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quinta-feira, 16 de maio de 2013

RECORDAÇÕES JUNINAS



Olha os nossos foliões! (Arquivo Kilza Setti)


                Houve um tempo em que as festas juninas aconteciam em todos os bairros, nas escolas, nas capelas etc. Os mestres da dança são inesquecíveis. Eu posso dizer que conheci bem o Altamiro e o Dito Carneiro. Eram os dois, juntamente com a Alice e a Lúcia (da Bá), quem nos ensaiavam na Escola Agrupada do Perequê-mirim. Quando? Em 1970, 71...Até troféu, juntamente com a colega Kátia, rendeu numa ocasião. Fora os agrados de guaranás, pão com mortadela etc.
                Na mesma época, ao conhecer o pessoal do Itaguá, eu não perdia uma festa no “Arraial do pé-do-morro”, bem dizer no quintal da mãe do Élvio, na margem do rio Acarau. O saudoso João de Souza,que também promovia a festa no “Arraiá do Velho Rita”, me convidava: “Vamos na festa. A gente aproveita para visitar o Élcio “Guaruçá”. A lá ia eu todo garboso, de olho nas "prendas do Acarau". É desse tempo a crônica da amiga Fátima de Souza:

                Hoje ao abrir a gaveta encontrei meu velho cachecol de flanela cor de rosa. Já todo desbotado, mas ainda bordadinho com flores. Única testemunha de uma época da minha infância. Lembranças de gostosíssimas festas juninas que tive oportunidade de acompanhar.
                Pus-me a recordar. A sonhar de olhos abertos, e até mesmo a sentir o perfume das noites frias, tão frias de junho, quando um bairro inteiro se movimentava com um único objetivo: a festa de São João.
                Ao espocar dos primeiros fogos, chamando os fiéis para a reza, lá íamos eu e meu pai, devoto incondicional do Santo, para a casa da dona Celeste.
                A procissão tomava o rumo da casa do Capitão do Mastro. Acompanhava o andor, a bandeira com a esfinge do Santo, ao som da folia. Na casa da família festeira, a cantoria em louvor dizia assim: “João sois tão puro e bom, senhor de tanta valia...”
                Ao término da reza, o mastro já com a bandeira colocada era erguido por forquilhas de bambu, ao redor de velas acesas, completada com folia cantando e os estouros de fogo de artifício.
                As barraquinhas fervilhavam de gente. Todas cercadas e cobertas com folhas de pindova verde.
                Bandeirinhas coloridas davam um charme especial. Pareciam competir com as estrelas do firmamento. A criançada alvoroçada se revezava na brincadeira do pau-de-sebo. Olha o quebra pote! Olha o leiloeiro aos gritos para a multidão!
                O coração da gente se enchia de esperanças de poder arrematar um dos bichinhos de louça. Uma vez resolvi provar do tão falado quentão, fazia jus ao nome. Pacotinhos de amendoins torrados e embalados em papel de revistas. Pinhão de pacotinho e o pé-de-moleque de gengibre que minha avó fornecia para a festa.
                Nos escurinhos, os casais de namorados estavam mais juntos do que nunca. Para completar a noite, surgia no meio do povo, alguém se dizendo o pai da noiva e trazendo o noivo na marra para o casamento. A mãe da noiva chorava escandalosamente. O padre parecia desesperado com a demora da cerimônia, reclamava e reclamava. Em meio à confusão roubavam a noiva e todos caíam na gargalhada. Tudo de mentirinha, é claro. Tudo teatro.
                Os mais velhos desaprovavam a algazarra da juventude. Na noite fria, tão fria de junho, meu amigo cachecol aquecia o meu pescoço. No ar ainda paira o refrão vindo da velha vitrola: “São João está dormindo, não acorde não. Acordai, acordai, acordai João...” Mas no Itaguá a festa continua. E lá está o Élvio e tanta gente boa animando as novas gerações! 

                Questões finais:
Por que as escolas estão abandonando a tradição junina?
Por que a Fátima não é contratada para um trabalho voltado ao turismo cultural neste município (de Ubatuba)?

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