Agradecemos a marca de 1000 visitas

Agradecemos a marca de 40.000 visitas

No nosso blog: Brasileiros, Norte Americanos, Portugueses, Canadenses, Russos, Ingleses, Italianos, Eslovenos, enfim, todos que gostam da cultura Brasileira e que tem nos acompanhado.

domingo, 4 de março de 2012

Artesão das horas vagas

Vista pela maior parte da população de Barra Mansa como um empecilho para o desenvolvimento da cidade a malha ferroviária é a fonte de inspiração para um aposentado da extinta Rede Ferroviária Federal (RFFSA). Atualmente trabalhando como motorista de táxi, o ex-maquinista José Geraldo Rodrigues, de 64 anos, tem em casa um acervo de réplicas que conta uma parte da história do trem não só na região como no país. Desde 2008, ele vem produzindo miniaturas de locomotivas, vagões e estações de trens, verdadeiras obras de arte que chamam a atenção pela fidelidade às originais. "Para mim virou uma terapia. Nas horas vagas, quando a gente não tem o que fazer, inventa", diz José Geraldo, nascido em Barra do Piraí e morador de Barra Mansa há 40 anos. Ele trabalhou por 21 anos na RFFSA – entre 1975 e 1996 – e impressiona ainda mais ao mostrar as poucas ferramentas que usa para fazer as miniaturas: nada além de uma serra tico-tico, uma furadeira, esmeril, algumas chaves de fenda e martelo. Além do mais, não se inspira em registros fotográficos para desenvolver suas criações, baseando-se apenas na própria memória. Algumas réplicas estão na garagem da casa, que serve também de oficina. Outras estão na sala, ao lado de outras peças de artesanato, como de uma carroça de leite, que ele produziu contando a sua própria história. "Comecei a trabalhar com meu pai quando tinha 12 anos e transportava leite numa carroça assim", lembra José, apontando para a miniatura. Quando o assunto é o transporte ferroviário, José Geraldo mostra as réplicas das estações de Barra Mansa, Bananal e Rialto. Já os trens, todos detalhados ao extremo, são o de aço (chamado Rio-São Paulo), o Mineiro (que fazia a ligação Barra Mansa-Ribeirão Vermelho, no Sul de Minas, também conhecido como Trem Azul), o Barra Mansa-Angra dos Reis, o trem de carga (que fazia o percurso Barra Mansa-Arcos, em Minas) e a famosa Maria Fumaça. O Trem Mineiro foi o que consumiu mais tempo: quatro meses. A Maria Fumaça ele reproduziu em apenas 10 dias. "Adoro a ferrovia", diz o aposentado, que sonhava com a profissão quando ainda trabalhava numa fábrica de papel em Piraí. - Lá eu ganhei o apelido de maquinista. Toda vez que passava um trem eu era motivo de gozação, porque dizia que um dia ia ser um. Até que voltei lá com o documento de maquinista – conta José Geraldo, cuja casa, na Avenida Argemiro Coutinho, fica a cerca de 20 metros de um dos ramais ferroviários que cortam o Centro. O barulho que, para os outros, pode ser um tormento, para ele é uma canção de ninar: "Se não tem barulho do trem, nem buzina, eu não durmo". A casa dele, por sinal, não tem campainha, mas sim um sino semelhante aos que eram usados nas estações para avisar que o trem ia partir. E, num lugar especial, está também um lampião com três cores, que era usado como sinalizador. - O vermelho era para parar o trem. O amarelo significava atenção, era para reduzir a velocidade e o branco servia mesmo para clarear, conta o ex-maquinista. Ele garante, porém, que não foi a saudade da profissão que o levou ao artesanato: "Não sinto saudade, tenho respeito pelo tempo. É preciso dar espaço para os outros e por isso me aposentei. Foi mesmo apenas para preencher o tempo, não é um trabalho profissional". Lamento com fim do Trem Mineiro José Geraldo é de uma época que o transporte ferroviário não era só de cargas, mas também de passageiros, até que começou a perder espaço para o transporte rodoviário. Lamenta, por exemplo, o fim do Trem Mineiro: "O trem parou de circular pouco depois que eu me aposentei. Acredito que foi muito ruim para as cidadezinhas de Minas, pois passava perto das fazendas, dos sítios e o pessoal vinha trazer seu queijinho da roça para vender em Barra Mansa". José Geraldo trabalhou nas cidades mineiras de Belo Horizonte, Divinópolis, Ibiá e Lavras, mas regulamente conduzia os trens pelos trechos Barra Mansa-Angra ou Barra Mansa-Andrelândia (MG). "Mas se era preciso substituir alguém e esticar, eu era o primeiro da fila, porque conhecia novos lugares, fazia amizades", conta o ex-maquinista. Que, por sinal, reconhece os transtornos causados pelo trem em Barra Mansa, mas acha que se esquecem de um detalhe importante: a ferrovia chegou primeiro. - A estação de Barra Mansa foi inaugurada em 1871 pela Princesa Isabel, que ficou hospedada na casa do major José Bento. A cidade veio depois – salienta. Sobre o projeto de readequação ferroviária, que está em andamento, ele diz que há muito tempo ouve falar e que, se "acontecer o que está projetado, vai ser bom para a cidade e para a ferrovia". As réplicas produzidas pelo aposentado da RFFSA foram expostas apenas duas vezes, no Sesc de Barra Mansa e em Portela, distrito de Miguel Pereira. Disposição para mostrar esta história ele tem, pois entende que sua arte pode ajudar os mais jovens a conhecer um pouco da história. Por isso, não se furta a colocar à disposição o telefone celular (9212-7922) para quem quiser entrar em contato. Uma dica: quem se interessar deve pedir ao aposentado para incluir outras relíquias que ele tem em casa. Juntamente com a mulher, Rosilda, ele gosta de colecionar objetos antigos. Mas isso é outra história.

Um comentário:

  1. É cada trabalho mais lindo do que o outro e feito com muita perfeição.

    ResponderExcluir