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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Viola: instrumento de expressão

Violeiro, cantador e compositor oriundo de Salinas, no Vale do Jequitinhonha, MG, Joaci Ornelas usa a viola para trabalhar várias linguagens musicais, sempre cantando sua "aldeia" e a impressão do mundo a sua volta. Integrante do grupo Viva Viola e prestes a lançar seu segundo disco solo, Joaci também prepara um trabalho dedicado ao mundo das crianças.

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— As primeiras informações musicais, culturais, que tive foi no Vale através das folias, cantigas de roda, batuques, festas populares que ainda são muito frequentes no norte e nordeste de Minas. Mas naquela época de infância não existia toda essa tecnologia que tem hoje nas casas, então as pessoas tinham mais tempo e interesse em se relacionar — recorda Joaci.
— Mudamos para Belo Horizonte e fui estudar teoria musical, violão, canto. Ouvia de tudo, principalmente o pessoal do Clube da Esquina, e as coisas foram acontecendo. Conheci os violeiros Pereira da Viola e Renato Andrade e consequentemente tive um contato mais direto com a viola caipira, de 10 cordas — continua.
A viola fez todo um sentido para ele, conforme diz, porque o remeteu as suas primeiras informações musicais.
— A construção do meu trabalho a partir da viola foi algo razoavelmente natural, e hoje está ligada a ele de forma essencial. Eu já fazia música, tinha uma certa carreira com toda essa riqueza da cultura popular, e redescobri-la foi parte desse caminho — explica Joaci.
— Utilizo a viola como um instrumento ligado ao meu processo de arte, de músico, consequentemente também de vida. Me possibilita fazer uma sonoridade em qualquer estilo, inclusive a própria música caipira. Digo que nunca fui um violeiro caipira, porém, nunca deixei de ser, porque se uma pessoa ouvir minhas músicas sentirá que isso está no processo de formação — diz.
Compositor de letra e música, Joaci cria de acordo com sua vivência e impressão do mundo.
— Uma pessoa traz com muita propriedade para sua música aquilo que ela vive, a sua realidade, e também uma universalidade, porque tem duas formas de ver o mundo: a partir da sua aldeia e com uma visão mais ampla. Dessa forma ela traz o tema que vive. No meu caso tudo que faço está ligado à cultura popular, porém, são temas diversos — declara.
— Em 2006 gravei meu primeiro disco, Andejo, reunindo um pouco de Guimarães Rosa, viola, tambores, congadeiros, foliões, cantadores de pé de serra, e tudo o mais da minha memória ligada ao São Francisco, ao Vale do Jequitinhonha — conta.
— A viola aparece como instrumento principal, mas também tem lugar para o violoncelo, piano, percussão, violão, inclusive muito presente no CD. Optei por fazer todos os arranjos para poder criar uma linguagem própria, com mais significado dentro do que faço — continua.

PROJETOS DE VIOLA

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Além do trabalho solo, há cerca de quatro anos, Joaci e alguns companheiros criaram o projeto Viva Viola.
— É um grupo de violeiros daqui de Belo Horizonte: Pereira da Viola, Chico Lobo, Bilora, Wilson Dias, Gustavo Guimarães e eu. Com algumas parcerias com o jornalista e escritor João Evangelista, criamos esse movimento de músicas e ações, no sentido da valorização e difusão da música de viola. Trabalhamos toadas, modas de viola, calangos, batuques etc — conta.
— Gravamos nosso primeiro disco em 2008 e agora em 2013 já saímos com o segundo, ambos feitos se utilizando apenas do instrumento viola, mas, dentro de um universo musical extremamente amplo, contendo inclusive a própria música caipira. Quer dizer, várias formas de se expressar através da música, usando a viola para isso — explica.
 E o Viva Viola tem projetos para fazer um trabalho de continuidade das ações socioculturais, indo para as comunidades rurais levando oficinas, vídeos e uma série de coisas ligadas à viola e à cultura popular. Isso cria uma possibilidade de troca, de uma convivência entre músicos de várias partes em um mesmo ambiente musical — defende.
Um outro trabalho de Joaci é o projeto de um disco feito por crianças e para crianças.
— Trabalhei muito tempo com arte-educação e musicalização infanto-juvenil. A ideia desse CD é gravar com crianças de diversas situações e regiões, dentro de movimentos sociais, assentamentos, centros culturais de periferia, comunidades rurais, e outras lugares que forem surgindo — fala.
— Vou compor o disco com essas crianças, fazendo músicas que estejam dentro do seu universo, que se encaixe no seu mundo infantil, respeitando a sua sensibilidade, e não uma coisa perversa, de adultos, passada para o mundo das crianças. Isso é o que a indústria cultural tem feito hoje em dia, não respeitando a criança em sua essência — expõe.
— O disco já começou a ser feito e deve sair no próximo ano. Paralelo, estou terminando meu segundo disco solo, No dizer do sertão. É um mergulho mais profundo nas minhas vivências e paisagens sertanejas, e consequentemente, dentro da obra do Guimarães Rosa, que tem a ver com tudo isso. Esse está previsto para sair agora em dezembro — conclui Joaci Ornelas.
joaciornelas@ig.com.br  (31) 9744-7122 são os contatos do artista.

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