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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Samico, aquele que abriu veredas no terreno áspero da beleza

Samico
Samico, em seu ateliê, em Olinda (PE)

Depois de Samico, a gravura brasileira nunca mais foi a mesma. O grande gravurista Gilvan Samico despediu-se da vida nesta segunda feira (25), aos 85 anos de idade, vencido por um câncer contra o qual lutava faz muitos anos. 

Por José Carlos Ruy


Samico foi um dos mais eminentes gravuristas brasileiros; brilhou na xilogravura aplicada em temas que, como seu grande amigo Ariano Suassuna, bebiam nas fontes populares, a que deu expressão erudita. Suas obras estão nos principais museus do Brasil e no exterior, entre eles o Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, na cidade do Recife, onde nasceu, em 1928, e onde desenvolveu sua arte.


Certa vez, em uma entrevista quando completou 80 anos de idade, definiu sua arte dizendo ser “uma coisa interior”, onde ficava difícil identificar as influências. “Eu trabalho hoje de tal forma que dificilmente você pode conhecer a lenda e identificar aquela origem cultural. Eu não faço um trabalho de ilustração. Estou me baseando numa lenda para construir um novo mundo. Em A caça, por exemplo, a figura principal originalmente era um esquimó. Mas eu não conseguiria enxergar um esquimó dentro de minha gravura. Então eu tirei a roupa dele e o transformei em um homem que pode ser de qualquer cultura. Uma situação corriqueira, como uma conversa com uma pessoa qualquer, pode dar origem a uma gravura que vai ser interpretada pelos outros por seus significados históricos e mitológicos, mas minha intenção era apenas contar uma história simples que me agradou e resolvi desdobrar. Por outro lado, quem conhece determinadas lendas pode também não conseguir enxergá-las na minha gravura, de tanto que eu modifico”. 

Mas ressaltava a influência do folclore nordestino. “Eu não posso ser chamado de judeu apenas por desenhar uma estrela de seis pontas. Existe um gravador cearense cujas figuras lembram desenhos egípcios, apesar de retratarem Padre Cícero e Lampião, mas ele dificilmente se inspirou nos egípcios”. 


Influência que recebeu também do amigo Ariano Suassuna. “O cordel e a gravura popular foram apenas um caminho, um mote, sugerido por Ariano Suassuna há mais de 40 anos. Eu já contei isso várias vezes. Eu vinha fazendo uma gravura muito carregada de preto, muito noturna, e ele me disse que o Nordeste era cheio de gravadores populares que valorizavam a luz, enquanto eu não parecia satisfeito com o caminho que eu estava tomando. Certos elementos que estão presentes na minha obra fazem parte do imaginário nordestino, mas estão em outras culturas também, em cada uma com um significado, como as criaturas bestiais e as próprias estrelas.” 

Referiu-se também a influências da conjuntura, como no quadro Rumores de guerra em tempo de paz, de 2001, quando ocorreram os ataques de 11 de setembro em Nova York. “Aquilo foi uma coisa curiosa”, disse. “Esse quadro foi uma invenção da minha cabeça, não veio nada de fora. Botei um título que é coerente dentro do que a imagem mostra. Não recebi nenhum aviso mágico ou algo assim. Coincidentemente, eu fiz essa gravura em julho e em setembro aconteceu aquilo em Nova York. Célida, minha mulher, me perguntou se eu estava adivinhando as coisas (risos)... Eu não faço reportagem. Tem artistas, inclusive gravadores populares, que fazem isso, retratam os fatos”.


Samico (aliás Gilvan José de Meira Lins Samico) foi pintor e desenhista, autor sobretudo de xilogravuras que refletiam a cultura popular nordestina, do nordeste brasileiro. Na década de 1970 fez parte do Movimento Armorial, cujo guru era Ariano Suassuna, e suas gravuras se tornaram o ícone do movimento. Mas sempre recusou o título de maior gravurista brasileiro. Na entrevista sobre seus 80 anos disse: “Quem diz [isso]? Eu não acredito, se dizem muitas coisas nesse mundo de crítica de arte. Umas coisas que são, e outras que não são. Às vezes, o elogio é até gratuito, porque tem que ser... Mas não sou eu que tenho que dizer nada, são as pessoas credenciadas.” 

As pessoas credenciadas, aliás, discordam dele e reafirmam sua grandeza. Vilma Eid, dona da Galeria Estadão, em São Paulo, é uma delas. "Ele era o maior xilogravador vivo no país", disse. "Eu diria que ele deixa uma obra fundamental para a compreensão da arte brasileira, porque é um artista que foi buscar na raiz do povo a matéria para seu trabalho." O amigo Ariano Suassuna concorda com ela e chamou a atenção para o "tino" de Samico ao abrir "veredas no terreno áspero e tirano da beleza".

Com agências

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