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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O triste fim do casarão de Pinheiral



João Marcos Coelho
Estação do trem é uma das construções mais antigas
Teixeira Campos: Estação do trem é uma das construções mais antigas

Jorge Luiz Calife
jorge.calife@diariodovale.com.br

Domingo de Carnaval saí de casa para minha caminhada matinal. Procurei ficar longe da Praça Brasil e do Centro de Pinheiral. O fedor de urina e vômito era muito forte por lá. Não adiantam as campanhas e os apelos na televisão, nosso povo acha que urinar na rua é normal, vai fazer o que? Talvez daqui a cem ou duzentos anos os brasileiros cheguem ao nível de civilização dos europeus ou dos japoneses. Talvez leve mais tempo. O fato é que o fedor de urina ainda persistia na quinta-feira, dois dias depois das festas, mesmo com o pessoal da prefeitura usando um carro pipa para lavar todas as calçadas e paredes.
Mas voltando ao domingo passado, naquela manhã ensolarada caminhei com o meu cachorro na direção do campus da UFF, onde o odor era mais agradável. Para minha surpresa notei que uma parte das ruínas da fazenda São José dos Pinheiros não estava mais lá. Tinha desabado com as chuvas de verão.
É difícil enxergar o que restou do antigo casarão. O mato e os arbustos cresceram tanto que taparam a fachada em ruínas. Mas quem cresceu vendo aquele casarão imponente, todo pintado de branco, não vai esquecer. Há vinte anos a entrada do Colégio Agrícola, hoje Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, ficava ali, na entrada do casarão, e lembro bem dos passeios de bicicleta pelas alamedas que cheiravam a eucalipto.
Outro dia uma mulher que nasceu e cresceu em Pinheiral voltou à cidade e ficou tentando localizar os marcos da sua infância. A cooperativa dos produtores de leite na Praça Teixeira Campos, onde hoje funciona uma academia de ginástica. As casas que cercavam a praça. Ela lembrou do leite que saía em vagonetas percorrendo trilhos até a plataforma da estação do trem, hoje abrigando a Biblioteca Municipal. E tinha o cinema, na Praça Brasil, onde funciona agora um restaurante e uma loja de móveis. Na praça, em frente ao cinema, havia um lago com peixes coloridos, e a garotada ficava olhando os peixes deslizando pela água cristalina enquanto esperava o início da matinê.
O trem elétrico circulava de Barra do Piraí até Resende. Levava quinze minutos de Pinheiral a Volta Redonda, num passeio tranquilo e confortável. Sem quebra-molas, sem engarrafamentos diários, sem sufoco de gente espremida como sardinha em lata num ônibus superlotado. Espero que a antiga moradora não tenha estendido a sua viagem nostálgica até as ruínas do casarão. Ia ficar chocada ao ver o que restou da construção que tinha piso de madeira de lei, lustres importados da França e belas pinturas no teto.
Pouca gente se lembra dessa Pinheiral dos sonhos, que ficou enterrada e esquecida no passado. Como as ruínas do casarão, abandonadas em meio ao mato, servindo de refúgio para ratos e gambás. Os políticos inventaram que Pinheiral só tem 15 anos, e fazem festa todo ano para comemorar a tal da emancipação. Com baile funk, muita cachaça e gente urinando na rua.
Lembrança
Não adianta, quem viveu naquela outra Pinheiral, das alamedas com perfume de eucalipto, da banda de música e das festas juninas em volta da fogueira, não vai se esquecer. Nossa cultura não tinha nada a ver com o ritmo das gangues de traficantes que dominam os morros do Rio de Janeiro. Nossas noites eram embaladas pelo som dos grilos cantando nos quintais e pelo pio das corujas nas árvores. Não tinha esses famigerados "carros de som" disputando para ver quem aciona mais alarmes nos automóveis estacionados. Em várias cidades da região isso é proibido, na Pinheiral moderna não. Na Pinheiral moderna pode tudo. Pode urinar na rua e impor uma pseudomúsica com carros cheios de amplificadores berrando pelas ruas.
A cidade está com prefeito novo, é hora de fazer alguma coisa para restaurar um pouco de ordem e civilização. Não estamos pedindo que tragam de volta os anos dourados de Pinheiral. Só pedimos um pouco de paz e de civilidade.


Leia mais: http://diariodovale.uol.com.br/noticias/0,69423,O-triste-fim-do-casarao-de-Pinheiral.html#ixzz2LHnfybnr

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