PARATY/ESTADO
Foram quase 30 anos de entraves até que, na última semana, o Instituto Brasileiro de Meio-Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) concedeu a Licença de Instalação (LI) para as obras de pavimentação de trecho de 9,4 quilômetros da Estrada Paraty-Cunha, que corta o Parque Nacional da Serra da Bocaina.
De acordo com dados divulgados pela Secretaria de Estado de Obras (SEOBRAS), o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) dará início aos trabalhos ainda este mês e a execução da obra deve durar 18 meses. Mas o presidente do órgão, Henrique Ribeiro, não descarta que haja atraso para a conclusão das intervenções, por causa do período das chuvas. “Estamos analisando todos os pedidos que o Ibama pôs na licença. A licitação já foi feita, e as obras estão orçadas em R$ 56 milhões. Mas é uma intervenção complicada, pois a região tem alto índice pluviométrico e áreas são sujeitas a desmoronamento. Ainda assim, acredito que as obras comecem ainda este mês”, afirmou Ribeiro, que comemorou a concessão da licença. O primeiro embargo desta obra aconteceu em 1983. Esta é uma ação muito importante para aumentar o fluxo de turistas para a região da Costa Verde.
O processo de intervenção no trecho da RJ-165 vem sendo marcado por polêmicas. No ano passado, um grupo do Laboratório de Zoologia de Vertebrados da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) diagnosticou a existência de 31 espécies de mamíferos na Serra da Bocaina, entre elas duas espécies de morcegos que, de acordo com biólogos, são um indicativo de que aquela região é muito bem preservada. A equipe também cruzou com onças pardas e com um raro roedor nas proximidades da rodovia: o rato-toupeira (Blarinomys breviceps), de apenas 97 milímetros de comprimento e 22 gramas, capturado por biólogos depois de ser considerado presumivelmente extinto no livro vermelho de espécies ameaçadas do Estado do Rio.
Devido ao fator ambiental, a SEOBRAS informou que a Paraty-Cunha segue o conceito de estrada-parque, com o uso de asfalto menos poluente, a preservação do curso de rios e córregos e a criação de travessias aéreas e subterrâneas para animais.
Mas, além de fator de desenvolvimento do turismo da região, facilitando o fluxo de visitantes provenientes de São Paulo e do Sul de Minas Gerais, a estrada vai servir para preservar a própria fauna e flora da Serra da Bocaina, segundo o subsecretário de Urbanismo e Projetos Especiais, Vicente Loureiro.
Segundo ele, pavimentar uma estrada como esta significa levar mais segurança e garantir o direito de ir e vir da população, mas, proporcionando, ao mesmo tempo, benefícios ambientais, em função das obras de contenção de encostas e de implantação de sinalização que serão executadas. “A distância entre Paraty e Cunha será encurtada em 270 quilômetros, ou seja, mais de duas horas. Isso é um ganho fantástico, principalmente para pessoas que moram em Paraty e necessitam, por exemplo, fazer tratamento médico especializado, como hemodiálise, em Taubaté. Ou a colônia de pescadores de Paraty que poderá levar com muito mais rapidez o produto do seu trabalho para vender em São Paulo”, ressaltou Loureiro.
Outro ponto importante da estrada é a de servir de rota de fuga em caso de acidente nuclear em Angra dos Reis. Por isso, parte dos recursos para financiar as obras e os projetos ambientais, orçados em R$ 80 milhões, será proveniente da Eletronuclear. O restante virá do empréstimo conseguido pelo governo do estado junto à Comissão Andina de Fomento (CAF).
O trecho entre Paraty e Cunha, com 47km, já fez parte da chamada Estrada Real, por onde passavam o ouro e os diamantes vindos de Minas Gerais para o porto de Paraty, com destino a Portugal, na época do Brasil Colônia. A via foi construída por escravos entre os séculos XVII e XIX, a partir de trilhas de índios locais. Na época a Estrada Real era conhecida como Caminho Velho. Mais tarde, a via passou a ser considerada vulnerável a assaltos e, então, foi criado o Caminho Novo, que saía do centro do Rio de Janeiro para Vila Rica (hoje Ouro Preto).
A beleza natural é um dos atrativos da estrada, que faz parte da lista de roteiros mais procurados por turistas. Apenas o trecho que passa dentro do parque, de 9,4km, não é pavimentado e já foi interditado várias vezes em decorrências de deslizamentos de terra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário