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domingo, 21 de dezembro de 2014

No meio de uma pedra tinha um Niemeyer no caminho

Oscar Niemeyer completaria 107 anos na última segunda-feira (15).

Partiu aos quase 105 anos de vida, conforme calcula o pedaço de uma linha do tempo no saguão de entrada do Teatro Popular, em Niterói (foto).

Por Wagner de Alcântara Aragão*, no blog Macuco


Wagner de Alcântara Aragão
Foto citada por Wagner de Alcântara Aragão no início do texto Foto citada por Wagner de Alcântara Aragão no início do texto
Aproveito as duas efemérides para contar da beleza que é o Caminho Niemeyer, na mesma Niterói já citada.

Estive por lá no último dia 8 de dezembro.

Trata-se de um conjunto de espaços públicos desenhados pelo brasileiro gênio da arquitetura galáctica.

O Caminho Niemeyer começa pelo complexo formado pelo Teatro Popular, pela Fundação Oscar Niemeyer e pelo Memorial Roberto Silveira.

O complexo está logo após o Terminal de Ônibus João Goulart, por sua vez ao lado da estação de barcas (à esquerda do desembarque).

Na foto abaixo, o Teatro Popular em primeiro plano e, ao fundo, a Fundação Oscar Niemeyer.
De acordo com a guia Nathália Espinelly, o prédio da Fundação será ocupado por uma escola de artes. Por enquanto, abriga repartições da Prefeitura de Niterói, que precisaram ir para ali por conta de um incêndio em sua sede original.

O Teatro Popular, com intensa programação a ingressos acessíveis, tem vista para a Baía de Guanabara.

“O teatro tem elementos em verde, em amarelo e em branco. O azul, o Niemeyer disse, fica por conta do céu e da água da baía. Assim se têm todas as cores da bandeira nacional”, explica Nathália.

No saguão – tipo um vão livre -, além do painel com a linha do tempo da vida do arquiteto, há um mural de azulejos desenhado por Oscar Niemeyer.

“Ele desenhou cada parte em cada azulejo, e depois tudo foi montado, como um quebra-cabeça. Repare os detalhes, como é perfeito”, aponta a guia turística.
No gigante quebra-cabeça, a imagem que se forma do desenho é a de uma manifestação popular. “A bandeira vermelha é porque ele era comunista”, ressalta Nathália. “E viu que a parede não está preenchida?”, pergunta a guia, para de pronto emendar a resposta: “É porque o Oscar Niemeyer quis passar a ideia de que a sociedade está em construção, não está acabada, e tem que se mobilizar para construir”.

A caminhada pelo Caminho Oscar Niemeyer segue rumo à Praça Juscelino Kubitschek. Sem a guia, pois o serviço só é oferecido no complexo inicial.

Para quem desembarca em Niterói vindo do Rio, a Praça JK está à direita, rumo às praias.
O destaque da praça é a marquise, que lembra a do Parque Ibirapuera, em São Paulo (também de autoria de Niemeyer).

Segue-se em frente.

É a vez de encontrar um prédio dos Centros Integrados de Educação Pública, os Cieps concebidos por Darcy Ribeiro e Leonel Brizola, e arquitetados por Oscar Niemeyer. O Ciep dali é utilizado hoje pela Universidade Federal Fluminense.
Adiante, o Centro Petrobrás de Cinema Brasileiro. Um baita espaço de fomento e preservação do audiovisual nacional.

Mais um quilômetro e meio, incluindo uma considerável subida, e a vista alcança o Museu de Arte Contemporânea, o MAC, a menina dos olhos do Caminho Niemeyer.

E menina dos olhos de toda a cidade de Niterói – o símbolo está estampado em vários lugares, inclusive na pintura dos ônibus do transporte municipal.

Lá atrás, a guia contara que, ao contrário do que se convencionou dizer, o prédio do MAC não imita um disco voador a pousar às margens da Baía de Guanabara. “O MAC é uma flor, a vitória-régia”, garantira.

A harmonia com a paisagem natural é perfeita.

De outro planeta.


Wagner de Alcântara Aragão é jornalista e professor

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