Atriz, dançarina e professora de danças populares brasileiras, Beatriz Miguez busca valorizar as peculiaridades e qualidade do movimento de cada indivíduo. Propondo uma experiência investigativa e criativa por meio do diálogo entre as danças tradicionais brasileiras, a linguagem do teatro e a dança contemporânea, Beatriz acredita que as danças populares são a base da cultura brasileira.
— O interesse pelas danças populares começou ainda na faculdade. Tive a oportunidade de fazer uma oficina com o mestre Tião Carvalho, que é do Maranhão, atualmente mora aqui em São Paulo, no morro do Querosene, e desenvolve um trabalho de boi lá. Nessa oficina que vi o caroço, coco, bumba meu boi, e foi paixão a primeira vista por esse universo. Fui tomada por um certo encantamento — fala Beatriz.
— Depois fui parar no Teatro Brincante e tive uma trajetória bem bacana lá. Comecei fazendo curso livre, depois o curso de formação de brincante, que nos direcionava a dar oficinas dentro de escolas, SESCs, etc., me proporcionando começar a desenvolver um trabalho de educadora — continua.
O Teatro Brincante foi criado pelo músico e ator Antônio Nóbrega. É um espaço onde inúmeras manifestações artísticas brasileiras são estudadas e trabalhadas.
— No último ano que estive no Brincante, 2011, trabalhei diretamente como o Nóbrega como dançarina profissional, fazendo parte do filme Brincante, que fala da sua vida artística. A partir dessa vivência que tive lá é que comecei a fazer conexões do universo da dança popular com meu repertório como atriz — explica Beatriz.
— Não era dançarina antes, a dança veio para mim exatamente através desse estudo que chamo de artificial, por ser em uma sala e não direto com os mestres nas comunidades. Só depois de uns dois ou três anos no Brincante que fui, com um grupo de amigos, visitar os lugares onde essas danças acontecem de forma natural, fazendo parte da vida das pessoas de lá — conta.
— E isso foi mais uma grande descoberta e rico aprendizado, porque aprender frevo com pessoas que estudaram com grandes mestres do Recife é bem diferente. Quando se chega lá, logo se vê essas manifestações bem claras, do jeito que elas são. E é muito bacana , porque a pessoa percebe que existe uma riqueza muito grande — continua.
Beatriz diz que existem alguns princípios nas danças populares brasileiras que podem servir de ferramenta dentro de um processo de criação de ator.
— Se a pessoa pegar um frevo, por exemplo, vê a forma do passo que é a mecânica, mas, o que me interessa mais não é a mecânica pela mecânica, e sim o que gera aquele movimento, quais são os princípios corporais que levam o corpo a se mover daquela forma — explica.
— Dessa forma se tem várias qualidades, característica que cada uma dessas danças tem, e cada uma dessas formam um vasto repertório de sotaques, movimentos, matrizes, um material enorme que favorece o processo de criação de um ator, dançarino, e também dentro do um processo pedagógico, de uma aula de dança, de teatro. São ferramentas para o processo criativo — continua.
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