No final da cerimônia de abertura do festival na terça-feira (12) no Estádio Nacional Coberto, presentes o presidente Hu Jintao, o primeiro ministro Wen Jiabao e outros líderes chineses, houve a exibição dos cantos e danças da minoria nacional Lisu, grupo étnico tibetano-burmanense que habita as regiões montanhosas de Myanmar, a Província de Yunnan no sudoeste da China, Tailândia e o estado indiano de Arundal Pradesh.
Divulgação
A dança circular dos lisus gerou ideias vivas relacionadas à experiência que tive com os índios com quem trabalhei por mais de dez anos durante as décadas de 1970 e 1990, os kuikatejês, parkatejês e mebengocrés no sul do Pará e norte do Mato Grosso, e com a nação Ashàninca que no estado do Acre compartilha a região fronteiriça Brasil-Perú do vale do Rio Juruá,
Momento da apresentação da dança circular em que os homens e mulheres lisus passam pelo centro da espiral
Observei a semelhança do ritmo e da energia da apresentação dos lisus com as danças circulares dos índios mebengocrés (caiapós) na bacia do Rio Xingú durante as festas de nominação das aldeias Aucre, Metuctire e Pucanu que tive a oportunidade de acompanhar e participar.
Os gritos e cantos dos lisus são semelhantes às expressões vocais e gestos característicos da cultura dos índios da família linguística Jê no Brasil como os apinajés, craós, canelas, cricatis, panarás, xavantes e xerentes que soam ainda hoje na floresta Amazônica e no Cerrado, e que espero ecoem para sempre no interior do Brasil e dali para todo o planeta.
O som do maracá que inicia a apresentação artística da minoria nacional Lisu é idêntico ao toque do maracá do conhecido cantor Krohokrenhum, líder dos kuikatejês e parkatejês na bacia do Rio Tocantins, sul do Pará, que escutava nas madrugadas de cantoria que antecedem as corridas de tora entre as metades cerimoniais gavião e arara.
E pelas fotos da apresentação vê-se que as roupas, adereços e adornos corporais dos dançarinos da etnia lisu é semelhante aos trajes habituais de diversas populações indígenas da Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guatemala, Nicaraguá, Panamá, Perú, Venezuela e de outros países do continente americano.
Tudo a ver com os índios da América
Poder-se-ía dizer que Ding Wei - diretor geral da abertura do 4° Festival Nacional de Artes Étnicas da China - quiz e conseguiu finalizar o espetáculo com uma homenagem state of art aos povos remanescentes das nações de ascendência pré-colombiana, ou seja, aos índios da América cujos antepassados há cerca de 10 mil anos iniciaram a ocupação do continente pelo estreito de Bering, o qual durante último período glacial do planeta dava pé para uma travessia a vau?
Estou interessado no ponto de vista do diretor Ding Wei sobre esta questão, e se eventualmente na concepção da cerimônia de abertura do 4° Festival Nacional de Artes Étnicas da China, Ding Wei quiz fazer referência à teoria antropológica mais aceita de que o primeiro e mais numeroso povoamento humano da América é de origem asiática.
É esta a próxima reportagem que farei em Pequim para o Portal Vermelho, uma entrevista com o diretor Ding Wei, renomado escritor Chinês de âmbito nacional e diretor adjunto do Conjunto Central de Canto e Dança das Minorias Nacionais e Grupos Étnicos da China, fundado em setembro de 1952 pelo então primeiro ministro Zhou Enlai, e que tem em seu elenco artistas oriundos de 36 minorias étnicas incluindo a Mongol, Hui, Zhuang, Manchu, Tibetana, Yi, Koreana e Uygur.
O que é que tem a ver os povos indígenas da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colombia, Equador, Paraguai, Perú, Venezuela, Panamá, Guatemala, Nicarágua, enfim de todo o continente americano do Alaska à Patagonia com as 56 etnias da China incluindo a majoritária Han e as outras nacionalidades étnicas da Ásia?
Creio que esta questão teórica será o primeiro item da pauta a se verificar na prática e na hora do encontro entre os povos de ascendência pré-colombiana da América com as coloridas e maravilhosas minorias étnicas nacionais da China e de toda a Ásia. Quais as semelhanças e diferenças culturais decorrentes deste passado milenar comum, que se confunde na linha do tempo até mesmo com primeiros sinais do nascimento da Civilização Chinesa entre 7 e 8 mil anos atrás?
Por Saulo Petean,
de Pequim especial para do Vermelho
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