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sábado, 11 de fevereiro de 2012
Paulinho da Viola faz 70 anos com material inédito para gravar CD Bloco faz homenagem neste domingo para que jovens conheçam sambas antigos
Paulinho da Viola estará no trio elétrico do Timoneiros da Viola, em Madureira: ele exigiu que não fossem cantadas apenas músicas suas Foto: Mônica Imbuzeiro / Agência O Globo
Paulinho da Viola estará no trio elétrico do Timoneiros da Viola, em Madureira: ele exigiu que não fossem cantadas apenas músicas suas Mônica Imbuzeiro / Agência O Globo
RIO - Em meados do ano passado, o jornalista e pesquisador Vagner Fernandes esteve com Paulinho da Viola não para saber se lhe interessava receber uma homenagem, mas para comunicar que ele seria homenageado pelo bloco Timoneiros da Viola, que acabara de ser criado. O compositor se assustou, pois, em função do plano que traçara para o carnaval de 2012 (shows no Sesc Pinheiros, em São Paulo, de sexta-feira a domingo, e descanso nos dois dias restantes), já recusara convite de outro bloco.Acalmou-se ao ser informado que o desfile seria no domingo anterior ao carnaval, data sem compromisso marcado. Mas assustou-se de novo quando ouviu que apenas músicas suas estariam no repertório.
— Isso não existe — rechaçou Paulinho, sugerindo que também fossem cantadas criações de outros autores, "sambas que normalmente não são mais cantados".
Vagner aceitou o argumento, e é em nome dessa ideia que Paulinho estará amanhã sobre um trio elétrico, sob o calor de Madureira, desempenhando o papel de protagonista da primeira ida às ruas do Timoneiros da Viola, com concentração marcada para as 11h na Praça Paulo da Portela e saída prevista para as 13h.
— Será interessante ver a reação do pessoal mais novo em relação a essas músicas que não vêm sendo cantadas, inclusive músicas de grandes compositores da Portela. Isso me motivou — explica Paulinho.
O bloco promete sambas de Bide, Marçal, Candeia, Nelson Cavaquinho, Cartola, Donga, João da Baiana, Ismael Silva, Alvaiade, Manacéa, Chico Santana... Gente, enfim, que Paulinho homenageou na letra de "Bebadosamba".
— Queremos cantar samba durante o carnaval. É só isso, o feijão com arroz — afirma Vagner, ampliando sua ambição ao dizer que "a ideia foi recuperar o romantismo dos antigos carnavais de subúrbio".
Paulinho diz que muitos desses carnavais passaram por sua vida. Ele brincava em blocos por Madureira, Cascadura, Campinho, Marechal Hermes, Vila Valqueire e, também, Botafogo, onde passou infância e adolescência.
— Assisti a muitos ensaios dos Foliões de Botafogo, inclusive o do lançamento do "Tristeza" ("Tristeza/ Por favor, vá embora..."), do Niltinho. Tinha o Carijó, que era da rua em que eu morava, a Pinheiro Guimarães. O bloco cantava os sambas do rádio, como se dizia. Outros blocos tinham compositores, como o São Clemente. Brinquei muito carnaval, fui até a banho de mar a fantasia — recorda-se ele.
Por Paulinho, a Velha Guarda da Portela subirá amanhã pela primeira vez num trio elétrico. Pela Velha Guarda, da qual é padrinho e o pioneiro produtor (disco "Passado de glória", de 1970), e por insistência de outros amigos da escola, Paulinho não faltará ao desfile da Portela, o segundo do domingo de carnaval. Logo após o show do Sesc Pinheiros, pegará um avião e correrá para o Sambódromo.
— Nunca fiz isso — espanta-se ele, que voltou a sair em sua escola em 1995, após 17 anos de afastamento, e desde então só faltou em duas ocasiões.
— Estamos num outro tempo, e muitos dos grandes sambas do passado não podem ser cantados no andamento atual (acelerado) — observa. — Falei demais sobre isso, até compreender que a vida é isso mesmo, a vida muda. Passei a evitar críticas, porque há pessoas envolvidas nesse trabalho o ano inteiro, aquilo (as escolas de samba) é a vida delas. Não tem sentido ficar repetindo o que eu já disse.
Em 12 de novembro, Paulinho completará 70 anos. Com a discrição habitual, diz que não tem planos de comemoração:
— Por mim, não faria nada. E acho que não vai ter nada de especial. Tomara que não.
Mas, ainda que por coincidência, poderá haver. Ele foi sondado para se apresentar pela primeira vez no Carnegie Hall, em Nova York, em novembro. Se confirmado, o show será dentro de um pequeno festival de música brasileira a ser realizado no mesmo palco em que, há 50 anos, ocorreu o concerto que lançou a bossa nova nos Estados Unidos.
E ainda há a possibilidade de acontecer algo cada vez mais raro na carreira de Paulinho: um disco. Ele, que lançava pelo menos um por ano na década de 1970 (em 1971 e 1976 foram dois), foi aumentando os intervalos a partir da década seguinte. O último majoritariamente de inéditas foi "Bebadosamba", de 1996. O último a ser lançado, "Acústico MTV" (2007), tinha quatro canções novas.
— Tenho umas sete inéditas. Mostrei algumas no show do Vivo Rio (em julho passado), mas depois guardei. Estou trabalhando outras, e há antigas praticamente prontas. Pode ser para este ano (o disco). Espero que seja — diz ele, que tem com a Sony, que lançou o "Acústico", contrato para um segundo CD, mas está brigando na Justiça com a gravadora, pois ela alega que o artista descumpriu um contrato de administração de shows ao não repassar uma quantia.
Ser convencido a estar amanhã em Madureira não foi obra do acaso. Portelense que desfila na escola desde os 9 anos, Vagner o conhece há muito tempo. Já publicou um livro — que será relançado este ano — sobre Clara Nunes, um dos maiores símbolos da Portela e presente no enredo deste ano, e concluiu outro sobre Cartola, um dos mestres de Paulinho.
— Tenho verdadeira idolatria por Paulinho. E imaginei o bloco quando estava no Largo de Bangu, no carnaval do ano passado, e vi as pessoas se abraçando e chorando quando tocou "Foi um rio que passou em minha vida" — conta Vagner, que, atendendo a sugestões de Paulinho, pretende que a bateria do bloco toque os sambas com cadência semelhante à dos tempos idos.
O autor de "Para ver as meninas" aguarda a chegada do sexto neto e acompanha as carreiras dos filhos, como Beatriz Faria, atriz e cantora que está no elenco do musical "Sassaricando", e João Rabello, violonista como o tio Raphael e que lançou no final do ano passado, aos 30 anos, seu segundo CD, "Uma pausa de mil compassos".
— Gostei muito desse disco. João poderia até trabalhar menos, mas faz um esforço para criar uma coisa dele. Acho que ele está no caminho certo — aprova o pai.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/paulinho-da-viola-faz-70-anos-com-material-inedito-para-gravar-cd-3942986#ixzz1m76IdUvC
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