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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Masp recebe jogos de luz de Caravaggio



O mais dramático e teatral dos nomes do barroco, Caravaggio construiu sua obra de excessos a partir de pequenas e fortes verdades.

Suas virgens, anjos e santos eram mendigos, prostitutas e andarilhos que não cobravam por seus serviços de modelo. Muitas vezes seu próprio rosto também serviu de base para as feições de personagens sacros.

Quando dominou a técnica de pintar sobre uma superfície convexa, o que fez no escudo com o rosto apavorado da Medusa decapitada, Caravaggio se pintou olhando no espelho, encarnando o monstro, e concebeu uma expressão que um crítico da época comparou à careta de um rapaz que acabara de ter um dente arrancado da boca.

Sua obra parece amalgamar sagrado e profano, real e metafísico, tudo num jogo de luz que consagrou o artista como maior mestre do claro-escuro, estratégia para revelar e também esconder.

Essa expressão de dor mundana no rosto de um monstro pode ser vista de perto agora no Masp na primeira versão da Medusa que Caravaggio pintou no fim do século 16, pouco antes de morrer em 1610. Junto de outras seis telas, a Medusa coroa o maior conjunto de obras do artista a ser exposto no país.

Esse escudo, como outras obras da exposição, foi reconhecido há pouco como obra do mestre, que teve uma horda de seguidores e fazia várias versões de suas obras, o que confundiu historiadores ao longo de quatro séculos.

FALSO E VERDADEIRO

A Medusa agora em exposição no Masp é a primeira versão da célebre Medusa da Galleria degli Uffizi, em Florença, na Itália.

Também na mostra, podem ser vistas duas versões do "São Francisco em Meditação", uma tida como obra de Caravaggio e outra, uma cópia, que pode ou não ter sido feita por ele.
Isso, de certa forma, confere às obras uma espécie de exercício do olhar.

Na maior delas, "São Jerônimo que Escreve", a escuridão parece tomar toda a composição, traço da fase madura de sua obra, mergulhada em sombras, enquanto a luz mostra a cabeça calva, lustrosa e as mãos do personagem.

"Ele mescla carnalidade com o êxtase místico", diz Fabio Magalhães, um dos curadores da mostra, que também passou por Belo Horizonte (MG). "Ele revela e oculta, cria uma relação extraordinária entre ver e não ver."

Outra tela, que por atrasos na negociação do empréstimo foi acrescentada só depois ao conjunto, também passou por recente revisão histórica e pode ser considerada mais uma obra de Caravaggio.

"São João Batista que Alimenta o Cordeiro", obra luminosa, que remete aos primórdios do artista, foi na verdade feita durante a fuga do artista, que matou um homem em Roma e se escondeu no litoral. No fim da vida, ele teria voltado à luz da juventude nessa tela nostálgica.

CARAVAGGIO
QUANDO: abre nesta quarta (1º), às 20h; de ter. a dom., das 11h às 18h; qui., das 11h às 20h; até 30/9
ONDE: Masp (av. Paulista, 1.578, tel. 0/xx/11/3251-5644)
QUANTO: R$ 15

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