por Mateus Beatle
Como cidadão morador de Assis, gostaria de compartilhar com vocês, leitores do Viomundo, a denúncia deste verdadeiro atentado contra a cultura dessa cidade paulista.
Assis, no interior de São Paulo, está prestes a perder um importantíssimo espaço de difusão cultural – o Galpão Cultural. O local é mantido por ONGs, através de gestões coletivas, e, em 2010, passou à condição de Ponto de Cultura, em convênio firmado com o Ministério da Cultura.
Motivo: o prefeito do município, Ézio Spera (DEM), deixou pagar de pagar os alugueis do imóvel em que o Galpão está instalado. Em função disso, já recebeu notificação de despejo, o que deve ocorrer até maio.
Fachada do Galpão Cultural
Para comprovar, basta acessar o site do Galpão, onde estão registradas as inúmeras e atividades que lá acontecem.
Na semana passada, precisamente no dia 21/03/2012, houve uma manifestação, em frente à prefeitura do município, como forma de denunciar o iminente despejo, e consequente término do espaço. Durante o ato, alguns dos trabalhos desenvolvidos lá foram apresentados (roda de capoeira de Angola, apresentação da oficina de ritmos, etc.) e distribuídos panfletos informativos sobre a questão toda.
À imprensa local o pessoal do Galpão Cultural distribuiu para a imprensa local:
O Galpão Cultural foi criado em 2006 para sanar a necessidade de cinco coletivos culturais e diversos artistas que necessitavam de um espaço, seja para guardar seus equipamentos, realizar oficinas, reuniões, eventos, enfim, ser um dispositivo de cultura no município de Assis.
Com o passar de 3 anos de muita dificuldade para pagar o aluguel deste espaço, o coletivo gestor do Galpão Cultural resolveu procurar o Executivo Municipal para firmar um convênio, o que se deu por um período de um ano.
Com o desenrolar deste ano que fomos subsidiados pela Prefeitura Municipal, conseguimos aprovar inúmeros projetos e obter reconhecimento federal e estadual para o trabalho que realizamos, fato este comprovado com os prêmios de Ponto de Leitura e Ponto de Cultura, além do edital Loucos pela Diversidade, prêmio Arthur Bispo do Rosário e inúmeras premiações do Programa de Ação Cultural (PROAC). Infelizmente nenhum destes nos permite arcarmos com o aluguel do espaço.
Com a finalização do convênio, encaminhamos um ofício ao prefeito municipal Ézio Spera em maio de 2010 (ainda não respondido oficialmente) solicitando a continuidade do convênio. Amargamos diversos meses tentando nos reunir com ele, até que quando conseguimos, o mesmo pactuou conosco que faria tal pagamento, o que posteriormente foi descumprido e inúmeros problemas de ordem burocrática foram levantados. Mesmo respondendo a todos os problemas levantados, tal renovação do convênio não foi firmada.
Vendo o desinteresse da Prefeitura Municipal em solucionar nosso problema, resolvemos dialogar com a nova diretoria da Fundação Assisense de Cultura (FAC), que durante a sua primeira reunião conosco se prontificou em fazer o pagamento. Contudo, mesmo se passando quase um ano, nenhum convênio foi firmado e nenhum mês de aluguel foi pago. Além disso, já foi aprovado no Conselho Curador da FAC que tal convênio deveria ser firmado.
Recentemente a FAC elaborou uma proposta para o pagamento do aluguel que a proprietária recusou. Tal proposta, segundo a Diretora Executiva da FAC, poderia ser complementada por recursos da prefeitura e, segundo a mesma nos informou no dia 15/03, a complementação da prefeitura não foi aprovada.
Diante da proposta não aceita pela proprietária e da não complementação da prefeitura municipal, a proprietária do imóvel solicitou que desocupemos o imóvel em, no máximo, 2 meses, pois a mesma já não recebe há quase 2 anos.
Assim, o fechamento do Galpão Cultural será o fim de um espaço cultural que congrega grupos totalmente diversos em respeito mútuo. O Instituto do Negro Zimbauê, a Associação dos Usuários, Familiares e Amigos da Saúde Mental (Pirassis) e o Circuito de Interação de Redes Sociais (Circus), além de outros grupos culturais, ficarão sem sede própria. Diversas oficinas deixarão de ser oferecidas na cidade. A cidade de Assis perderá seu único Ponto de Cultura, convênio com o Ministério da Cultura, e consequentemente uma referência nacional. O Galpão Cultural terá que devolver R$ 60.000,00 ou mais ao Ministério da Cultura (dinheiro este que não pode ser utilizado para pagamento do aluguel). Um investimento de cerca de R$ 200.000,00 em mobiliário e em bens adquiridos será menosprezado. Instrumentos, livros, equipamentos sonoros e de luz, arquivos e filmes adquiridos com recursos federais ou conseguidos por premiações ou via editais não terão onde ser armazenados. A Biblioteca Comunitária será fechada. O Complexo Prudenciana e a cidade como um todo perderão mais um espaço cultural aberto e democrático. Cerca de 10 pessoas perderão parte de sua renda gerada através do trabalho ali realizado. Mais de 10 grupos/bandas/conjuntos perderão o local onde têm por hábito ensaiar. Deixará de existir o espaço cultural da cidade que mais articulou eventos nos últimos anos de forma independente.
Além disso, durante os seus 6 anos de existência, o Galpão Cultural já contou com a participação de mais de 20 grupos em sua gestão, sendo esta coletiva. Tem um fluxo de mais de 100 pessoas semanalmente, chegando a um fluxo de 5.000 pessoas semestralmente ao contabilizar seus eventos. Contabiliza mais de 5.000 pessoas frequentadoras do espaço. Já trouxe à Assis mais de 5 apresentações internacionais. Já trouxe à Assis cerca de 50 grupos artístico-culturais nacionais. Realiza há 6 anos oficinas culturais diárias e eventos culturais esporádicos. Já acolheu estagiários em cumprimento de créditos em disciplinas universitárias. Já recebeu e acolheu pessoas em cumprimento de medidas sócio-educativas. Acolhe grupos que desenvolvem culturas tradicionais reconhecidas como patrimônio cultural brasileiro.
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