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sábado, 19 de novembro de 2011

Sou Negro

Por Solano Trindade

a Dione Silva


Sou Negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh'alma recebeu o batismo dos tambores atabaques, gonguês e agogôs

Contaram-me que meus avós
vieram de Loanda
como mercadoria de baixo preço plantaram cana pro senhor do engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu.

Depois meu avô brigou como um danado nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso

Mesmo vovó não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou

Na minh'alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação...

Solano Trindade (Recife, 1908 – Rio de Janeiro, 1974), autor dos livros “Poemas de uma vida simples” (1944), ”Seis tempos de poesia” (1958) e “Cantares do meu povo” (1961).

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