Gêmeas mineiras apaixonadas por música brasileira, Célia e Celma participavam desde crianças das festas populares de Ubá, onde nasceram. Em meio a catira, cateretê, quadrilhas juninas, congados, folias de reis e observando a mãe cozinhar pratos típicos mineiros no fogão à lenha, as meninas criaram uma identidade cabocla, que não foi esquecida na cidade grande.

— A arte que faz parte da nossa vida, nos acompanha desde sempre. Em uma família numerosa, 12 irmãos, ouvíamos muita música naquelas eletrolas de antigamente. Meu pai, italiano, gostava das clássicas, óperas, enquanto nossas irmãs mais velhas preferiam a MPB — conta Celma.
— Fora isso passava pela nossa porta desfiles de congado, folia de reis, etc, nos proporcionando um contato muito intenso com a cultura popular, que foi a primeira forma de expressão artística que nos chamou atenção. Começamos a cantar crianças como amadoras nos circos que passavam pela nossa região e na Rádio Educadora de Ubá.
— Tínhamos uma irmã que tocava acordeon e era locutora e cantora na rádio, e desde pequenininhas estávamos lá cantando música regional. Depois, juntamente com umas colegas do colégio, formamos o conjunto Garotas. Éramos cinco meninas tocando música popular em bailes — acrescenta.
Celma tocava baixo acústico, Célia bateria e as outras meninas: piano, guitarra e saxofone.
— A coisa deu certo e viajamos por muitos lugares com apresentações, tanto que resolvemos nos profissionalizar, mudando para o Rio de Janeiro, onde havia mais condições para isso. Só que as meninas acabaram desistindo, porque os pais não as deixaram ir para o Rio... Mas como nós duas somos muito corajosas, continuamos, nascendo assim a dupla. Na verdade, tivemos que enfrentar um falatório na cidade, pessoas que achavam ruim que duas meninas saíssem para tentar a vida artística, mas encaramos tudo e fomos. Isso era início da década de 1970 — diz Celma.
— Como dupla começamos com MPB, dando continuidade ao trabalho que fazíamos no Garotas. Cantamos em orquestras de baile, entre elas a do Ed Maciel, que foi uma escola para nós. Depois conhecemos o Carlos Imperial, que nos chamou para participar do conjunto Turma da pesada. Trabalhamos também no show do Miele & Boscoli, e como humoristas no programa do Moacir Franco — relata Célia.
Mas a música do interior sempre falou muito fundo na vida das gêmeas, e isso acabou vindo à tona.
— Em 1990 participamos de uma novela na extinta TV Manchete, interpretando duas moças do interior. O diretor nos pediu que fizéssemos um repertório só com músicas caboclas, interioranas, nos dando a oportunidade de reviver um pouco do nosso passado. Voltamos para um repertório que cantávamos quando crianças — fala Celma.
— Essa música nos toca profundamente, é uma volta ao próprio núcleo familiar. A partir daí decidimos prosseguir fazendo ritmos do sertão, de inspiração cabocla, rural, mas que se toca na cidade também. São Paulo, por exemplo, onde moramos atualmente, tem um público muito grande que ouve música regional — continua.
— Toda música que canta a natureza, o campo, o cotidiano da roça, que lembra o interior, é considerada regional. Ela identifica a região de onde vem. — acrescenta Célia.
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