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quinta-feira, 5 de julho de 2012

Choro na flauta de Antônio Rocha


Rosa Minine   

Nascido e criado na cidade de Valença, RJ, conhecida por ser berço de grandes músicos e cantores, como Rosinha de Valença, Clementina de Jesus e o maestro Agnelo Franco, o flautista Antônio Rocha, aos 26 anos de idade, é o jovem integrante do tradicional conjunto Época de Ouro. Elogiado por Jorginho do Pandeiro, diretor do grupo, como um flautista espetacular, Antônio também dá aulas de flauta na Escola Portátil de Música, e toca na banda da cidade de Valença, onde também é o maestro.

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Antônio da Flauta, ao fundo à esquerda, com Jorginho do Pandeiro
e os demais integrantes do Época de Ouro
Quando nasceu, uma tia paterna perguntou para sua mãe o que ela gostaria que o filho tocasse no futuro: flauta ou violão, porque daria um dos dois para o pequeno Antônio. A mãe escolheu flauta, já que o pai já tocava violão. Com oito anos de idade o menino soube dessa conversa e teve o seu primeiro contato com a tal flauta, e foi amor a primeira vista. Começou a tocar de ouvido, sem a menor orientação, e já foi mostrando seu talento. — Desde criança tenho uma presença muito forte do choro, da seresta em minha casa e isso me influenciou. Vários da minha família tocam algum instrumento, como amadores, e têm o gosto pela boa música popular e pela culrura brasileira. A violonista Rosinha de Valença costumava levar consigo várias pessoas do Rio para a cidade e se encontravam justamente na casa dos meus avós. Nesta época eu era ainda muito pequeno e não cheguei a tocar com a Rosinha — conta.
Além do pai, violonista amador, outros parentes de Antonio têm envolvimento na música. Seu irmão toca trombone e vários tios de sua avó paterna foram músicos, um deles foi maestro da banda da cidade. Mas o principal músico da família, antes dele, foi seu avô materno, o trompetista Aníbal de Santana, que morava no Rio.
Com doze anos de idade começou a estudar com um professor da cidade, pouco tempo depois ganhou uma bolsa de estudos para fazer quatro anos de flauta no Rio.
— Estudei com Marcelo Bonfim, que é do Teatro Municipal, da Pro-música e também da orquestra. Comecei a fazer pequenos trabalhos sempre ligados ao choro, até conhecer, há cerca de quatro anos, o violonista Maurício Carrilho, um dos fundadores da Escola Portátil de Música, durante o primeiro festival de choro que fez na cidade de Mendes, RJ. Fui convidado para conhecer a Escola, aceitei e no ano seguinte já era um dos professores — diz.
Antônio foi se entrosando com os outros mestres, todos figuras importante no universo samba/choro, até ser convidado por Jorginho do Pandeiro, para integrar o Época de Ouro, um conjunto tradicional com uma história de mais de quarenta anos de existência.
— Primeiramente apresentei-me como convidado em alguns shows, sem compromisso. Depois o Jorginho me convidou para integrar oficialmente o grupo, aceitei na hora. Para mim está sendo uma grande honra e um prazer, porque já o ouvia e admirava. Além disso, é uma nova experiência para todos, já que nunca teve flauta no grupo. Fizemos uma adaptação de forma que os dois solistas, flauta e bandolim, trabalhem juntos — explica.
No momento o grupo está fazendo uma turnê pelo país, com um repertório que homenageia Jacob do Bandolim, seu fundador em 1964, que inclui: Curitiba, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.
— Estamos trabalhando muito, porque nos últimos anos tem aumentado o número de pessoas interessadas na música instrumental, no choro, samba, maxixe e muitos outros ritmos brasileiros — comenta.
Antônio nota nas apresentações do Época de Ouro e principalmente na Escola Portátil, tanto em suas atividades no Rio, como fora, que esse público é formado em grande parte pela juventude.
— Em janeiro fizemos o festival anual de Choro, desta vez na cidade Águas de São Pedro, SP. Durante o evento percebi que cada vez mais a juventude vem se entrosando com o choro e sua cultura. Isso nos faz acreditar mais ainda que ele vai continuar, apesar de não aparecer nas televisões e na maioria das rádios — acredita.
O festival é uma iniciativa da Escola Portátil, e reúne pessoas de todo o país e do exterior, como da Argentina, Dinamarca e Japão, onde o choro é muito bem recebido. Acontecem geralmente em um hotel de uma cidade do interior, onde os inscritos desfrutam, durante dez dias, de aulas de instrumento, prática de banda, composição, arranjo e cultura do choro em geral.
— Além de estudar com grandes mestres, os alunos têm a oportunidade de fazer amizades com pessoas afins, entrosar ainda mais com o meio, e participar de rodas de choro que duram a noite toda — diz entusiasmado.

A BANDA

Mesmo com muitos compromissos no Rio entre aulas na Escola Portátil, ensaios e apresentações no Época, Antônio continua morando em Valença e viajando para o Rio toda vez que precisa, e diz que a 'Sociedade Musical Progresso de Valença' ou a Banda de Valença, da qual é maestro, é o motivo que ainda o segura na cidade.
— É uma banda tradicional que tem setenta e oito anos de vida, e quarenta e três componentes. Faz apresentações em eventos na cidade e até fora. No ano passado, por exemplo, tocamos na sala Cecília Meireles, no Rio, e em um festival de bandas. No nosso repertório tem choros, valsas, dobrados, maxixes, polcas etc — conta.
— Além de fazer parte da cultura da cidade, para mim a banda tem uma função maravilhosa no interior que é a de proporcionar um espaço para as pessoas aprenderem música, já que nem todos podem sair para estudar na capital — defende.
Apesar de ter muitas atividades e tomar bastante tempo de seus componentes, a banda não oferece remuneração, o que faz com que os músicos tenham que procurar outra atividade para garantir sua sobrevivência.
— Ela é sustentada por um quadro social que possui cerca de duzentos contribuintes. A prefeitura ajuda muito pouco, apesar do importante papel cultural que temos. Por isso mesmo luto para que a banda não acabe. Sei que algumas cidades do interior já não têm mais suas bandas, mas que muitas outras resistem, e isso aparece nos festivais de bandas que participamos — declara.
Antônio tem esposa e um filho de três anos em Valença.
— Ele também é apaixonado por música e acha que toca flauta (risos) — diz.
Participou em discos de vários artistas — como Déo Rian, Maurício Carrilho, Agnaldo Raiol e Hermínio Bello de Carvalho entre outros — mas ainda não gravou solo nem com o Época de Ouro, o que faz parte dos seus planos para o futuro.
utros dois importantes projetos são a gravação de um disco somente com composições suas: choros, valsas, sambas, dobrados para banda, etc; e um outro com músicas de conterrâneos seus que já morreram.
— São antigos compositores da minha terra que ninguém nunca ouviu falar. Eles deixaram partituras que ficaram esquecidas no interior, e eu tive acesso a elas através de um trabalho de pesquisa junto a famílias de antigos músicos. Creio que será um trabalho de resgate da nossa música maravilhoso, e só está faltando um patrocínio — Comenta.

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