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domingo, 8 de janeiro de 2012

Dia de Reis, festa do povo




A Festa de Reis é vista, quase sempre, como o encerramento do ciclo natalino. É a hora de desmontar a árvore de natal, o presépio, e marca a volta da vida ao normal.

Por Lúcia Beatriz Torres (1) e Raphael Cavalcante (2)

A Festa de Reis, que abrange múltiplas formas de expressão, tem lugar reservado, e nobre, nas festas populares brasileiras. Suas origens perdem-se no catolicismo dos países latinos, e principalmente ibéricos, fonte original da influência europeia na cultura brasileira.

O ciclo natalino reproduz comemorações milenares com as quais os povos assinalam, no hemisfério norte, o início do inverno - e do verão, no hemisfério sul. O Natal herdou essa tradição milenar - foi no século terceiro da nossa era que a Igreja fez coincidir a data de nascimento de Cristo com o solstício de inverno na Europa, que ocorria em 25 de dezembro. Originalmente essa data era considerada como de nascimento do Deus Sol e foi adotada pela Igreja para facilitar a conversão de povos não cristianizados do Império Romano. Tradicionalmente, os povos latinos festejavam o nascimento de Jesus no dia 6 de janeiro que passou, desde então, a ser a festa da visita dos reis magos ao menino nascido em Nazaré .

A fixação pela Igreja, em 350 a. D., do 25 de dezembro como provável dia do nascimento de Jesus Cristo (o Natal) abriu caminho para a comemoração da chegada dos reis magos (Melchior, Baltasar e Gaspar) em 6 de janeiro. Em alguns países latinos, principalmente ibéricos, esta data era tradicionalmente mais importante do que o Natal - dai a forte presença de sua comemoração na tradição popular brasileira, enriquecida com contribuições culturais indígenas e africanas, herdada do catolicismo popular latino e ibérico. O Portal Vermelho publica aqui um estudo de Lúcia Beatriz Torres e Raphael Cavalcante sobre esta tradição popular (José Carlos Ruy).


Festas de Santos Reis


Aprender é (re) viver


“Partiram [os Magos] de suas terras [no Oriente]e, guiados pela luz de uma estrela resplandecente, chegaram à gruta, em Belém, na Judéia, para adorar o lho de Deus que havia nascido, ofertando-lhe régios presentes: Ouro, Incenso e Mirra.”

Síntese da Viagem dos Reis Magos baseada no Evangelho de Mateus (2, 1-12) (3).


O texto bíblico de Mateus alude vagamente a respeito dos Magos, não especificando seus nomes e respectivas categorias, número, locais de procedência no Oriente, entre outros aspectos. O enigma que envolve essa narrativa bíblica tem ensejado infindáveis reinterpretações ao longo dos tempos. Conhecida, em sua forma mais popular, como a “Adoração dos Reis Magos”, essa passagem da Escritura Sagrada é fonte de inspiração para as mais variadas manifestações nas letras e nas artes, contribuindo para o desenvolvimento de tradições populares as mais diversas (Silva, 2006).Este contexto levou Mâle, nos alvores do século 20, à seguinte reflexão:

“A imaginação popular cedo foi aos evangelhos, tentando complementá-los, no que faltava. As lendas originaram-se nos mais antigos séculos da cristandade. Elas nasceram do amor, de um tocante desejo de conhecer mais Jesus e aqueles próximos[...]. O povo achava os evangelhos muito sucintos [...]. Nenhuma das cenas da infância de Cristo forneceu mais rico material para o povo que a Adoração dos Magos. Suas misteriosas figuras, mostradas veladamente nos evangelhos, despertavam ávida curiosidade nas pessoas. (Émile Mâle, L’Art Religieux de XII siècle, inserido no Gazette de Beaux Arts,1904).

A propósito, o título de Reis, atribuído aos Magos do Oriente, foi devido a Cesário [São Cesário], Bispo de Arles, França, no século 6. No século seguinte, o Papa Leão I assegurou, em seus “Sermões” sobre a celebração da Epifania, que os Reis Magos eram em número de três. Todavia, seus nomes somente mais tarde foram estabelecidos. As tradições populares do ciclo natalino eram comuns em toda a Europa Cristã, em países como França, Itália, Alemanha (4), Portugal e Espanha. Os dramas litúrgicos medievais eram utilizados como instrumento de ensino e divulgação da doutrina cristã. O episódio dos Magos do Oriente, desde cedo, tornou-se um dos temas prediletos para efeito de dramatização (Officium Stellae). Representações de rituais litúrgicos relativos aos Magos, que, a princípio, eram realizados no interior das igrejas, foram, pouco a pouco, popularizando-se, transportados para espaços abertos – praças e ruas. Assim surgiram os cortejos, vinculados aos templos religiosos das cidades, que encenavam a temática dos Magos, bem como grupos peditórios, no âmbito dos povoados rurais que, de casa em casa, levavam a mensagem do nascimento de Jesus Cristo. Atualmente, alguns países europeus ainda mantêm essas tradições milenares como, por exemplo, o Cortejo dos Reis Magos na Basílica de Santo Eustórgio (5) em Milão, Itália, e a Cabalgata de Reyes Magos, em Sevilha, Espanha, bem como o costume dos Grupos de Villancicos (Espanha) e de Janeiras e Reis (Portugal).

No período colonial, os colonizadores, em conjunto com os missionários jesuítas que aportaram ao Brasil, vindos com o primeiro Governador Geral Tomé de Sousa, em 1559 e em anos seguintes, trouxeram essas tradições da Península Ibérica. Estes utilizavam autos litúrgicos com a temática dos Reis Magos, sob a forma de canto, dança e encenação, no processo de catequese e ensino, tanto dos nativos indígenas como dos próprios colonos portugueses(reinóis) e, posteriormente, dos escravos negros. O catequista José de Anchieta, considerado por muitos o precursor das letras brasileiras, formado na escola de Gil Vicente, compôs, ensaiou e representou sua peça teatral inicial, “Pregação Universal”, reintitulada “Na Festa de Natal”, na Igreja dos Jesuítas, em São Paulo de Piratininga (atual cidade de São Paulo), no Natal de 1561, no Ano Novo e no dia de Reis de 1562. Este é o primeiro registro de um Auto encenado no Brasil que, com adaptações diversas, foi repetido por toda a costa brasileira, em aldeamentos jesuíticos como São Lourenço [Niterói] e São Vicente [São Paulo], Reis Magos [Espírito Santo], entre outros (Silva, 2006).

Na segunda década do século XVIII, Nuno Marques Pereira, em seu Compêndio Narrativo do Peregrino da América (Câmara Cascuco, 1998), registra a presença de Grupos de Reis peditórios na Bahia: “[...] uma noite dos Santos Reis saíram estes [homens]com vários instrumentos pelas portas dos moradores de uma vila cantando para lhes darem os Reis em prêmio que uns lhes davam dinheiro e outros doces, frutas, etc.”

Tudo indica que, no início da colonização, junto aos núcleos de povoamento mais consolidados (Salvador/vilas próximas do Recôncavo, Olinda e, pouco depois Recife, já sob o domínio holandês, Rio de Janeiro/Niterói e São Vicente/São Paulo de Piratininga) moldaram-se as formas iniciais das tradições de Reis no Brasil. Presépios, Lapinhas e Pastoris, seguindo-se de outras representações folclóricas derivadas, Reisados, Rancho de Reis, Terno de Reis (versão baiana), Guerreiros, etc. O processo de transplantação dessas tradições intensificou-se durante o Ciclo do Ouro [em terras do atual estado de Minas Gerais, em cidades como Ouro Preto, Sabará, São João del Rei, entre outras], uma vez que aumentou, significativamente, o fluxo imigratório de colonos oriundos do norte de Portugal (Porto, Minho e Trás-os-Montes), regiões agrícola - pastoris, com expressivas tradições de Reis. Na medida em que o povoamento expandiu-se, essas manifestações se ramificaram e se difundiram por todo o território colonizado. Naturalmente, essas tradições que chegaram ao Brasil sofreram, gradativamente, a influência local pela incorporação dos elementos da cultura negra e indígena, através de hibridismos religiosos e culturais, ou seja, como preconizam diversos folcloristas brasileiros, adquiram a “cor local”.

O processo de popularização dos ritos litúrgicos, através das novas formas de representação que surgiram, em particular sobre a influência dos Reis Magos, resultou, em muitos casos, em “excessos de profanização”. Tal fato levou a Igreja a reprovar essas manifestações populares, passando a impedir a entrada desses Grupos no interior das Igrejas, afastando-se, desse modo, de seus fiéis que, no entanto, a seu modo, continuaram a levar a palavra de Deus para lugares aonde o catolicismo não chegava ou não os aceitava.

Na década de 1980, com a vinda do Papa João Paulo II a Santo Domingo (América Central), houve, contudo, uma mudança dessa postura eclesial. A partir daí, a Igreja Católica, através do processo de inculturação, abriu novamente suas portas a essas manifestações populares, reaproximando-se, assim, de seus seguidores, dando novo impulso às Festas dessas tradições de Reis.

Colocando a inculturação na linha da encarnação promovida pelo Cristo, compreende-se que se trata de atingir os níveis mais profundos que constituem uma cultura, nas organizações da sociedade, nos relacionamentos entre os homens e com Deus 6.

No Brasil, as tradições populares do Ciclo Natalino, baseadas nos costumes religiosos ibéricos, são designadas por Reisados. Segundo o mestre folclorista brasileiro Câmara Cascudo “[...] sem especificação maior refere-se sempre aos ranchos, ternos e grupos que festejam o Natal e Reis. O Reisado pode ser apenas a cantoria como também possuir enredo” (Câmara Cascudo,1998). É necessário lembrar que, dentro do ciclo natalino, existem manifestações que, apesar de serem habitualmente chamadas de Reisados, não possuem a temática dos Reis Magos e do Menino Jesus, o que não impossibilita a participação desses grupos nas Festas de Santos Reis. Como exemplo, temos a Chegança e a Marujada (temática náutica, envolvendo a luta dos Mouros contra os Cristãos), a Taieira e o Ticumbi (temática afro-brasileira).

Falta unanimidade na definição conceitual por parte de estudiosos dos Reisados, em função da dificuldade classificatória dessas manifestações, posto que se compreendem em um numeroso grupo: as Folias/Companhias/Embaixadas de Reis, o Terno de Reis(baiano e sulino), Pastor, Tiração de Reis, o Presépio, as Pastorinhas, os Pastoris, o Bumba-meu-boi do Nordeste brasileiro oriental, o Boi-de-Mamão, o Boi de Reis, o Reis de Bois, o Cavalo-Marinho, a Companhia de Pastores, as Reiadas, Reis de Careta e tantas outras manifestações, cobrindo praticamente todo o território brasileiro. Encerra a questão o folclorista Ulisses Passarelli:

“A verdadeira riqueza do folclore brasileiro está na variedade inclassificável, no sincretismo, nos fenômenos de transposição, interpenetração e influências folclóricas, nas múltiplas variantes, em toda a criatividade, plasticidade, presença de espírito e dinâmica com que o povo os cria, recria, adapta, extingue e ressuscita”. (“Reisados Brasileiros: tipologia”, 2003).

Em alguns Grupos de Reis, o período de jornada/giro adianta-se ou estende-se aquém ou além do período de 24 de dezembro até 6 de janeiro. A partir do dia 8 de dezembro (Nossa Senhora da Conceição) até o dia de São Brás (3 de fevereiro – entendendo que, por advogar contra problemas de garganta, o Santo possa garantir uma boa voz para a cantoria), os Grupos podem encerrar sua jornada/giro. O tradicional Dia de Reis (6 de janeiro) é o mais marcante, seguido, em alguns lugares, pelo dia de São Sebastião (20 de janeiro – Folias de São Sebastião) e ainda pelo dia de Nossa Senhora das Candeias (2 de fevereiro).

No caso das Folias/Companhias/Embaixadas de Reis, as formas de representação dos grupos e de seus componentes, como também os estilos de cantoria, entre outras características, variam de região para região, entretanto a essência, o núcleo dramático dessas tradições “que é contar, rememorar a viagem dos Três Reis Magos, o culto ao Menino Jesus” (Diniz, 2007) não muda. De uma maneira mais ampla, todos os reisados, sob influência dos Reis Magos, constituem autos populares ou grupos de cantoria, formados: “[...] por grupos de músicos, cantadores e dançadores, que vão de porta em porta, no período de 24 de dezembro a 6 de janeiro, anunciar a Chegada do Messias, homenagear os Três Reis Magos e fazer louvações aos donos das casas onde dançam”. (Rocha, 1984)

Normalmente, saem por promessa e/ou devoção aos Santos Reis, e nas visitas, os Grupos de Reis entram nas casas, cantam à saúde e pedem a proteção de seus moradores, desejam o melhor para todos, através de bênçãos, recebendo, em contrapartida, donativos (dinheiro, mantimentos, entre outros). Esse “[...] ritual de reciprocidade [...] que se processa entre pessoas do grupo e dos moradores das casas visitadas”(Silva, 2006, 174) é o que os identifica, pois é nesse momento em que se percebem as trocas simbólicas imbuídas dessa outra característica marcante dos grupos, o peditório, que, de acordo com Théo Brandão (7), “[...] é o que lhe dá o verdadeiro [sentido] e lhe cria individualidade”. Os donativos arrecadados são utilizados para a realização da Festa de Encerramento do Grupo, ou Festa do (Ar)Remate, evento que marca o fim da jornada/giro, com fartura de comida e bebida, ansiosamente aguardado pelos componentes, familiares e convidados. Em muitas regiões, é comum a presença da figura do Festeiro (indivíduo que se prontifica a realizar essa festa),e em algumas regiões o responsável ou dono do Grupo (Mestre/Embaixador/ Capitão) assume esse papel.

As Festas de Santos Reis contam com grande envolvimento da comunidade. Os moradores/devotos incentivam os Grupos de Reis, ajudando como podem. Muitas famílias fazem questão de recebê-los em suas casas, oferecendo lanches para os integrantes. Costureiras costumam destinar um pouco de seu tempo para a confecção das indumentárias e artistas plásticos doam um pouco de sua arte aos “Santos Reis”. Outros se destinam a acompanhar os Grupos em suas peregrinações pelas ruas das cidades, ajudando no que for preciso.

A participação de pessoas da mesma família e de amigos nos Grupos de Reis é um fato de extrema importância para entendermos a resistência das tradições, na medida em que fica mais fácil se organizar e preservar suas raízes culturais, transmitidas de geração para geração, de pai para filho. Cada pessoa possui um papel importante dentro do complexo universo ritual e dos Grupos de Reis, que inclusive podem ter regulamento (estatuto) interno, com normas que devem ser seguidas pelos componentes e que estabelecem uma hierarquia e conduta mais responsável, disciplinada e fraterna podendo, inclusive, “punir” com a desfliação o integrante que não seguir esses preceitos. O mesmo se passa com as associações constituídas por um ou mais grupos de uma localidade, município ou região.

Por se tratar de uma enorme família, é bem representativo o número de crianças que participam desses grupos, o que estimula e desenvolve o seu lado lúdico, fazendo-as interagir internamente (entre elas) e externamente (com outros grupos), acelerando o processo de ensino-aprendizagem, inerente ao meio acadêmico (escolas) – primeiro contato com educação patrimonial. Essa experiência e a aproximação dos mais jovens são fundamentais para a perpetuação dessas tradições, uma vez que os detentores do “conhecimento dos antigos” encontram-se, em sua maioria, com idade avançada e, em alguns casos, infelizmente, não podem mais difundir seu rico legado. Vivenciando o fato folclórico, as crianças conhecem/absorvem melhor esse conhecimento transmitido pelos Mestres, reforçando seus laços culturais e conscientizando-se de sua identidade.
Cabe observar um expressivo surgimento de Associações/Organizações de Grupos de Reisados pelo Brasil, impulsionado pela busca de recursos e apoio por parte de seus participantes, resultando também na mobilização de seus integrantes e na participação das comunidades de seu entorno. Geralmente essas instituições da sociedade civil atuam em parceria com órgãos municipais encarregados da execução das Festas/Encontros de Reis (palco/ palanque, sonorização, transporte, alimentação, etc.).

A construção de Igrejas e Capelas de Santos Reis constituiu um ponderável componente de preservação das tradições. Esses espaços sagrados agregaram cerimônias religiosas populares como: missas solenes, procissões, dramatizações, apresentações decorais, etc., facilitando as atividades das Festas. Nos salões e outras instalações agregadas possibilitam também a realização de eventos comunitários. Essa iniciativa de erguer templos aos Reis ganhou mais força com a constituição dos Grupos em entidades associativas.

Os Grupos, geralmente compostos por pessoas humildes, de localidades/ bairros periféricos, precisam adaptar-se aos novos tempos que impõem, em função da necessidade de se trabalhar, que seus integrantes saiam para as jornadas/giros ou de noite ou nos finais de semana, muitas vezes também deixando para usar suas férias durante esse período. Sacrifícios à parte, o ritual é sempre muito bonito e composto de “etapas” ou “fases”, que podem variar de acordo coma região, mas com algumas poucas alterações: chegada/abrição de portas; saudação aos donos da casa, louvação ao presépio, despedida e, dependendo da manifestação, apresentação cantada/recitada e/ou dançada dos palhaços (e seus congêneres regionais). Podem ainda apresentar “cantos circunstanciais”, com temas diversos. O teor dos versos cantados é normalmente de natureza bíblica.

Em resumo, individualmente, podemos identificar claramente que existem dois tipos de Festa de Reis: as festas de encerramento de cada grupo e de “confraternização coletiva”, onde diversos grupos se apresentam publicamente “fora de sua base ritualística de ampla significação” (Idem, p. 8.), assinalando uma nova perspectiva: maior intercâmbio entre os grupos locais e regionais, apresentações fora do período tradicional e, consequentemente, maior participação dos moradores. Essas Festas de confraternização coletiva recebem diferentes denominações: Encontro de Folia de Reis, Festival de Folias de Reis, Festa de Santos Reis, Chegada das Bandeiras, entre outros, e costumam reunir um grande público. Os grupos participantes ganham troféus, certificados, visibilidade social e, algumas vezes, dinheiro. Alguns pesquisadores admitem que essas festas sejam um dos principais instrumentos de preservação da tradição e onde “[...] essas relações [comunitárias e associativas] atingem o auge” (Pereira, 1997).

Festas de Santos Reis pesquisadas no Brasil, por cidades e principais grupos de reisados participantes (SILVA, 2006):

• Pará: Belém, Ananindeua – Tiração de Reis e Folia de Reis

• Maranhão: São Luís e Caxias – Pastor e Reis de Careta;

• Piauí: Teresina – Reis de Careta

• Ceará: Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha - Reisado

• Rio Grande do Norte: Natal – Boi de Reis (Boi Calemba);

• Paraíba: João Pessoa, Tacimas e Bananeiras – Boi de Reis e Cavalo-Marinho;

• Pernambuco: Carpina, Santa Maria da Boa Vista e Garanhuns – Pastoril, Bumba-meu-boi,
Reisado, Cavalo-Marinho;

• Alagoas: São José das Lajes – Reisado e Guerreiro

• Sergipe: Laranjeiras e Japaratuba - Reisado:

• Bahia: Salvador e Santo Amaro da Purificação – Terno de Reis;

• Espírito Santo: Muqui, São Mateus e Conceição da Barra – Folia de Reis e Reis de Boi;

• Minas Gerais: Juiz de Fora, Poços de Caldas, Passos, Três Corações, Três Pontas, Itaú de Minas, Uberaba, Uberlândia, Araxá, Romaria, Patos de Minas, Jequitibá, Sete Lagoas, Montes Claros, Bocaiúva e Pirapora – Folia de Reis, Pastorinha e Companhia de Pastores;

• Rio de Janeiro: Nova Friburgo, Cordeiro, Barra Mansa, Duas Barras, Valença, Rio das Flores, Vassouras, São Fidélis e Itaocara – Folia de Reis;

• São Paulo: Ribeirão Preto, Batatais, Altinópolis, Cajuru, Santo Antônio da Alegria, Cássia dos Coqueiros, São José do Rio Preto, Votuporanga, Nhandeara e Assis – Companhia de Reis;

• Goiás: Goiânia – Folia de Reis;

• Distrito Federal: Brasília – Folia de Reis;

• Mato Grosso do Sul: Cassilândia, Parnaíba e Aparecida do Taboado – Folia de Reis;

• Paraná: Londrina, Maringá e Sarandi – Folia de Reis;

• Santa Catarina: Florianópolis e Itajaí – Boi-de-Mamão e Terno de Reis;

• Rio Grande do Sul: Osório, Gravataí e Santo Antônio da Patrulha – Terno de Reis.

Observa-se que os Grupos de reisados estão mais organizados, dispõem de maior apoio do poder público e realizam as Festas, a cada ano, com maior repercussão social. Entretanto, continuam realizando a sua produção de forma independente, fazendo praticamente tudo com recursos próprios: vestimentas (grupos saem com roupas doadas por outros grupos), conserto/compra de instrumentos, contratação de músicos quando necessário (sanfoneiro, cavaquinho, etc.), compra de alimentos para as Festas de Arremate. Alguns Grupos já produzem, sob forma de gravação (cassete, CDs e até em DVD), o registro de suas apresentações.

Hoje em dia, as Igrejas Pentecostais, que se instalaram nas periferias das localidades, têm contribuído para o arrefecimento das tradições de Reis, retirando muitos componentes dos Grupos de Reisados, normalmente por intolerância ou preconceito. O respeito à diversidade cultural independe de crenças e deveria ser tratado como um valor de cidadania.

Após a leitura desse texto, devemos refletir sobre a importância de se levar o conteúdo das Festas Populares para debate com profissionais da área da educação e, posteriormente, para os jovens nas escolas. Essas celebrações acontecem no âmbito da pedagogia da aprendizagem (“escola da vida”) e complementam a pedagogia da instituição de ensino, derrubando diferenças sociais e “desenvolvendo seus mecanismos próprios de transmissão do conhecimento” (Idem, p. 14.)

Existem assuntos relativos às Festas que, se tratados de maneira transversal dentro das escolas, preencheriam lacunas historicamente excludentes dos menos favorecidos, como também aproveitar para pensar em um Natal mais brasileiro, refletindo, tanto quanto possível, os valores de nosso patrimônio artístico-cultural. É um momento que os pobres se levantam, dizem sua voz, apresentam sua resistência, e para aqueles que sabem ver, está aqui o grito de libertação, o grito de justiça, o grito de vida nova. (depoimento do Padre Medoro de Souza, da Igreja Matriz de Valença/RJ, para o documentário Dias de Reis, de Lúcia Beatriz Torres e Raphael Cavalcante,2006).

Bibliografa:

Silva, Affonso Furtado. Reis Magos: história, arte, tradições. Rio de Janeiro, Léo Christiano Editorial, 2006.

Mâle, Émile. L’Art Religieux de XII siècle, inserido no Gazette de Beaux Arts (1904).
Câmara Cascudo, Luís de. Dicionário do Folclore Brasileiro.9a edição. Rio de Janeiro, Ediouro, 1998.

Revista Mundo e Missão. http://www.pime.org.br/mundoemissao/evanincultigreja.htm.

Passarelli, Ulisses. Reisados Brasileiros: tipologia, 2003.

Diniz, Domingos. As Folias de Santos Reis, 2007. www.aguacomprida.mg.gov.br/hist_folia.html. (publicado pela Comissão Mineira de Folclore)

Rocha, José Maria Tenório. Folguedos e danças de Alagoas: sistematização e classifcação. Maceió : Depto da Assuntos Culturais, 1984.

Pereira, Edimílson. A Educação pela Festa, para “Carranca” – Órgão informativo da Comissão Mineira de Folclore (Ano 2, nº. 23,agosto de 1997).

Dias de Reis, documentário de Lúcia Beatriz Torres e Raphael Cavalcante (2006).

Notas

(1) Jornalista e Radialista. Graduada em Comunicação Social pela UFRJ.

(2) Produtor Cultural.

(3) Este e outros textos deste artigo são baseados no livro Reis Magos: história, arte, tradições – fontes e referências (Silva, Affonso Furtado da. Rio de Janeiro: Léo Christiano Editorial, 2006).

(4) É interessante assinalar, como exemplo, a existência, até hoje, dos Grupos de Stern- singers (Cantadores da Estrela), atualmente apoiados por uma organização missionária alemã, Kindermissionwerk , que desenvolve projetos de educação cristã, em nível mundial, com crianças carentes.

(5) Essa celebração acontece desde 6 de janeiro de 1336, conforme registrado por Muratori (“ Rerum Italic Scriptors”, Milan, 1728, t. XII, p. 1018).

(6) Revista Mundo e Missão – www.pime.org.br/mundoemissao/evanincultigre- ja.htm.

(7) Em um de seus muitos trabalhos sobre os folguedos natalinos.

Este texto integra o boletim do programa “Festas de Santos Reis” da série “Aprender e ensinar nas festas populares”, abril, 2007. www.tvebrasil.com.br/ salto/

Do livro: Cultura popular e educação. Organização René Marc da Costa Silva. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação a Distância, 2008.

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