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sábado, 20 de julho de 2013

O encontro de Osvaldão com o gato-maracajá

Gato maracajá O gato maracajá

Corria 1968 e a diáspora de insurgentes para a região araguaiana só aconteceria meses depois, com a edição do Ato Institucional N°5, em 13 de dezembro.

Por Paulo Fonteles Filho.


... Como a noite mais escura, sem lua, estelar, Osvaldão se prepara para a guerra que virá, e flutua sobre as folhagens. Seus pés, imensos, são tão silenciosos, tão sem ruídos, que os bichos cruzam-lhe os caminhos, misto de cerrado e floresta. Um tatu-canastra será almoço e janta, dia seguinte.
A vastidão da serra tem cheiro suave, de âmbar. As águas, cristalinas, surgem-lhe dos segredos dos penhascos, rito lúdico e geológico.


Osvaldo Orlando da Costa , o Osvaldão

Ali estão floradas as dezenas espécies de orquídeas que enfeitam as estruturas ruiniformes, totens minerais de milhões de anos. As pedras se debruçam sobre o tempo que vai se encarregando de moldá-las, dia após dia, ano após ano, pelas eras, desde tempos imemoriais.

O gavião-real espreita as faces dos lajedos e observa, sereno, o largo rio Paraupava, rebatizado Araguaia quando, em 1590, as bandeiras de Antônio Macedo e Domingos Luís Grou alçaram, por curvas sinuosas, vencendo banzeiros e pedrais, a região que ficaria conhecida por Martírios.

O negríssimo já sabia, porque era engenheiro de minas, das ametistas e diamantes. Nas cercanias, em Santa Izabel, organizou o garimpo de Itamirim. Lá chefiava um barranco.

Seguindo os rastros de povos ancestrais, tem como companhia o jovem Umassú, aikewára, povo nadador, das águas, tão antigo quanto o esquecimento.

Mas o vento sopra entre as rochas e escarpadas trazendo o hálito felino do maracajá.
O gato-do-mato, esguio e lépido, cinza-amarelado, semelhante à jaguatirica, fuça os esconderijos do mateiro, palmilha o rumo ignorado de cotias, antas e mutuns.

São tempos em que a atividade de mariscar gato está presente no contexto econômico da Amazônia e o couro do bichano, de beleza simétrica, visualmente imponente, torna-se bastante rentável e seu comércio faz prosperar regatões em vilas e pequenas cidades debruçadas sobre os caudalosos Araguaia e Tocantins, na confluência do Pará, Maranhão e Goiás.

Preto e índio, cafuzos na amizade, unidos pela noite e pela sobrevivência, silenciosos, armados de espingardas, ouvem ao longe o rugir que ecoa no altiplano assustando puçás e cajuís, as pedras também se assustam, as gentes sentem o estorvo, a madrugada se alvoroça e as estrelas, suspensas, pedem abrigo em toda escuridão.

Dizem que as estrelas só vão dormir depois de avisadas pelo gato-do-mato. Tal código, milenar, aquele mineiro de Passa-Quatro já compreendia. Assim contou-nos Umassú, recentemente.
Mas o gato-maracajá é mais esperto, conhece bem aquelas cavidades e o idioma de seus perseguidores e, no torso da aurora, da primavera da manhã, bate em retirada diante da iluminura do dia que chega.

Osvaldão recolherá tais ensinamentos para enfrentar generais.

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