Quem curte o samba de elevar a alma e de bulir as cadeiras de todas as passistas sabe que em Minas Gerais tem Jajá do Partido Alto. Ele que, desde muito cedo vive a arte do batuque e do gingado da cultura de nosso povo, assim como tantos sambistas, foi trabalhador da construção civil e sempre se dedicou à boa música. Compunha sua obra musical, enquanto pintava paredes de prédios construídos. É o DNA desse ritmo de “identidade nacional” que canta mais afro. Agora, o artista se supera lançando o novo CD intitulado Meu povo na beira do mar, com treze faixas inéditas.
Em 6 de Junho de 1942, nascia em Rio Manso, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Jair Ferreira Pinto. Chamado assim, pelo registro de batismo, parece um nome comum de cidadão, porém, se explicarmos que ele é mais conhecido por Jajá do Partido Alto, a comunidade do samba belo-horizontino aplaude e agradece.
Em 1946, com 4 anos de idade, Jajá partiu com sua família para a capital mineira. Criou-se na Vila dos Marmiteiros, no bairro da Gameleira, Zona Oeste desta cidade. E foi com seu pai, Jorge Gonçalves Pinto, também operário da construção, que ele começou a gostar de música. Seu Jorge era um sanfoneiro de mão cheia, querido pelos colegas de trabalho.
— O primeiro presente que meu pai me deu foi um instrumento musical. Na verdade foi um presente bastante improvisado. Era um pandeiro feito de aro de latinhas de massa de tomate e tampinhas rebatidas de refrigerante — explica Jajá.
Na adolescência, aos fins de semana, acompanhava seu pai e seu tio em apresentações nos bailes populares em bairros de Belo Horizonte. Seu Jorge comandava a “sanfona cabeça de égua”, seu tio ao violão e Jajá segurava no pandeiro, no surdo ou na “latinha de goiaba”.
Em 1960, aos 18 anos, passou a acompanhar o sanfoneiro De Paulo, em apresentações na tradicional quadra do Esporte Clube América Suburbano, no bairro Salgado Filho, quando se enturmou com os apreciadores do gênero musical ali exibido.
Em 1962 passou a integrar o conjunto musical “Rei do Ritmo”,
comandada pelo saudoso Amantino. O “Rei do Ritmo” tocava samba, bolero e
baião. Jajá aperfeiçoava-se como ritmista e, nesse tempo, combinava a
música com a profissão de pintor de parede, ofício este que exerceu por
mais 40 anos.
— Os tempos do ‘Marajós’ foi muito bacana. O samba e o partido alto ferviam nas favelas e no asfalto. Nessa época erámos nós em BH e os Originais do Samba, que tinha o Mussum, em São Paulo. E o Mussum era a alegria do grupo dele” — aponta.
O ‘Marajós’ participava do programa Caxangá e sua gente na Rádio Inconfidência. O programa tinha uma grande audiência e grande participação dos ouvintes. O sambão (sic) do nosso povo era bem difundido nessa época nas Gerais.
Meu povo na beira do mar
Após o fim do grupo, Jajá passou um longo tempo fora da estrada e do cenário oficial do samba. Com a família crescendo, ele precisou dedicar-se mais a sua profissão de pintor, e o já monopólio das gravadoras e produtoras dificultava que os músicos do povo adquirissem oportunidades para mostrar e desenvolver o talento artístico. Jajá também foi um dos que sofreram essa avalanche da música comercial que tomou conta das gravadoras, principalmente a partir dos anos 1980.
Apesar desses obstáculos, Jajá não deixou de frequentar as rodas de samba da cidade e, também, sempre que possível, tocar com seus velhos e novos parceiros do samba. Considera que personalidades do samba são inesquecíveis, como Bezerra da Silva e Dicró. Jajá não esconde o orgulho de ter conhecido pessoalmente esses dois companheiros, como assim os chamava. Dois outros músicos de referência para Jajá foram o seu xará Jair Rodrigues e Martinho da Vila.
Em 2009, aos 67 anos, Jajá decidiu mais uma vez nadar contra corrente e decidiu reunir um grupo de músicos e lançar de forma independente seu primeiro trabalho em carreira solo. Partido Alto é o nome do seu primeiro CD e contém 12 músicas de sua autoria.
Agora, em 2014, cinco anos depois, lança seu segundo álbum, Meu Povo na Beira do Mar, assinado por Rogério Pagé (produtor e arranjador) e que contou com um vigoroso time de músicos e ritmistas: Beto Sete Cordas, Rodolfo Simpatia (seu filho), Dona Eliza, Ney do Baixo, Rodrigo, Astral, Baiano e a participação especial de Celso Nonato.
Animado com essa nova etapa da carreira, Jajá esbanja saúde, jovialidade e alegria, que o mantém na firme disposição e com dedicação ao samba. Jajá é dono de uma voz e de um batuque ímpares no samba brasileiro. Ele também compõe marchinhas carnavalescas. E com o lançamento desse novo álbum, deseja compartilhar seu precioso talento em shows agendados em Belo Horizonte, interior de Minas, Espírito Santo e Rio de Janeiro.
O show de lançamento do seu novo trabalho será no coração de BH. A galera do samba e os amigos operários da construção civil estão ligados no calendário: dia 12 de dezembro, sexta-feira, às 19 horas, no Chopp Praça Sete, ao lado do Cine Brasil, em Belo Horizonte. E com direito a autógrafo do artista! Informações: (31) 9258-1590.
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