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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Os “fatores-X” de Davos: malthusianismo, eugenia, ambientalismo e ETs

Na 43ª. reunião anual do Fórum Econômico Mundial (WEF), o conhecido Fórum de Davos, no final de janeiro, foi apresentada a oitava edição do “Relatório dos Riscos Globais”, que aponta os principais riscos de importância sistêmica esperados para os próximos anos. Como ocorre com todas as discussões em Davos, o documento proporciona um oportuno insight do enfoque com o qual as elites globalizadas veem os assuntos mundiais, com ênfase na crise sistêmica e seus desdobramentos, além de servir como um importante fator de formação do “pensamento de grupo” que orienta aqueles altos círculos internacionais. Na edição de 2013, não surpreende que os dois principais riscos sistêmicos esperados para a próxima década sejam uma grande quebra do sistema financeiro internacional e o fracasso da adaptação às mudanças climáticas alegadamente induzidas pelas atividades humanas.
O relatório é produzido pela chamada Rede de Resposta aos Riscos (Risk Response Network), iniciativa do WEF, em colaboração com a consultora Marsh & McLennan, as seguradoras Swiss Reinsurance Company e Zurich Insurance Group, o Centro Wharton de Gerenciamento de Riscos da Universidade da Pensilvânia, a Universidade de Oxford e a Universidade Nacional de Cingapura.
Que a ameaça de uma grande quebra financeira – perspectiva que não poucos observadores consideram iminente – ocupe o primeiro lugar na listagem dos riscos apontados no relatório, não surpreende, apesar de os autores não se atreverem a apontar qualquer saída efetiva para o impasse. Apenas fazem perguntas: “Irá a maciça facilitação quantitativa empreendida pelos principais bancos centrais, para conter a deflação, levar, inevitavelmente, a uma desestabilizadora hiperinflação? Irão as reformas econômicas estruturais proporcionar os necessários ganhos nos empregos, a longo prazo?”
Por outro lado, a inclusão na lista, com alta prioridade, de um pseudoproblema como as mudanças climáticas “antropogênicas”, cuja falta de base científica é cada vez mais evidente, reforça a combinação de desorientação com a intenção de preservar a estrutura de interesses estabelecidos em torno da “descarbonização” da matriz energética mundial, que envolve valores na casa das centenas de bilhões de dólares. O mesmo raciocínio se aplica à crise financeira, cujas causas são mais que conhecidas, mas, naqueles altos círculos, há pouco interesse em enfrentá-las de forma realista e efetiva, em função dos interesses estabelecidos com a estrutura prevalecente.
E o que dizer dos “fatores-X”, incluídos no relatório – “preocupações emergentes com possível importância futura e consequências desconhecidas”? O exercício prospectivo, elaborado em colaboração com a revista Nature, uma das mais importantes publicações científicas do mundo, sugere que os leitores “vejam além das nossas preocupações de alto risco do momento, para considerar um conjunto de cinco fatores-X e refletir sobre o que os países ou empresas deveriam estar fazendo para se antecipar a eles”.
Os “fatores-X”, que os autores consideram ter potencial “decisivo” (game-changers, no original), são: 1) mudanças climáticas descontroladas; 2) intensificação cognitiva significativa; 3) desenvolvimento sem controle da geoengenharia; 4) os custos de se viver mais; e 5) descoberta de vida alienígena. Diz o texto:
Os fatores-X são assuntos sérios, baseados nas mais recentes descobertas científicas, embora algo distantes dos que são, geralmente, vistos como preocupações mais imediatas, como os Estados falidos, eventos meteorológicos extremos, fome, instabilidade macroeconômica ou conflitos armados. Eles capturam tanto assuntos que são amplamente conhecidos, como outros vagamente conhecidos, os quais poderão ser nascedouros para futuros riscos (ou oportunidades) potenciais.
A seleção, que inclui itens que parecem ter saído de algumas das páginas mais especulativas da blogosfera, é bastante didática, tanto como indicadora da “mentalidade Davos” – leia-se oligárquica -, como também de iniciativas que vêm sendo trabalhadas e desenvolvidas nas fundações, think-tanks e programas de pesquisas acadêmicos financiados e controlados por aqueles altos círculos globais. Nela, pode-se perceber o fio condutor da ideologia exclusivista e misantrópica característica de tais grupos oligárquicos, alheia a qualquer consideração pelo Bem Comum e pela humanidade em geral, exceto como um “mercado” a ser dominado e um “rebanho” a ser mantido sob controle, para não colocar em risco os seus privilégios autoatribuídos. Na essência, encontra-se o velho malthusianismo, que insiste em sobreviver sob as roupagens da eugenia (esta, sob o disfarce de certas linhas da engenharia genética) e do ambientalismo, com sua falaciosa ideia central de que os recursos naturais da Terra são insuficientes para assegurar o bem-estar e o progresso a uma população superior a um ou dois bilhões de pessoas (lembrando que a atual passa dos sete bilhões).
Passemos os olhos em alguns argumentos oferecidos pelos autores do relatório.
Mudanças climáticas descontroladas
A questão chave é: “A ameaça das mudanças climáticas é bem conhecida. Mas, será que já passamos do ponto sem retorno? E se já tivermos deflagrado uma reação em cadeia descontrolada, que esteja no processo de levar rapidamente a atmosfera da Terra para um estado inospitaleiro?”
Depois de várias explicações, a maioria repetindo as trivialidades e falácias normalmente apresentadas pelos adeptos da suposta influência humana no clima global (como o alardeado, mas inexistente, “derretimento inusitado de 97% do gelo superficial da Groenlândia, em julho de 2012″), os autores finalizam com a advertência:
Embora os debates sobre as mudanças climáticas, na última década, tenham se centrado na questão de se a humanidade poderia ou não ser responsável pela alteração de um sistema tão grande como o clima da Terra, podemos estar, rapidamente, movendo-nos para discussões forçadas sobre a melhor maneira de reforçar a resiliência e a capacidade adaptativa da humanidade para fazer frente às mudanças, enquanto o piloto automático do clima da Terra nos arrasta, implacavelmente, rumo a um equilíbrio novo e desconhecido.
De fato, a resiliência e a adaptação têm constituído a essência das estratégias adotadas pelo Homo sapiens sapiens para fazer frente às drásticas variações climáticas enfrentadas pela espécie desde o seu surgimento, durante o penúltimo período glacial. Ou seja, os autores não propoem nada de novo. Assim, quando falam em “discussões forçadas”, podem estar sugerindo que a hora das discussões passou e é hora das “soluções”. E, embora não mencionem, está implícito que tais “soluções” seriam orientadas pela falsa noção de que as temperaturas tendem a continuar subindo, caso não haja um consenso global para enfrentar as supostas causas do fenômeno, com a “descarbonização” da matriz energética mundial.
Intensificação cognitiva significativa
Como tais, os autores qualificam um aumento artificial da capacidade cerebral dos indivíduos, por meios bioquímicos ou cibernéticos. Leiamos:
Antes terreno da ficção científica, as capacidades super-humanas se aproximam rapidamente do horizonte da plausibilidade. Será eticamente aceitável que o mundo se divida entre [indivíduos] cognitivamente melhorados e não melhorados? Quais poderão ser as implicações militares?
Os cientistas estão trabalhando arduamente para desenvolver remédios e terapias necessários para curar doenças mentais como a de Alzheimer e a esquizofrenia. Embora os avanços tenham sido lentos, é concebível que, num futuro não muito distante, os pesquisadores identifiquem compostos que melhorem os intensificadores farmacêuticos (p.ex., ritalina, modafinil). Apesar de serem prescritos para doenças neurológicas significativas, novos compostos efetivos que aparentem intensificar a inteligência ou a cognição, certamente, serão usados sem prescrição por pessoas saudáveis em busca de vantagens no trabalho ou nos estudos.
A intensificação poderá ser proporcionada por meios físicos ou por drogas… Isto apresentará problemas éticos em muitas áreas, semelhantes aos do “doping” no mundo dos esportes profissionais. Aceitaremos a ideia de que uma significativa intensificação cognitiva seja comercializada no mercado aberto? Ou, como no caso dos intensificadores de desempenho nos esportes competitivos, haverá um clamor por uma legislação que mantenha um campo de disputa mais equitativo?
Não estarão enganados os leitores familiarizados com o Admirável mundo novo, que perceberam alguma semelhança com a distopia de Aldous Huxley, com a sua sociedade de classes estritamente hierarquizadas de acordo com uma rígida programação genética e submetidas ao uso maciço de drogas inebriantes, que reforçavam a acomodação das classes inferiores à sua condição de serviçais da classe superior, os Alfas. Não por coincidência, Huxley pertencia a uma das famílias mais representativas do Establishment britânico, que aportou grandes contribuições para a consolidação da ideologia malthusiana entre as elites internacionais.
Ao concluir, afirmam os autores: “Tais avanços poderão ter profundos impactos em 20 a 50 anos, nas normas societárias que afetam a maneira como abordamos temas que incluem a educação e o treinamento, a disparidade entre grupos na sociedade, o consenso e a exploração esclarecidos [sic] e as leis internacionais da guerra.”
Desenvolvimento sem controle da geoengenharia
A geoengenharia, na concepção empregada, “está mais comumente associada a um campo científico que ficou conhecido como ‘administração da radiação solar’ [sic]. A ideia básica é que pequenas partículas podem ser injetadas na estratosfera, a grande altitude, para bloquear parte da energia solar incidente e refleti-la ao espaço, em grande medida, como erupções vulcânicas severas têm feito no passado”.
Tais técnicas, concebidas como “resposta às crescentes preocupações com as mudanças climáticas”, têm como objetivo “manipular o clima da Terra, com acordos internacionais”. Para os autores, o problema é: “E se esta tecnologia for sequestrada por um Estado ou indivíduo sem controle?”
Embora pareça uma proposta saída de um roteiro hollywoodiano, já existe um número considerável de projetos do gênero, inclusive, oriundos de entidades científicas como a Real Sociedade britânica. As mais bizarras propoem a instalação de até milhares de espelhos em órbita terrestre, para “refletir” a luz solar de volta para o espaço. Outras pesquisas têm abordado o lançamento maciço de compostos de enxofre na estratosfera (objeto de frequentes especulações na blogosfera, sob o rótulo de “chemtrails”). Um dos estudos citados pelos autores considera que uma pequena frota de aviões poderia injetar anualmente um milhão de toneladas de dióxido de enxofre na estratosfera, a um custo entre 1-2 bilhões de dólares, o que seria “suficiente para compensar cerca de metade do aquecimento global experimentado até agora”.
Sempre preocupados com a questão ética, os autores fazem a ressalva de que, “provavelmente, qualquer alteração nos padrões do tempo e do clima irá criar vencedores e perdedores” e, ademais, haveria brechas para experiências não submetidas à regulamentação internacional, por partes “sem controle”. Entre estas, “um Estado insular ameaçado pela elevação do nível do mar, que decida que não tem nada a perder, ou um indivíduo bem-intencionado e dotado de fundos, que resolva assumir a responsabilidade pelo problema”. Como exemplo, citam o caso de um empresário estadunidense que, em 2012, despejou 100 toneladas de sulfato de ferro no Oceano Pacífico, ao largo da costa do Canadá, para promover um florescimento artificial do fitoplâncton marinho e lucrar no mercado de créditos de carbono. “Observadores estão preocupados com o fato de que isto pode ser um sinal do que está por vir”, diz o texto.
Independentemente dos aspectos tecnológicos envolvidos, a geoengenharia não passa de uma resposta a um pseudoproblema e a persistência de tais esquemas representa uma tentativa de dar uma sobrevida à agenda da “descarbonização” da matriz energética, cuja sobrevivência, esta sim, parece ameaçada pelas evidências científicas reais e a crescente desmoralização do catastrofismo climático.
Os custos de se viver mais
Nesta parte, a inclinação malthusiana dos autores do relatório fica explicitada. Passemos-lhes a palavra:
Nós estamos ficando melhores em manter as pessoas vivas por mais tempo [sic]. Estaremos estabelecendo uma futura sociedade que lute com uma massa de idosos artríticos, demenciados e, acima de tudo, custosos, que necessitem de cuidados e soluções paliativas de longo prazo? As bênçãos da medicina do século XX parecem estar explodindo, com a decifração do genoma e avanços correlatos. Espera-se que estejam a caminho grandes progressos contra doenças comuns, como as cardíacas, cânceres e derrames. Considerem-se os impactos na sociedade, de um crescente número de idosos enfermos que sejam protegidos das causas de mortes mais comuns atualmente, mas com uma qualidade de vida sempre em deterioração, bem como outras moléstias que não matam, mas incapacitam seriamente.
As tendências atuais já preparam o terreno para um tal futuro cenário, no Ocidente… com a população global de demenciados devendo dobrar a cada 20 anos, até superar 115 milhões, em 2050… Os gastos vindouros para os cuidados com essas massas são espantosos, especialmente, nos países de renda alta. (…)
Existem soluções que possam evitar a tempestade vindoura [sic]?… Meios óbvios de se mitigar as implicações de custos incluem a elevação das idades de elegibilidade para os programas de apoio aos idosos com recursos públicos – aposentadorias, serviços de apoio social ou cuidados de saúde de custos reduzidos – e a elevação da idade de aposentadoria, exigindo que os adultos mais velhos sejam economicamente produtivos por mais tempo… Porém, a elevação das idades de elegibilidade para os serviços públicos não é uma panacéia, em parte, porque os custos financeiros não são o único desafio. Os impactos das populações idosas serão sentidos em toda a sociedade, desde a mudança das práticas de planejamento urbano até o impacto de normas sociais sobre os cuidados com os idosos. Mais pesquisas são necessárias para se transformarem condições crônicas em condições agudas (ou seja, desenvolvendo tratamentos curativos), e se buscarem soluções que aumentem a capacidade de todos os indivíduos para administrar condições crônicas e criar riqueza ao mesmo tempo.
Sem dúvida, alguns dos problemas citados são reais e complexos, e necessitam de soluções que sejam ao mesmo tempo racionais e humanas. Mas a linguagem utilizada, usando expressões como “tempestade vindoura” para qualificar o aumento da população idosa, fica muito perto de sugerir a adoção da eutanásia como uma solução para o problema do aumento do número de idosos afetados por doenças incapacitantes. Ademais, se as populações dos países industrializados – e muitos em desenvolvimento – exibem, hoje, taxas de fertilidade feminina bem abaixo dos níveis de mera reposição da população (2,2 filhos por mulher em idade fértil), isto se deve, em boa medida, aos efeitos da bem sucedida estratégia malthusiana deflagrada pelo Establishment oligárquico, com a promoção da contracultura (feminismo, inclusive), de maciços programas de controle demográfico e, não menos, da “atualização” do malthusianismo, o ambientalismo e sua agenda de limitação do crescimento industrial.
Descoberta de vida alienígena
“Dado o ritmo da exploração espacial, é crescentemente concebível que possamos descobrir a existência de vida alienígena ou outros planetas que possam suportar a vida humana. Quais seriam os efeitos sobre os fluxos de financiamento das atividades científicas e a imagem que a humanidade faz de si própria?” – perguntam os autores.
O texto menciona o sucesso da missão Kepler da Agência Nacional de Aeronáutica e Espaço (NASA) dos EUA, na descoberta de “exoplanetas” capazes de abrigar formas de vida, afirmando que, “em dez anos, poderemos ter evidências, não apenas de que a Terra não é única, mas também que a vida existe em outros lugares do Universo”.
Para os autores,
a longo prazo, as implicações psicológicas e filosóficas da descoberta poderiam ser profundas. Se formas de vida (mesmo fossilizadas) forem descobertas no nosso próprio Sistema Solar, por exemplo, elas nos dirão que a origem da vida é “fácil” – que a vida pode emergir em qualquer lugar do Universo, onde possa fazê-lo. Isto sugerirá que a vida é tão natural e ubíqua no Universo, como são as estrelas e as galáxias. A descoberta de até mesmo formas de vida simples alimentaria especulações sobre a existência de outros seres inteligentes e desafiaria muitos pressupostos que fundamentam a filosofia e a religião humanas.
Por meio de educação básica e campanhas de esclarecimento, o público em geral poderão obter maiores níveis de esclarecimento científico e espacial e resiliência cognitiva [sic], que o preparariam e evitariam consequências sociais indesejáveis de uma descoberta e uma mudança de paradigma tão profundas, referentes à posição da humanidade no Universo.
Indiscutivelmente, a descoberta de vida extraterrestre, sob qualquer forma, teria um enorme impacto na humanidade. Não obstante, uma vez mais, os autores não ocultam o ranço oligárquico dos que se consideram no topo da sociedade, com a sugestão de “campanhas de esclarecimento” para aumentar a “resiliência cognitiva” das pessoas comuns. Na verdade, uma educação universal adequada aos desafios do século XXI é o que a humanidade necessita implementar, o quanto antes, para ter condições de enfrentar toda a gama de desdobramentos da dinâmica civilizatória, de origem terrestre ou, até mesmo, extraterrestre (e não necessariamente oriundos de ETs, como demonstrou o meteoro siberiano). Não obstante, não deixa de ser curiosa a inclusão dos impactos de um eventual encontro com seres extraterrestres inteligentes na sua listagem dos fatores imponderáveis – a menos que esses analistas tão prescientes saibam de algo que o restante da humanidade desconhece – e já estejam se preparando para transformar este conhecimento em “oportunidades de mercado”.
Todavia, a cima de tudo, a listagem dos “fatores-X” deixa manifesta a escassez de novas propostas do Establishment oligárquico (nem mesmo a denominação, emprestada de Hollywood, é original), que retoma velhos conceitos do período inicial da derrocada do Império Britânico, no início do século XX, quando a promoção do malthusianismo estava em alta. Afinal, como sugeria Albert Einstein, não se pode resolver um problema a partir da mesma consciência que o criou, é preciso reaprender a ver o mundo.

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