Em qualquer discussão ou debate, quando um dos participantes recorre ao argumento da autoridade, seja hierárquica ou de qualificações acadêmicas, para tentar se impor aos opositores, a provável motivação de tal atitude é a falta de argumentos convincentes. Esta constatação, que todos já presenciaram em várias oportunidades, não tem estado ausente nos debates sobre as mudanças climáticas. De fato, é frequente entre os defensores da hipótese “antropogênica” do aquecimento global, que costumam recorrer ao argumento da autoridade em face da absoluta inexistência de evidências físicas que comprovem a sua hipótese.
Recentemente, o Wall Street Journal foi o palco para mais uma dessas manifestações de cientistas “aquecimentistas”, irritados com o espaço conferido pelo jornal a um artigo de cientistas críticos do alarmismo climático. Publicado em 27 de janeiro, com o título “Não há necessidade de pânico sobre o aquecimento global”, o artigo foi assinado por 16 cientistas e engenheiros de renome internacional, entre eles, Richard Lindzen (MIT), Nir Shaviv (Universidade Hebraica de Jerusalém), Antonio Zichichi (presidente da Federação Mundial de Cientistas de Genebra), Henk Tennekes (ex-diretor do Serviço Meteorológico Real Holandês) e Claude Allegre (ex-diretor do Instituto de Estudos da Terra da Universidade de Paris).
Já no subtítulo do texto, os signatários sintetizam o “recado” do mesmo: “não existem argumentos científicos convincentes para ações drásticas para ‘descarbonizar’ a economia mundial.” A mensagem prossegue, contundente:
(…) A afirmativa, frequentemente repetida, de que quase todos os cientistas exigem que alguma coisa dramática seja feita para deter o aquecimento global não é verdadeira. De fato, um número grande e crescente de destacados cientistas e engenheiros não concorda com que sejam necessárias ações drásticas sobre o aquecimento global. (…)A falta de aquecimento durante mais de uma década… sugere que os modelos de computadores têm exagerado largamente o montante de aquecimento acicional que pode ser causado pelo CO2. Confrontados com este embaraço, aqueles que promovem o alarmismo têm reorientado as suas batidas de tambor, do aquecimento para os extremos climáticos, para estabelecer que qualquer coisa incomum que ocorra em nosso clima caótico seja atribuída ao CO2.
O artigo, escrito em um tom pouco comum entre cientistas, não deixa margem a dúvidas sobre a natureza do catastrofismo climático e os seus beneficiários:
Essa não é a maneira em que se espera que a ciência funcione, mas já vimos isto antes – por exemplo, no assustador período em que Trofim Lysenko sequestrou a Biologia na União Soviética. Os biólogos soviéticos que revelavam a sua crença nos genes, que Lysenko afirmava ser uma ficção burguesa, foram demitidos dos seus postos. Muitos foram enviados ao gulag e alguns foram condenados à morte.O alarmismo sobre o clima produz grandes benefícios para muitos, proporcionando financiamento governamental para pesquisas acadêmicas e uma razão para o crescimento de burocracias governamentais. O alarmismo também oferece uma desculpa para que os governos aumentem os impostos, os subsídios financiados pelos contribuintes para os negócios que entendem como funciona o sistema político e um incentivo para grandes doações a entidades sem fins lucrativos que prometem salvar o planeta. Lysenko e sua equipe viviam muito bem e defendiam ferozmente o seu dogma e os privilégios que ele lhes proporcionava.
A comparação das práticas agressivas dos “aquecimentistas” com os métodos fascistas de Lysenko é mais que oportuna, principalmente, porque, em vez de um atraso de meio século nas ciências biológicas em um país, se a agenda da “descarbonização” da economia for mantida e aprofundada, o resultado poderá ser um virtual congelamento do progresso socioeconômico da maior parte da Humanidade, dado o peso dos combustíveis fósseis na matriz energética global e a inexistência de alternativas em grande escala a eles.
O artigo conclui, afirmando que medidas racionais para proteger e melhorar o nosso ambiente devem ser apoiadas, “mas não faz qualquer sentido apoiar dispendiosos programas que desviam recursos das necessidades reais e se baseiam em afirmativas alarmistas, mas insustentáveis, sobre evidências ‘incontestáveis’”.
A réplica “aquecimentista” não tardou. Em 1º. de fevereiro, o Journal publicou outro artigo, desta feita, assinado por 33 cientistas engajados na promoção do alarmismo climático, alguns deles bem conhecidos dos que acompanham o assunto, como Kevin Trenberth, Michael Oppenheimer, Ken Caldeira, o notório Michael Mann (autor do fraudulento gráfico do “taco de hóquei”) e outros. O pretensioso título “Consulte cientistas climáticos para opiniões sobre o clima” e os inacreditavelmente arrogantes e cínicos dois primeiros parágrafos dão uma ideia do que o leitor poderia esperar do texto:
Vocês consultam o seu dentista a respeito da sua condição cardíaca? Na ciência, como em qualquer área, as reputações são baseadas no conhecimento e na experiência em um campo e no trabalho publicado e revisado por pares. Se vocês precisam de uma cirurgia, você irá querer um especialista altamente experiente no campo, que tenha feito um grande número das operações propostas.Vocês publicaram “Não há necessidade de pânico sobre o aquecimento global”, sobre as mudanças climáticas, [escrito] pelo equivalente, na ciência climática, a dentistas praticando cardiologia. Embora destaques em seus próprios campos, a maioria desses autores não têm experiência na ciência climática. Os poucos autores que têm tal experiência são conhecidos por ter visões extremadas que estão fora de tom com quase todos os outros especialistas climáticos. Isto ocorre em quase todos os outros campos científicos. Por exemplo, há um especialista em retrovírus que não aceita que o HIV cause a AIDS. E é instrutivo recordar que alguns poucos cientistas continuam a afirmar que fumar não causa câncer, muito depois que isto se tornou ciência consolidada.
A conclusão é uma impressionante mescla de falácias com soberba, que demonstra o nível assustador de oportunismo e desonestidade em que mergulhou uma parte considerável da comunidade científica na área climática:
As pesquisas mostram que mais de 97% dos cientistas que estão publicando ativamente na área concordam em que as mudanças climáticas são reais e causadas pelo homem. Seria um ato de inconsequência para qualquer líder político, desconsiderar o peso das evidências e ignorar os enormes riscos acarretados claramente pelas mudanças climáticas. Ademais, existem evidências bastante claras de que investir na transição para uma economia de baixo carbono não apenas permitirá que o mundo evite os riscos das mudanças climáticas, mas possa, também, impulsionar décadas de crescimento econômico. Exatamente o que o doutor ordenou.
Tais palavras falam por si mesmas. De qualquer maneira, a única coisa que faltou na diatribe dos “doutores” foi o principal: as evidências de que as mudanças climáticas ocorridas desde a Revolução Industrial do século XVIII sejam anômalas, em relação às ocorridas anteriormente. O motivo da ausência é elementar: elas não existem. E o fato de que isto não tenha sido comentado pelos “doutores” não se deve à ignorância – mas à desonestidade. Neste caso, os “dentistas” estão cobertos de razão.
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