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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
15 anos sem Darcy: o importante é inventar o Brasil que queremos
Há 15 anos morria Darcy Ribeiro, no dia 17 de fevereiro de 1997. Aos 74 anos, o sempre jovem e irrequieto educador, deixava de herança ao povo brasileiro uma história de muito trabalho, dedicação e amor pelo Brasil.
Homem de várias peles, como ele mesmo se traduzia, Darcy Ribeiro, o etnólogo indigenista, educador, político e escritor não se afastou durante toda a sua vida do desafio de inventar o Brasil que nós queremos.
Para homenagear Darcy, o site do PDT, nesses próximos 7 dias, publica um pouco do seu pensamento, dos seus fazimentos.
Leia abaixo, um pequeno trecho de um texto Meninos de rua, publicado no livro Darcy Ribeiro – Crônicas Brasileiras, organizado por Eric Nepomuceno em 2009. Os textos reunidos nesse livro foram escritos entre 1995 e 1997, quando Darcy Ribeiro manteve uma coluna semanal na Folha de São Paulo. As crônicas contêm algumas das preocupações mais profundas e o inconformismo de Darcy.
Meninos de rua
Darcy Ribeiro
“Você gosta de meninos de rua? As pessoas são classificáveis, para mim, em duas categorias. As que gostam e as que detestam. Eu sou dos primeiros, gosto deles. Acho até que, se eu fosse favelado, queria ser menino de rua.
Não há comparação possível entre a vida de um menino da favela ou das periferias, que é onde eles mais se concentram, e a de um da rua. Os primeiros vivem famélicos, pegando comida do lixo e tentando roubar uma banana na feira dos pobres, com o perigo de levar uma bala. Sua salvação é se transformarem em agentes dos traficantes. Eles põem nas suas mãos armas poderosas, que todo menino gostaria de manipular, e muito dinheiro, mais do que seus pais ganham, inclusive para ajudar o sustento da casa.
Vida de menino de rua é outra coisa. Seu espaço é a rua mesmo. Cheia de carros bonitos, cujas marcas e anos de fabricação eles conhecem perfeitamente, rodando macios ou perigosamente velozes. Cheias de vitrines cintilantes, com mercadorias que não querem nem podem comprar, mas que são boas demais de ver. O roubo na rua também é mais fácil e mais rendoso. Suas vítimas são indefesas e têm mais o que dar, como jóias bem pagas pelo receptador e dinheiro vivo.
O convívio também na rua, entre eles, é melhor. Têm que respeitar as meninas, porque toda menina tem dono, seja um adulto que as explore como cafetão, seja outro guri que a considere e defenda como esposa. Outra qualidade da vida na rua é que ela dá importância aos meninos. Gente de toda parte e de todas as religiões chega ali cheia de dinheiro, querendo salvá-los. Eles se cuidam de não se entregar, mas recebem o que lhes dão de graça – só custa umas fotos com o assistente social.” (Folha de S. Paulo, 17 fev. 1997)
PDT
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