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sábado, 26 de maio de 2012

100 anos de Nelson Rodrigues: Toda Nudez Será Castigada


Toda nudez será castigada
Em cena, comemorando os cem anos de Nelson Rodrigues

O espetáculo Toda Nudez Será Castigada, encenado pelo grupo Teatro Cidades (São José dos Campos), se transformou numa das mais belas homenagens ao dramaturgo brasileiro, 

Nelson Rodrigues, no ano do centenário de seu nascimento. 

Por Suely Pinheiro 


O traço que faz a diferença é ter fugido dos efeitos fáceis que exploram a sexualidade, como propaganda, tão comum em outras montagens. Esta encenação está muito longe disso, assume o conteúdo original do jornalista pernambucano, denunciando as entranhas do homem brasileiro suburbano da segunda metade do século 20. 

Todos os componentes mais importantes na dramaturgia de Nelson Rodrigues estão presentes na encenação com muita força e clareza, a começar pela cobiça, persuasão e, por último, a traição como vingança ou punição. O quarteto central formado por Adriana Barja, Andréia Barros, Vander Palma e Wallace Puosso é grande trunfo dessa montagem, assinado por Cláudio Mendel. Os demais atores fazem uma espécie de contraponto da trama central envolvendo, como já dissemos acima, a safadeza, a culpa e horror na exposição de suas entranhas. Esta diferença de tom nos fez perceber, por exemplo, um detalhe sórdido e impressionante da alma humana revelado pela peça quando "as tias" se apresentam uma patética aliança com "Geni", quase ao final, com o intuito de proteger, "Serginho", o jovem rebelde e sem nenhuma causa. 

Não é difícil se imaginar que tal equilíbrio cênico só foi possível, a partir de anos da convivência comum entre diretor e elenco. Até mesmo é possível notar na atuação da atriz, Izilda Costa (a mais nova no elenco), e Jean de Oliveira (ator convidado) uma pequena diferença de envolvimento no universo cênico. Isto reforça a tese de ser este um trabalho essencialmente coletivo e permanente e, ainda, a principal qualidade do grupo que parte agora, paralelamente à atual temporada ora analisada para mais um novo e ousado projeto, desta feita no universo de Anton Checkov. O trabalho se completa com a discreta atuação de Ana Cristina Freitas e Conceição Castro, além dos colabores eventuais como a de Madalena Machado, (figurino) e Gilmar Duenas (fotografia) que permitiram o belo registro.

Destacando ainda mais a diferença entre aquilo a que assistimos nesta montagem serão necessárias algumas palavras a respeito de outros trabalhos, envolvendo a obra de Nelson Rodrigues. Nada contra experimentações anteriores onde seus textos trilharam o caminho do escracho e da perversidade sexual, mas apenas fazemos algumas ressalvas quando identificamos nessa inspiração laços com uma certa "irresponsabilidade" transformando a dramaturgia "folhetinesca" de NR numa exposição sem critérios e bandeiras de "libertação". Os exageros tiveram início com a adaptação de sua dramaturgia para o cinema, na década de oitenta, que só teve fim quando paradoxalmente a TV Globo produziu a série do autor, com adaptações de suas crônicas, levadas para a "telinha" aos domingos após o Fantástico, demonstrando que nem sempre a teledramaturgia caminha no sentido contrário à boa encenação.

A alta qualidade de sua produção e elenco, distribuídos nos diversos episódios fizeram sepultar de vez aquele efeito fácil de se buscar, e muitas vezes conseguido, "fazer dinheiro" com a sexualidade do homem brasileiro. Pena que esta busca para novos efeitos tenham trazido à baila a "doença" infantil do experimentalismo. Felizmente, o trabalho em pauta é a grande exceção, contrariando a linha do "liberou geral", prova disso é que o dramaturgo e jornalista (também fanático torcedor de futebol), sempre navegou naquela linha limite entre a transgressão e o senso comum, daí muitas vezes sendo considerado "ícone da moralidade". Mera especulação! Seus achados, traduzidos em frases pra lá de provocativas nunca se transformaram em decretos morais e, sim, "alfinetadas" de que o homem quando movido pelo dinheiro, sexo e poder se transforma numa espécie quase próxima do verme. Seus personagens fedem álcool exalando um terrível mau cheiro de sovaco. Talvez, por esta razão, tenham escandalizado justamente a "grãfinalha" carioca dos anos cinquenta. 

Nelson Rodrigues abriu caminho para dramaturgos que vieram a seguir, porém, não souberam ainda encontrar o ponto de equilíbrio entre o social e as entranhas do indivíduo. Colocamos aqui, como exceção, apenas um outro "santo e maldito", Plínio Marcos, que como Nelson Rodrigues que não só atacou as maledicências dos conservadores, mas também dos assim chamados "revolucionários". 

O grupo Teatro Cidade deixa a impressão de ser um dos mais qualificados dentre muitos que trabalham hoje no Brasil, a ostentar com serenidade a tarefa de serem interpretes dos melhores textos que sustentam o teatro como a representação da alma humana e das contradições sociais de nosso tempo. Não cede as tentações mirabolantes da moda, seguindo com planejamento e perseverança metas mais nobres no teatro brasileiro - a formação de público, por exemplo.

Ficha Técnica

Espetáculo
: "Toda Nudez Será Castigada"
Direção: Cláudio Mendel
Elenco: Adriana Barja (Geni), Ana Cristina Freitas (Tia 1), Andréia Barros (Geni), Conceição Castro (Tia 2), Izildinha Costa (Tia 3), Jean de Oliveira (Sérginho), Vander Palma (Patrício) e Wallace Puosso (Herculano)
Orientação teórica: Silvia Simone Anspach; Produção Executiva: Flávia Amorim; Cenografia: Cláudio Mendel, Robson Jacquè e Wendy Caires; Figurinos: Madalena Machado; Iluminação: Daniel Augusto;Fotografia: Gilmar Duenas

Sede do Grupo: Centro de Artes Cênicas (CAC) Walmor Chagas - R. Netuno, nº 41 - Jardim da Granja - São José dos Campos (SP) 

Contato: telefone: (12) 3941-7631 / www.ciateatrodacidade.com.br/

Fonte: Portal Macunaima 

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