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sábado, 21 de abril de 2012

Nos ombros do Visconde de Sabugosa



Eu me criei na Ilha de Marajó, vai contando Zezinho... Conhecido pela participação na Guerrilha do Araguaia, o ex-mateiro excepcionalmente não toca agora nesse assunto, devaneia e busca a arca da infância, de onde surge um Monteiro Lobato muito mais heroi da pátria do que autor de literatura infanto-juvenil.

Por Christiane Marcondes, do Vermelho



Zezinho do Araguaia Zezinho do Araguaia
“Monteiro Lobato era ídolo do meu pai, que sabia tudo sobre ele e contava pra nós”. Nós -- entenda-se -- eram ele e seus irmãos, crescendo em uma Belém do começo do século 20, muito distante no tempo e no espaço do insondável sítio do Picapau Amarelo.

Aqui Zezinho sorri, se desarma do militante e fica com olhar perdido de moleque, nostálgico. Diz que o pai nasceu em 1901, foi praticamente contemporâneo de Lobato e acompanhava cada nova façanha do paulista: “Lobato era o Julio Verne brasileiro”, afirma, repetindo o pai, que igualava o visionarismo do francês ao do brasileiro.

Se Julio Verne viajou ao centro da terra na imaginação, Monteiro Lobato prospectou verdadeiramente as camadas do subsolo brasileiro em busca de petróleo: "O solo, a superfície, apenas permite a subsistência. O enriquecimento vem de baixo. Vem do subsolo", afirma o autor em uma de tantas cartas que escreveu defendendo o nacionalismo e a soberania do país por meio da exploração e apropriação de suas riquezas, como petroleo e ferro.

“Os americanos mentiam, diziam que aqui não havia petróleo, mas o Lobato fez fortuna e gastou toda fortuna cavando poços pelo país”, garante o comunista. A partir daqui não importa o que são armadilhas da memória ou retalhos de vida, o fato é que Zezinho, batizado Micheas Gomes de Almeida pelo pai, cresceu, como tantos e tantos de nós, ouvindo as histórias de Narizinho, Pedrinho, Tia Sinhá e Dona Benta.

Penso em como a fantasia de Lobato foi longe, criando ponte entre mundos, como o da floresta amazônica de Zezinho e o do cinema mudo americano onde o Gato Félix originalmente vivia  até vir tomar parte das aventuras de Narizinho.

Félix reuniu-se à multidão de personagens saída da imaginação do escritor e a outros, da mitologia ou história mundial, que Lobato incorporou à sua prosa. Ela "engordou" a bagagem cultural não só de Zezinho como do pai, que confessava, sempre com muito orgulho: “Entrei na escola pela porta da frente nos ombros do Visconde de Sabugosa”.

Sabugosa, a espiga de milho com título de nobreza e sabedoria de mestre, torna-se, assim, “professor” não só da boneca Emília e dos outros meninos do Sítio, mas de milhares de brasileirinhos, como o pai de Zezinho, como o próprio Zezinho. Que termina a entrevista com seu assunto preferido, de volta ao petróleo de Monteiro Lobato, certamente um tema que apreciava tanto por conta da sua incipiente, naqueles tempos, vocação política.

Lobato faria 130 anos no dia 18 de abril, Zezinho fará 78 no dia 21, também em abril. Lobato deixou uma herança na terra que o torna eterno na história dos homens. Zezinho, que morou na rua Sonho dos Sonhos, no bairro paulistano da Conquista, que bravamente conseguiu tirar Angelo Arroyo das matas no Araguaia, roubando até cavalo na missão, que misteriosamente perdeu a memória desse passado durante 20 anos até recuperar cenas vívidas dos tempos da militância, também se eterniza nas veredas do comunismo, que ainda trilha. Tem muitos planos para o futuro, um deles, inaugurar um monumento à Guerrilha do Araguaia, capítulo da nossa história que finalmente está entrando pelos portões escolares, quem sabe chega aos livros didáticos, outra empreitada a que se lançou Lobato, também editor, diplomata, empresário.

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