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No nosso blog: Brasileiros, Norte Americanos, Portugueses, Canadenses, Russos, Ingleses, Italianos, Eslovenos, enfim, todos que gostam da cultura Brasileira e que tem nos acompanhado.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A escola portátil de brasilidade

Sete anos de funcionamento. E continua irredutível na sua missão de formar excelentes músicos, de elevar e popularizar um gênero autêntico da música brasileira.
Fosse apenas isso...
Não foi bem um "crescimento acompanhado de qualidade". A Escola Portátil de Música já nasceu imensa na sua essência. Respeitada. Influente. No Brasil e no exterior.


A escola funciona no Centro de Letras e Artes da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro — UniRio. As aulas são ministradas aos sábados em dois turnos.

Tradicionalmente as duas turmas se encontram ao meio-dia, quando formam uma grande orquestra onde predominam os instrumentos do choro — cavaquinho, bandolim, pandeiro, flauta, violão — , mas também há tuba, trombone, bombardino, saxofone, bateria e percussão, contra-baixo acústico, clarineta, acordeon...

E aí reside o problema.

Sabe lá o que significa 600 alunos tocando choro, de uma vez só?

Parece mentira, mas existe música brasileira, apesar da TV.

Há também cursos de piano, canto de samba-choro — além de harmonia, arranjo e composição para os alunos mais avançados.

De todos os lados

Os alunos vão chegando dos mais diversos bairros. Mas se encontra gente — como Os Matutos, conjunto formado na escola — que vem de Cordeiro, no interior do estado do Rio.

Magno Júlio, o percussionista d'Os Matutos já trabalha como monitor da escola. Antes da imensa banda se apresentar, encontramos Magno auxiliando e apresentando novos instrumentos a Ismael Marcos Ferreira. Ismael é cego e tem uma história de abandono, só conhecendo a vida em sociedade e a música aos 14 anos. Com um talento surpreendente, ele corre para recuperar o tempo.

— Ismael tinha 13 anos quando chegou ao Instituto Benjamin Constant. Vivia como um animal. Quando morreu a mãe, a avó o levou ao Instituto e, depois, minha irmã o adotou. A partir daí ele conheceu a música e descobriu o mundo. O problema dele não era mental, como pensavam, mas de socialização. Agora a música é tudo para ele — resume Marijô Castro, que acompanhava Ismael.

E Ismael se orgulha do que já aprendeu em tão pouco tempo:

— Eu comecei na música há uns 3 anos, tocando piano e bateria. Toco vários instrumentos, agora. Adoro choro, música clássica, samba, maxixe, frevo.

Um certo mestre

Era sábado, 25 de agosto. A um canto, sempre cercado de admiradores, havia um mestre transmitindo uma imensa alegria a quem dele se acercasse. Súbito, seu nome foi anunciado. Prontamente aquela multidão de músicos se colocou de pé e explodiu um entusiasmado aplauso. Era o grande Altamiro Carrilho. Mestre, amigo, personalidade brasileira, expoente de nossa música mais autêntica. Ao lado, outro mestre, o irmão e igualmente estimado, Álvaro Carrilho.

Há mais dois conjuntos na escola.

A Furiosa Portátil é composta na maioria por instrumentos de sopro, ou metais, dirigida pela arranjadora, compositora e produtora musical Bia Paes Leme. Há também a Camerata Portátil, onde preponderam os instrumentos de corda, dirigida pelo bandolinista Marcílio Lopes, a flautista Naomi Kumamoto e o cavaquinista Jayme Vignoli. Esses dois conjuntos já fazem apresentações. Claro, é sucesso garantido por onde passa.

Incansáveis, os responsáveis pelo Instituto Casa do Choro e pela Escola Portátil ainda organizam, há três anos, o Festival Nacional de Choro.

Portátil crescente

O de 2007 é o terceiro festival. Foi realizado em São Pedro, interior de São Paulo, num hotel-fazenda. Durante oito dias, 246 alunos de diversos estados brasileiros, além de músicos da Argentina, França, Estados Unidos, África do Sul, Austrália, Espanha, Japão e Suíça participaram de cursos, palestras, apresentações e respiraram choro em tempo integral.

— Tenho 60 anos e moro no Rio de Janeiro há 40. Desde os 20 anos toco violão. Sempre fui autodidata. Agora, estou estudando sistematicamente. Conheci a Escola Portátil através da minha filha, que toca flauta. Ela participou de um festival da escola e vi sua apresentação. Observei a turma e percebi que tinha pessoas de todas as idades. Estou adorando e aprendendo muita coisa — diz Luciano de Oliveira, que se preparava para participar do empolgante "bandão" da Escola Portátil.

O choro tem sua origem nas camadas médias urbanas. Não permite o estrelismo alimentado no meio comercial. Entre os chorões isso não impressiona, mas participantes estrangeiros do III Festival Nacional de Choro se surpreenderam com a proximidade entre os mestres e os demais participantes.

— Eu imaginava que seria como os festivais no USA, onde você assiste a um concerto de uma grande estrela, e depois, se der sorte, pode apertar a mão dela no hotel. Mas aqui não. As grandes estrelas faziam os shows e depois iam para a roda de choro tocar e conversar com os alunos. (...) Agora só penso em juntar dinheiro no USA durante o ano para voltar em 2008 — disse o pandeirista estadunidense Jason Litle em depoimento tomado por Nana Vaz de Castro, da Escola Portátil.
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Figuras e histórias do Festival

Nana Vaz de Castro

O formato não deixa dúvidas. Por se realizar sempre em locais afastados dos grandes centros urbanos, o Festival Nacional de Choro promove a convivência de 24 horas por dia entre alunos e professores, durante sete dias. Comer, dormir, trabalhar, estudar, tocar, tudo no mesmo lugar, com as mesmas pessoas. Em eventos com essa característica, sempre surgem grandes histórias e inesquecíveis personagens.

Personagens como Eurides Penha, saxofonista amador de Rio Verde, Goiás, que se mostra disposto a comparecer a todas as próximas edições do Festival. "Seu" Eurides, 66 anos, é agricultor, mas sua grande paixão é a música instrumental brasileira. Tanto que, inconformado com o baixo nível da programação das rádios de sua região, resolveu abrir sua própria emissora, para compartilhar com os 130 mil habitantes de sua cidade um pouco da sua discoteca de cerca de dois mil CDs.

Primeiro tentou conseguir uma licença pelas vias oficiais. Mas desanimou, derrotado pela burocracia. Falou então com um amigo engenheiro e, motivado pelo grande número de rádios piratas em atividade na região, comprou um transmissor de baixa potência e montou uma emissora clandestina em seu próprio escritório.

— Todas as rádios só tocavam moda de viola. Eu pensei, isso não está certo. Então fiz um repertório só de música instrumental brasileira. Comecei com meia hora por dia. Não tinha apresentação, não tinha nome, eu não falava nada. Só música. Seis meses depois, ninguém ouvia outra rádio — explica.

A rádio sem nome nem apresentador de Eurides ficou cerca de um ano no ar. Foi um sucesso — que ele credita à simples oportunidade dada às pessoas de ouvirem música de qualidade. Até que um dia...

— Um dia reparei que todas as outras rádios piratas — todas evangélicas — estavam fora do ar. Achei estranho, mas não liguei. Depois é que me dei conta que a Polícia Federal tinha sido acionada, mas todas as outras rádios evangélicas tinham saído naquele dia, e me deixado pra boi de piranha.

Quatorze policiais federais armados com metralhadoras fecharam a rua e entraram na casa de Eurides para prendê-lo por causa de sua rádio pirata.

— Podem me prender. Vocês são pagos para ser brasileiros, mas eu pago para ser patriota — foi a sua reação, estendendo os braços à espera das algemas.

Dentro da casa, sua filha chorava, enquanto Eurides tentava explicar a ela:

— Um cidadão que só toca música brasileira tem que ir preso, não pode ficar solto. É um crime.

No fim das contas o saxofonista de Rio Verde foi à delegacia prestar depoimento (no qual fez constar que sim, tinha uma rádio ilegal, mas que nunca havia tocado nada além de música brasileira, nunca havia feito propaganda e nem mesmo dito o próprio nome) e teve o equipamento apreendido. Não foi o suficiente para fazê-lo desistir. A última de seu Eurides é uma rádio móvel, que funciona dentro de seu carro, com um pequeno transmissor e as músicas em MP3.

— No ano que vem, onde quer que seja o próximo Festival de Choro, vocês vão ter oportunidade de ouvir a rádio ambulante.

Os estrangeiros que vão ao Festival (número que aumenta a cada ano, chegando a expressivos 10% do total de alunos em 2007) são uma atração à parte. Eles são japoneses que usam seus pouquíssimos dias de férias anuais para empreender a longa viagem em busca do choro; norte-americanos que descobrem por acaso uma forma de contato entre mestres e alunos totalmente nova, argentinos ávidos por descobrir mais do que o óbvio sobre a música brasileña.

Os amigos Eric Murray (32) e Jason Little (27) vieram da pequena cidade de Akron, no estado norte-americano de Ohio, onde estudam na universidade de música. Habituados a um ambiente musical de "jazz, fusion, funk e pitadas de música afrocubana", eles saíram dos Estados Unidos para o Festival de Choro sem saber muito bem o que esperar. Jason, que fez para o Brasil a sua primeira viagem para fora dos EUA, é percussionista, mas não conhecia muito de música brasileira além de rudimentos de bossa nova e samba, e se interessou quando soube das baterias de escolas de samba, que reúnem centenas de ritmistas.

Estimulado por Eric, que por sua vez ouviu falar de choro e se interessou pelo assunto graças à dica de seu orientador de doutorado em etnomusicologia, Jason chegou ao Brasil com uma vaga noção de que era choro. Ao final do Festival, sua percepção era outra:

— Quando eu vim para o Brasil meu interesse maior era pelas baterias de escola de samba. Choro, para mim, era apenas a música onde eu poderia tocar pandeiro. Agora, estou animado com um novo mundo que se abriu para mim. Posso até ouvir as escolas de samba agora, muitas percussões, num volume muito alto, mas tenho certeza que, quando voltar aos EUA, esta semana que passei aqui, o Festival de Choro, vai ser minha melhor lembrança.

Mais do que tudo, o choro mostra, para os americanos, uma mentalidade diferente no que diz respeito à coletividade da música:

— Nos EUA há, por exemplo, jam sessions de jazz, principalmente. Mas uma jam session é tão focada no indivíduo, cada um está tão preocupado em mostrar o quanto é bom e como toca bem que ninguém parece se preocupar com a música, com o conjunto, com o fato de estarem todos juntos curtindo a música. A experiência de tocar com tantas pessoas diferentes e ver a paixão pela música que até então era estranha para mim é um dos principais aprendizados que vou levar daqui — conta Jason.

Já Eric, que é violonista e há pouco tempo só conhecia os Choros de Villa-Lobos, presentes no repertório clássico de violão, pretende passar uma temporada maior no Brasil. O objeto de estudo de sua tese é o processo de aprendizagem e improvisação no choro. Ele explica:

— Logo que comecei a ouvir as primeiras coisas de choro, Pixinguinha, Jacob do Bandolim, pensei que havia no choro muita improvisação, e isso me atraiu porque é meu tema de estudo. Na minha primeira viagem ao Brasil fui a lugares como o Bip Bip e o Trapiche Gamboa, e comecei a ver que a improvisação não era como no jazz, era muito diferente. O Festival abriu os olhos para ver o que realmente acontece com essa música. Tenho agora uma nova perspectiva sobre o que é o choro. Descobri que há, sim, muita improvisação no choro, mas de forma muito mais complexa, mais 'social', menos individual. Uma noite, durante o Festival, ouvi o Proveta, o Pedro Paes e o Rui tocando, e eles estavam improvisando harmonicamente. Isso para mim foi absolutamente incrível e impressionante.

Os dois fazem planos para a edição 2008 do Festival.

— Agora eu tenho um pouco de base para estudar mais, por conta própria, e começar a aprender o repertório, o que percebi que é muito importante. Mas pelo menos agora eu sei por onde começar — diz Jason.

Fonte:A nova democracia

Téo Azevedo: Cantador popular do Norte de Minas

É muito comum as pessoas me chamarem de folclorista, pesquisador e outros adjetivos do gênero. Na verdade, não me considero nada disso. Para ser isso tudo, além do amor pela cultura, é preciso ter formação acadêmica. Sou um cantador violeiro, nascido em Alto Belo, distrito de Bocaiúva, entre os vales dos rios São Francisco e Jequitinhonha, filho de Tiófo, ‘o cantador de um braço só', possuindo apenas a escola da vida, sendo o meu aprendizado na cultura, o fruto de minha própria vivência e criação, além de minha curiosidade de conhecimento e o fato de não ter vergonha de perguntar e aprender com quem sabe mais do que eu. Portanto, não sigo nenhum critério acadêmico, mas, com o amor pela cultura e dentro de meu conhecimento, procuro trilhar o caminho da simplicidade e da honestidade, fazendo a cultura de resistência do Brasil, terra da gente.
Essas são palavras de Teófilo Azevedo Filho, ou Téo Azevedo, violeiro, pesquisador de cultura popular, autor de cordéis, produtor musical, compositor e cantor, nascido em Alto Belo, distrito de Bocaiúva, Norte de Minas, no ano de 1943.

Há 50 anos, Téo está na trincheira, em defesa da cultura popular. Trabalha desde muito cedo, sempre misturando arte e trabalho. Aos 9 anos, já engraxava sapatos e recitava versos de improviso para atrair clientes em Montes Claros, Minas Gerais. Fazendo isso com sucesso, atraiu a atenção de muitas pessoas, dentre elas um camelô pernambucano, chamado Antônio Salvino, seu "descobridor", que o levou a várias feiras pelo Nordeste, onde se apresentavam juntos. A função de Téo era se apresentar com uma jibóia enrolada no pescoço, cantando calango de improviso em quadras, também para atrair a clientela para o parceiro.

Aos 14 anos, já sozinho, chega a Belo Horizonte, onde canta repentes e vende cordéis de sua autoria nas feiras livres da cidade. "Confundido" com vadio, foi preso várias vezes. Dormiu na rua, foi pintor de pára-choques de caminhão, lutador de boxe e soldado do Exército, onde deu baixa como corneteiro, mas sempre cantando e recitando seus versos por onde quer que passasse. Fez sua primeira gravação, em acetato, no antigo Estúdio Discobel, ainda em BH. Foram tirados 30 exemplares do disco que continha a música Deus te salve casa santa (Cálix Bento). Cinco foram entregues às rádios AM da cidade e os restantes vendidos. Téo chegou a gravar 300 músicas nesse processo independente, muito difundido na época, e facilitava a aparição de novos artistas, que não tinham espaço nas gravadoras transnacionais.

Zé Côco do Riachão foi o maior
músico da história do Brasil,
ao lado de Luiz Gonzaga 

Prosseguindo sua carreira, já sobrevivendo — de forma precária — exclusivamente do que produzia artisticamente, em 1968 foi escolhido o melhor compositor mineiro do ano pelo colunista Gérson Evangelista, do jornal O Debate. Em breve, passando por mil dificuldades, consegue lançar seu 1º LP, Brasil Terra da Gente, em1969. A partir daí, não parou de compor, de criar.

Produção abundante e diversificada

Segundo o jornalista e pesquisador de cultura popular Assis Ângelo, Téo Azevedo é o compositor vivo (ou em atividade) que tem mais músicas gravadas no Brasil: o número ultrapassa as 1.500 canções. Entre seus intérpretes figuram artistas de renome como Luiz Gonzaga, Sérgio Reis, Clemilda, Tião Carreiro, Zé Ramalho, Tonico e Tinoco, Cascatinha e Inhana, Zé Coco do Riachão, Caju e Castanha, Milionário e José Rico, Banda de Pífanos de Caruaru, Christian e Ralf e muitos outros. Algumas músicas suas foram gravadas também por intérpretes estrangeiros.

Téo tem também grande experiência como produtor musical, tendo produzido mais de 3 mil discos. Uma de suas maiores descobertas foi o solista de viola e rabeca, além de construtor de instrumentos de corda, Zé Côco do Riachão. Téo conta, em um cordel de sua autoria, que conheceu Zé Côco em 1979, quando precisou consertar duas violas. Desde então, se impressionou com o velho que, já em idade avançada, não tinha feito nenhuma gravação. A partir daí, passou a acompanhá-lo, tornando-o conhecido do público. Mais tarde, Zé Côco do Riachão foi considerado o melhor instrumentista de cordas do Brasil, por ocasião do lançamento de dois de seus LP's, em 1980 e 81. Segundo Téo, " Zé Côco do Riachão foi o maior músico da história do Brasil, ao lado de Luiz Gonzaga".
Procuro trilhar o caminho
da simplicidade e da honestidade,
fazendo a cultura de resistência
do Brasil, terra da gente
Téo também é autor de centenas de histórias de cordel, alguns deles estudados até no exterior, sendo, ainda, o responsável musical de um projeto da rádio Cultura FM de São Paulo, onde trechos da obra Grande sertão: veredas, do escritor Guimarães Rosa, são cantados e interpretados pelos atores Lima Duarte e Sadi Cabral, além do próprio Téo Azevedo.

Em 1978, foi a Portugal cantar e fazer palestras sobre a cultura popular brasileira.

O trabalho no Norte de Minas

Téo Azevedo é um dos idealizadores e fundadores da Associação dos Repentistas e Poetas Populares do Norte de Minas, entidade da qual foi presidente, e para a qual doou todos os direitos autorais das obras de domínio público, recolhidas e adaptadas por ele. Em seu incansável trabalho de pesquisa e elaboração artística, Téo gravou e divulgou vários ritmos da cultura do Norte de Minas, entre eles o calango, o côco de viola, o lundu, o guaiano, a chula campeira, repente, toada de Alto Belo, etc, além de idealizar várias produções televisivas locadas da região. Um dos veículos utilizados por Téo para divulgar seu trabalho foi o rádio. Ele apresentou programas durante 12 anos, sendo 3 pela Rádio Record e 9 pela Rádio Atual de São Paulo, onde, aos domingos fazia uma apresentação ao vivo, em auditório, com repentistas, violeiros, cantadores, emboladores e outros artistas populares, descobrindo novos músicos e incentivando as criações espontâneas das pessoas simples.

Em 1998, criou seu próprio selo fonográfico, o Pequizeiro, que, em dois anos de atividade, acumulou cerca de 160 títulos, de vários autores, fechando as portas por não conseguir furar o monopólio das gravadoras estrangeiras. Em 2002, lançou seu mais recente CD, Téo Azevedo, 50 anos de Cultura Popular, Cantos do Brasil Puro, pela gravadora Kuarup, que há 25 anos grava músicas de um elenco de artistas nacionais e populares de 1ª linha (vide Box). Há ainda outro a ser lançado em breve pela mesma gravadora.

Influenciando novas gerações

O sobrinho de Téo, Rodrigo Azevedo, também bebeu da mesma fonte e está despontando como grande solista de viola caipira. Fonte esta, aliás, que parece perene, pois, segundo o próprio Téo, Rodrigo faz parte da oitava geração da família que se dedica à música. O pai de Téo era conhecido como "Tiófo, o cantador de um braço só", e era famoso em todo o sertão mineiro.

Com inúmeras músicas utilizadas por outros artistas, muitos deles surgindo atualmente, Téo diz nunca ter processado alguém que tivesse se aproveitado de seus trabalhos, mesmo sem autorização. "Existe meia dúzia de (compositores) endeusados pela crítica que só cedem as músicas para os medalhões. Se um artista menos conhecido grava suas músicas, eles logo abrem processo e esfolam as pessoas". É contra a pirataria, mas acha o CD muito caro. "Um CD deveria custar, no máximo, cinco reais", diz, com a autoridade de quem produz e sabe quanto custa um Compact Disc.

Entre os dias 10 e 12 de janeiro deste ano, ocorreu a 21ª Festa de Folia de Reis de Alto Belo, promovida pela Associação Folclórica de São José de Alto Belo, onde se podia provar a culinária regional do Norte de Minas, ouvir os repentes e os cantadores e violeiros, assim como os cordelistas. Téo considerou a festa desse ano um sucesso, principalmente porque foi pouco divulgada. "Reduzimos a propaganda, porque a festa estava crescendo muito e fugindo do nosso controle, mas não adiantou nada, veio gente do mundo inteiro e pesquisadores de várias universidades, inclusive da França", diz Téo.

Com toda sua história, Téo Azevedo é um defensor intransigente da cultura popular e do Brasil. Segundo ele, faltam iniciativas para defender o país: "Até na porrada, se for preciso!"
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Músicas e lutas sociais

A situação dos trabalhadores do campo e da cidade também preocupa Téo Azevedo. No Norte de Minas tem combatido, com sua poesia, a exploração do cerrado pelos latifundiários e as carvoarias, que estão acabando com o pequi, um dos alimentos característicos da culinária e da medicina natural, além de outras mazelas sociais que assolam a região.

Neste trecho da música Justiça Social, de sua autoria em parceria com Valente, nota-se que Téo não é um artista ocupado simplesmente com música.
...O operário que trabalha sem descanso
pelo salário que recebe todo mês
vive implorando para não ser dispensado
e às vezes paga por aquilo que não fez
A sua casa é distante no subúrbio
Às vezes pega mais de uma condução
Na humildade de quem vive oprimido
Ele é quem faz o progresso da nação
O camponês não tem terra para plantar
Vem pra cidade, se transforma em bóia fria
No meu sertão, hoje tudo está mudado
O sertanejo já não tem mais alegria
Lavrar a terra, semear depois colher
Então vender por um preço aviltante
O lavrador já não tem como viver
Porque o lucro é do grande comerciante...
O trabalho da gravadora Kuarup

Ao longo de seus 25 anos de existência, o selo Kuarup tem se diferenciado bastante das outras gravadoras pela sua atuação no mercado fonográfico. Sediada no centro do Rio de Janeiro, e dirigida pelo produtor Mário de Aratanha e pela socióloga Janine Houard, a gravadora tem se especializado, desde 1977, em lançamentos de qualidade, refletindo o que há de melhor em termos da boa e autêntica música brasileira. Nesse sentido, o maior objetivo da Kuarup é mapear o país musicalmente, dando voz a sonoridades antes relegadas ao anonimato, devido, principalmente, à uniformização do gosto musical, em face do poderio dos monopólios fonográficos.

Seu acervo reúne hoje os mais importantes expoentes do choro, da música nordestina, caipira e sertaneja, do samba e da música instrumental em geral, possuindo a maior coleção de Villa Lobos em catálogo no país. Músicos como Rafael Rabello, Henrique Cazes, Altamiro Carrilho, Paulo Sérgio Santos, Joel Nascimento, Sivuca, Domiguinhos, Paulo Moura, além de Téo Azevedo e Rodrigo Azevedo, já inscreveram seus nomes na história da Kuarup. Um dos maiores sucessos do selo foi o lançamento do CD Cantoria, um encontro memorável entre os músicos Xangai, Vital Farias, Geraldo Azevedo e Elomar, que, para concluí-lo, se empenharam numa série de gravações ao vivo: o Cantoria 1 foi gravado em Salvador, e o Cantoria 2 foi o resultado de 15 espetáculos em todo o Centro-sul do país.

Recentemente, a comemoração dos 25 anos do selo veio dar origem ao álbum Cantoria Brasileira, gravado na Festa Uai, em Poços de Caldas (MG), e no Teatro do Centro de Artes da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói (RJ). Nas duas ocasiões, um quinteto formado por Elomar, Pena Branca, Xangai, Renato Teixeira e Teca Calazans, se uniu aos músicos Natan Marques, Chico Lobo, Heraldo do Monte, Oswaldinho e Paulo Sérgio Santos, e ofereceu ao público um repertório de 17 canções do universo musical brasileiro.

Mas, a que se deve a longevidade de um selo que transita na contramão do som dito "comercial" e que compete com as grandes companhias? Primando sempre pela qualidade, Mário de Aratanha não vê na concorrência um entrave: "Se eu faço um disco, e vendo duas mil cópias, estou feliz. Quero ser livre. Quero ser pequeno, porque aí posso fazer o que eu quiser", diz.

A série de prêmios ganhos pelos discos da gravadora, dentre eles dois Grammy Latino, só fazem atestar o altíssimo nível de sua produção. Mais informações em www.kuarup.com.br.

Fonte:A nova democracia


Arte no PAC


As oficinas e cursos no PAC estão a todo vapor, entre elas o curso de Desenho Artístico que já no terceiro ano de funcionamento, vem atraindo vários artistas e alunos, tendo já para 2011 uma turma encaminhada.
 Outro sucesso é a oficina de viola caipira com o professor Elias da Viola, que já conta com mais de 50 alunos neste primeiro ano. Uma parceria de sucesso entre PAC e a Associação dos Sertanejos da região Sul-Fluminense.

Os interessados para o curso de Desenho/2011 e para o curso de Viola compareçam no PAC para maiores informações.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A Arte Barroca no Vale do Paraíba

A Arte Barroca no Vale do Paraíba

Quem percorre o trecho paulista do Vale do Paraíba, eixo que liga as duas maiores metrópoles do país, não pode imaginar os aspectos contrastantes que aí se desenvolvem. Ao lado de modernos parques industriais e de importantes centros de pesquisas, subsistem até hoje pequenos núcleos de artesãos, que conservam as características de nossa mais arcaica cultura. Entre esses artesãos deve-se destacar os que, trabalhando o barro, produzem obras de grande beleza plástica: a cerâmica do Vale do Paraíba. A presença de grande quantidade de argila nas margens dos rios propiciou o desenvolvimento na região dessa atividade que liga profundamente o homem ao barro.
Dá-se preferência à argila encontrada nas camadas mais profundas do solo porque estas apresentam maior grau de pureza. O material é depois macetado com o auxílio de uma mão de pilão, até adquirir uma contextura aveludada, o que favorece a execução de um bom trabalho.
No Vale do Paraíba podemos encontrar dois tipos de cerâmica: a utilitária e a figurativa. A primeira, cuja origem está ligada à prática silvícola de usar o barro para fazer potes, vasos, ânforas e outros utensílios domésticos, era encontrada em toda a região. Atualmente, porém, está restrita à cidade de Cunha, núcleo de glorioso passado histórico, onde somente duas paneleiras, como são conhecidas essas artesãs, continuam em atividade até hoje. São elas D. Benedita Olímpia de Abreu - a Dita Olímpia - e D. Anuncia, ambas conservam a tradição de fazer manualmente peças de grande beleza e linhas comparáveis ao mais moderno design.A cerâmica figurativa, porém, ainda é encontrada em muitas cidades do vale. Sua origem está ligada à arte de fazer presépios, que teve como ponto de irradiação o Convento de Santa Clara, e Taubaté. Foram os franciscanos os primeiros a ensinar a população a trabalhar com o barro, para que as famílias pobres, sem condição de comprar presépios importados, pudessem fazer em casa as figuras natalinas. O presépio ainda é o trabalho mais típico da cerâmica figurativa do Vale do Paraíba. Inclui elementos muito originais, como a raposa que, segundo a lenda, amamentou Jesus, carneirinhos ornados com chumaços de algodão e o galinho do céu, peça símbolo do artesanato paulista 
Muitos presépios elaborados por figureiros famosos - infelizmente já desaparecidos - constituem obras de grande valor, conservadas com carinho pelos colecionadores. Dentre esses artistas colecionadores. Dentre esses artistas destacam-se Maria Froes, mãe da premiada Eugênia da Silva, de São José dos Campos; Chico Santeiro, que morava em Aparecida do Norte; e o casal taubateano Benedito e Maria Gomes, que moldava figuras bojudas e, por desconhecer a anatomia dos camelos, punha os Reis Magos montados em graciosos burricos.
As peças são moldadas com as mãos e secas ao sol, daí decorrendo sua grande fragilidade, único aspectos negativo dessa cerâmica. Depois de secas, as figuras são pintadas, apresentando um colorido forte e alegre, principal característica desse artesanato. A tinta mais usada é a em pó dissolvido em água de cola, mas recentemente os artesãos estão também usando tintas sintéticas e purpurina.
Alguns deles, não se acostumando com os pincéis modernos, continuam usando penas de galinha ou bastonetes com algodão enrolado na ponta à maneira mais antiga. Os figureiros, além do tradicional presépio e de figuras de santo, abordam também aspectos do cotidiano e de nosso folclore, como a Congada, o Jongo e a Folia do Divino, grupo precatório que antecede a festa de Pentecostes. Sem dúvida, não podemos deixar de admirar sua criatividade, tão notável quanto a singela beleza das peças.
O maior reduto desses artistas concentra-se na Rua Imaculada, em Taubaté, onde podemos encontrar as irmãs Edith, Luísa e Cândida Santos. Cada uma delas tem suas figuras preferidas. Edith é a criadora da belíssima Nossa Senhora das Flores; Cândida especializou-se em ornamentar pavões com luxuosas caudas; enquanto o feérico presépio-chuva, obra-prima de Luísa Santos Vieira, nos transmite a alegria do Natal.

Em Taubaté ainda se encontram Idalina da Costa Santos e sua filha Ismênia, que encantam com o São Francisco Ecológico e as figuras de trabalhadeiras, que reproduzem profissões e atividades populares.
O conhecimento desses artesãos foi, geralmente, obtido com seus ancestrais, constituindo a arte verdadeira tradição familiar. E os figureiros, geralmente mulheres, exercem essa atividade nas horas vagas, como forma de complementar o orçamento familiar. Nos fins de semana, os próprios artesãos dedicam-se à comercialização das peças, que se torna mais fácil na época natalina. As dificuldades com a divulgação do trabalho e com a venda dos objetos, ao lado do problema da obtenção da argila, têm feito com que vários artistas abandonem suas atividades, ao mesmo tempo que não estimulam as novas gerações a se interessarem em aprender essas técnicas. Esses fatos, infelizmente, poderão provocar muito em breve o desaparecimento desse aspecto tão interessante da nossa cultura popular. E é preciso enfatizar que o que esses artistas mais desejam é a oportunidade de poder expor e vender as suas peças, não tanto pelo lucro - que é pouco, quase nada compensador - mas sobretudo para ter reconhecido e admirado o seu trabalho realizado com amor, alegria e dedicação
.


Fonte:Vale do Paraiba

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A arte popular do povo pobre

A arte popular do povo pobre
 

Entrevista a Rogério Morais 

"A arte feita pelo povo pobre do Brasil é a arte popular". O ponto de vista é do criador do Movimento Armorial, o professor, dramaturgo e romancista Ariano Suassuna, autor de várias peças, entre elas o Auto da Compadecida (escrita em 1955), atualmente o mais autêntico defensor da cultura popular brasileira, que vem ensinando o jovem, dando apoio e valorizando as manifestações do povo, notadamente, nordestino. Povo este que ele chama de 4º. Estado, ou seja, os ‘analfabetos' que aprenderam sem a escola institucional, os desempregados, os que não têm amparo nenhum das instituições públicas, os que não têm espaço na mídia burguesa, o povo humilde, mas alegre, que está nas ruas, nas praças públicas, lutando e vencendo os preconceitos e obstáculos, gente autêntica que cria sem se importar com as conseqüências.
 

É também o que ele classifica de Brasil Real, ou seja, uma população que não tem nada a ver com o Brasil Oficial. A convite, o professor Ariano Suassuna viaja Brasil afora promovendo palestras principalmente para estudantes de todos os níveis, para falar da cultura popular brasileira e quando ele faz uma perfeita distinção sobre os dois brasis: o oficial e o real. Didático, ele vai buscar na clássica Revolução Francesa (o movimento burguês), os fundamentos para conceituar o caráter puro do povo brasileiro. Conforme Ariano Suassuna, o popular no Brasil não é o que vem do "povo", numa análise em que se "considera os termos da revolução francesa". Ou seja, naquela época, existiam três classes sociais, ou melhor, três Estados: A nobreza, o clero e o povo, este último (o que promoveu a revolução — a burguesia) formado de fabricantes, mercadores, artistas e também do proletariado (operários e campesinato) classe que estava emergindo. 

O Quarto Estado

O povo brasileiro é outra classe — o 4º Esatado — já conceituada, e suas expressões culturais se manifestam com os cantadores nordestinos, violeiros, repentistas, os escritores de cordel, gravadores em madeira entre outros artistas plásticos. Levando o pensamento do professor Suassuna para o viés político, podemos considerar que o povo brasileiro não fez a sua "revolução francesa", quer dizer, o puro, o original, o que é nosso, o autêntico, a cultura brasileira continua marginalizada, sem espaço e sem chance, como há séculos. Despercebida pelo Estado nos guetos, no interior, onde a mídia eletrônica ainda não predomina, e nos logradouros públicos abandonados nos grandes centros urbanos, para onde convergem nordestinos e pobres de todas as raças e nacionalidades como na feira dos nordestinos no Rio de Janeiro.

Fazendo questão de lembrar Machado de Assis, que "em 1861 escreveu um artigo em que dizia que no Brasil existem dois países: o oficial e o real", o escritor afirma que o "Brasil oficial é claro, é o país dos privilegiados, dos brancos". E o Brasil real é "dos mais pobres, dos mais escuro, dos mestiços, e é esse povo do Brasil real que faz a arte popular". Lembra ele, que Machado de Assis dizia: "O país oficial é caricato e burlesco, o real é bom e revela os melhores instintos".

Indagado se esta arte seria a do negro e do índio, ele responde: Do negro, do índio, do português pobre, inicialmente, e depois do espanhol pobre, do judeu e do árabe pobres depois, e vieram outras etnias, mas os primeiros foram o negro, o índio e os ibéricos... O povo do Brasil real é integrado de negros, índios e mestiços de brancos pobres". Esclarecedor, Sussuana sugere a quem quiser ver o Brasil Oficial ir a um banco, Federação das Indústrias, palácios de governos, associações comerciais, onde há os monumentos das elites. Mas o povo "continua exilado ou nos arraiais e assentamentos do campo ou em favelas urbanas".

Esta situação de exclusão, de humilhação do povo, conforme Ariano Suassuna, vem desde o descobrimento do Brasil. Segundo ele, "os portugueses quando aqui chegaram colocaram os outros dois povos (negro e índio) a seus serviços. A partir daí caminhou uma cultura oficial e outra cultura popular". Para ele, a mesma questão do ponto de vista cultural, se aplica na política. "Os cargos políticos e burocráticos são de brancos ou mais brancos,... de negro é pequeno", lembra. E é esta burocracia que satisfez a burguesia nacional e a acomodou, distanciando-a dos ideais, como nação, e excluiu os demais.

Resistência

Mas se a burguesia nacional se deixou levar pelas ofertas do imperialismo e não promoveu a democracia brasileira, nem tudo está perdido para o povo. Suassuna lembra que "apesar dessa injustiça secular, o povo do Brasil real revela uma capacidade de resistência enorme, apesar de todas as deformações, de toda marginalização, eles mantêm uma cultura própria, que tem uma energia e vitalidade que a mim deixa espantado". Continuando, o professor de estética diz: "Veja a alegria que está à vista, a vitalidade e a energia da cultura negra no Brasil. São 500 anos de dominação, de exploração e de marginalização e continua mantendo sua alegria, mantém essa festa do povo brasileiro, que é uma coisa que eu admiro". Conforme o escritor, "eles tinham todo o direito de ser ressentidos e amargos, mas não são, eles têm uma arte vital, uma dança bela, uma música bela, e em torno dessa arte eles organizam uma festa, e a vida é como uma festa, mesmo passando a maior dificuldade".

Para Ariano Suassuna o imperialismo "sempre foi e continua sendo" o entrave maior para a libertação das massas. Respondeu que "a essas potências que dominam o povo, não interessa que exista cultura peculiar e singular em cada nação, porque o povo que tem a sua cultura resiste mais bravamente à invasão política, militar, econômica e cultural que eles estão realizando de modo claro ou disfarçado". O professor alerta sobre a dominação imperialista afirmando que "eles querem que todo mundo se vista do mesmo jeito, fale do mesmo jeito e grite do mesmo jeito. É porque uma nação que passa a adotar essa espécie de "esperanto cultural", é muito mais fácil de ser absorvida".

Critica que a mídia tem o seu papel negativo nesse aspecto. "Se desse um pouquinho de ajuda a situação seria outra; a música nordestina, a música do Brasil real não tem espaço; cantadores como se ve no Ceará não são promovidos". Mas mesmo assim ele não dá importância à questão comercial, que os meios de comunicação premiam certos autores. Faz uma comparação entre o êxito do artista nato com o sucesso comercial via promoção da mídia: "Êxito é muito mais importante", acrescenta e continua: "A mídia faz o sucesso, mas o sucesso não tem importância", e cita o exemplo de uma dupla de irmãos jovens cantores que estão nas paradas musicais, com muito mais fama do que Euclides da Cunha, "mas o livro de Euclides da Cunha já tem 100 anos de pleno êxito... com mais de cem edições".

Sobre o mais consagrado escritor do Brasil, Ariano Suassuna disse que a Guerra de Canudos "foi o movimento mais significativo da história brasileira... Porque ali, pela primeira vez, surgiu uma comunidade que foi organizada pelo próprio povo, tiveram um líder popular, Antônio Conselheiro, que se organizou de acordo com o que podia ser, sem imposições, sem interferência de cima e nem de fora, nem deformação. Na minha opinião, qualquer político brasileiro tem a obrigação de estudar o movimento de Canudos. Ali o povo do Brasil real se organizou , levantou a cabeça, mas veio o Brasil Oficial e cortou a cabeça do seu irmão".

Realista esperançoso

O professor Ariano Suassuna diz ser um realista esperançoso. Indagado sobre a situação atual do Brasil e o quadro geral das artes no país ele responde com tranqüilidade: "Olhe. Não sou iludido e nem amargo". Muito pelo contrário, já sabemos que o professor Suassuna vem recebendo aplausos em todo o Brasil, de norte a sul ele vem despertando inclusive entre adolescentes, em suas palestras, a consciência e a valorização da cultura brasileira. Vem renovando os ânimos de estudantes, de artistas e do povo em geral por onde passa. No mês de setembro foi homenageado no Ceará, durante uma bienal internacional de livros. Falou de improviso durante mais de uma hora, para um público que lotou um salão também improvisado, recebendo aplausos e sendo prestigiado durante toda a noite, respondendo a perguntas e autografando livros.

"A juventude, quando nota que a gente não é um impostor, quanto nota que a gente está falando a verdade, acredita... Eles ouvem e prestigiam". São tantos os convites que o professor recebe para fazer palestras e dar aulas sobre esses temas que ele se sente cansado, mas não tem se recusado a nenhum, só lamenta não ter mais tempo para dar continuidade a sua arte de escritor e concluir um livro que pretende lançar brevemente.

Mostra-se contente em saber que o Movimento Armorial, lançado oficialmente há mais de 30 anos, está em evidência e nos últimos anos vem ganhando adeptos em todo o Brasil. Mostra com satisfação um CD que acaba de receber, gravado pôr um grupo de alunos do Ensino Fundamental de uma escola da Paraíba. São jovens que estão "se infileirando no movimento que continua muito vivo", concluiu. 

Movimento Armorial  

A luta contra a vulgarização da cultura


No final da década de 60, quando o professor Ariano Suassuna teve a oportunidade de ocupar um cargo na direção da Universidade Federal de Pernambuco, na área cultural (ele foi nomeado diretor do Departamento de Extensão Cultural), viu a oportunidade de concretizar um sonho seu de anos: Fundar o Movimento Armorial. Com esta oportunidade, convidou representantes da literatura, das artes plásticas, da música, do cinema e do teatro para criar o movimento.


Seu objetivo era a criação de uma arte brasileira erudita baseada na raiz popular da cultura nacional. "Queria lutar contra o processo de descaracterização e vulgarização da cultura brasileira", explica. "Processo, aliás", conforme ele, "que ainda hoje perdura, e por isso o movimento armorial esta cada vez mais atual e continua".


No dia 18 de outubro de 1970, durante um concerto e uma exposição de artes plástica, no Recife, Pernambuco, foi lançado oficialmente o Movimento Armorial. Com Ariano, outros artistas de renome, como Francisco Brennad, Ângelo Monteiro, Gilvan Samico, Maximiano Campos, Marcus Accioly, Miguel dos Santos, Antônio José Madureira, Raimundo Carrero, integraram o primeiro núcleo. Estes, entre outros, já vinham produzindo com a mesma filosofia, com o mesmo ideário de Suassuna. Ou seja, uma estética nova em qualquer campo das artes (música, literatura, teatro e artes plásticas) com base na tradição popular. Mostrar que a cultura nordestina tem raízes profundas com os povos ibéricos, suas inspirações tem a ver com as expressões do folclórico medieval, portanto, erudita e popular.


Quinteto Armorial


O grupo que mais teve divulgação nacional do movimento foi o Quinteto Armorial. Gravou quatro discos a partir de 1974 (Do Romance ao Galope Nordestino, Aralume, Quinteto Armorial e Sete Flechas) encerrando suas atividades como quinteto em 1980. Egildo Vieira do Nascimento, Antônio José Madureira, Antônio Nóbrega, Fernando Torres Barbosa e Edison Eulálio Cabral desfizeram o grupo e cada um tomou rumo diferente, mas sempre com a mesma linha filosófica quando do lançamento do movimento. No final dos anos 90, por exemplo, foi fundado o Quarteto Romançal, dirigido por Antônio José Madureira. Foram 20 anos de atividades agradando o público em todo o Brasil.


Antônio Nóbrega, que seguiu carreira solo mantendo as mesmas raízes, conforme o professor Suassuna, é um dos artistas armoriais mais conhecidos no Brasil. Segundo ele, é um profissional completo e atualmente vem desenvolvendo trabalho, em São Paulo, em vários campos das artes. Sobre o Quinteto, Suassuna lembra que o jornalista e crítico de música José Ramos Tinhorão, escreveu um artigo, intitulado O Milagre Brasileiro do Quinteto Armorial, onde colocava sua criação como um marco na música brasileira, "uma das maiores criações", e argumentava: "No campo da cultura o quinteto é tão importante quanto a Bacia de Campos para a economia brasileira", lembra com satisfação recordando o artigo do jornalista.


Além desse valioso herdeiro dos armoriais dos anos 70, o Quarteto Romançal, Suassuna enumera várias outras atividades em vários estados do Brasil, principalmente no campo musical, que são os remanecentes dos pioneiros, como Grupo Gesta, no Rio de Janeiro, Sintagma, no Ceará, Grupo Sagrama e vários outros na Paraíba e Pernambuco.


Outras Opiniões

Existe um popular real e um oficial


O professor Ariano Suassuna comenta que as pessoas "dizem que eu e outros romancistas fazemos arte popular, eu não acho. O que eu faço é literatura com base na arte popular. Mesmo Machado de Assis, que teve origem humilde, nem Jorge Amado, nenhum de nós faz literatura popular. A literatura popular verdadeira é essa feita pelo povo do Brasil real, do povo do quarto Estado, os cordelistas.

Na música, diz que "não gosto de usar o termo música popular brasileira, porque essa terminologia é equivocada, porque é a música feita pela classe média. Não é música popular, é música, às vezes boa, como no caso de Chico Buarque, mas não é música popular. Música popular é a música dos cantadores, dos trovadores de rabeca, essa que é música feita pelo povo e que é a verdadeira música popular."

"Na arte plástica temos as gravuras em madeira que ilustram as capas dos folhetos de cordel... Esses são os verdadeiros artistas plásticos do Brasil, com grandes gravadores como J. Borges e José Costa Leite. São as esculturas de G TO (Geraldo Teles de Oliveira), homem do povo, esse grande escultor. E em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, existe uma casa feita por um grande arquiteto brasileiro popular (Gabriel Joaquim dos Santos), um negro, um homem do povo, ele fez uma casa chamada a casa da flor, uma obra prima da arquitetura brasileira, um exemplo para os arquitetos brasileiros de formação universitária".

Indagado se o futebol no Brasil é real ou oficial, o professor respondeu: "Depende do ângulo que você olha. Se você olha a organização do futebol, a CBF, não sei nem se é esse o nome, é Brasil oficial. Se olha as pessoas que organizam, também é Brasil oficial; agora os jogadores em suas quase totalidade vem do Brasil real". 

 

Fonte:A nova democracia

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Inscrições abertas para exposições em 2011




REGULAMENTO PARA EXPOSITOR
A Galeria do Ponto de Ação Cultural PAC - Barra Mansa é um projeto do Conselho Gestor do PAC e Colégio Estadual Barão de Aiuruoca. O projeto visa promover exposições de conteúdo cultural, didático e pedagógico.

DA INSCRIÇÃO

Serão aceitas, com prioridade, as inscrições de aluno, professor ou funcionário do Colégio Estadual Barão de Aiuruoca/Coordenadoria Médio Vale Paraíba II e Artistas Aliados do PAC.
Para efetivar a inscrição o interessado deverá apresentar um “portfolio” contendo:
Cinco a dez fotos coloridas, 8X12 cm, ou cartaz/materiais de divulgação da proposta e Ficha de inscrição preenchida.
Na Ficha de Inscrição deverá ser especificado o nome do artista/grupo, nome do trabalho, subsídios técnicos utilizados na exposição, texto explicativo da apresentação.
O “portfolio”, junto com a ficha de inscrição poderão ser entregues no Ponto de Ação Cultural, Rua Professor Pedro Vaz, nº1, Centro Barra Mansa/RJ. O “portfólio” fará parte do catálogo de exposições do PAC.
A inscrição efetuada implica, por parte do artista, na plena aceitação de todas as condições dos termos deste regulamento, sendo os casos excepcionais estudados e deliberados à parte pelo ConPAC.
Baixe para seu computador a ficha de inscrição clicando aqui.
Se tiver dificuldades clique com o botão direito encima do link e selecione a opção "Salvar Destino Como..."

SELEÇÃO

O Conselho Gestor do PAC (ConPAC) fará a seleção dos trabalhos por ordem de chegada e de inscrição, de  acordo com os critérios e dentro das adequações exigidas para a exposição.
Os candidatos que tiverem suas propostas selecionadas serão contatados por um responsável do ConPAC, que estará informando a data, horário, duração da exposição, com base no cronograma de atividades, disponibilidade e a aceitação do artista.

EXPOSIÇÃO

A exposição terá a duração no mínimo 15 dias e máximo 30 dias. Horário de visitação será das 13:00h às 18:00h de segunda a sexta.
A elaboração do calendário de exposições será anual, de responsabilidade do PAC.
A montagem da exposição deverá ser iniciada um dia antes da abertura e, terá o acompanhamento de um funcionário do PAC e o autor da obra. Caso isto não ocorra, a exposição será automaticamente cancelada.
A desmontagem da exposição deverá ser no dia seguinte ao término da exposição.
O local de exposição será a galeria do PAC – localizada na Rua Pedro Vaz, nº1, Centro, Barra Mansa/RJ.
O PAC não irá remunerar o(s) autor (s) pela exposição, nem mesmo haverá cobrança de ingresso aos visitantes.
Poderão ser expostos:
Esculturas, pinturas, desenhos, gravuras, fotografias, livros, revistas, jornais, brochuras, relatórios, projetos, monografias, ensaios, resenhas acadêmicas e científicas, mapas, cartazes, filmes de curta duração, maquetes, peças e produtos de caráter acadêmico, técnico - científico e tecnológico.

RESPONSABILIDADE DO PAC

Será de responsabilidade do PAC a divulgação das apresentações em suas dependências através de cartaz específico do projeto e, nos veículos informativos, de acordo com suas possibilidades e critérios próprios, via Assessoria de Imprensa.
Agendar com cada artista o período de sua exposição;
Colocar à disposição do artista o espaço e a estrutura do PAC;
Organizar a programação visual da exposição juntamente com o artista;
Cumprir calendário das exposições conforme planejamento aprovado/contratado.

RESPONSABILIDADE DO ARTISTA

O artista deverá informar ao ConPAC o horário de chegada à Galeria para a montagem da exposição. Será de responsabilidade do artista a montagem e desmontagem da exposição, que terá o acompanhamento do ConPAC. Os autores de pinturas, desenhos, gravuras, mapas, fotografia, cartazes deverão trazer seus objetos dotados de molduras e ganchos de suporte.
Os autores de maquete, peças e produtos a serem expostos deverão contar com proteção de acrílico para proteção de contato manual.
Os produtos expostos deverão ser compatíveis e de acordo com a infra-estrutura do projeto.
É de responsabilidade do artista o transporte dos seus materiais e equipamentos e/ou prejuízo ocorridos durante a exposição.
A desmontagem da exposição será no dia seguinte ao término da exposição, comprometendo-se o artista a retirar do recinto todo o seu material. Caso contrário, o ConPAC dará ao referido material, o destino conveniente de acordo com o regulamento do PAC.
Os trabalhos a serem expostos deverão estar em perfeito estado e devidamente preparados para exposição.
O artista não poderá retirar suas obras até o encerramento da exposição, conforme estabelecido no termo de responsabilidade, salvo ocorrência superveniente (exemplo: perturbação pública, fenômenos naturais, etc).
As obras que forem vendidas pelo artista a terceiros, somente serão entregues ao comprador após encerramento da exposição.
Caso o artista selecionado resolva alterar a programação inicial apresentada e aprovada pelo ConPAC, fica a critério deste autorizá-la ou não.
O artista deverá assinar termo de compromisso de responsabilidade isentando o ConPAC de qualquer dano involuntário às obras de arte expostas.

COMPROMISSO

O não cumprimento das disposições deste regulamento poderá acarretar atraso da exposição ou o impedimento do autor em participar de novos processos de seleção.
Os equipamentos pertencentes ao artista que necessitem de segurança especial, deverão ter seguro contatado  por empresa especializada, contratado e custeado pelo artista.

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Os casos omissos neste regulamento serão de competência do ConPAC.