A formação em diversas carreiras da área cultural e a contribuição das instituições de ensino e das organizações da sociedade civil nesta formação foram os temas do segundo e do terceiro encontros do ciclo Técnica e Arte, a educação profissional e tecnológica em cultura, realizados nos dias 6 e 7 de maio no Palácio Capanema, no Rio de Janeiro. Os seminários foram promovidos pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), em parceria com o Ministério da Cultura, através da Representação Regional no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, e da Secretaria de Políticas Culturais (SPC) do MinC.
Nos dois dias de debates, os professores dos cursos de formação e os profissionais que atuam no setor apresentaram como principais problemas da área a pequena oferta de cursos técnicos, a falta de financiamento à modernização dos equipamentos destes cursos e a dificuldade para a certificação dos chamados mestres de ofício. Eles sugeriram também uma constante atualização dos currículos, através de consultas que avaliem as necessidades do mercado, de modo que os alunos encontrem logo emprego depois de formados.
Cursos técnicos
No primeiro dia do evento, denominado .EDU, foram analisadas os cursos de formação nas áreas de gestão e produção cultural, museologia, conservação e restauração, música, teatro, cinema e televisão. O professor Mário Chagas, do curso de museologia da Unirio, defendeu a criação de cursos técnicos de nível médio na área da museologia. Ele lembrou que existem hoje no país 15 cursos de graduação e pós-graduação, mas faltam profissionais de nível médio. Ele destacou que este déficit fica claro, por exemplo, na montagem das exposições. "Precisamos de técnicos que possam dialogar com os museólogos", afirmou.
Chagas lembrou que a técnica é fundamental não só para a ciência mas também para as artes. "As ciências humanas também produzem tecnologia, a educação profissionalizante e tecnológica em qualquer campo não dispensa a criatividade", acrescentou. O professor disse ainda que a Conferência Nacional de Cultura considerou 19 setores culturais e sugeriu que se identifique em quais deles a demanda por formação de mão de obra é maior.
Já a professora Maria Luiza Oliveira, do curso de restauração e conservação da UFRJ, criticou a falta de pré-requisitos normativos claros nos cursos . Ela afirmou que existe muita informalidade na formação profissional , assim como cursos de curta duração, que não preparam bem a mão de obra. "Muitas vezes profissionais de diferentes níveis de formação têm o mesmo nível de responsabilidade", comentou. Segundo ela, frequentemente isto acarreta "atuações inconsequentes, que apagam memória, criando lacunas irreversíveis".
O professor Zilmar Rodrigues, da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte , ressaltou que muitas vezes os cursos técnicos não levam em consideração a nova realidade na produção de música, com a inclusão dos meios digitais. Ele criticou também a substituição do conceito de arte pelo produto-espetáculo, assim como a visão neoliberal , introduzida nos currículos no período de
A diretora da Escola de Cinema Darcy Ribeiro, Irene Ferraz, destacou que, em dez anos de atuação, a instituição já formou mais de 5 mil alunos, dos quais 3.600 em seus cursos regulares. Apesar de tão longo trabalho no setor, a escola continua tendo problemas de financiamento. Irene enfatizou que, numa época em que se promove a digitalização das emissoras de televisão e das salas de cinema , é importante ter equipamentos atualizados para formar a mão de obra, caso contrário todo o trabalho de formação pode ser inutilizado por falta de adequação ao mercado.
Certificação
Representando a Escola de Artes Técnicas
A representante da Rede Certific do Ministério da Educação, Clea Queiroz, falou sobre a reestruturação da rede, que está em fase final de discussão no MEC. Segundo ela, a certificação profissional, que começou através dos Institutos Federais de Educação Tecnológica (IF), será estendida às redes estaduais de escolas técnicas, o que facilitará a obtenção de reconhecimento profissional pelos mestres de ofício. Clea destacou que a reformulação vai aperfeiçoar e simplificar o processo de certificação, dando autonomia às instituições de ensino na elaboração de projetos pedagógicos de certificação.
Excelência
No segundo dia do encontro , foi discutido como a sociedade civil vem participando da formação de técnicos e apresentadas experiências de sucesso, como as da Spetaculu Escola de Arte e Tecnologia; da Coopa-Roca, cooperativa de costura e confecção da Rocinha; da Escola de Circo Crescer e Viver; do Projeto 5 Visões, de formação de técnicos para os setor audiovisual; e a do Grupo Nós no Morro, que forma profissionais na área do teatro.
No debate, a coordenadora do MBA de Gestão e Produção Cultural da Fundação Getúlio Vargas, Eliane Costa, lamentou a descontinuidade das políticas públicas na área da cultura e destacou que, em consequência desta descontinuidade, muitos projetos correm o risco de fechar. Eliane criticou os marcos legais que vêm dificultando a atuação dos pontos de cultura e das ONGs e defendeu a revisão destes marcos.
A diretora de Educação e Comunicação da Secretaria de Políticas Culturais do MinC, Juana Nunes, explicou que o objetivo do MinC é construir políticas de Estado, mais duradouras e contínuas, e não dar prioridade a soluções rápidas através de editais. Neste sentido, disse ela, o MinC vem firmando parcerias com o Ministério da Educação , através do Mais Cultura nas Escolas e da Rede Certific. Juana destacou que a ministra da Cultura, Marta Suplicy, tem dado prioridade às pautas estruturantes para as políticas públicas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário