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sábado, 10 de março de 2012

Dançando na latada


Dançando na latada

Rosa Minine   

Nascido e criado no alto sertão pernambucano, o cantor e compositor Josildo Sá se prontifica em levar a cultura que vivenciou ainda menino, o samba de latada, para todo o resto do país. Considerando o sertão como a essência para sua musicalidade, transforma os palcos por onde passa em verdadeiras palhoças, onde aconteciam os sambas ou os bailes populares do povo sertanejo, misturando os mais variados ritmos nordestinos e de outras partes do país.
— O samba de latada é oriundo do interior do sertão daqui de Pernambuco. É uma tradição bem antiga erguer um palhoção nas casas das fazendas para que as pessoas façam festas embaixo. Levanta-se umas forquilhas e cobre-se com folhas de flandres ou latas de querosene, por isso é chamado latada. Mas quando falamos samba não quer dizer que é o ritmo samba, e sim uma palavra que significa festa — explica Josildo.
— Pelo sertão, quando alguém dizia 'vamos para um samba', estava dizendo 'vamos para uma festa'. No samba de latada se tocava coco, forró, bolero, seresta, o samba mesmo, enfim, se tocava de tudo. Muitos estilos cabem em uma latada. Isso acontece até hoje. O samba de latada é exatamente essa mistura, mas também é um ritmo. Entre outros, quem trabalhava muito com ele era Jackson do Pandeiro, misturando samba com forró — continua.

Josildo vivenciou bem de perto os sambas de latadas que aconteciam em sua própria casa.
— Fui criado em uma fazenda, que era dos meus avós e foi passando de geração em geração, até que recentemente a herdei e estou residindo. Lá meus familiares faziam a latada, com um encontro de músicos muito forte, quem tinha sanfona trazia, quem tinha triângulo trazia, violão trazia, e assim por diante. Construíamos a palhoça, cobríamos com latas de querosene Jacaré, meu avô matava boi, vinham os parentes, o pessoal da região e começava a festa — lembra.
— E tinha um momento na latada que a poeira começa a subir, de tanto o povo dançar. E isso era ruim para os cantadores, já que nem tinha microfone, era tudo acústico. Então parava-se tudo e enquanto alguém cobrava a cota com um chapéu na mão, pedindo que cada um desse o que pudesse, outro aguava o chão, jogando água para a poeira baixar e poder começar o samba novamente — fala Josildo, acrescentando que a cota ficava no lugar de ingresso do baile.
— O samba de latada também era muito comum quando se ia fazer um processo chamado 'tapagem das casas'. Eram aquelas casas de pau a pique, de barro com madeira, e as pessoas ficavam dançando o coco, e cantando, para poder nivelar o chão, deixá-lo bem lisinho, parecendo de cimento. Esse tipo de coco dançado nas construções das casas do povo é uma das importantes características do sertão, e essa tradição veio se misturar na latada no momento em que se vai aguar o chão e dançar por cima — expõe.
Nascido e criado no alto sertão pernambucano, o cantor e compositor Josildo Sá se prontifica em levar a cultura que vivenciou ainda menino, o samba de latada, para todo o resto do país. Considerando o sertão como a essência para sua musicalidade, transforma os palcos por onde passa em verdadeiras palhoças, onde aconteciam os sambas ou os bailes populares do povo sertanejo, misturando os mais variados ritmos nordestinos e de outras partes do país.

— O samba de latada é oriundo do interior do sertão daqui de Pernambuco. É uma tradição bem antiga erguer um palhoção nas casas das fazendas para que as pessoas façam festas embaixo. Levanta-se umas forquilhas e cobre-se com folhas de flandres ou latas de querosene, por isso é chamado latada. Mas quando falamos samba não quer dizer que é o ritmo samba, e sim uma palavra que significa festa — explica Josildo.
— Pelo sertão, quando alguém dizia 'vamos para um samba', estava dizendo 'vamos para uma festa'. No samba de latada se tocava coco, forró, bolero, seresta, o samba mesmo, enfim, se tocava de tudo. Muitos estilos cabem em uma latada. Isso acontece até hoje. O samba de latada é exatamente essa mistura, mas também é um ritmo. Entre outros, quem trabalhava muito com ele era Jackson do Pandeiro, misturando samba com forró — continua.

Josildo vivenciou bem de perto os sambas de latadas que aconteciam em sua própria casa.
— Fui criado em uma fazenda, que era dos meus avós e foi passando de geração em geração, até que recentemente a herdei e estou residindo. Lá meus familiares faziam a latada, com um encontro de músicos muito forte, quem tinha sanfona trazia, quem tinha triângulo trazia, violão trazia, e assim por diante. Construíamos a palhoça, cobríamos com latas de querosene Jacaré, meu avô matava boi, vinham os parentes, o pessoal da região e começava a festa — lembra.
— E tinha um momento na latada que a poeira começa a subir, de tanto o povo dançar. E isso era ruim para os cantadores, já que nem tinha microfone, era tudo acústico. Então parava-se tudo e enquanto alguém cobrava a cota com um chapéu na mão, pedindo que cada um desse o que pudesse, outro aguava o chão, jogando água para a poeira baixar e poder começar o samba novamente — fala Josildo, acrescentando que a cota ficava no lugar de ingresso do baile.
— O samba de latada também era muito comum quando se ia fazer um processo chamado 'tapagem das casas'. Eram aquelas casas de pau a pique, de barro com madeira, e as pessoas ficavam dançando o coco, e cantando, para poder nivelar o chão, deixá-lo bem lisinho, parecendo de cimento. Esse tipo de coco dançado nas construções das casas do povo é uma das importantes características do sertão, e essa tradição veio se misturar na latada no momento em que se vai aguar o chão e dançar por cima — expõe.

As raízes e parceria com Paulo Moura

Segundo conta, Josildo cresceu no meio da liberdade musical da latada e trouxe isso para sua musicalidade, não tendo limites na hora de compor e cantar, claro, dentro da cultura da sua região, os ritmos do Nordeste, as danças indígenas.
— Trabalho sempre as raízes nordestinas, a minha história. E a minha história é sertão, a minha história é sertão do Pajeú, do Riacho do Navio, do Rio São Francisco, do vaqueiro, dos cantadores de viola, dos declamadores, dos poetas sertanejos — declara.
— Essa é a minha fonte, é onde eu vivo, onde moro, o que sou. E daí me comunico com outras formas de arte, com outros ritmos, como o samba carioca, por exemplo. Temos a nossa história, a respeitamos e a unimos com a história de outras pessoas. Acredito que fica muito bom e só temos a ganhar unindo as riquezas culturais do nosso país — continua.
— Lancei meu primeiro disco em 1998, o Virado num paletó velho, um CD de forró. Depois veio o Coreto, onde já trabalhei a questão do samba de latada, misturando o samba com forró. Meu terceiro disco veio de forma bem especial: havia conhecido o maestro e clarinetista Paulo Moura no Rio de Janeiro e ele se interessou pelo meu trabalho, e se prontificou em me ajudar num próximo projeto. Assim o convidei para fazer uns shows em Recife, e lançamos o Samba de latadacomenta.
O disco foi distribuído em todo o país, rendendo a Josildo indicação para prêmios e participação em festivais.
— Paulo Moura foi muito importante em minha vida, porque através dele o mundo veio a conhecer o samba de latada. Por ser um grande maestro e um dos maiores músicos desse país, deu visibilidade ao projeto. Aproveitando o trabalho que fizemos juntos, lancei em dezembro passado o Samba de Latada ao vivo, um CD e um DVD, com imagens maravilhosas do Paulo Moura — conta Josildo, acrescentando que é uma homenagem ao parceiro que faleceu em julho de 2010.
— No momento estou com shows do meu quinto CD, Tem frevo na latada, onde peguei toda minha banda e juntei-me ao caixa e aos metais do frevo. Tenho uma banda completa para fazer o samba de latada, composta por sanfona, triângulo, zabumba, percussão, cavaquinho, clarinete, flauta, sax, contrabaixo, bateria e vocais. Entre outras já fizemos turnê em São Paulo, nos apresentamos no teatro Rival, no Rio, e em muitas outras partes — finaliza.
Para contatar Josildo Sá: www.josildosa.com.br

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