A revista Nueva Sociedad, da Fundaçao Ebert, da social democracia alemã, editada em Buenos Aires e dirigida por Pablo Stefanoni, para comemorar seus 40 anos, perguntou a intelectuais latino-americanos qual livro destacariam como fundamental para entender a América Latina. 13 intelectuais responderam (eu estou entre eles) e esse conteúdo está no número 238 da revista, que pode ser encontrado em www.nuso.org.
Por Emir Sader*, no blog da Boitempo
Recorte da capa da versão em inglês de “A nova toupeira”, de Emir Sader
A gama de respostas é muito variada, vai da literatura do cubano Alejo Carpentier a Os sertões, passando pelo peruano Jose Maria Arguedas e pelo cubano Leonardo Padura, entre outros. Responderam escritores conhecidos como o nicaraguense Sergio Ramirez, ensaístas como o colombiano Jesus Martin Barbero e Adolfo Gilly, entre outros.
Sergio Ramirez destaca duas obras do realismo fantástico de Carpentier: O reino deste mundo e O século das luzes. A tematização do poder carismático é clássica na literatura latino-americana das ultimas décadas, com Carpentier, García Marques, Vargas Llosa, entre outros.
A ensaísta argentina Maria Pia Lopez escolhe, para nossa surpresa, Os sertões, pela ambivalência entre civilização e barbárie, o que torna suas reflexões universais, segundo ela.
O historiador cubano Rafael Rojas elege Ariel, do uruguaio José Enrique Rodó, como texto clássico que tematiza, a partir do personagem de Shakespeare, as relações entre o centro e periferia.
O grande teórico dos estudos culturais, o colombiano Jesus Martin Barbero, escolheu um clássico dos estudos urbanos, Latinoamerica: las ciudades y las ideas, do argentino José Luis Romero, que enfoca os temas da urbanização e da modernização nas nossas grandes cidades.
O pensador e militante trotskista mexicano Adolfo Gilly indicou Os rios profundos, de José Maria Arguedas, pela capacidade de criação literária a partir das identidades e dos idiomas indígenas, do grande escritor peruano.
Samuel Farber, o trotskista norteamericano, escolheu O homem que amava os cachorros, a extraordinária obra do cubano Leonardo Padura, pela capacidade de expressar os maiores dramas vividos por Cuba e sua revolução.
A historiadora argentina Vera Carnovale optou por Sobre la violencia revolucionaria, Memorias y olvidos, do argentino Hugo Vezzetti, balanço de obras voltadas sobre as experiências militantes de movimentos revolucionários latino-americanos.
O ensaísta norteamericano John Beverley indicou Me chamo Rigoberta Menchu, o livro de memórias da líder indígena guatemalteca.
Alfred Stein, economista guatemalteco, escolheu uma das obras do grande pensador cristão Franz Hinkellamert, El discernimento de los fetiches: Capitalismo y cristianismo.
A historiadora boliviana Carmen Soliz apontou a obra do sociólogo chileno José Bengoa, La emergencia indígena en America Latina.
O italiano radicado no México, Massimo Modonesi, escolheu uma obra do irlandês também radicado no México, John Holloway, Agrietar el capitalismo: El hacer contra el trabajo.
O venezuelano Carlos Avila optou por Trabajos del reino, do mexicano Yuri Herrera, uma ficção passada na fronteira do México com os EUA.
Finalmente, eu escolhi A dialética da dependência, de Ruy Mauro Marini, que considero a melhor chave para entender o desenvolvimento do capitalismo na América Latina.
*Emir Sader é cientista político e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). É secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e coordenador-geral do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
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