Se estivesse vivo, o cineasta baiano universal Glauber Rocha completaria hoje, 14 de março, 74 anos. Para mim, não existiu cineasta mais revolucionário do que Glauber, estética e politicamente.
Por Cynara Meneses, no Socialista Morena
Paula Gaitán
Che Guevara chegou a comparar a importância de "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964) à de "Dom Quixote" na literatura. Em carta ao irmão de Che, Alfredo, o diretor conta que planejava filmar America Nuestra em memória do guerrilheiro morto, projeto nunca concretizado mas que serviu de base para o roteiro de "Terra em Transe" (1967).
No manifesto Eztetyka do Sonho (1971), Glauber expõe alguns dos seus conceitos de arte revolucionária:
“As conclusões dos relatórios dos sistemas capitalistas encaram o homem pobre como um objeto que deve ser alimentado. E nos países socialistas observamos a permanente polêmica entre os profetas da revolução total e os burocratas que tratam o homem como objeto a ser massificado. A maioria dos profetas da revolução total é composta por artistas.”
“O pior inimigo da arte revolucionária é sua mediocridade.”
“Os sistemas culturais atuantes, de direita e de esquerda, estão presos a uma razão conservadora. O fracasso das esquerdas no Brasil é resultado deste vício colonizador.”
“As raízes índias e negras do povo latino-americano devem ser compreendidas como única força desenvolvida deste continente. Nossas classes médias e burguesias são caricaturas decadentes das sociedades colonizadoras. A cultura popular não é o que se chama tecnicamente de folclore, mas a linguagem popular de permanente rebelião histórica. O encontro dos revolucionários desligados da razão burguesa com as estruturas mais significativas desta cultura popular será a primeira configuração de um novo significado revolucionário. O sonho é o único direito que não se pode proibir.”
Em 1974, Glauber Rocha foi atacado pela esquerda brasileira, que sempre o venerou, por elogiar o general Golbery do Couto e Silva, a quem chamou de “um dos gênios da raça”. Equívoco? Não sei e não me importa. Para mim gênio da raça era Glauber. Assistam abaixo ao emocionante discurso de Darcy Ribeiro em homenagem ao cineasta em seu funeral.
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