Carlos Tautz
Diante de um 2014 cheio de eventos politicamente sensíveis – eleições presidenciais, 50 anos do golpe empresarial e militar de 64, Copa da Fifa e a probabilidade de protestos em junho e julho, durante a realização do megaevento esportivo -, é inevitável prospectar cenários que vão se manifestar especialmente no Rio.
Aqui, as manifestações já se estenderam em 2013 para muito além da agenda do restante do Brasil, porque a numerosa categoria dos profissionais da educação – que permaneceu em greve por quatro meses – encontrou, de um lado, insensibilidade do prefeito Eduardo Paes (que insiste na tese das avaliações rebaixadas para inflar artificialmente a taxa de aprovação) e, do outro, apoio da população às reivindicação de uma educação de melhor qualidade.
O Rio deve confirmar a vocação a epicentro de novos protestos também porque aqui foram mais numerosos os graves casos de remoções de pessoas para dar lugar a obras faraônicas que se justificam na realização dos grandes eventos, mas que, na prática, apenas vão tornando a cidade cara e insustentável para a sua própria população.
Igualmente, será na cidade a abertura e realização de vários jogos de futebol em um estádio demolido e reconstruído a custos bilionários, que do velho Maracanã guarda quase nada, e que, ainda por cima, foi privatizado à Odebrecht, empreiteira tentacular que jogou para os céus o preço dos ingressos.
Isso tudo somado, é fácil antever a radicalização dos movimentos de oposição ao funcionamento da cidade na dinâmica imposta pela Fifa. Mas, se levado mesmo a cabo, esse confronto justificará o retorno ao asfalto da inédita ferocidade com que a PM do desaparecido governador Cabral tratou no ano passado a classe média branca (a população negra e favelada conhece desde sempre o modo de operar da polícia). Aliás, sinal dessa hipótese é a publicação no Diário Oficial de segunda passada de uma resolução criando o Batalhão de Policiamento em Grandes Eventos da PM do Rio.
Claro que toda essa movimentação terá consequências eleitorais. Já nas eleições de outubro, para o governo do Estado, mas, igualmente, nas de 2016, para a prefeitura. Paes saía quase ileso das críticas da população, até que sua nítida vinculação com a bancada das empresas de ônibus na Câmara dos Vereadores veio à tona justamente quando ele fingia que nada tinha a ver com a CPI que o parlamento municipal instalou para investigar as mutretas no transporte rodoviário.
Paes é muito mais hábil do que o agora desaparecido governador. Mas, a insistir na estratégia de que tudo vai bem no Rio – quando, entre outras, a péssima situação da saúde desmente o alcaide – pode começar a ter problemas a la Cabral.
Carlos Tautz é jornalista, coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e Controle Cidadão de Governos e Empresas.
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