Até o próximo dia 10 de julho, o Centro Cultural do IMS em São Paulo apresenta a exposição Charles Landseer: desenhos e aquarelas de Portugal e do Brasil – 1825-1826. É a maior exposição individual das imagens feitas por Landseer, considerado um dos mais importantes artistas que visitaram o Brasil nas duas décadas posteriores a 1808. Com curadoria de Leslie Bethell, professor emérito de história latino-americana na Universidade de Londres, a exposição reúne 90 desenhos e aquarelas e mais dois óleos, estes últimos feitos pelo artista anos após a missão, baseando-se nos registros feitos em Brasil e Portugal. Bethell respondeu a quatro perguntas feitas pelo blog do ims sobre a exposição.
Em que contexto histórico aconteceu a visita de Charles Landseer ao Brasil?
Landseer foi o artista oficial de uma missão diplomática ao Lisboa e Rio de Janeiro em 1825 chefiada por sir Charles Stuart, veterano diplomata britânico. Em nome de Portugal e da Grã-Bretanha, Stuart negociou os termos do reconhecimento da independência do Brasil. No dia 29 de agosto, no Rio, um tratado entre Portugal e o Brasil foi assinado, sendo ratificado imediatamente pelo imperador dom Pedro e, no dia 15 de novembro, pelo rei dom João VI em Lisboa. Stuart também negociou e assinou dois tratados solicitados pelo governo britânico como o preço do seu apoio ao novo Império, um comercial e outro pela abolição do tráfico negreiro, o que equivaleria ao reconhecimento pela Grã-Bretanha.
O Álbum de Highcliffe, composto por obras que retratam o Brasil pelos olhos de artistas consagrados como Debret, John Burchell e Charles Landseer, manteve-se por muito tempo fora do país. Como se deu a aquisição das obras de Landseer pelo Instituto Moreira Salles?
Mais de noventa por cento dos 340 desenhos e aquarelas do sketchbook (caderno) de Landseer são compostos por obras de Landseer mesmo. Ninguém sabe como algumas obras atribuídas a Debret e Burchell chegaram ao caderno que Stuart confiscou de volta à Inglaterra. O caderno permaneceu nas mãos da família Stuart no castelo de Highcliffe (por isso foi chamado mais tarde de o álbum de Highcliffe) por quase um século. Somente em 1926 o álbum seria adquirido pelo empresário e colecionador carioca Guilherme Guinle. Antes de morrer, em 1960, Guinle deu o álbum ao seu sobrinho, o banqueiro Cândido Guinle de Paula Machado. Em 1999, leiloada na casa Christie’s em Londres, o álbum foi arrematado pelo Instituto Moreira Salles.
Segundo o pesquisador Alberto Rangel, que localizou as obras de Landseer em 1924, dos seus trabalhos no Brasil “florescem os preliminares de uma arte, que se tornou mais completa, reforçada e solene”. Ele chegou a ter contato com artistas brasileiros da época que porventura tenham reforçado essa evolução?
Ninguém sabe se Landseer teve contato com artistas brasileiros ou estrangeiros no Brasil. Ele não deixou diários nem correspondência. Mas mais provavelmente ele conheceu o artista francês Jean-Baptiste Debret, que vivia no Rio desde 1816 e evidentemente influenciou algumas imagens de escravidão urbana realizadas pelo Landseer.
Ao retornar à Inglaterra, Landseer se dedicou à pintura de gênero e histórica. É possível afirmar que o Brasil foi determinante nessa escolha ou no país ele apenas a reforçou?
Após expor cinco óleos baseados nos desenhos e aquarelas de Portugal e o Brasil em Londres em 1827 e 1828, Landseer nunca mais retomou os temas portugueses e brasileiros. O seu caderno de 1825-26 estava nas mãos da família Stuart, e ele nunca voltou ao Brasil. Landseer passou os 50 anos seguintes pintando cenas da literatura e da história inglesas, chegando a expor mais de 120 obras, a maior parte delas na Academia Real, antes de seu falecimento em 1879.
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