Artista que expôs no cinema o modo caipira e a cultura popular brasileira completa um século.
Um ator que sempre lotou o cinema com as suas produções, um produtor que permaneceu independente do apoio oficial e um
artista que, sem qualquer pretensão, pensava em fazer filmes para divertir o seu público e se divertir. É desta forma que Mazzaropi define a si próprio e a sua trajetória artística, durante uma de suas entrevistas a uma revista nacional. Amacio Mazzaropi foi muito mais do que sugerem as suas sempre modestas definições.
O seu nome está ligado à história da produção cinematográfica no país e a uma forma particular de se fazer cinema, que projetou na tela grande o modo de vida do caipira, as manhas e a tradição da cultura popular. Por esta iniciativa, os brasileiros que viviam distante dos grandes centros urbanos vão ganhar visibilidade no cinema e ajudam a desfazer os equívocos da arte brasileira pedante e com olhar voltado para fora.
Filho do italiano Bernardo Mazzaropi e da portuguesa Clara Ferreira, Amacio Mazzaropi nasceu no bairro de Santa Cecilia, em São Paulo, em baril de 1912. Com apenas dois anos, muda-se com a família para o interior, em Taubaté. Nesta época, recebe as primeiras influências culturais da tradição caipira, por meio do contato permanente com o seu avô, o também português João José Ferreira. Exímio tocador de viola, animador de festas e contador de histórias, João Ferreira levava os netos às festas em que era convidado para fazer a diversão dos participantes.
Em 1922, quando tinha 10 anos, Mazzaropi passa a participar do mundo do circo. Contrários a esse seu interesse mambembe, os seus pais o mandam para viver com familiares em Curitiba, no Paraná. Quando completa 14 anos, Mazzaropi retorna a São Paulo e ingressa na “Caravana do Circo La Paz”, onde conta causos e anedotas. Sem poder se manter financeiramente, volta à Taubaté onde começa a trabalhar como tecelão, mas sem conseguir se distanciar dos palcos, passa a atuar numa escola de seu bairro.
Com a Revolução Constitucionalista de 1932, segue-se uma grande agitação cultural e nesse cenário, Mazzaropi estreia sua primeira peça teatral, “A herança do Padre João”. Em 1935 convence os pais a acompanha-lo em turnê Até o ano de 1945, a trupe percorre muitos municípios no interior paulista, mas não o dinheiro não é o suficiente para a estruturação da Companhia. Com a morte da avó materna, Mazzaropi recebe por herança uma quantia suficiente para comprar um telhado de zinco para seu pavilhão, e, assim, estreou na capital com o sonho de novos voos para o seu trabalho.
Em pouco tempo, Mazzaropi faz a sua estreia como ator e diretor no Teatro Oberdan, ao lado do ator Nino Lello, com a peça “Filho de sapateiro, sapateiro deve ser”, que foi muito bem acolhida pelo público. Em 1946, à convite de Demival da Costa Lima, começa a participar do programa “Rancho Alegre”, na Rádio Tupi, dirigido por Cassiano Gabus Mendes.Em 1950, esse mesmo programa estreia na TV Tupi com coadjuvação de Geni Prado, que viria a ser presença constante em seus filmes.
Mas seu maior marco, o cinema, ainda estava por vir. Em 1952 Mazzaropi apresentou “Sai da frente” o seu primeiro filme, que foi produzido pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Até 1958, o artista elaborou outros cinco filmes, por diversas produtoras. Nesse mesmo ano, vendeu a sua própria casa para criar a PAM Filmes - Produções Amacio Mazzaropi, o que lhe permitiu o lançamento de “Chofer de praça”, primeiro filme pelo selo de sua produtora.
Em 1961, adquire uma fazenda onde inicia a construção de seu primeiro estúdio de gravação, onde produzirá seu primeiro filme colorido, Tristeza do Jeca. Anos mais tarde lança “O corintiano”, recorde de bilheteria do cinema nacional. No ano seguinte, começa a construir em Taubaté, um grande estúdio, oficina de cenografia e um hotel para atores e técnicos. A partir de então, produz e distribui mais cinco filmes até 1979.
Seu 33º filme, “Maria tomba homem”, não chegou a ser concluído. Após 26 dias internado, Mazzaropi morreu em São Paulo,vítima de câncer de medula óssea, aos 69 anos.
RECONHECIMENTO E HOMENAGEM - Somente na década de 90, a cultura brasileira começa a olhar a obra de Mazzaropi por outra ótica, já que as suas obras sempre foram duramente criticadas (ou ignoradas), durante toda a vida do artista caipira. Em agosto de 1990, foi criada em São Paulo a Oficina Cultural, para homenagear Mazzaropi e integrar artistas amadores e profissionais. Em 1992 foi criado o Museu Mazzaropi, para preservar a memória e difundir a obra deste ator genuinamente brasileiro. Em 200 foi criado o Instituto Mazzaropi com o objetivo de incentivar e divulgar a produção cultural e promover ações de preservação ambiental.
Outra homenagem significativa é o filme “Tapete vermelho”, que narra a vida de um caipira, interpretado por Matheus Nachtergaele, que resolve mostrar ao filho quem foi Mazzaropi. A homenagem ultrapassa os argumentos do filme. Com enorme talento e criatividade, Nachtergaele compõe um tipo com o mesmo andar e a voz do ídolo.
Como parte das comemorações ao centenário de Mazzaroppi, acaba de ser inaugurada a Casa de Cultura Amacio Mazzaropi, em
Taubaté. O prédio, que conta com 4 andares, reúne instalações lembram aspectos da vida do saudoso Jeca, com reprodução de cenários de seus filmes, exposição de objetos pessoais, e documentos. A instituição ainda conta com um palco para recreação, saraus e aulas de teatro. O espaço é interativo e em alguns momentos as pessoas ouvirão sons de música, a voz do próprio Mazzaropi e sentir aromas característicos como o do café, quando se aproximarem do fogão à lenha.
Guatá - Paulo Bogler/Pesquisa: Fábia ToninPublicado originalmente no site Guatá- Cultura em Movimento.
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terça-feira, 17 de abril de 2012
100 anos de Mazzaropi
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