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sexta-feira, 6 de abril de 2012

A raiz do nacional no internacional



   
A flautista japonesa Naomi Kumamoto, natural de Kobe, oeste do Japão, conheceu o choro há oito anos, em seu país. “Eu tocava música erudita em uma orquestra, mas não estava satisfeita. Eu estava procurando uma música que fosse melhor para flauta. Procurei até encontrar o choro através de um disco do Altamiro Carrilho. Aí eu disse: ‘Eu quero tocar isso!’ Mas, não tinha com quem tocar no Japão e então eu só estudava e ficava tocando sozinha”.

A reportagem de AND ouviu Naomi nas dependências da Escola Portátil de Música, no Rio de Janeiro, onde, diz, é aluna e professora, assim como gente de outras nações e brasileiros que por lá passam todos os sábados. Não bastasse a música ser uma linguagem universal, não houve dificuldade nenhuma de comunicação, porque ela fala fluentemente o português aprendido no Japão.

Há quatro anos, Noemi conheceu o violonista Maurício Carrilho que, junto com Jorginho do Pandeiro, Nailor Azevedo e Pedro Amorim estavam fazendo uma série de apresentações com seu conjunto Arranca Toco pelo Japão. Na ocasião, Maurício convidou-a para uma roda de choro. Como Naomi tocasse muito bem, no dia seguinte foi presenteada por Maurício, que compôs o choro Naomi vai pro Rio em sua homenagem. Prontamente, Naomi respondeu, compondo Me espere no Rio, surpreendendo a todos por seu conhecimento da tradição de responder um choro com outro e a perfeição da composição. “Eu vim para o Brasil dois meses depois disso, em 2001”, disse ela.

Por quatro vezes, Naomi veio ao Brasil, mas apesar da vontade de ficar, só lhe foi concedido visto de turista. Mesmo assim, enquanto não retornava ao Brasil, divulgou o gênero legitimamente brasileiro montando uma roda de choro por lá e realizando, em abril deste ano, um Festival de Música Brasileira que, além de Kobe, percorreu outras cinco cidades.

Pela quinta vez no Brasil, agora com visto cultural, Naomi diz estar apaixonada pelo choro. “A Luciana (Rabello, cavaquinista) diz que eu nasci no lugar errado. Agora acho que estou no lugar certo. Minha alma quer o choro, eu tenho um espírito de choro”.

Essa identificação pode parecer mística ou casual, mas revela algo muito maior e de real importância. Alguns gêneros musicais, caso do choro, são tão reveladores do caráter do povo que representam que ultrapassam os limites do nacional. Ao compor, o artista espelha a sua época, seu povo. Expressando isso, se torna internacional; sua obra se transforma em patrimônio de todos os povos, porque fora as diferenças geográficas e linguísticas, as massas enfrentam condições de existência igualmente duras. A universalidade reside aí. Ao ouvir os choros na flauta de Altamiro Carrilho Naomi achou que eram seus. Quem dirá que ela não estava certa?

Quanto à música e cultura japonesa, Naomi é enfática: “A cultura do Japão é muito estranha, complicada, porque tem muita influência do USA e eu não gosto.” Além disso, como flautista clássica, Naomi estava acostumada a tocar os repertórios europeus. “Eu nunca toquei a música japonesa propriamente, somente repertório clássico, principalmente da Europa, e isso é estranho. Como uma japonesa não toca música japonesa? Um brasileiro toca música brasileira e isso é normal.” Naomi concorda que existem boas influências de culturas estrangeiras, mas que determinadas influências agridem a cultura do seu país.

Profissionalmente, Naomi já tem um disco, lançado em 2003 pela Acari Records. Além de conter Naomi vai pro Rio (nome do disco) e Me espere no Rio, o álbum inclui outras 14 músicas, a maioria de autoria da flautista, compostas entre o Rio de Janeiro e Osaka. “Gravar um disco de choro era o meu sonho. Eu falei desse sonho para o Maurício, quando nos conhecemos no Japão, e ele disse para fazermos. O CD foi todo gravado aqui no Brasil”. Além disso, tem tocado em algumas rodas de choro e pretende ainda dar aulas, fazer shows e gravações.

A japonesa, formada em música na faculdade de Osaka, gosta também de outros gêneros musicais brasileiros, como samba e música nordestina, “mas ainda não sei tocar. Minha carreira com a música erudita ajudou muito, porque o choro tem influência da música erudita.”

Com tudo isso, essa flautista internacional que achou o choro maravilhoso, é mais uma das defensoras da música popular.

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