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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Xote, Maracatu e Baião...


Luiza Nascimento   
Coco, baião, jongo, maracatu, bois, congada, forró, sambas de roda, choro, xote, ciranda, lundu, afoxé. Esses, dentre outros, são os ritmos que compõem o riquíssimo repertório de Luciane Menezes, cantora e cavaquinista que encontrou na música genuinamente brasileira uma fonte inesgotável de idéias.

No mês de novembro, esse fuzuê de estilos foi levado ao palco do Circo Voador, no Rio de Janeiro, onde pessoas das mais diferentes idades sacolejavam por horas ao som dos dois grupos liderados pela cantora: o Pau da Braúna, voltado para os ritmos e danças étnicas brasileiras, e o Dobrando a Esquina, há 15 anos divulgando o samba e o choro pela cidade.

— Todo mundo tem essa música dentro da alma. Quando nós cantamos e dançamos, aquilo que está adormecido desperta. As pessoas se identificam. E por essa razão, o show é um sucesso: a divulgação é feita basicamente no boca a boca — conta.

Além disso, Luciane faz questão de enfatizar os males provocados pela disseminação maciça e arbitrária da música ianque no país, que descaracteriza a cultura popular.

— Nós sofremos muito com a invasão da música norte-americana aqui no Brasil. Diferentemente das músicas africana, européia ou indígena, ela não chegou aqui para somar. Os maracatus, os cocos, os sambas, são resultado dessa soma. A música americana, entretanto, não se mistura para criar um gênero novo, ela invade e empurra a música brasileira para escanteio. Não existe rock do Brasil, e sim o rock americano.

A mais recente temporada do Jongo da Serrinha (grupo do qual ela também faz parte), em 2003 no Teatro Carlos Gomes, superou as expectativas, com mais de 20 mil espectadores durante o período de dois meses. E não há dúvidas de que os shows dos dois conjuntos seguirão essa mesma trilha de sucesso e reconhecimento. As segundas e terças-feiras de apresentações registraram um total de dois a cinco mil pagantes por dia, com ingressos a R$ 5,00.

— Essa é a hora e a vez da cultura popular. — afirma a cantora, após uma apresentação com a casa lotada. 

O COMEÇO 

O interesse de Luciane pela música surgiu quando ela, menina, ainda morava em São João de Meriti. O primeiro instrumento que aprendeu a tocar foi o violão, ensinado por um amigo. Mais tarde, começou a se embrenhar pelas cadências do samba e do choro, acabando por ingressar numa escola de música localizada na Praça 11, onde, de maneira coletiva — sob a supervisão atenta do Mestre Messias dos Santos — aprendeu a tocar cavaquinho. Por sorte, Mestre Messias era amigo do Mestre Darcy, figura emblemática do Jongo da Serrinha, que a levou para a comunidade em 1986.

Na Serrinha, favela que se ergue na paisagem de Madureira, ela pôde entrar em contato com todo um legado musical, de origem africana, que viria a desaguar no Grupo Cultural Jongo da Serrinha, que hoje transmite para as crianças do morro a cultura de seus antepassados.

A cavaquinista só veio a cantar profissionalmente no grupo Dobrando a Esquina. — Fiquei no Dobrando a Esquina um tempão. Tocava com compositores como Zé Kéti, Dona Ivone Lara, Walter Alfaiate — conta Luciane, e acrescenta, destacando o caráter precursor do grupo — O grupo foi o primeiro a tocar na Lapa quando se deu o movimento de revitalização cultural.

No repertório, músicas de Assis Valente, Wilson Batista, Mano Décio da Viola, João da Bahiana, Ivone Lara, Aldir Blanc, além da belíssima O samba bate outra vez, de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós, cantada, no show, por Christina Buarque.

— Quando começamos a tocar, fomos muito ajudados por ela. — explica Luciane, a respeito da participação da cantora, de voz grave e carregada de emoção, no espetáculo.

O Pau da Braúna é mais novo, nasceu há apenas quatro anos, a partir de um convite feito à Luciane. Ela mesma esclarece:

— Me chamaram para fazer um trabalho cantando coco. Daí eu disse: “eu não quero cantar só coco. Será que dá pra cantar coco, samba, jongo, maracatu etc.?”

Na verdade, a cantora queria formar um grupo que agregasse toda essa variedade de ritmos brasileiros. Dessa forma, ela contactou os instrumentistas.

— Quando eu chamei os músicos, eu já sabia que eles tinham uma identificação muito forte com isso. — E batizou o grupo de Pau da Braúna por ser “aquela madeira de cerca de fazenda, é uma madeira muito resistente. A idéia era fazer um grupo que durasse. Também é uma música do Xangô da Mangueira — esclarece.

Além de Luciane o grupo conta com os músicos Marcos André (voz e percussão), Marcelo Bernardes (sopros), Kiko Horta (sanfona), Bruno Abreu (zabumba e pandeiro), Tiago Lima (triângulo e zabumba), Lizia Leal (voz) e Josemen Honame (violão). O espetáculo é contagiante, com canções ensinadas por mestres da cultura popular como Lia de Itamaracá, Mestre Darcy do Jongo, Célia do Coco, congadeiros dos Arturos, Xangô da Mangueira, Família Calixto (Coco de Arcoverde), Mestre Caboclinho, dentre outros. Para Luciane, um repertório representativo da verdadeira MPB.

— Porque é uma música associada à dança, ao entretenimento, de um tempo onde não havia separação entre a dança e a música, e isso é muito bom, pois o corpo também canta. — coloca. Luciane tem movimentado como poucos o cenário cultural da cidade. Dirige, junto com o sócio Marcos André, a Associação Brasil Mestiço, instituição que, no dia 17 de dezembro, irá promover, no Circo Voador, o lançamento do CD-livro do Quilombo de São José, uma comunidade Jongueira de Valença. No dia 18 de dezembro, ocorrerá o Encontro de Jongueiros, uma reunião, na Lapa, de 500 negros vindos do interior do estado. Evento imperdível, que promete mapear, em um só lugar, o que restou — e ainda sobrevive — dessa bela tradição. Além disso, a Associação vai produzir a gravação do primeiro CD-livro de Xangô da Mangueira, 81 anos de idade e há 57 carnavais dirigindo a harmonia da Estação Primeira de Mangueira. Em 2005, Luciane se prepara para embarcar para Europa, já que o Pau da Braúna, assim como outros conjuntos nacionais, foi pré-selecionado para representar o país numa série de eventos que ocorrerão na França.

É, se “quem sabe faz a hora”, realmente é a hora e a vez da cultura popular. Que assim seja.

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