Realiza-se em Havana, Cuba, até a próxima quarta-feira (30) a 3ª Conferência Internacional pelo Equilíbrio do Mundo. A presidenta do Conselho Mundial da Paz (CMP), Socorro Gomes, fez uma intervenção sobre a união dos povos para a construção da paz. Leia a íntegra.
Roberto Ruiz
Estimados e estimadas companheiras e companheiros, presentes nesta Conferência Internacional “Por el equilíbrio del mundo”.Em nome do Conselho Mundial da Paz, CMP, saúdo o Comitê Organizador da 3ª Conferência Internacional pelo Equilíbrio do Mundo, que se reveste de grande significado para a luta dos povos por uma nova ordem mundial, livre da dominação de Impérios sobre povos e nações e das relações de opressão e exploração dos poderosos sobre os despossuídos. Um mundo de justiça e paz, livre das guerras imperialistas.
É uma imensa honra estar em Cuba, este belo país, berço de heróis como José Martí, Máximo Gomes, do gigante Antonio Maceo e La grande Madre de la pátria cubana, Mariana Grajales, a terra do comandante Fidel Castro, continuador da obra revolucionária de José Martí, e exemplo maior do espírito indômito do povo cubano.
Nesta oportunidade, quero expressar o respeito, a admiração e a total solidariedade aos cinco heróis cubanos, presos injustamente nas masmorras dos Estados Unidos. A manutenção destes cinco patriotas como prisioneiros é uma demonstração inequívoca do ódio e do preconceito deste poderoso império contra Cuba e contra seu povo. René Gonzalez, Antonio Guerrero, Gerardo Hernandez, Ramon Labanino e Fernando Gonzalez são admirados por militantes sociais e populares de todo o mundo por sua integridade de caráter e compromisso com sua Pátria. Repudiamos esta violação de direitos humanos pelos Estados Unidos e ao fazê-lo tenho a certeza de corresponder aos sentimentos do povo brasileiro, irmão do povo cubano.
Comemorar nesta ocasião os 160 anos do nascimento do apóstolo das lutas libertadoras e da integração latino-americana, do prócer da independência de Cuba, é motivo de grande emoção para todos os lutadores da paz no mundo.
José Martí, o grande inspirador das lutas pela segunda independência de “nossa América”, bem como Simon Bolívar, serão eternamente reverenciados como os libertadores da América. O apóstolo foi antes de tudo um libertário, tendo dedicado sua vida à causa da independência dos povos latino-americanos e à luta pelo rompimento das cadeias históricas e culturais que impedem que os povos desta região conquistem a libertação.
José Martí nos lega o compromisso com os mais nobres valores humanos que marcam de modo indelével a alma cubana. Sua vida consagrada à luta pela liberdade, independência e soberania de seu povo, é uma ode à dignidade humana e à insubmissão ao jugo imperialista. Pátria é Humanidade é um pensamento profundo e marcante, com sentido transcendental, impregnado de ricos ensinamentos para as gerações atuais que lutam pela soberania nacional, a autodeterminação e pela universalização das conquistas humanas. O CMP, que defende a soberania dos povos e nações e a paz como valor a ser cultivado por toda a humanidade, encontra também no pensamento e na obra de José Martí inspiração para os seus combates e batalhas da atualidade. Esta é uma razão a mais para nos somarmos com todo o entusiasmo às celebrações em homenagem, aos 160 anos do seu nascimento.
Os ideais aos quais José Martí dedicou sua vida – a libertação dos povos latino-americanos, a independência e a integração das nações latino-americanas, são, nesta aurora do século 21, objetivos ainda a conquistar.
Nos dias atuais, a política hegemonista do imperialismo estadunidense – que tem imposto aos povos sofrimentos inauditos em seu afã de se apropriar e controlar os recursos naturais dos povos e nações – impõe seus interesses mesquinhos através da força bruta das armas. Esta política, que tem destruído países, devastado nações antes prósperas, derrubado governos legítimos, assassinado presidentes eleitos, substituído o diálogo pela linguagem dos drones, dos mísseis, das bases militares, implantando o terror com a finalidade de garantir seus desígnios de domínio e saque, é na atualidade o principal obstáculo à paz e ao equilíbrio do mundo.
O Conselho Mundial da Paz, nascido sob o impacto dos horrores promovidos pelos EUA no holocausto de Hiroshima e Nagasaki, tem como seu desiderato a luta pela paz, a soberania e a autodeterminação dos povos. Estamos convictos de que para a humanidade alcançar a paz e relações de convivência mais equilibradas entre as pessoas, as instituições e os Estados nacionais, é fundamental o rompimento com esta ordem iníqua imposta por um sistema que tem como centro dirigente os EUA e seus aliados da Otan, cujo objetivo maior é a apropriação de terras, mares, florestas, fontes de energia, mercados e tudo o que pode ser transformado em lucro e riqueza.
A este imperialismo, não importa que as nações vitimadas por essa política desapareçam, destroçadas pelas guerras de agressão e por monstruosos crimes, como ocorreu com a antiga Iugoslávia; a nação iraquiana, a Líbia, e agora, ocorre com a Síria, invadida por hordas de mercenários a soldo das grandes potências imperialistas.
Nós, povos do continente latino-americano, conhecemos bem esta política. Fomos vítimas, durante grande parte do século 20, das suas agressões que transformaram muitos dos nossos países em escombros, em terra arrasada. Não houve um só golpe, destituição de governos, assassinatos de presidentes, bem como de centenas de milhares de lutadores por sua pátria, torturados, assassinados, que não tivesse a participação direta dos EUA.
A humanidade não terá paz sob este sistema de dominação prevalecente. Mais grave ainda é que na medida em que se torna cada vez mais insustentável, transforma-se em algo mais insano e criminoso, ameaçando a própria existência da espécie humana.
O mundo está cada vez mais inseguro. Além da doutrina e da prática genocidas da guerra permanente contra os povos insubmissos, os EUA promovem a crescente militarização do planeta, subtraindo investimentos sociais, para destinar cada vez maiores recursos para o financiamento de suas aventuras bélicas. Disseminam bases militares cercando todos os continentes. Podemos afirmar que o imperialismo estadunidense e seus aliados dominam os mares, os continentes e o espaço sideral, além de controlar e promover a escalada nuclear.
Com o agravamento da crise, surge gradualmente uma nova situação geopolítica que questiona a velha distribuição do poder no mundo. Abre-se um período de transição cujos contornos não estão definidos, manifestando-se como fenômeno novo o relativo declínio do imperialismo estadunidense. Não obstante, os EUA ainda detêm a maior força econômica e militar, assim como a maior influência política. Este império constitui o principal fator de instabilidade e fomento de agressões contra os povos do mundo.
Independentemente da facção política no poder – se democratas ou republicanos – seu governo atua, em todas as regiões do mundo, para manter a sua hegemonia, usando para isso principalmente a chantagem e a ameaça militar, que se traduz numa crescente repressão social (inclusive de seu próprio povo) e no fortalecimento da instrumentalização das Nações Unidas. Neste sentido, aumentou o papel da Otan, braço armado do imperialismo, particularmente dos EUA. Quanto à Nossa América, a superpotência pretende exercer o seu poderio bélico através de bases militares e da 4ª Frota.
O orçamento militar cresce, a despeito da crise econômica – em 2012 o aumento dos gastos militares foi de 50% em relação a 2011; a soma dos gastos militares dos países membros da Otan chegou a 2,6% do PIB mundial. Somente nos EUA o orçamento militar, em 2011, foi de US$ 700 bilhões! É a metade dos gastos militares de todo mundo; se forem somados ao orçamento da Otan, correspondem a 72% das despesas militares do mundo.
Ao lado deste espantoso incremento do orçamento para financiar as agressões contra os povos, as pressões políticas, diplomáticas e militares se desdobram em novos argumentos para ameaçar os povos, que se somam aos antigos.
Teses condenadas desde a derrota do nazifascismo, na década de 1940, são recolocadas em pauta, entre elas a defesa da “guerra preventiva” ou o “direito de proteger” para justificar agressões contra os povos. Sob este manto legitimador, o imperialismo demoniza presidentes legitimamente constituídos, fomenta a ação de esquadrões da morte e de grupos clandestinos armados, para cometer graves crimes contra a humanidade, e realiza bombardeios que sempre atingem a população civil.
Neste quadro ameaçador, a Assembleia do Conselho Mundial da Paz definiu suas tarefas e ações, que se traduzem no lema: "Vamos fortalecer a luta dos povos pela paz, contra o imperialismo, as guerras e a exploração”!
O apóstolo da independência de Cuba, com sua sabedoria e simplicidade, chamava a atenção para a necessidade da união das jovens Repúblicas latino-americanas, para conter o expansionismo dos EUA, como uma necessidade para o equilíbrio do mundo, conceito que dá título a este magnífico evento.
Estas ideias, por sua justeza e atualidade, têm inspirado as grandes lutas independentistas do nosso continente na atualidade. Primeiramente na heroica e valente Cuba, que, apesar de tão perto do mais armado e cruel império, fez-se soberana do seu destino, vencendo, apesar do criminoso e mais longo bloqueio que lhe é imposto, a profunda miséria e desigualdade, construindo uma nação de mulheres e homens cultos, como preconizava José Martí, espalhando amizade e solidariedade pelo mundo afora, bem como formando com seu exemplo gerações de lutadores por um mundo mais justo e equilibrado. Essas ideias libertadoras perpassam hoje a luta de outras nações, onde os povos conquistaram grandes vitórias na luta por soberania, justiça social, construindo o caminho da integração e Paz no continente.
O retrato mais fiel disso é a assunção por Cuba da presidência da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), momento histórico de processo de luta pela segunda independência latino-americana.
A Nossa América está vivendo momentos memoráveis. Os processos políticos e sociais em curso na região são exemplos vivos, demonstrações claras de que a superação da disjuntiva – dominação versus independência e justiça – só poderá ocorrer e favorecer os povos e o progresso social, com a participação popular e a instauração de uma nova ordem.
O testemunho mais eloquente disso é a República Bolivariana da Venezuela, que sob a liderança do querido presidente Hugo Chávez, coloca a Venezuela na vanguarda do continente no combate à miséria e à desigualdade. Assim foi no Brasil, onde um líder sindical operário foi eleito para o mais alto posto da República, e que apesar da fúria das oligarquias, conduziu o país rumo à integração continental solidária. É de ressaltar também o exemplo da Bolívia, país em que um indígena governa seu povo e o conduz a grandes conquistas sociais. Assim como do Equador, que ousou exercer sua soberania, rompendo com acordos nefastos como o da imposição da base militar de Manta, contribuindo de forma significativa para a soberania de nossa região. Diversos outros países do continente avançam na afirmação de sua soberania e de novos modelos de desenvolvimento.
Faz parte desse novo quadro político promissor, desse impulso democrático e do fortalecimento da autonomia, o desenvolvimento, nesta capital cubana, dos diálogos para a paz entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, para pôr fim a um conflito interno que já dura mais de meio século.
Tudo isso nos infunde mais consciência e reforça a convicção de que ainda que seja o mais poderoso, armado e cruel, o imperialismo não é invencível e poderá ser derrotado mais cedo do que pensam.
Nosso desafio é, multiplicando os esforços para o fortalecimento da união dos povos, ampliar a luta pela paz, fortalecendo os laços de solidariedade aos povos vítimas das agressões das potências belicistas, elevando as denúncias e o combate contra a política armamentista, especialmente pelo desmantelamento desta monstruosa máquina de guerra que é a Otan, assim como exigindo o desmonte das bases militares estrangeiras em nossos países.
Segue atual e urgente a campanha lançada pelo fundador do Conselho Mundial da Paz, Frederic Juliot Curie, expressa no conhecido apelo de Estocolmo, de 1950, pela destruição das armas nucleares, grave ameaça à sobrevivência da humanidade, hoje mais presente que nunca.
Ao participarmos desta histórica Conferência, nós do Conselho Mundial da Paz reafirmamos nosso compromisso de estarmos sempre, ombro a ombro com todos os lutadores por um mundo de paz, justiça social e respeito à soberania e autodeterminação como base comum de convivência, tendo o diálogo como meio para a solução dos conflitos.
É fundamental para todos os combatentes pela paz a luta pela eliminação das bases militares estrangeiras, fator de ameaça e desequilíbrio das relações internacionais.
O desmantelamento dessa monstruosa máquina de agressão e guerra contra os povos, a Otan, é essencial para a luta pela paz e a nossa organização está totalmente empenhada nisso.
O equilíbrio do mundo, o soerguimento de uma nova ordem política e econômica mundial, a edificação de instituições multilaterais depositárias da confiança dos povos e baseadas no direito internacional, a prevalência da soberania e autodeterminação das nações e dos povos são caminhos que levam à paz, desde que não sejam vistos apenas como conceitos formais ou da geopolítica, mas como aspectos da política internacional vinculado à mobilização e à luta dos povos, o que é inseparável da inspiração martiana.
Pátria é Humanidade
Até a vitória, sempre! Venceremos!
Muito obrigada,
Socorro Gomes.
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