A cineasta Lina Chamie faz um dos documentários mais bonitos e sensoriais do ano em "São Silvestre", filme que estreia no país nesta sexta-feira (27), às vésperas da histórica corrida, realizada na virada do Ano Novo.
O filme não tem nada de um documentário convencional. É, acima de tudo, impressionista e uma grande homenagem à cidade de São Paulo, cujas ruas servem de cenário para a competição.
Em sua geografia, São Paulo oferece planícies e ladeiras, alívios e obstáculos para corredores do mundo todo. Nessa dinâmica urbana, Lina inscreve sua câmera que captura a beleza e opressão, o verde e o concreto, a Avenida Paulista e o centro velho, os contrastes e paradoxos, as alegrias e melancolias. Mas todos esses cenários são mera moldura para quem está nas ruas correndo.
Como num dos longas mais famosos da diretora, "A Via Láctea", São Paulo é uma personagem crucial. Mas, se naquele filme a cidade se dissolvia na mente de um homem que estava morrendo, fazendo conexões estranhas entre ruas distantes, caminhos improváveis e impossíveis, aqui é a São Paulo real, aquela que determina os itinerários em suas ruas de mão única e conversões proibidas.
Ainda assim, seja antes ou durante a corrida, São Paulo é fragmentada, impossível de ser capturada em sua totalidade. Acontece que a competição também tem esse caráter pós-moderno, por mais que acompanhemos pela televisão, por mais que vejamos mapas, simulações, imagens aéreas, é impossível dar conta do todo, temos de nos contentar com pedaços, segmentos que fazem um retrato aproximado dessa cidade tão paradoxal.
Durante a primeira parte do filme, Lina e sua câmera traçam parte do percurso no começo da manhã, com um sol ameno, ruas vazias e a calma de quem pode admirar o que há para se ver.
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