Segunda-feira, entrando pela madrugada desta terça em que escrevo, as manifestações de ruas atingiram o apogeu. Os que acreditaram que eram “apenas protestos” contra o aumento das passagens de ônibus, trens e metrôs, conseguiram ver alguma coisa. Finalmente perceberam que haviam cometido erros e equívocos colossais nas análises, reagiam de forma superficial a um movimento que conquistava cada vez mais profundidade.
Na segunda e ontem, terça, finalmente os governantes compreenderam, assustados, que estavam tentando reagir com Polícia, armas quase letais, balas de borracha, a um movimento que era rigorosamente social, político, eleitoral, de protesto, reivindicatório, revolucionário, tentativa de modificar inteiramente o que chamam de “ordem estabelecida”. Mas que, para essas multidões de jovens, significa apenas uma “ordem desarvorada”, que despreza, ignora, desconhece e explora inteiramente o povo.
Todos eles muito jovens, não sabem quem foi Monroe, presidente dos EUA de 1821 a 1825, e fez esta definição genial: “Democracia é o regime do povo, para o povo, pelo povo”. Não tem a menor importância que não conheçam Monroe. Assim, mostram que são inventivos, criativos, não copiam ninguém, nem mesmo ideia positiva.
AS MULTIDÕES DE JOVENS DE AGORA
REPETEM 1789 NA FRANÇA E NOS EUA
REPETEM 1789 NA FRANÇA E NOS EUA
Quando vi a Avenida Rio Branco de ponta a ponta lotada e tomada pela multidão pacifica de 100 mil pessoas, lembrei e relembrei logo a passeata das “Diretas, já” em 1984. A lembrança e a comparação surgiram logo por causa do “formato” horizontal das duas avenidas, e do entusiasmo das duas multidões.
Uma em plena ditadura, só queria eleição direta. A de agora, quase 30 anos depois, quer muito mais conquistas, as reivindicações são nem amplas. Mas com uma sensibilidade impressionante, dizem abertamente: “Queremos representabilidade, esses políticos corruptos que estão ai não nos representam de maneira alguma”.
Com isso, revelavam a universalidade das reivindicações, davam autenticidade e até mesmo longevidade a um movimento que governantes sem imaginação rotulavam como de centavos miseráveis, quando os manifestantes não pensavam em dinheiro, o objetivo, oculto ou ostensivo, era de Liberdade, Igualdade, Fraternidade.
(Que a Revolução francesa popularizou mas desperdiçou, dando prioridade e muito maior importância à Revolução dos EUA, quaisquer que tenham sido os desvios cometidos mais tarde. E se comparo às caminhadas pelas ruas desses jovens de hoje, é para ressaltar a grandeza, a generosidade e o sentido de mudança, que é a bandeira desse movimento. Que está longe de ter amortecido ou diminuído o ímpeto por mudanças obrigatórias).
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