentido da palavra. Você iniciou o sarau reforçando a necessidade do silêncio para que a poesia fosse escutada.Sérgio Vaz: Comungando a palavra, né... Já são doze anos de Cooperifa.

Eu acho que esse silêncio faz parte desses doze anos, como uma conquista da comunidade. Depois de adorar o deus chamado trabalho, as pessoas vêm aqui para comungar a palavra, a amizade. É isso que a periferia está vivendo, tem a violência mas existe a cultura também.

Brasil de Fato: No final do ano passado, num encontro literário no Sesc Belenzinho, você mencionou algumas influências como Clarice Lispector e Gabriel Gárcia Marques.SV: Minha influência é Clarice Lispector; escritores latinos que tinham uma pegada política, para chegar onde eu cheguei. Eu sempre gostei de ler. Para chegar nessa literatura que eu faço hoje eu tive que beber nessa fonte, essa a grande fonte. Eu acho que surgem poetas novos, jovens, que a gente tem que ler, mas os clássicos são os clássicos. São imprescindíveis.

Brasil de Fato: Você cresceu em meio a leitura?SV: Quem me influenciou foi meu pai. Na minha casa nunca faltou alimentos, nem livros. A gente sempre teve uma vida simples.

Brasil de Fato: Você tem elogiado bastante o livro Um defeito de cor, que conta a história do ponto de vista periférico.SV: Esse é um livro da Ana Maria Gonçalves. Ela investiga alguns escritos da época da escravidão, das pessoas que sentiram na pele aquele período. Ela descreve o que era um país colonial, a Bahia, Minas Gerais, o que era o Rio de Janeiro. É fundamental pra gente conhecer a nossa história da periferia, onde estão os negros e os pobres. Fala de luta. Fala de um monte de coisas que a gente precisa ouvir, mas escritas por aqueles que sofreram. Na verdade, não é o caçador que está contando, é a caça.

Brasil de Fato: Como você vê a mobilização política da periferia? Num sentido mais amplo, este sarau parece mostrar isso?SV: Ainda falta, mas as pessoas já estão se assanhando. Você vê que hoje, um bar, que antes só servia para embriagar, serve para reunir pessoas em torno da poesia. A gente não depende da prefeitura, não depende do Estado pra ter um espaço. A gente transformou o bar.

As pessoas precisam se conscientizar para que a gente não fique só reclamando. Tem que agir também. Reclamar como sempre e agir como nunca. As pessoas estão começando a se tocar que precisam trabalhar com que a gente tem. Continuar reclamando, mas fazendo. Se é uma praça, vamos para a praça; se é bar, vamos para o bar; se é igreja, vamos para a igreja. E eu acho que isso já está acontecendo. As pessoas estão usando o espaço que têm. Surgindo do povo para o povo. Não vindo de fora para dentro, mas de dentro pra fora. A Cooperifa é um movimento que não é meu, é da comunidade. Aqui se pode ler qualquer poesia. Isso era impensável há dez anos atrás.

Brasil de Fato: E, nesse sentido, uma participação maior do poder público seria positivo?SV: A função do governo, do Estado, é fomentar cultura. É obrigação do caras. Agora, cabe a ele entender que tipo de patrocínio deve conceder. Uma coisa é o Estado, outra é o governo. O Estado tem que fomentar cultura, e a gente tem que ir atrás porque é dinheiro nosso. Mas a Cooperifa não tem patrocínio, não tem nada. Ela se movimenta vendendo camiseta.

Brasil de Fato: Como podemos conceitualizar essa literatura que você e outros tantos, como Sacolinha, Alexandre Buzzo, Ferréz, e outros tantos fazem, e que a mídia corporativa não acompanha? É marginal? É alternativa?SV: Todas as nomenclaturas são boas. Suburbana, alternativa, marginal, divergente. Mas eu gosto de literatura periférica, porque nos pertence. Assim como a literatura grega é feita pelos gregos, a literatura negra é feita pelos negros, a literatura periférica é feita pela periferia.

Brasil de Fato: Como você analisa o mercado editorial para os escritores periféricos?
SV:
 A grande dificuldade é a distribuição. Mas uma coisa que a gente tem em comum é que a gente é marreteiro, né cara. A gente vende em escola, em porta de teatro. A gente vai pra cima. Não muda muita coisa. A gente não fica esperando a livraria Saraiva ou a Livraria Cultura. Os livros estão lá, mas a gente vai atrás do leitor. O Sarau da Cooperifa forma leitor, não forma escritor.

Brasil de Fato: Qual é a importância disso?SV: A formação do leitor é super importante porque o cara que lê se torna uma cidadão, e um cidadão muda o seu bairro. É disso que a gente precisa. O cara, quando lê, sabe para onde o ônibus vai, onde para; sabe em quem votar, sabe assinar o cheque. A gente começa a querer fazer coisas que nós queremos, e não o que os outros querem. Porque as pessoas que governam este país leem e leem muito. Então a gente tem que ler também para não sermos dominados.

Brasil de Fato: Como você vê o Hip Hop e os saraus da cidade? Que influência um tem sobre o outro?SV: A gente deve muito ao Hip Hop, que surgiu na periferia. O sarau complementou isso. A gente é convidado para ir ao show de rap e convida os caras para vir aqui. Então, isso é uma grande harmonia, porque todos somos da periferia. E a gente tem gratidão pelo rap que foi o primeiro que deu o grito da periferia. Na verdade, a gente está junto e misturado.

Brasil de Fato: Ao mesmo tempo, o funk também se espalha pela periferia paulistana. Longe de qualquer julgamento moralista, te questiono acerca desse fenômeno.SV: O que é o funk? O funk é o retrato da juventude da periferia. Se você quiser entender a periferia atualmente, você precisa ouvir o funk. Esse funk reflete a educação pública de má qualidade, a falta de segurança, a falta de saúde. Esse é o resultado. As crianças e jovens que tiveram e têm uma educação falida não podem escrever letras sobre Chico Buarque. As pessoas não têm onde ficar, não têm onde ir, aí colocam o som no carro e vão curtir. Agora, o que a sociedade tem que entender é que isso é o reflexo da educação que os jovens estão recebendo.

Brasil de Fato: Você está otimista em relação à ampliação do número de leitores dos escritores periféricos?SV: A nossa ideia é que as pessoas se apropriem da poesia, se apropriem da literatura. A gente não quer dominar o mundo, o país, a gente quer fazer poesia. Nossa ideia é mudar a comunidade. Se atingir outras pessoas, ótimo. Mas nossa ideia é mudar isso aqui. Interferir em nossa geografia, como diz o [poeta] Marcelino Freire.

Fonte: Brasil de Fato

(foto: Sérgio Vaz comemora os 12 anos da Cooperifa / imagem: Marcelo Min/Governo da Bahia)

Arquivo Nacional expõe acervo brasileiro reconhecidos pela Unesco


 
 Cena do filme “Limite”, de Mário Peixoto. (Portal Brasil / www.brasil.gov.br)

Quarenta e cinco acervos brasileiros que integram o programa Memória do Mundo da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) serão exibidos a partir desta terça-feira (26) em uma exposição com entrada franca no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro.


A mostra Arquivos do Brasil: Memória do Mundo comemora os 20 anos de existência do programa, criado pela Unesco para reconhecer como patrimônio da humanidade documentos, arquivos e bibliotecas de grande valor internacional, regional e nacional.

Os acervos brasileiros que estarão em exposição pertencem a diversas instituições, além do próprio Arquivo Nacional. O clássico filme Limite, de Mário Peixoto, sob responsabilidade da Fundação Cinemateca Brasileira, com sede em São Paulo, os manuscritos musicais de Carlos Gomes, da Fundação Biblioteca Nacional, e o Diário de Viagens do imperador dom Pedro II, do Museu Imperial, de Petrópolis, são alguns exemplos de acervos reconhecidos pelo Programa Memória do Mundo.

Entre os que pertencem ao Arquivo Nacional, serão expostos, em vitrines climatizadas, os originais de dois documentos de importância fundamental para a história do Brasil: a Lei Áurea e a sentença dos Autos da Devassa da Inconfidência Mineira. Com exceção de quatro filmes editados a partir dos originais, os acervos de outras instituições estão reproduzidos na mostra em cerca de 400 imagens, montadas em painéis, distribuídos por nove módulos.

“A exposição tem como objetivo tornar mais conhecido o Memória do Mundo e estimular outras instituições a inscreverem seus documentos no programa da Unesco”, explica Denise de Morais Bastos, curadora da mostra que também comemora os cinco anos de instalação do comitê nacional do programa. Segundo ela, a cada ano novos acervos são reconhecidos como patrimônio da humanidade. “Em 2012 foram nominados mais dez, mas como isso ocorreu em novembro não houve tempo hábil de incluí-los na exposição”, acrescenta.

O reconhecimento feito pela Unesco como patrimônio da humanidade se dá em três níveis: nacional (no caso, o Brasil), regional (América Latina e Caribe) e internacional. Nessa última classificação, estão enquadrados até agora apenas dois acervos brasileiros. São eles a Coleção Tereza Cristina, de fotografias que pertenceram à Família Imperial, e a Rede de Informações e Contra-Informações do Regime Militar do Brasil.

“O primeiro reúne desde fotografias que retratam a família imperial a outras adquiridas por dom Pedro II de importantes fotógrafos da época e as que foram tiradas pelo próprio imperador”, diz a curadora. Já o segundo acervo abrange uma vasta documentação pertencente a nove arquivos públicos estaduais sobre a perseguição política nos anos da ditadura.

Segundo Denise de Morais Bastos, a intenção do Arquivo Nacional é que a exposição, por seu caráter educativo, se torne itinerante, levada a outros estados brasileiros. No Rio, ela fica em cartaz até 7 de junho, com visitação de segunda a sexta-feira, das 9 às 18 horas. Visitas guiadas poderão ser agendadas pelos telefones (21) 2179-1291 e (21) 2179-1273. O Arquivo Nacional fica na Praça da República, 173, no centro do Rio.


Fonte: Agência Brasil


MinC: vale-cultura injetará R$ 300 mi na cadeia cultural em 2013


Promessa de campanha da presidente Dilma Rousseff, o Vale-Cultura terá sua regulamentação finalmente publicada nesta semana, com a ambiciosa meta de contemplar 1 milhão de trabalhadores, ainda em 2013, e injetar R$ 300 milhões na cadeia cultural. 


Projetado como carro-chefe da política de inclusão do Ministério da Cultura (MinC), o programa tem objetivos ainda mais ousados: alcançar, nos próximos anos, o patamar de 18,8 milhões de trabalhadores e R$ 11,3 bilhões em investimentos (leia texto nesta página).

Para aprovar a novidade no Senado, Marta Suplicy, à frente da pasta desde setembro, valeu-se de seu capital político, com o qual procura ainda destravar o moroso trâmite das reformulações da Lei Federal de Incentivo à Cultura (conhecida como Rouanet) e da legislação autoral.

A ministra começa a desenhar também uma reformulação que pode abalar as estruturas da Agência Nacional de Cinema (Ancine). "Eu me dei conta de que é preciso maior agilidade, menos burocracia e uma reforma estrutural", diz. As mudanças não devem atingir o presidente da agência, Manoel Rangel, cujo mandato termina em maio.

Com cinco meses de ministério, Marta reconhece a fase ainda de aprendizado, diretamente proporcional ao entusiasmo com que enumera desafios e planos: criação de editais para índios e pessoas com deficiência. Lançar candidatura no próximo ano, diz, está fora de cogitação. A seguir, trechos da entrevista concedida no Hotel Windsor, na Barra da Tijuca.

Valor: Como convencer empresários e trabalhadores a ingressar no programa Vale-Cultura, que depende de adesão voluntária?

Marta Suplicy: O desafio será o empresariado e fazer com que as pessoas de baixa renda ampliem seu leque para uma vasta programação. Faremos forte campanha de publicidade, a partir de junho ou julho, para mostrar as possibilidades para essas pessoas que nunca entraram numa livraria. O foco será as classes C, D e E, alcançando 69 milhões de brasileiros. Tentaremos chegar, neste ano, a R$ 300 milhões em investimentos, atendendo a 1 milhão de trabalhadores por mês. No futuro, com a meta de 18,8 milhões de trabalhadores, teremos R$ 11,3 bilhões injetados na cadeia criativa.

Valor: Como ocorre com a Lei Rouanet, somente empresas com lucro real poderão obter renúncia para utilizar o Vale-Cultura. Seus efeitos não ficarão, mais uma vez, restritos à região Sudeste?
Marta: Há dois nichos: as metrópoles e as cidades pequenas, onde a oferta é reduzida. Nordeste é um desafio, mas principalmente Norte, onde a existência de empresas capazes de ingressar no programa é infinitamente menor. Para variar, vai ter foco no Sudeste e carência lá em cima. Em algumas cidades não adianta chegar porque não tem o que consumir, não há livraria, cinema... Os dados do IBGE de 2008 são fortes: apenas 9,1% dos municípios têm sala de cinema, 92% dos brasileiros nunca visitou museu. O desafio é gigantesco, mas o impacto é fantástico, porque atuaremos, pela primeira vez, orientados pela demanda do consumidor.

Valor: A senhora acredita que o Vale-Cultura poderá realmente modificar esse quadro retratado por esses e outros dados expressivamente negativos do IBGE?Marta: Não acho que seja da noite para o dia, mas paulatino. No entanto, percebo que a população tem sede de conhecimento e nível de informação que não dispunha antes. Conversei com prefeitos de todo o Brasil, que recebemos em Brasília. Eles precisam ficar atentos, porque se não tiverem oferta perderão para a cidade vizinha. Invistam na produção cultural de vocês, verifiquem como abrir uma livraria. Vou repetir esses encontros com federações de indústrias, associações comerciais e prefeitos, para mobilizar.

Valor: Como preparar-se para essa demanda?
Marta: Não temos a menor ideia do que o povo quer, o que é instigante. Na exposição gratuita dos pintores impressionistas, houve filas no Rio e em São Paulo. Outro dia a porteira do ministério me disse que queria o Vale-Cultura. Perguntei: para ver o quê? "Teatro de rico, "Raimunda, Raimunda", com Regina Duarte, custava R$ 70 e perdi", ela respondeu. Era o sonho dela. Qual é o sonho desses brasileiros? Será que terão fome de cultura? Não sei. É fascinante, e teremos surpresas.

Valor: Boa parte dos investimentos da pasta é feita via renúncia fiscal, cuja escolha recai sobre o empresariado. Edital recente do Fundo Nacional de Cultura, desenhado para iniciativas sem vocação comercial, investirá apenas R$ 9,7 milhões. Qual a opinião da ministra sobre esse desequilíbrio?Marta: Não é assim que se faz política de Estado. Isso tem que acabar mudando. A existência da Rouanet é positiva, porque são mais recursos para a cultura [R$ 1,3 bi em 2012]. Temos um orçamento pequeno [a previsão é de R$ 2,8 bilhões em 2013, a ser votado pelo Congresso]. Cheguei em setembro e tive que me dedicar a muitas coisas, como a pauta diversificada no legislativo, e a entender como funciona o ministério, que possui mais de 3 mil pessoas.

"Qual é o sonho desses brasileiros? Será que terão fome de cultura? Não sei. É fascinante, e teremos surpresas"

Valor: A senhora executa uma agenda primordialmente de gestões anteriores. Qual será a marca própria da sua administração?
Marta: O nosso eixo é o da inclusão do cidadão na cultura, que é a cara da presidenta. Estou solicitando a cada entidade coligada [Ancine, Funarte, Ibram etc] que enumere prioridades nesse foco. Por que me esforço tanto pelo Vale-Cultura? Porque será uma revolução, assim como os CEUs [centro educacional unificado com enfoque esportivo e cultural, marca de sua gestão como prefeita de São Paulo], distribuídos em 300 localidades pobres do país e dedicados à formação artística e ao desenvolvimento de talentos. Tivemos a grata surpresa de deputados solicitarem 38 emendas para levá-los aos seus Estados. Virou uma febre.

Valor: Abraçado como uma de suas prioridades, o impacto do Procultura, que institui novas regras para o fomento e o incentivo à cultura e substituirá a Lei Rouanet, é ainda incerto, segundo o setor. O estudo do Ministério da Fazenda, que projeta maior captação, não traz embasamento consistente, o empresariado poderá assustar-se com o fim da isenção fiscal total que ocorrerá em algumas iniciativas e um buraco jurídico, com o fim da Rouanet, poderá paralisar o setor. Qual a avaliação da senhora?
Marta: O projeto prevê possibilidades de o produtor alcançar a pontuação necessária para obter os 100% de renúncia para o empresário. Basta abarcar, por exemplo, regiões desfavorecidas, o que será interessante para a sociedade. Tenho feito trabalho de fôlego com o deputado Pedro Eugênio [relator do projeto], e teremos uma transição suave da Rouanet para o Procultura, com prazo de adaptação. Do contrário, seria um desastre.

Valor: Qual o princípio que embasa a criação de editais para afrodescendentes, entre suas primeiras iniciativas, considerados discriminatórios para muitos? Seria uma reparação histórica?
Marta: Se fosse apenas uma reparação teórica, teria dúvidas. Trata-se de um dado de realidade: a pessoa negra não tem as mesmas possibilidades. Isso ficou evidente quando votamos, no Senado, a lei de cotas raciais nas universidades, e todos os senadores e auxiliares eram brancos. O único negro na sala era o senhor que servia café. Ficou gritante, e o projeto passou. Se for mulher, é pior ainda... Sempre fui preocupada com essas coisas, com as minorias, os gays... estou fazendo tudo o que é possível. Teremos ainda edital para índio, para deficientes, tudo o que der. Mas, olha, não há nenhum projeto para gay, pelo menos não pensei em nada até agora [risos].

Valor:A respeito de outro projeto em discussão, a reforma da lei dos direitos autorais, a senhora está convencida de sua necessidade e da criação de um órgão que fiscalizará o Ecad (Escritório de Arrecadação e Distribuição)?
Marta: Sim, mas também acho interessantes estudos que possibilitarão acompanhamento on-line. Vai ajudar muito ao Ecad tornar-se mais transparente, que ele diz que é, mas não é. Trata-se de um órgão importante, necessário, porém sem transparência. Como ministério, temos a responsabilidade de garantir o pagamento a todos os músicos, com toda a lisura.

Valor:O ministério, a pedido da presidente Dilma, promoverá ações nos grandes eventos esportivos, e a secretária-executiva Jeanine Pires é ex-presidente da Embratur. Não corre-se o risco de perder-se foco e recursos que caberiam ao próprio setor da cultura?
Marta: O problema da Copa não é a cultura. O problema da Copa é ter um time bom para ganhar. Vamos fazer a nossa parte. E não vamos gastar um tostão. A Rede Globo ajudará nos grandes eventos com cantores mais conhecidos. E s vamos fazer os "flash mobs" [ações públicas coletivas], que foram um dos maiores êxitos na Olimpíada de Londres, onde estive para saber como foi. E o voluntariado está sob a égide do Ministério do Esporte, pois temos um recurso muito pequeno para Copa.

"O desafio é gigantesco, mas o impacto é fantástico. Atuaremos, pela primeira vez, orientados pela demanda do consumidor"

Valor: Quanto?
Marta: Fiquei surpresa quando vi que era zero. Vou ter que tirar do Fundo Nacional de Cultura. Por isso que a nossa contribuição será nesses moldes.

Valor: Em maio, termina o mandato de Manoel Rangel na presidência da Ancine, que já declarou a sua saída. Qual a política esperada do próximo a ocupar o posto, a ser indicado pela ministra?
Marta: Manoel Rangel é um excelente presidente da Ancine, que não é regida pelas mesmas regras de outras agências. Portanto ele não tem que sair. Está em aberto.

Valor: Mas ele afirmou que deixará o órgão.
Marta: Foi muito elegante de sua parte. Mas isso precisa ser conversado. Manoel tem importância grande neste momento porque, com a aprovação da lei da TV por assinatura [que estabelece cotas de conteúdo nacional na televisão paga], a Ancine passou a receber R$ R$ 700 milhões por ano. Uma instituição que era voltada para o mercado de filmes agora abarca todo o audiovisual. Dada à quantia e às pernas que a Ancine possui hoje, temos de pensar em um novo modelo. Estou trabalhando nisso. Eu me dei conta de que é preciso maior agilidade, menos burocracia e uma reforma estrutural.

Valor: Já que considera tímido o orçamento da pasta, os recursos destinados à Ancine não seriam desproporcionais?
Marta: Ao observarmos que, dos R$ 2,2 bilhões do orçamento de 2012, R$ 700 milhões foram para a agência, percebemos a importância que a presidenta está dando ao cinema nacional. Se estivesse na pasta na época, teria considerado a decisão absolutamente correta. Temos os talentos, 200 milhões de habitantes e o Vale-Cultura chegando. Está sendo alinhavado todo um processo de deslanche. Um país que não possui um cinema que o represente não tem a cidadania que ainda precisamos buscar. Hoje, um dos instrumentos mais importantes de uma nação é o seu "soft power" [diferencial cultural que se impõe naturalmente]. Qual é o nosso? Temos futebol, Carnaval, uma cultura de festa, mas se a gente for pensar no papel de Hollywood para os Estados Unidos, ou dos cinemas italiano e francês, temos a dimensão de que são quase tão fortes quanto monumentos.

Valor: Pode-se esperar mudanças na Biblioteca Nacional, cujo prédio continua em estado precário, e a transferência da política do livro para Brasília?
Marta: As obras estão começando, já que o recurso foi finalmente descontingenciado. Estou estudando a questão da política de leitura, acho que faz mais sentido a separação, mas não está definido. Veja, o número de coisas que temos de cuidar nesse ministério... e olha que sou rápida... Tenho dois anos para conseguir esses avanços.

Valor: Mas a senhora passou o Carnaval encontrando-se com aliados da base. A política não a chamará de volta nas eleições de 2014?
Marta: Nem pensar. Estou gostando muito da função, sinto que estou sendo uma boa ministra. Mas nem comecei a entender tudo que é preciso. Na hora que tomar as rédeas, teremos um desempenho muito bom. Não posso pensar em ser candidata, acabei de entrar. Sou senadora, estou na política e não tenho preocupações eleitorais. Até 2018 sou senadora e estarei voltada para a cultura do país e em deixar uma marca para o governo da presidenta. 

Fonte:
 Valor Econômico

Jandira: Interesses da sociedade como prioridades em 2013


A sociedade brasileira, cada vez mais, exige de seus representantes uma postura ética e uma atuação voltada para a defesa dos interesses coletivos. No início de mais uma sessão legislativa é nosso dever concentrar o debate em propostas que atendam aos anseios dos mais diversos setores e, ao mesmo tempo, tornem nosso sistema político mais democrático e transparente.


Por Jandira Feghali* 


Nossas ideias devem estar a serviço de tais objetivos para que as expectativas de brasileiros e brasileiras encontrem eco nos trabalhos do Congresso Nacional. Para tanto, a bancada do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) no Congresso Nacional, elegeu, esta semana, os projetos que considera prioritários para a pauta de Plenário.

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Uma das medidas eleitas, em benefício do trabalhador, é a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 393/2001, que reduz a jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais. Na mesma área, também lutaremos pela aprovação da PEC 556/02, que concede aos trabalhadores seringueiros os mesmos direitos concedidos aos ex-combatentes: aposentadoria e pensão especiais, por exemplo.

Articularemos a votação do PL 3299/2008, que extingue o fator previdenciário. A matéria modifica a forma de cálculo dos benefícios da Previdência Social, beneficiando diretamente o trabalhador no momento de sua aposentadoria, uma vez que a aplicação o fator penaliza todos os segurados que ingressam cedo no mercado de trabalho formal, reduzindo o valor das aposentadorias. O projeto já foi aprovado nas comissões e aguarda votação em Plenário. O Brasil todo pede para que isso aconteça.

Na Saúde, além de tantas outras matérias que terão nosso esforço contínuo, merecerá destaque o Projeto de Lei 2295/2000, que estabelece a jornada de trabalho de 30 horas semanais para a enfermagem. Nossa bancada traçará firmemente os passos para negociação da matéria com líderes de outros partidos e a presidência da Casa, articulando sua votação até junho –atendendo o pedido das entidades ligadas à luta da categoria. A aprovação do PL na Câmara também vai ao encontro das necessidades de melhorias do Sistema Público de Saúde, visto que uma jornada de trabalho menor para a enfermagem reduz o desgaste físico e emocional dos profissionais, gerando um atendimento mais qualificado para os pacientes.

Outro avanço significativa que precisamos concretizar é a votação do PL 2126/11, que institui o Marco Civil da Internet Conforme institutos de pesquisa relatam constantemente, o cidadão brasileiro é um dos usuários mais conectados à internet no mundo, chegando a mais de 70 horas por mês. Essa realidade reflete a necessidade de que as ferramentas para uma comunicação ágil e plural sejam disciplinadas o quanto antes. 
A Lei do Marco Civil, ao garantir a neutralidade da rede – mantendo a conexão segura e democrática – ampliará mais ainda os nossos horizontes na web, com segurança e democratização.
Nosso desejo também é que a reforma política seja votada nos próximos meses, instituindo o financiamento público de campanhas, democratizando o acesso às instâncias de poder e criando mecanismos de controle social, aproximando eleitos e eleitores. Desta forma, a sociedade poderá legitimar aqueles que possuem apenas um interesse: representá-la politicamente.
Vamos à luta!

*Jandira Feghali é deputada Federal PCdoB/RJ. 

Projeto para democratizar Portinari é apresentado no Alemão


A Praça do Conhecimento, espaço de inclusão social e digital da comunidade Nova Brasília, no Complexo do Alemão, na zona norte da capital fluminense, foi o local escolhido para a apresentação na última sexta-feira (22) do Portinari para Todos, proposta do novo portal do Projeto Portinari.


Portinari 
A Descoberta da Terra, de Candido Portinari 1941
O trabalho é resultado de 33 anos de pesquisa. Foi feito um levantamento completo e uma catalogação minuciosa da obra do pintor Candido Portinari, que está 95% indisponível ao público em coleções privadas. A coordenadora-geral do portal, Maria Duarte, disse que o projeto conseguiu localizar mais de 5 mil obras, entre pinturas, gravuras e desenhos. E agora está tudo disponível para consulta na internet.

“A gente brinca que começou a trabalhar no projeto há 33 anos. Mas, efetivamente, ele começou a ser idealizado há dez anos, quando a gente estava organizando a celebração do centenário de Portinari. Infelizmente na época a gente não conseguiu levantar os recursos para fazer, já que não é um projeto simplesmente de web, de interface para o público em geral. Ele tem uma parte de base muito importante, muito complexa que fala diretamente com o acervo do Projeto Portinari.”

O acervo conta com cerca de 30 mil itens, entre obras, cartas, fotografias e depoimentos relacionados ao pintor e também a personalidades que conviveu com Portinari como Oscar Niemeyer, Carlos Drummond de Andrade, Luís Carlos Prestes e Afonso Arinos. De acordo com Maria Duarte, a ideia é que o visitante do portal tenha uma experiência de imersão na vida e na obra do pintor, em um conceito novo de disponibilização de conteúdo na web.

“Eu não estou falando de um portal que simplesmente é um formulário que você preenche para acessar o acervo de um artista. Ele traz uma nova premissa, de experiência sobre o acervo. Eu quero que o usuário mergulhe nesse acervo, que ele se perca nesse acervo.”

A capa do portal traz um mosaico com a obra completa de Portinari. Além do menu tradicional, com informações institucionais, biografia e créditos, é possível fazer buscas no acervo usando filtros como tema das obras, suporte, técnica ou mesmo cor e busca por palavras aleatórias. “O portal traz o lado lúdico. Se você chama uma criança e fala 'vamos olhar um acervo', ela vai dizer 'prefiro jogar futebol'. Então, se ela gosta de futebol, vamos buscar aqui 'futebol', e vai aparecer um mosaico com obras de Portinari sobre futebol”, explicou.

De acordo com ela, o projeto do portal é único. “A gente fez uma busca e não há no mundo um site de um artista, sobre a obra de um artista, tão complexo, tão estruturado como o que a gente está lançando. A gente foi muito feliz em ousar, em sair do tradicional de pesquisa de acervo e pensar de que forma apresentar esse acervo ao grande público”.

O menino Gabriel Ramos de Oliveira, de 10 anos, gostou do portal, apesar de não conhecer a obra de Portinari. “É legal, mas os quadros são meio esquisitos”, disse.

A técnica de enfermagem Jurema da Conceição já tinha visto uma exposição do artista, mas com o portal gostou de conhecer outros quadros. “Achei ele incrível, porque conseguiu refletir a nossa realidade, lá no passado, mas contemporânea hoje. Reflete muito as características do povo e a personalidade de um homem muito à frente da sua época, porque o que pintou ontem, não mudou, continua atual.”

Maria Duarte lembra que Portinari foi quem mais pintou o seu próprio país. “É um pintor que deixou para a gente mais de 5 mil obras sobre o Brasil, sobre a nossa identidade, sobre a nossa cultura. Eu acho que conhecer Portinari é se conhecer, é conhecer o nosso país, o nosso Brasil”.

Candido Portinari nasceu em 1903, em uma fazenda de café perto de Brodowski, em São Paulo, filho de imigrantes italianos de origem humilde. Começou a pintar aos 9 anos de idade e, aos 15, se mudou para o Rio de Janeiro e se matriculou na Escola Nacional de Belas-Artes. Em 1928, ganhou como prêmio uma viagem à Europa, onde decidiu pintar sua terra natal.

O pintor participou ativamente da elite intelectual brasileira na época em houve uma grande mudança na atitude cultural, quando a estética passou a refletir os problemas do mundo e a realidade do país. Na década de 1950, pintou os painéis Guerra e Paz para a seda da Organização das Nações Unidas (ONU). Portinari morreu em 1962, em consequência de intoxicação por tintas.

Fonte: Agência Brasil 

Kabalevsky: um compositor comunista dedicado as crianças


Nascido no dia 15 de fevereiro de 1904, o compositor russo Dmitri Borisovich Kabalevsky, completaria 109 anos. O caminho para a matemática estava preparado por seu pai, mas o piano logo se tornou algo primordial em sua vida, vindo a tocar durante exibições de cinema mudo.

 


 

Aos 25 anos ingressou no Conservatório de Moscou, se tornado no ano de 1932, professor da instituição.

Durante a 2ª Guerra Mundial adere ao Partido Comunista, se tornando durante o período editor da revista “Sovetskaya Muzyka”, que teve seis edições durante o esforço de guerra.

Ganhou muitos prêmios na União das Republicas Socialistas Soviéticas (URSS) como: três prêmios Stalin, Artista do Povo da URSS, Quatro Ordens de Lênin, Ordem da Bandeira Vermelha do Trabalho, assim como outros prêmios.

Uma das maiores contribuições Kabalevsky foi o trabalho de inserção das crianças no universo da música, fato que comprovado rapidamente apenas numa busca sobre ele no youtube. Dirigiu um projeto de educação musical em 25 escolas, aplicando o método para crianças de sete anos. O método seduziu o mundo, tendo um livro publicado nos Estados Unidos da America (EUA), com o titulo “Música e educação: um compositor escreve sobre educação musical”.

Muitos alunos buscaram aprender com Kabalevsky, um exemplo foi o americano da Pensilvânia, Leo Smit, que a mãe levou dos EUA para a URSS, aprender piano e música.
Suas gravações em discos foram realizadas no ano de 1966, mas só foram autorizadas a serem reproduzidas nos EUA no ano de 1975, com os seguintes nomes: “Overture Pathetique, Spring and Songs or Morning (Patética Overture, Spring e músicas ou de manhã)”.

Atuação musical a favor das crianças, fez com que tivesse livre transito pelo mundo e participasse do Governo na Comissão de Soviética da Defesa da Paz.
É conhecido no ocidente pela composição “Os Comediantes”. Mas compunha para piano, orquestra, violino, coral, dentre outros.

Feras Radicais: Filme a Indomável Sonhadora, de Benh Zeitlin


A pequena Hushpuppy criou um mundo próprio para lidar com os infortúnios de uma infância que está longe de ser aquela idílica para a idade. Tece longos monólogos, ou ainda, acredita conversar com um ser grandalhão que só ela vê. Seu cotidiano brutal justifica o esforço de imaginação.


Por Orlando Margarido, da Carta Capital


 
Na banheira. Dwight Henry e Quvenzhané Wallis em seu habitat hostil
A menina cresce numa zona pantanosa da Louisiana, chamada nos Estados Unidos de bayou e para os moradores apelidada de banheira pelas constantes inundações que ali ocorrem.

A força destruidora da natureza, no entanto, não é menor que o desprezo do pai viúvo e cada vez mais fragilizado, que à sua maneira tenta preparar a filha para a rudeza do destino. Este ambiente surpreendente e uma protagonista de tão pouca idade como Quvenzhané Wallis fazem de Indomável Sonhadora, estreia da sexta 22, um dos filmes mais vigorosos do ano.

O diretor Benh Zeitlin, que como sua notável pequena atriz está indicado ao Oscar, nos traz em sua estreia no longa-metragem uma façanha ao fixar sua câmera realista nessa comunidade esquecida e flagelada, ao mesmo tempo sofrida com o entorno e dele dependente para sobrevivência. Apesar das vicissitudes, o drama coletivo caminha para um sentido redentor quando um novo desafio se impõe, o que também é decisivo para uma revelação entre pai e filha. 

Essas feras de um território selvagem, como aponta o título original adaptado a uma versão nacional duvidosa, surgem condenadas na angústia daquela existência, mas como tal sabem perseverar nela.

Título original do artigo: Feras radicais

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Raiz de muito samba

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Rosa Minine   

Poetisa, cantora e compositora de samba, Maíra Santafé vem marcando presença como representante de uma nova geração que ama e luta pelo ritmo, sua cultura. Vencendo barreiras, como a que chama de 'um ambiente machista', e a falta de patrocínio, a sambista de Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, se prepara para gravar seu segundo disco, enquanto se apresenta a todo vapor em shows solo.

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Maíra foi muto incentivada por Noca da Portela
— Minha carreira musical é consequência da vivência que tive desde menina. Sou filha de um casal de jornalistas, cresci em uma casa onde o hábito da leitura sempre foi muito intenso. Logo me interessei por crônica e poesia, e comecei a escrever. Inclusive, meus pais e meu irmão também são poetas — conta Maíra.
— A partir de 2005, as letras das minhas poesias passaram a vir junto com melodias, tudo misturado na cabeça. Porém, antes disso, desde 1999, já trabalhava com música, participando de um grupo de amigos roqueiros como segunda voz. Também tive experiência de palco com o teatro, que fiz por muito tempo — continua.
— Mas o samba falou mais alto, até porque sempre fez parte da minha vida. Meus pais se separaram e tive um padrasto, o Miguel, que era compositor e tocava surdo na bateria da Mangueira. Fazia muitas rodas de samba no quintal da nossa casa. Me lembro até que eu queria tocar surdo também, mas era enorme e não conseguia segurar — comenta.
O primeiro CD de Maíra, Raiz de Samba, 2010, foi o ponto de partida para sua carreira solo.
— Tinha muitas músicas guardadas e decidi enfrentar a questão financeira e o machismo que existe no mundo do samba, por incrível que pareça até os dias de hoje, e mostrar meu trabalho em um disco autoral. No meio, eles até aceitam a mulher cantando, mas compondo é meio complicado — declara.
— Não estou dizendo que todos são machistas, mas sim que é um ambiente bastante machista. Basta lembrar que Dona Ivone Lara no início da carreira teve que usar pseudônimos, e seu primo, Mestre Fuleiro, assinou músicas suas, porque mulher não podia ser compositora de samba. E tem outros casos semelhantes — continua.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Projeto beneficia juventude negra de Barra Mansa

 
Município é o único do estado do Rio a ter unidade do Nufac; primeiros benefícios são oficinas de cultura e formação de renda

Barra Mansa
O caminho foi longo. O processo de escolha da instituição que ganharia o direito de implementar uma unidade do Núcleo de Formação de Agente Cultural da Juventude Negra (Nufac), foi feito pelo Ministério da Cultura e pela Fundação Palmares. Mais de 200 instituições do país responderam ao Edital de Chamamento, entre as quais faculdades federais e estaduais.
O primeiro lugar do Brasil ficou com a ONG Amigos na Cultura, que, em sua proposta, destacou, principalmente, sua metodologia própria de ensinamento, com capacitação além da formação técnica para o trabalho. A posição na concorrência rendeu a única unidade do Núcleo no estado do Rio de Janeiro, em Barra Mansa.
Para o diretor-executivo da ONG, Marco Aurélio, além da formação para elevar a fonte de renda dos jovens e das suas famílias, o núcleo será um lugar para a formação de cidadãos. “É importante afirmar a relevância do mesmo para promover a necessária valorização das matrizes culturais que fizeram do Brasil o país rico, múltiplo e plural que somos. Atuando desta forma de acordo com a lei 10639/2003, que estabelece o ensino sobre a África e a cultura Afrodescendente”, destacou.
Os benefícios já estão começando a chegar. O primeiro deles são as oficinas de cultura e geração de renda, que oferece 200 vagas para cursos de Produção Cultural, Produção de Vídeo, Editoração Eletrônica, Operador de Áudio e Figurinista. Além disso, os alunos de todos os cursos terão formação em Histórias da África e da Cultura afro-brasileira, uma vez que o Nufac é direcionado a jovens negros.
“Além do benefício social que o Nufac vai proporcionar aos moradores do município, ainda vai formar profissionais em uma área que sofre carência na região, com qualificação profissional de jovens que estão à margem da sociedade”, frisou a coordenadora geral de projetos da ONG Amigos na Cultura, Renata Cipriano.
Os beneficiados são os moradores dos bairros Paraíso de Cima, Vista Alegre e Getúlio Vargas, que foram escolhidos respeitando as exigências feitas pelo próprio edital. A seleção para as oficinas será realizada nas unidades do Ciep dos bairros citados, para todos os jovens dos bairros e não só para quem estuda nos Cieps. As oficinas serão realizadas nos locais das inscrições e no Centro Universitário de Barra Mansa (UBM), também parceira da ONG Amigos da Cultura no projeto.
Inscrições
Os interessados em participar das oficinas devem procurar os seguintes Cieps: 292 Jandira Reis de Oliveira, no Getúlio Vargas, CIEP 483 Municipalizado Ada Bogato, no Paraíso de Cima e Ciep 493 Profª Antonieta S. Castro, no bairro Vista Alegre.
Como pré-requisitos descritos em projeto, a equipe de técnicos, incluindo assistentes sociais, selecionará jovens negros, matriculados na rede pública, levando em conta aspectos sociais. Os jovens receberão uma bolsa-auxílio de R$ 100,00. O período de inscrições termina nesta sexta-feira, dia 22 de fevereiro.

O NUFAC e Sobre o Amigos na Cultura
Neste ano de 2013, o Amigos na Cultura está entre as 10 instituições no Brasil que implantarão o Nufac. O programa escrito pelo Amigos na Cultura recebeu a maior nota de todo o Brasil na avaliação do Governo Federal. Barra Mansa será a única cidade do estado do Rio de Janeiro a receber o projeto.
O Amigos na Cultura é uma Organização Não Governamental que realiza projetos socioculturais na região Sul Fluminense visando contribuir com o desenvolvimento social e humano de jovens moradores das comunidades periféricas através de projetos socioculturais, em parceria com a iniciativa privada e o poder público nas três esferas governamentais.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

CURSO DE DESENHO ARTÍSTICO

 ESTÃO ABERTAS AS INSCRIÇÕES PARA O CURSO DE DESENHO ARTÍSTICO "ATELIER ESCOLA"/ PAC - 2013.

- Turma Profissionalizante (a partir dos 15 anos de idade).

- Dias: Segunda-feira e Quarta-feira.

- Horário: das 19 às 21 horas.

- LOCAL: PAC ---> Rua Pedro Vaz, Nº1, 
Centro - Barra Mansa/RJ.

- Valor da Mensalidade: R$ 60,00

- Inscrições no PAC de Segunda a Sexta, 
de 14 as 19 Horas.

Vagas Limitadas - (apenas 10 vagas) 
OBS: As vagas serão destinadas as primeiras dez pessoas interessadas que pagarem a taxa de inscrição do curso - 60 reais. 

CULTURA POPULAR, UM CONCEITO E VÁRIAS HISTÓRIAS

 

Martha Abreu 
In: Abreu, Martha e Soihet, Rachel, Ensino de História, Conceitos, Temáticas e Metodologias. Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2003.
 

                        Cultura popular é um dos conceitos mais controvertidos que conheço. Existe, sem dúvida, desde o final do século XVIII; foi utilizado com objetivos e em contextos muito  variados, quase sempre envolvidos com  juízos de valor,  idealizações,  homogeneizações e disputas teóricas e políticas.   Para muitos, está (ou sempre esteve) em crise, tanto em termos de seus limites para expressar uma dada realidade cultural, como  em termos práticos, pelo chamado avanço da globalização, responsabilizada, em geral, pela internacionalização  e homogeneização das culturas.   
Por outro lado, se cultura popular é algo que vem do povo, ninguém sabe  defini-lo muito bem. No sentido mais comum, pode  ser usado, quantitativamente, em termos positivos - "Pavarotti foi um sucesso popular" -  e negativos  -  “o funk é popular demais". Para uns, a cultura popular equivale ao folclore, entendido como o conjunto das tradições culturais de um país ou região; para outros, inversamente, o popular desapareceu na irresistível pressão da cultura de massa (sempre associada à expansão do rádio, televisão e cinema) e não é mais possível saber o que é originalmente  ou essencialmente do povo e dos setores populares. Para muitos, com certeza, o conceito ainda consegue expressar um certo sentido de diferença, alteridade e estranhamento cultural em relação a outras práticas culturais (ditas eruditas, oficiais ou mais refinadas) em uma mesma sociedade, embora estas diferenças possam ser vistas como um sistema simbólico coerente e autônomo, ou, inversamente, como dependente e carente em relação à cultura dos grupos ditos dominantes.   
Para alguns historiadores atuais, como Roger Chartier, sempre  foi impossível saber (ou mesmo não interessa descobrir) o que é genuinamente do povo  pela  dificuldade ou mesmo impossibilidade de se precisar  a origem social das manifestações culturais, em função da histórica relação e intercâmbio cultural entre os mundos sociais, em qualquer período da História.  De qualquer forma,  Chartier está coberto de razão em alertar, com uma boa dose de denúncia, ser o conceito de cultura popular  uma categoria erudita, que pretende  “delimitar, caracterizar  e nomear práticas que nunca são designadas pelos seus atores como pertencendo à cultura popular”. Sempre há o risco, continua o historiador francês, de se ficar  incessantemente procurando  uma suposta idade de ouro da cultura popular, período onde ela teria existido “matricial e independente”, frente a épocas posteriores, onde a dita cultura popular teria começado a ser perseguida por autoridades eruditas ou desmantelada pelos irresistíveis impulsos da  modernidade[3]. 
Apesar de todos os problemas apontados e dos diferentes sentidos  que a expressão  vem recebendo, insisto e costumo defender que o conceito é válido e útil para os profissionais de História.  Antes, porém, é bom não perder de vista que,  como todo o conceito, o de cultura popular também constrói identidades e possui uma história. Neste caso, várias histórias, que recuam ao final do século XVIII -  com o filósofo Herder - sempre ligadas aos sujeitos e movimentos sociais que o trouxeram a tona (ou o recriaram) e o elegeram como fundamental. Esta história é para mim a chave das dificuldades que são atribuídas ao conceito.  A chave para o encaminhamento da discussão sobre cultura popular.  Ao aprofundarmos a história do conceito de cultura popular, realizamos uma operação que subverte os seus sentidos universais, ahistóricos, ideológicos e políticos  que costumeiramente lhe são  atribuídos. Como afirma Nestor Canclini, deve-se desconstruir as operações científicas e políticas que colocaram em cena o popular[4]. 
 Sendo assim, um dos meus objetivos aqui é exatamente chamar a atenção dos profissionais de História para  a importância de se pensar  a história do conceito de cultura popular  e dos significados políticos e teóricos que o conceito recebeu ao longo do tempo,  sempre  historicamente construídos ou inventados (por isso, o envolvimento com as questões políticas e ideológicas de seu próprio tempo).
  Antes, porém, é bom deixar claro que não entendo cultura popular como um conceito que possa ser definido a priori, como uma fórmula imutável   e limitante.  Talvez possa ser visto como uma perspectiva,  no sentido de ser mais  um ponto (de vista) para se observar  a sociedade e sua produção cultural. O fundamental, no meu modo de ver,  é considerar cultura popular como um instrumento  que serve para nos auxiliar, não no sentido de resolver, mas no de colocar problemas, evidenciar  diferenças e ajudar a pensar a realidade social e cultural, sempre multifacetada,  seja ela a da sala de aula, a do nosso cotidiano, ou a das fontes históricas.  Não se deve perder de vista, entretanto,  como já ouvi certa vez, que muito mais fácil do que  definir cultura popular é localizá-la  em países como o Brasil, onde o acesso à chamada  modernidade não eliminou práticas e tradições ditas pré-modernas (se bem que todo cuidado é pouco para identificar estas práticas e tradições como populares).   
Desde o final do século XIX, no Brasil, a expressão  cultura popular esteve presente numa vertente do pensamento intelectual, formada por folcloristas, antropólogos, sociólogos, educadores e artistas,  preocupada com a construção de uma determinada identidade cultural.  Artistas, políticos, literatos, intelectuais tentaram responder a estas questões relacionando  cultura popular com variados atributos, por vezes contraditórios:  ora com a não modernidade,  o atraso, o interior, o local, o retrógrado, o entrave à evolução;   ora com o futuro positivo, diferente,  especial e brilhante para o país, valorizando as singularidades culturais e a vitalidade de uma suposta cultura popular, responsável pelo nascimento de  uma nova consciência, uma  nova civilização, sempre mestiça.
A partir dos anos 1940/1950,  cultura popular assumiu uma perspectiva política associada aos populismos latino-americanos, que procuravam oficializar as imagens reconhecidamente populares às identidades nacionais e à legitimidade de seus governos.  O conceito também foi incorporado pela esquerda, principalmente na década de 1960, tendo assumido  um sentido de resistência de classe, ou, inversamente,  de referência a uma suposta necessidade dos oprimidos a uma consciência mais crítica, que precisava ser despertada  O conceito poderia ser  encontrado entre os intelectuais do cinema novo, da teologia da libertação, dos centros populares de cultura e entre os educadores ligados aos princípios de  Paulo Freire.
Atualmente, uma tendência dos que lidam com indústrias culturais e comunicação de massa é pensar o popular em termos do grande público. Nesta perspectiva, seria possível encontrar uma hierarquia de popularidade – em função do maior ou menor consumo -  entre os diversos produtos culturais ofertados no mercado,  tornando menos evidente o  sentido político que anteriormente  marcava os usos da expressão “popular”.  A despeito disto, não é incomum encontrarmos certas afirmações de que alguns jornais são feitos para o “povão”, apresentando um padrão reconhecido como popular.
             Evidentemente,  seria impossível resolver, ou mesmo aprofundar,  todas as disputas em torno do conceito de cultura popular. Minha intenção neste artigo é   explicitar algumas correntes que tiveram (e ainda possuem) muita influência na difusão, no meio acadêmico, artístico, jornalístico e  escolar, de  certos tipos de entendimento do conceito de  cultura  popular 

 1)  O caminho do Folclore e dos folcloristas. A crítica da sociologia paulista. 

 Se o folclore e os folcloristas são palavras  muito desgastadas  e carregadas de  conotações pejorativas,  o pensamento dos folcloristas ainda está presente nas esferas políticas, educacionais e culturais. Várias comissões de folclore, inauguradas nos anos áureos da Campanha Nacional do Folclore, nas décadas de 1950 e 1960,   renovaram-se e são muito ativas (ver, por exemplo,  o site www.folclore.art.br e o jornal da Comissão Maranhense de Folclore, http://sites.uol.com.br/cmfolclore).   Embora, após estas décadas, os folcloristas tenham perdido espaço  no ensino universitário,  em função do descrédito que sua disciplina passou  a ter, muito em função das críticas que feitas pela escola de sociologia da Universidade de São Paulo (USP), obtiveram importantes vitórias  no ensino elementar, nas Secretarias de Turismo e Cultura, nas Escolas de Música e Educação Física. 
Os folcloristas e a disciplina que criaram - o folclore - surgiram na Europa. Por mais que ultrapasse os limites deste artigo  uma análise profunda da  trajetória européia do folclore[5], valem ser destacados alguns pontos importantes desta história.  Depois de os  iluministas, no século XVIII, terem visto os  camponeses e os homens comuns como incultos e carentes de tudo, muitos românticos, ao longo do século XIX,   procuraram conhecer os costumes populares, as expressões dos subalternos do mundo rural, elevando-as ao patamar das marcas da nacionalidade contra tudo que fosse  estrangeiro. 
Herder, na futura Alemanha, no final do século XVIII, foi quem  pela primeira  teria utilizado o conceito de cultura popular (Kultur des Volkes) sem o sentido valorativo dos iluministas e com o sentido de alteridade. Segundo Norbert Elias, a criação do conceito de “Kultur” (Cultura), opondo-se ao conceito iluminista francês de Civilização, correspondia a um desejo de ascensão de pequenos burgueses que iriam cultuar a sinceridade, a natureza, os modos simples. Ligava-se à construção das bases da identidade cultural alemã, em oposição às outras potências européias. O movimento protagonizado por Herder e pelos irmãos Grimm buscou entre os costumes  dos camponeses   -  seus poemas,  músicas,  festas, saberes, histórias e rituais -  encontrar as marcas de uma essência diferenciadora e autêntica, o espírito coletivo de um “povo” em particular, base para a construção da futura nação alemã. Os camponeses pareciam, aos olhos destes intelectuais,  ter guardado, desde tempos muito remotos, a tradição que precisava ser resgatada frente às ameaças   da modernidade, da sociedade industrial e da civilização exteriores.
Os folcloristas propriamente ditos passaram a ser reconhecidos a partir de  1846, quando as  denominações “folk” (que além de povo expressava a idéia de nação)  e “lore” (que significava saber, mas denotava também seriedade, pois incluía os conceitos de educação e erudição) foram  difundidas pela  revista inglesa “The Athenaeum” por  W. J.Thoms.  As pesquisas e obras publicadas pelos folcloristas, ao longo do século XIX, construiriam  a idéia de um “povo”  portador de práticas e objetos culturais  distantes do estrangeirismo das classes ditas superiores, e, por isso, depositário do que era o mais  autêntico e essencialmente nacional.  Desinteressados dos reais problemas sociais  do campesinato e dos trabalhadores das cidades, ambos profundamente afetados com as transformações da  revolução industrial, os folcloristas valorizaram as continuidades, as sobrevivências  e as tradições que pareciam teimar em permanecer nas áreas rurais. 
O folclore no Brasil, e também na América Latina, (ainda está para ser feito um estudo mais sistemático sobre a História do Folclore na América Latina), seguiu um caminho semelhante ao da Europa. Em geral, serviu para formar as novas nações, no final do século XIX e início do XX,  resgatar a identidade do passado e  os sentimentos populares frente ao  cosmopolitismo liberal do período. 
 Desde Silvio Romero, no final do século XIX,  a  cultura popular, a poesia popular e mais entusiasticamente a música dita popular já eram apontadas por certos intelectuais  como expressão da  identidade nacional brasileira[6]. Influenciados pelas discussões sobre os caminhos do progresso e da civilização,  estes intelectuais folcloristas investiram na compreensão  e na avaliação sobre as possibilidades da nação  a partir destas especificidades próprias.  Em torno da qualidade e profundidade da poesia popular brasileira, por exemplo -  vigorosa, ou não, criativa ou apática -  procuraram diagnosticar as potencialidades da nação que projetavam,  buscando resgatar, preferencialmente, a produção dos sertanejos e dos caboclos do interior. Nas primeiras décadas do século XIX, além de suas avaliações  nunca terem sido muito positivas, em função das apregoadas deficiências das 3 raças formadoras do “povo brasileiro”, a mestiçagem (na alma e no sangue, como dizia Romero), quando valorizada, vinha associada a um futuro    branqueamento da nação que se pretendia construir.
  O folclore e os folcloristas só ganharam mesmo expressão nacional a partir da década de  1930, quando  consagrou-se a estreita união entre identidade nacional, a miscigenação e a  positiva e rica cultura popular nacional. São apontados como maiores marcos deste momento a  obra de Gilberto Freyre, publicada em 1933,  e o próprio regime Vargas, que atrairia para a esfera do Estado as manifestações culturais populares, como, por exemplo, as escolas de samba[7]. 
Segundo Luis Rodolfo Vilhena, que construiu uma importante história do que se chamou de o “Movimento Folclórico Brasileiro”, entre 1947-1964, os folcloristas brasileiros tentaram construir o caráter  da sociedade e cultura nacionais, investindo-se de um sentido de missão[8]. A construção nacional viria através da integração cultural.  O Movimento Folclórico, entre 1947-1964, produziu uma vertente significativa do pensamento antropológico (maioria dos livros de antropologia publicados na época) e se entendia relevante por seu objetivo de construção nacional. Grandes figuras, de diferentes tendências, destacaram-se dentro do folclorismo: Renato Almeida, Rossini Tavares de Lima, Artur Ramos, Câmara Cascudo e Edson Carneiro 
 Os folcloristas, também no Brasil, buscaram o “outro”, mas o “outro” dentro do próprio país, antes que, na sua concepção, ele desaparecesse  pelos  inevitáveis impulsos da urbanização e modernização.  Valorizaram  os registros obtidos a partir da  cultura  rural oral de seus informantes, e defenderam a concepção de que inexistiam autores entre as manifestações populares. Ambas perspectivas eram importantes para a construção de seus veredictos sobre a autenticidade do que definiam como cultura popular  (posto que reprodutora de tradições de tempos imemoriais). A autenticidade da cultura popular era fundamental para que pudesse legitimar a expressão da verdadeira singularidade nacional.
            Se o folclore valorizava o tradicional e o que permanecia, como traços de uma identidade cultural e étnica, marcada pela integração cultural sincrética das 3 raças (também conhecida como a “fábula da união das três raças”),  a sociologia das décadas de 1950 e 1960,  liderada  pela Universidade de São Paulo (USP) de Florestan Fernandes, passou a ver  as culturas populares no âmbito da modernização, da mudança social e das desigualdades sociais. Os folcloristas e o folclore passaram a receber críticas profundas por defenderem   uma prática tida como não científica, em função de seu pretenso caráter mais descritivo que interpretativo, e por ficarem identificados às forças mais conservadoras de uma sociedade que  rapidamente se transformava, cheia de conflitos sociais. Acabaram sendo marginalizados nas universidades e esquecidos pela intelectualidade de esquerda, como bem demonstrou Luis Rodolfo Vilhena. As críticas tiveram uma tal repercussão que a expressão folclore hoje possui significados negativos, assumindo até mesmo conotações ligadas ao anedótico e ao ridículo. 
 Para os sociólogos ligados à USP, dentre eles também Roger Bastide e Maria Isaura Pereira de Queiroz, a segmentação social e o preconceito racial não permitiram a criação de uma cultura nacional ou de uma sociedade e cultura integradas, pois o “povo”, nesta concepção,  não  mais poderia ser visto como o produtor de cultura autêntica, já que se  tornara  o proletariado. A integração nacional não se realizava via integração cultural, como pretendiam os folcloristas, mas através da dominação dos estratos dominantes. Não se poderia mais pensar em “integração cultural”, mas em como  “integrar os estratos sociais” marginalizados [9].
O resultado de todo este debate, entretanto, foi muito além da  desvalorização da produção acadêmica dos folcloristas e do folclore.  Passaram também para segundo plano  as discussões sobre os significados das práticas culturais ditas tradicionais, populares ou não   (festas religiosas, por exemplo), e a reflexão sobre a dinâmica das intensas trocas culturais (interior/urbano; popular/erudito) na sociedade brasileira. Ganharam terreno trabalhos preocupados com a transformação do Brasil em uma moderna sociedade de classes e com a busca das razões econômicas da  reprodução das desigualdades sociais.
Se  a   discussão   em torno da  cultura dos setores subalternos manteve-se  acesa,  atrelou-se, em grande parte,  às avaliações sobre os aspectos  que levavam à sua alienação ou  consciência de classe,  o que possibilitou  a consolidação de uma série de visões preconceituosas sobre a cultura popular: cultura fragmentada, conservadora, presa às tradições, obstáculo às mudanças sociais, conformista e supersticiosa.  As reflexões sobre as manifestações culturais dos homens e mulheres comuns acabaram ficando, mais uma vez, prisioneiras das armaduras ideológicas de seu próprio tempo.
Evidentemente, os estudos de folclore diziam muito pouco sobre como se processava a dominação. Não se preocupavam em conhecer os problemas e a real situação das classes populares em foco. Idealizavam um autêntico “povo rural” que não ameaçava a ordem social.  Preferiam pensar as culturas populares como diferentes e não como  partes que também eram (e são) de um sistema de dominação.
Desta última perspectiva, que incorporava reflexões sobre a dominação, participaram, principalmente a partir da década de 1970, intelectuais marxistas que receberam a reconhecida influência de Gramsci.  As culturas subalternas, em sua perspectiva,  seriam o resultado da distribuição desigual dos bens econômicos e culturais, ao mesmo tempo que poderiam   oferecer uma forma de oposição à cultura hegemônica, dos setores dominantes. Criavam-se  as bases de reflexão sobre o caráter resistente dos setores populares, oprimidos em suas condições de vida e cultura. Combinando os dois lados da questão, Marilena Chauí publicava, em 1986, o clássico “Conformismo e resistência, aspectos da cultura popular no Brasil”.
Entre sobrevivências, tradição, modernidade, globalização, luta de classes, alienação, dominação, resistência, visões que percorrem os livros acadêmicos, os livros didáticos, e o senso comum, onde fica, afinal,  a cultura popular? Ainda vale a pena utilizar a expressão? Onde ficamos nós frente a ela?

2) Outras  possibilidades:  a vez dos historiadores

Seguindo o raciocínio de Nestor Canclini, hoje temos mais clareza a respeito  das irresistíveis pressões da modernidade.  Percebe-se com maior facilidade a existência de várias modernidades, através de diferentes formas de articulação entre o modelo racionalista liberal (considerado moderno) e as antigas tradições populares, étnicas, religiosas etc.  A chamada  modernidade não pode mais ser vista como homogênea, nem como um instrumento todo poderoso que reorganiza, necessariamente e da mesma forma, todas as práticas culturais. Evidentemente, não se pode também pensar em  um isolamento completo,  os grupos de alguma forma reagem (ou interagem)  ao mercado transnacional que se apresenta. 
 O mundo da cultura e das práticas culturais  é (e sempre foi) repleto de contradições e conflitos, que podem ser rapidamente observados na sociedade brasileira se lançarmos mão de velhos impasses, como a permissão, ou não,  para os escravos batucarem e sambarem,  e de novos desafios,  como o convívio, ou não,  com o  funk. Esquecer estes conflitos, ou as  interações e tolerâncias que sempre existiram,  é perder de vista a possibilidade de compreensão das práticas culturais.  Esta é a nossa proposta: pensar nesta perspectiva o mundo da cultura, especialmente entre os setores populares. É possível construir uma nova perspectiva do popular, do tradicional popular, da cultura popular a partir dos conflitos,  intercâmbios e sincretismos com as chamadas cultura das elites, indústrias culturais e modernidades?
Resgatando  Carlo Ginzburg, que muito contribuiu para renovar os estudos sobre cultura popular na História, houve uma importante mudança ao se romper  com a posição de quem distinguia nas idéias, crenças, visões do mundo das classes subalternas nada mais do que um acúmulo desorgânico de fragmentos de idéias, crenças, visões do mundo elaborados pelas classes dominantes, provavelmente vários séculos antes.   Rompia-se com a idéia aristocrática de cultura, quando se passava a reconhecer  que os indivíduos outrora definidos como “camadas inferiores dos povos civilizados”    possuíam cultura, ou seja possuíam, na sua perspectiva, um conjunto próprio de “atitudes, crenças e códigos de comportamentos”. Em sua feliz frase, “a consciência pesada do colonialismo, que criou a antropologia cultural, se uniu assim à consciência pesada da dominação de classe”[10].
A existência de desníveis culturais no interior das assim chamadas sociedades civilizadas foi, segundo o autor, sendo definida por várias disciplinas como o folclore, a antropologia social, a história das tradições populares e a etnologia européia. Só tardiamente, basicamente na década de 1970,   esta perspectiva foi  incorporada pela historiografia.  Em seu trabalho sobre o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela Inquisição na Itália, no século XVI (publicado na Itália, em 1976, e no Brasil em 1987), Ginzburg aprofundou questões que se tornaram fundamentais para os historiadores:   a relação entre a cultura das classes subalternas (termo cunhado por Gramsci) e a das classes dominantes. Até que ponto há subordinação? Até que ponto é alternativa? Como entender a  circularidade, ou, em termos tropicais, os sincretismos culturais e religiosos? 
Esta discussão de Ginzburg, na década de 1970, foi parte integrante de um movimento maior de historiadores ligados à história social, que resgatava, não só a perspectiva do mundo da cultura na História, mas  a perspectiva da “história vista de baixo”: as culturas do povo e a multidão na História; “economia moral” dos pobres; experiência e cultura dos trabalhadores; circularidades culturais e apropriações de sujeitos históricos com uma dose variável, mas razoável de autonomia.  Como marcos deste movimento, em termos de discussão sobre cultura popular, podem ser destacados Peter Burke, Mikhail Bakhtin, Robert Darnton , E. P. Thompson, além do próprio Ginzburg[11].
A obra do historiador inglês  Peter Burke, de 1978, foi uma das primeiras publicações em português  (1989) a tratar do tema cultura popular de uma forma global, na  Europa, entre 1500- 1800. Consciente das dificuldades, Burke explicitou na Introdução da edição brasileira os impasses que acompanhavam os que se dedicavam à temática, sem abrir mão, entretanto, da opção que fizera de estudar a cultura popular no período moderno. Levantou os perigos do uso do termo, dentre eles o de dar a   impressão de uma grande homogeneidade no tempo e espaço em termos culturais e o de favorecer  abusos sobre a suposta oposição entre cultura popular e cultura erudita.  Pensar a interação e compartilhamento entre estas culturas seria sempre uma boa opção. Visando encaminhar estes problemas, Burke cunhou o termo “biculturalidade” para expressar o quanto membros das elites, representantes da “alta cultura”, conheciam e participavam do mundo da cultural popular, ao mesmo tempo que preservavam a sua própria cultura.  Também não deixou de chamar a atenção para a possibilidade de significados diferentes, quando  práticas culturais eram compartilhadas, como festas ou feiras, entre membros do povo e das elites. 
Peter Burke levou realmente a sério os questionamentos realizados por  Roger Chartier sobre os equívocos que acontecem quando se procura identificar cultura popular em determinados objetos culturais (como literatura de cordel ou ex-votos), já que  os referidos objetos eram ‘apropriados’ (termo de Chartier) “para suas próprias finalidades por diferentes grupos sociais, nobres e clérigos, assim como artesãos e camponeses”[12].  Em resposta, Burke procurou mostrar que as críticas de Chartier não invalidavam o seu trabalho, na verdade seriam complementares, pois, além de ter definido as elites, no começo da Europa moderna, como “biculturais”, não definiu cultura popular em torno de objetos específicos. Para o autor, cultura seria “um sistema de significados, atitudes e valores compartilhados, e as formas simbólicas (apresentações – formas de comportamento, como festas e violência - e artefatos – construções culturais, como categorias de doença ou política) nas quais elas se expressam ou se incorporam”[13].
Em trabalho mais recente,  Peter Burke parece ter amadurecido muitas de suas questões anteriores, ao definir o problema dos limites entre a “unidade e a variedade na história cultural”, título de capítulo de um de seus últimos livros[14], como um dos maiores desafios dos historiadores interessados na questão. Defendendo a necessária, porém difícil,  resistência a uma visão fragmentada de cultura (seja por grupo social, região ou gênero), sem se retornar à suposição enganadora da homogeneidade de um período, o autor valoriza a busca dos processos de interação (definidos ora  em termos de troca, empréstimo, apropriação, resistência, sincretismo, hibridação etc) “entre diferentes subculturas,  homens e mulheres, urbanos e rurais, católicos e protestantes, dominantes e dominados”[15]. Em outro aspecto complementar, Burke incorpora as recentes preocupações com a formação de identidades culturais, fruto de apropriações e  opções dos próprios agentes sociais.
Para outro importante historiador inglês, E. P. Thompson, também preocupado com um período de intensas mudanças no século XVIII, a discussão sobre cultura popular deve ser inserida  no movimento das classes trabalhadoras em defesa de seus costumes (entendidos por muito tempo como cultura), frente às pressões exercidas pelos reformadores das mais variadas espécies (educadores, religiosos, por exemplo) e pelos capitalistas em geral, disseminadores de uma nova disciplina de trabalho e de um novo  domínio da lei. Em sua perspectiva, sintetizada na Introdução do livro ‘Costumes em Comum”[16], publicado em 1991 na Inglaterra e em 1998 no Brasil, a chamada cultura tradicional (ou pré-industrial) dissociava-se, naquele contexto histórico, do que chamou da cultura da “gentry” (também denominados de “vigorosos capitalistas agrários”),  assumindo um nítido viés de luta de classes na defesa de seus costumes, que incluíam tanto condições de trabalho, como festas, feiras, vida em tavernas e ritos sociais. A visão de uma tradição entendida como sobrevivência do passado, foi bastante criticada por Thompson e compreendida em termos  políticos como um local de disputas e conflitos entre interesses opostos.   
É exatamente neste sentido, no meu modo de ver, a maior contribuição de Thompson para os estudos de cultura popular. O autor  recomenda muito atenção para os perigos de se trabalhar com uma idéia de cultura popular com uma perspectiva ultraconsensual e simplificadora, que determinadas definições antropológicas podem sugerir, como por exemplo a que foi utilizada por  Peter Burke no trabalho de  1978 e citada parágrafos acima (nota 11)[17]. Na suas reflexões, cultura é  um conjunto de diferentes recursos, em que há sempre uma troca entre o escrito e o oral, o dominante e o subordinado, a aldeia e a metrópole. É uma arena de elementos conflitivos localizados dentro de específicas relações sociais e de poder, de exploração e resistência à exploração.
O  recurso ao contexto histórico específico, diretamente ligado à experiência dos trabalhadores (uma possibilidade de nos livrarmos do determinismo estrutural e do voluntarismo dos agentes sociais) é sempre visto por Thompson como fundamental, evitando-se  generalizações universais, mecanicistas e vazias. No caso estudado pelo autor, a cultura plebéia inglesa do século XVIII não era independente de influências externas; assumia uma forma de defesa de suas tradições (nem sempre ligadas à igreja ou às autoridades) em relação aos limites e aos novos controles impostos pelos “governos patrícios” e pelas transformações do mundo industrial moderno. Podia  também renovar-se e assumir um caráter rebelde em termos do que Thompson chamou de “economia moral da plebe”.
 Nos limites deste trabalho, seria impossível um aprofundamento de todos os historiadores que abriram as portas para o debate em torno de cultura popular. A escolha de Peter Burke e Thompson deveu-se  ao fato de terem discutido e enfrentado as  principais questões em torno da relação entre história, historiadores, folclore e cultura popular. De alguma forma dialogando com estes autores,  os  historiadores brasileiros que se dedicaram ao tema já reúnem uma expressiva produção em termos de estudos sobre   protestos sociais,  festas e carnavais,   religiosidades populares e/ou afro-brasileiras,  práticas médicas, valores familiares e morais[18]

4) Cultura popular hoje: ensino e pesquisa

Não há dúvida de que  entre os importantes  marcos da discussão sobre cultura popular destaca-se a compreensão da relação entre as culturas ditas tradicionais e populares,  e a avaliação sobre as  irresistíveis pressões e transformações supostamente impostas pela modernidade, em qualquer período histórico. Isto deu margem a algumas ironias por parte de  Roger Chartier sobre o eterno destino trágico atribuído à cultura popular por parte de alguns historiadores: ser abafada, recalcada e arrasada[19].
Para a discussão que estamos aprofundando talvez sejam  oportunas as palavras de Thompson, em uma palestra proferida na Índia, em 1977, quando valorizava os trabalhos de história que procuravam investigar o folclore e a tradição, como ótimas oportunidades para  se estudar os costumes antigos e seus significados sociais:

“O folclore na Inglaterra é, na maior parte, uma compilação literária de resquícios dos séculos XVIII e XIX, testemunhos coletados por párocos e educados antiquários, que os reconheciam por detrás da fronteira de classe  da condescendência. No trabalho de um especialista indiano contemporâneo, constato que ele coletou, durante a pesquisa em dois vilarejos, 1500 canções populares, 200 histórias, 175 adivinhações, 800 provérbios e algumas simpatias. Fico roxo de inveja ao escrevê-lo...”[20] 

Pensar a pertinência do uso do conceito de cultura popular no Brasil hoje requer que se leve em consideração  esta “inveja” de Thompson e se avalie até que ponto a cultura dita de massa ou a globalização encerraram  as possíveis continuidades  e/ou  renascimentos da cultura popular –  presente em canções, músicas, festas, valores, e expressões religiosas, por exemplo -   em áreas ainda distantes do centro capitalista mais moderno ou em áreas que construíram caminhos variados de relação com as ditas modernidades.
 Para períodos mais recentes, a análise do sociólogo mexicano Nestor Canclini sobre cultura popular pode ajudar, principalmente aos profissionais que trabalham com alunos pertencentes aos   setores populares e enfrentam uma série de desafios nesta difícil empreitada.. Afinal, os professores que atuam nas escolas públicas brasileiras das grandes cidades, para além de suas funções profissionais, acabam tendo que abrir o diálogo (ou, ao menos pensar, nele)  entre  mundos às vezes muito diferentes e estranhos, o seu e o dos alunos -  sendo que na  maioria das vezes não estão preparados para isso. Ao tentarem o diálogo, aproximam-se forçosamente  da posição dos folcloristas, pois  precisam refletir sobre as diferenças culturais e as possíveis aproximações entre professores e representantes de setores populares (sem contar com as possíveis diferenças entre os próprios alunos!). Se esta relação é por vezes difícil  e  conflituosa, as discussões aqui realizadas sobre cultura popular podem ajudar os professores a lidar com as desafiantes sensações de estranhamento e, conseqüente, insegurança. Para os alunos, essas mesmas discussões  podem ajudá-los a perceber e a construir identidades comuns entre eles, e entre eles e os professores. Podem, enfim, contribuir para que todos entendam que a  luta pela igualdade de oportunidades e direitos inclui o  respeito daquilo  que talvez mais valorizem, os significados de suas músicas, jogos, festas e carnavais. 
  Segundo  Canclini, as  culturas populares conseguem ser, atualmente, prósperas e, ao mesmo tempo, híbridas[21].  O desenvolvimento moderno não  teria suprimido as culturas populares. As culturas tradicionais desenvolveram-se e também transformaram-se por vários motivos. Podem  não ter sido inteiramente incorporadas à ação do Estado ou integraram-se parcialmente nos circuitos comerciais do artesanato, da festa, da música e do turismo. Por razões culturais e também econômicas, percebe-se a continuidade da produção cultural dos setores populares. O importante, então, diferentemente da perspectiva do folclorista, não seria buscar o que não muda. Mas por que muda, como muda e interage com a modernidade.
            Em segundo lugar, Canclini defende que se deva levar em consideração que o popular não se concentra em objetos. O importante são as mudanças de significados, resultantes de interações. A arte popular, por exemplo, não seria uma coleção de objetos; nem a ideologia subalterna, um sistema de idéias, nem repertórios fixos de práticas.  O popular não é monopólio dos populares. Não se pode mais buscar uma identidade de ouro da cultura popular no sentido de ter estado independente, sem contato de espécie alguma.  Uma mesma pessoa pode participar de vários grupos e circuitos culturais. Nos fenômenos culturais populares, vistos como folclóricos ou tradicionais, intervém os ministérios, as fundações privadas, empresas de bebidas, rádios e televisão, agentes populares e hegemônicos, rurais e urbanos, locais, regionais, nacionais e transnacionais. Enfim, eles são multideterminados.
            Em terceiro lugar,  insiste na idéia de  que o popular não é  vivido pelos agentes sociais como uma manutenção melancólica  das tradições. A transgressão da tradição é também, muitas vezes, vista com humor. Uma festa, por exemplo, pode não acabar com as hierarquias e desigualdades, mas promove uma relação mais livre e mais criativa com as tradições herdadas.  A preservação pura das tradições  não é sempre o melhor recurso popular para reproduzir-se e reelaborar sua situação. A integração econômica não necessariamente desagrega, como se pensava;  pode haver melhoramento econômico e maior coesão da comunidade, pelo artesanato e festas.   A continuidade (ou retomada) das tradições não inviabiliza, como se pensava antes entre modernizantes e tradicionalistas, a modernização. Esta é seletiva. Não há apenas subordinação do gosto popular às novas regras do mercado ou ao gosto dos consumidores urbanos e turistas. Os artesãos do México estudados por Canclini  movem-se sem demasiados conflitos entre mais de um sistema cultural.
            Com estes argumentos levantados pelo autor e com as  perspectivas abertas pela  historiografia, entendo que possam ser revistas  as velhas oposições que norteavam os estudos de cultura popular, como por exemplo, entre o tradicional e o  moderno, o popular e o  erudito,  o local e o estrangeiro. Segundo Canclini, é necessário desconstruir esta divisão  entre o culto, o popular e a cultura de massa, e investigar o que denominou de  hibridismo   Em sua perspectiva,  nada é puro, as culturas são híbridas.
            Diante dessas alternativas, estariam resolvidos todos os problemas se substituirmos  cultura popular por  culturas híbridas? Não haveria mais lugar para o popular? Claro que sim, mas algumas explicações são necessárias. 
Antes de tudo, é uma expressão que está disponível e muito presente em diferentes locais da sociedade: na produção acadêmica, nas secretarias de turismo, nas escolas, na  mídia e entre os próprios agentes sociais identificados como populares.  Por outro lado, a eliminação de sua utilização talvez requeira  mais trabalho do que a sua defesa.  
Há, certamente, uma posição clara, teórica e política - nada ingênua, diga-se de passagem -  ao se defender a utilização  da expressão cultura popular.  O objetivo é colocar no centro da investigação  as pessoas de baixa renda,  geralmente identificadas e discriminadas socialmente pela cor da pele, pelo local de moradia, pelo modo de ser e vestir e pela pretensa criminalidade.  No sentido  político, seriam os desprovidos de poder. Se podem ser tratados  genericamente  por populares (sem a obrigação de suprimirmos  as possíveis e grande  diferenças entre eles, como as distinções de gênero, raça, idade, região e religião), isto deve-se  ao fato de compartilharem  certos aspectos, que devem ser demonstrados,  tais como condições  de vida,  significados de festas e danças, gostos, e, de modo geral,  assim serem  considerados por autoridades policiais, professores,  intelectuais e, muitas vezes, por eles próprios.   Deve-se considerar que muitos organizadores de festas, membros de grupos folclóricos,  músicos,  artistas plásticos e artesãos  auto-denominam-se  “populares”.
Por outro lado, há um reconhecimento evidente de que estes sujeitos  sociais   pensam,  agem, criam e transformam seu próprio mundo (valores, gostos, crenças), e tudo o que lhes é imposto, em função da herança cultural que receberam  e de sua  experiência histórica. Como agentes de sua própria história (e cultura), homens e mulheres das camadas pobres criam, partilham, apropriam-se e redefinem os significados de valores, hábitos, atitudes, músicas, danças e festas de qualquer origem nacional, regional ou social. Neste sentido, cultura popular não é apenas entendida como o conjunto de objetos ou práticas que são originárias ou criadas pelos  setores populares.
Além de permitir o resgate ou a reconstrução da possível autonomia dessas  pessoas pensarem e agirem no mundo em que vivem (ou viveram), a expressão  cultura popular   mantém aberta, no meu modo de ver, a possibilidade de se pensar em um campo de lutas e conflitos sociais em torno das questões culturais,  já que, no mínimo,  existiriam culturas não populares,   mesmo que definidas, neste momento, em termos negativos.  Desta forma,  a expressão pode servir para se enfrentar a globalização, não no sentido de valorização das pretensas identidades nacionais, mas reforçando a perspectiva de existência de diferentes significados sociais  em torno das manifestações  culturais coletivas, como por exemplo, os carnavais e  festas de um modo geral[22]. Pode também estimular a criação  de identidades sociais/culturais e vínculos duradouros entre grupos de reconhecida expressão cultural ou religiosa, como, por exemplo, as  escolas de samba, os grupos que organizam folias de reis e  congadas.
Evidentemente, estas considerações não encerram todos os problemas e, pelo contrário, é exatamente nelas que se colocam os desafios. Como já afirmei em outra oportunidade, cultura popular não  é um conceito  passível de  definição simples ou  a priori. Cultura popular não é um conjunto fixo de  práticas, objetos ou textos, nem um conceito   definido aplicável a qualquer período histórico.  Cultura popular não se conceitua,  enfrenta-se.  É algo que precisa sempre ser contextualizado e pensado a partir de alguma experiência social e cultural, seja no passado ou no presente; na documentação histórica ou na sala de aula.   O conceito só emerge na busca do como as pessoas comuns, as camadas pobres ou os  populares (ou pelo menos o que se considerou como tal) enfrentam (ou enfrentaram) as novas modernidades (nem sempre tão novas assim);  de como criam (ou recriaram), vivem (ou viveram), denominam (ou denominaram), expressam (ou expressaram), conferem significados (ou conferiram) a seus valores,  suas festas,  religião e  tradições, considerando sempre a relação complexa, dinâmica, criativa, conflituosa e, por isso mesmo, política mantida com os diferentes segmentos da sociedade: seus próprios pares, representantes do poder,  reformadores, professores etc. Não se deve perder de vista a reflexão sobre as possibilidades destas  manifestações encontrarem-se   relacionadas com  as lutas sociais e políticas mais amplas da sociedade a que pertencem (ou pertenceram).
Que a escola e a universidade criem boas oportunidades para realizarmos esta reflexão.

“Podemos tocar funk na festa junina?”
Uma oportunidade para se discutir identidade, tradição e cultura popular na escola

            A pergunta – podemos tocar funk na festa junina? - já me foi feita várias vezes em encontros e discussões que participei sobre cultura popular. Em geral, costumo responder com novas perguntas: E a coca-cola, pode entrar? E o já tradicional “hot-dog”? Afinal quem estabeleceu a tradição? O que deve, ou não, entrar nas festas juninas, festas insubstituíveis no calendário escolar, estadual e nacional?
Antes de tentar buscar algum caminho de resposta a estas perguntas,  é importante perceber  que a que envolvia o funk expressava, além da preocupação por uma certa tradição junina, que não deveria mudar, o desconforto em relação a um novo gênero de música e dança que domina as novas gerações pobres da cidade, embora não apenas as pobres. É comum ouvirmos opiniões de desprezo e preconceito em relação ao funk, emitidas por certos setores cariocas, como intelectuais, que desqualificam as características musicais do funk, acusando-o também de uma importação empobrecida do co-irmão  norte-americano; setores médios, que se incomodam com o barulho e com a pretensa violência dos bailes; e autoridades policiais, preocupadas com a presença do tráfico de drogas nestes locais.
            Sem dúvida, as festas, sejam religiosas, sociais ou carnavalescas, ocupam um lugar especial na nossa sociedade e nas diversas formulações sobre  a identidade dos brasileiros.  Desde o século XIX é comum ouvirmos afirmações sobre o caráter festivo do povo brasileiro. Carnaval, samba e alegria seriam nossas marcas registradas. Estas afirmações, entretanto, devem ser vistas como uma versão  (ou mesmo construção ideológica) sobre os encontros e intercâmbios múltiplos, que as festas proporcionam, entre os diferentes setores sociais, dando margem a acreditarmos que nos tornamos brasileiros nas comemorações carnavalescas. 
É claro que esta imagem da festa ainda está longe de ser estendida e atribuída aos bailes funks, o que de alguma forma confirma o que vários historiadores já mostraram  sobre as  festas, desde o período colonial:  poderiam ser locais de conflito, oportunidades para fugas e rebeliões de escravos e/ou caminhos de afirmação de identidades étnicas e/ou regionais  de determinados grupos. As festas, reconhecidas como populares, ou não, em qualquer período, pertencem à história e, portanto, apesar das tentativas de seus organizadores ou das aparências formais de sua continuidade e unidade, transformaram-se, ganharam novos sentidos e possibilidades; podem ter servido para manter ou ameaçar a ordem reinante; podem ter sido perseguidas, reprimidas ou toleradas, dependendo da ocasião, como os batuques negros;  podem ter recebido influências externas de outras regiões e países e, mesmo assim, serem consideradas como “coisas da terra”. As festas são, por todos estes possíveis sentidos, polissêmicas, apesar dos esforços de muitas autoridades e de muitos intelectuais de aprisioná-las  na prática e nos seus significados.
Particularmente na escolas, as festas ocupam local de destaque.   Pode existir festa sem escola, mas escola sem festa é difícil encontrar. Este traço festivo das escolas foi muito estimulado a partir da década de 1950, quando organizaram-se as Comissões estaduais e federal de folclore. Na perspectiva dos folcloristas, como Renato Almeida, Amadeu Amaral e Cecília Meireles, os estudos folclóricos deveriam participar do processo educativo como um conteúdo curricular e como orientador da ação pedagógica socializadora dos professores. Eles precisavam ser vivenciados nas escolas, principalmente no ensino primário, como estratégia de valorização do que os folcloristas consideravam como  “nossas tradições nacionais”, uma espécie de “ensino cívico”, mas vinculado ao estímulo de um “sentimento comum” de pertencimento, como demonstrou Luís Rodolfo Vilhena[23]. Sentindo  e vivendo o que os folcloristas consideravam como  as tradições populares, base para a formação da identidade nacional brasileira, as crianças poderiam  enraizar-se na cultura de seu país, valorizando-o e respeitando-o . As festas e os folguedos,  por mobilizarem toda a comunidade escolar - especialmente as de São João,  uma das mais difundidas devoções no Brasil -   tornaram-se uma excelente oportunidade para a aplicação desta estratégia no ensino. 
             A história das festas juninas no Brasil ainda está para ser feita, mas alguns comentários podem ajudar no sentido de refletirmos sobre esta pretensa tradição.  Decididamente, elas não possuem uma origem nacional, foram trazidas pelos portugueses e aqui, comemoradas desde os tempos coloniais, muito antes de se conceber uma nação brasileira. Reza a tradição cristã, nunca inteiramente livre de antigas práticas pagãs, no caso ligadas ao culto ao fogo, que as festas de São João são marcadas por fogos, fogueiras e mastros para recordar a lenda de Santa Isabel. Isabel teria acendido a fogueira ao lado do mastro para anunciar a Nossa Senhora o nascimento de São João Batista.
Os melhores e mais antigos relatos que consegui encontrar sobre as festas de São João no Brasil – no Rio de Janeiro e Sergipe – foram os de Melo Moraes Filho, escritos no final do século XIX. Descrevendo as festas  que aconteciam em meados do século XIX, partes integrantes  do chamado ciclo junino, que incluíam Santo Antônio e São Pedro, o  autor destaca a grande animação da zona rural e das nas maiores cidades. No Rio de Janeiro, por exemplo,

“pretos ao ganho” eram vistos com “cestos carregados de foguetes e fogos de todo gênero, de canas e batatas-doces, de cará e milhos verdes, de galinhas, ovos e perus; de tudo, enfim, que dizia respeito à folia da noite e aos lautos jantares e ceias que então se davam”[24].
 
            Não podiam faltar os preparativos para as fogueiras, para todo o tipo de fogos – rodinhas, pistolas, foguetes, busca-pés, chuveiros, rojões, cartas de bichas, girassóis, bombas etc - para as mesas com os livros de sortes e para as danças com violões. A comilança ficava por conta das rezes mortas na véspera, do milho verde, da canjica, das canas, cocos, carás, inhames, melados e dos famosos bolos de São João. Muita coisa, como os carás e batatas, era assada na fogueira, onde os mais afoitos divertiam-se tentando pulá-la.  As superstições eram um dos pontos altos da festa, como por exemplo a noção de que as brasas da fogueira eram bentas; de que o banho nos primeiros raios de sol do dia de São João traziam propriedades miraculosas e de que as moças solteiras podiam saber com quem iriam casar-se, depois de fazerem um bochecho com a água de um copo que havia passado sobre a fogueira em louvor a São João.
            Este era um tempo, conta Moraes Filho, em que se acreditava no perigo de São João descer à terra para brincar no seu dia, pois tudo pegaria fogo. Era uma época em que se podia entender melhor a velha quadrinha cantada  ao redor da fogueira e conhecida até hoje:
-         Acorda João!
Aos que muitos respondiam, cantando:
São João está dormindo,
Não acorda não!
Dê-lhe cravos e rosas
E manjericão![25]


Apesar das aparências, entretanto, as festas do mês de junho, nunca foram tão pacíficas assim. Um dos fogos mais inconvenientes, pelas batalhas que provocavam, parecem ter sido os  “busca-pés”, que perseguiam, pela deslocação do ar, quem procurava fugir deles. Também não eram incomuns, no Rio de Janeiro do século XIX, reclamações nos jornais ou em relatos de viajantes sobre os perigos dos fogos para os habitantes da cidade. Há notícias de que se jogava entrudo com foguetes, ferindo-se os transeuntes e causando-se incêndios irreparáveis, principalmente nas festas que aconteciam nos cortiços[26].
Diversões de setores populares, sem dúvida, embora não apenas, as festas juninas com suas fogueiras e fogos foram aos poucos tornando-se alvo de restrições e controle por parte das autoridades municipais, que não se cansavam de tentar restringir as autorizações de fogos, permitidos somente em determinadas festas, organizadas por instituições responsáveis, ou em locais específicos, afastados do centro comercial da cidade. Em um edital de 1856, a Câmara Municipal da cidade do Rio de Janeiro proibia o lançamento de fogos, juntamente com as fogueiras e balões, nas ruas e praças públicas, ou das janelas e portas que “para elas deitarem”. Um certo projeto de civilização dos costumes, festas e diversões iria se impor ao longo da segunda metade do século XIX, especialmente na capital imperial, cerceando certas atividades tidas como inconvenientes  ou afastando-as do centro urbano, como os fogos, as fogueiras, os ajuntamentos, os batuques,  as procissões, as danças, as grandes barracas de divertimentos e os pedintes de esmolas para as irmandades.   As festas juninas na cidade do Rio de Janeiro devem ter sofrido este mesmo cerceamento, mas, sem dúvida, permaneceram, talvez com mais vigor em seus subúrbios e periferia, e transformaram-se. Novas formas de diversão e sociabilidade ganhariam a cidade, como os clubes dançantes, as sociedades carnavalescas, as casas de jogos e os teatros.
O que temos hoje em comum com estas festas do século XIX? Além da fogueira, fogos controlados e algumas comidas “típicas”? Para onde foram as “galinhas, os ovos e perus”, presentes nas ceias descritas por Mello Moraes Filho? E as superstições de São João?  Onde e quando passaram a fazer parte das festas  as quadrilhas, as bandeirinhas, os trajes e as músicas caipiras, o casamento na roça e as barraquinhas de comidas e jogos inocentes (de argolinhas, tiro ao alvo, corridas de carrinhos e leilões de prendas beneficientes)? Infelizmente estas perguntas ficarão sem resposta, mas podem nos ajudar a identificar que certas tradições não são tão originais e autênticas assim. Pelo menos não existiam no século XIX. Podemos arriscar até, como hipóteses para uma futura pesquisa, que certas marcas das  festas juninas atuais – o traje e a música caipiras, o casamento na roça e as barraquinhas,  por exemplo - teriam passado a fazer parte da festa entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX, quando as maiores cidades, como a capital da República e São Paulo,  passaram por inúmeras transformações modernizantes, afastando-se do mundo rural. Exatamente nesta época ganham expressão  na literatura e nos textos teatrais as figuras do caipira ou matuto, do sertanejo ou caboclo, representando o interior e o atraso frente ao pretenso progresso das cidades. As festas juninas  teriam se transformado em festas caipiras.
Até mesmo as festas do mundo rural teriam passado por  transformações.  O conhecido “casamento na roça”, segundo  Mariza Lira, em trabalho de 1956, em pleno auge do movimento folclórico brasileiro, teria sido introduzido “recentemente”, segundo a autora, nas  zonas rurais próximas ao Rio de Janeiro. Na sua opinião,  a “macaqueação do casamento caipira é tudo o quanto pode haver de mais inexpressivo nessas festas de encanto poético e místico”[27]. Se Lira havia presenciado casamentos e batizados de verdade nas antigas festas de São João, chegara o tempo dos casamentos figurados. Para a autora, na cidade do Rio de Janeiro de sua época, São João não era mais festejado com todo o esplendor de antigamente. Havia chegado a época dos “ridículos bailes caipiras”, em sua avaliação. Outro grande folclorista, Edison Carneiro, avaliou no início da década de 1970,  que nas cidades grandes havia um falseamento das festas juninas, quando a população fantasiava-se, como no carnaval, de matutos, sertanejos e caipiras[28].
Voltando às festas juninas de hoje,  entendo que os seus organizadores possuem muitos problemas. Que tradição devem manter? Ou que características das festas de São João precisam preservar para que essas festas continuem simbolizando uma pretensa identidade nacional (ou regional)? As do tempo de Mello Moraes? Do tempo de Mariza Lira ou as do tempo de nossa infância (que provavelmente devem ser outras)?
Tradições são assim mesmo,  freqüentemente inventadas e reinventadas, como mostraram Hobsbawn e Ranger[29], pois visam consolidar determinadas continuidades em relação ao passado, frente às constantes transformações do mundo moderno.  Cabe aos professores ficarem atentos a elas, tentando conhecer a sua história,  mesmo daquelas que dão a impressão de serem mais  genuínas ou mais autênticas que outras,  como é o caso das tradições das festas de São João. Posturas como as de Mariza Lira, no passado, de condenação às mudanças – desqualificando-as - por ameaçarem uma certa autenticidade e espontaneidade, decorrentes de sua pretensa origem popular,   precisam ser repensadas. As festas pertencem à História e às lutas dos homens e mulheres de seu próprio tempo. Discutir os vários sentidos e possibilidades das festas, no passado e no presente; ou, ainda melhor,  procurar identificar os sujeitos sociais que costumam estabelecer e divulgar certos  significados das festas, recuperando, muitas vezes, os conflitos que se constroem em torno destas definições,  são estratégias promissoras  para começarmos a trabalhar com as festas nas escolas, e na História.
 Particularmente,  se nossos jovens querem tocar funk nas festas juninas, não vejo como respondermos negativamente, baseados numa pretensa tradição destas festas.  Talvez seja mais importante nos perguntamos sobre os significados das transformações que eles querem levar às ditas tradicionais populares festas juninas. Deixemos o funk ser tocado nestas festas, da mesma forma que um dia as quadrilhas, a música e o traje caipiras, as barraquinhas de comidas/brincadeiras e os casamentos na roça  ali conseguiram encontrar espaço e fizeram sentido para as pessoas que compareciam e se divertiam nas muito antigas festas de São João, apesar dos opositores e críticos  como  Mariza Lira. Entre tradições e continuidades, as  festas juninas, como não poderiam deixar de ser,  estão sempre  transformando.


[1] Artigo publicado originalmente em: Abreu, Martha e Soihet, Rachel, Ensino de História, Conceitos, Temáticas e Metodologias. Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2003.
[2] Martha Abreu é professora do Departamento de História e do Programa de Pós Graduação em História da UFF. Autora do livro “O império do divino, festas religiosas e cultura popular no Rio de Janeiro, 1830-1900” (Nova Fronteira, 1999).
[3] CHARTIER, Roger, “Cultura Popular”: revisitando um conceito historiográfico. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, vol. 8, n.16, 1995, p. 179-180.
[4] CANCLINI, Nestor. Culturas Híbridas, São Paulo, Edusp, 1997.
  
[5] Sobre a trajetória européia do folclore, ver  BURKE,  Peter.  Cultura Popular na Idade Moderna, São Paulo, Companhia das Letras, 1989, especialmente a Parte 1, e   ORTIZ,  Renato. Cultura Popular: Românticos e Folcloristas,.São Paulo, Olho d’água, s/data. 
[6]  Como bons exemplos, podemos citar José de Alencar com  “O nosso romanceiro” (1874), Araripe Jr com  “Cantos populares do Ceará” (1884) e Mello Moraes Filho com “Festas populares do Brasil”(1888). Ver VAINFAS, Ronaldo, Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro, Objetiva, 2002, verbetes sobre folclore e Silvio Romero.
[7] Ver SOIHET,  Rachel, Subversão pelo Riso, Reflexões sobre Resistência e Circularidade cultural no Carnaval Carioca, Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1998.
[8] Ver  VILHENA, L. Rodolfo, Projeto e Missão: O Movimento Folclórico Brasileiro, 1947-1964, Funarte/Fundação Getúlio Vargas, 1997.                                       .
[9] Ver  CAVALCANTE, M. L.V. e VILHENA, L.Rodolfo, “Traçando fronteiras: Florestan Fernandes e a marginalização do folclore. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, vol. 3, n. 5, 1990.

[10] GINZBURG, Carlo, O Queijo e os Vermes. São Paulo, Companhia das Letras, 1987,   p. 17
[11]  Ligada a esta temática também devem ser mencionados os estudos sobre religiosidade popular, como, por exemplo o de THOMAS, Keith, Religião e declínio da magia. São Paulo, Companhia das Letras, 1991
[12] BURKE, Peter, A Cultura Popular, Op. Cit.,   p.24 (nesta citação o autor refere-se diretamente a Roger Chartier)
[13] Idem, ibidem, p.26.
[14] BURKE, Peter, Variedades em História Cultural. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2000.
[15] Idem, ibidem, p. 259 e 267.
[16] THOMPSON, E. P. Costumes em Comum.  São Paulo, Cia das Letras, 1998.                      
[17] Ver THOMPSON, E. P.  op.cit. ,  p. 17.
[18] Ver, por exemplo, os trabalhos de João José Reis, Jorge Ferreira, Marina de Mello e Sousa,  Maria Clementina Pereira Cunha, Rachel Soihet,   Ronaldo  Vainfas, Sidney Chalhoub,  dentre  outros.   
[19] CHARTIER,  op.cit. , p. 181.
[20] THOMPSON, E. P. “Folclore, Antropologia e História Social”. In: As Peculiaridades dos Ingleses e outros ensaios. Campinas, Ed. Da Unicamp, 2001, p. 233
[21]  CANCLINI, Nestor, “A Encenação do popular”. In: Culturas Híbridas.São Paulo, Edusp, 1997.

[22] Ver DARNTON, Robert, O grande massacre dos gatos. Rio de Janeiro, Graal, 1986, p. .XV. O autor  preocupou-se em começar com a idéia de captar a diferença dentro de um idioma comum. Ver também CUNHA, Maria Clementina Pereira, Ecos da Folia. São Paulo, Companhia das Letras, 2001 .
[23] Sobre a relação entre folclore e educação, ver VILHENA, L. R. op.cit., p. 191-196.
[24] MORAES FILHO, Mello, Festas e Tradições populares do Brasil. Belo Horizonte, Itatiaia, São Paulo, Ed. USP, 1979, p.77. É interessante notar que as festas de São João,  Santo Antônio e São Pedro também,  nunca foram organizadas ou promovidas por alguma irmandade específica. Eram vivenciadas pela população em geral, ricos e pobres, de uma forma autônoma e espontânea. Na pesquisa que realizei, sobre os santos mais comemorados no Rio de Janeiro do século XIX, a partir dos pedidos de licenças para festas, Santo António e São João ocupam os dois primeiros lugares. São Pedro aparece em 6o. lugar, atrás do Espírito Santo, Nossa Senhora da Conceição e Festa de Reis.
[25]  MORAES FILHO, op.cit. p. 80.
[26]   ABREU, Martha, O Império do Divino. Festas Religiosas e Cultura Popular no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999,  p. 252.
[27] LIRA,  Mariza, Calendário Folclórico do Distrito Federal. Distrito Federal, Secretaria Geral de Educação e Cultura, 1956.
[28] CARNEIRO, Edison, Folguedos Tradicionais. Rio de Janeiro, Conquista, 1974.
[29] HOBSBAWM,  E. e  RANGER, T. A invenção das Tradições. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1984.