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quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Cangaceiros e (intelectuais) fanáticos

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Há pouco mais de cinquenta anos o jornalista comunista Rui Facó publicava o livro Cangaceiros e Fanáticos, obra que se tornaria uma das mais importantes análises sobre o cangaço e o que se convencionou chamar de “messianismo”.  Movimentos camponeses multitudinários com acentuados traços de sincretismo religioso que sacudiram os sertões do Brasil desde os finais do século XIX até as primeiras décadas do século XX. 
Facó se contrapõe aos posicionamentos reacionários dos monopólios da imprensa e de vasta parcela da intelectualidade do período que apontava como causa de movimentos como Canudos, Contestado, Caldeirão e Pau de Colher um pretenso “fanatismo religioso”, resultante do isolamento geográfico e cultural das populações sertanejas naquele momento histórico.
A partir de uma análise criteriosa sobre a formação socioeconômica do Nordeste brasileiro, o autor demonstra de forma patente ser a questão agrário-camponesa, da brutal concentração fundiária e da existência do sistema latifundiário com suas relações de produção semifeudais, a base sobre a qual se ergueram estas colossais lutas camponesas no período, despertando contra si o medo e ódio do latifúndio, da grande burguesia e do velho Estado.
 Não assistimos mais ao agrupamento de milhares de massas camponesas, seguindo beatos e falsos profetas como Antônio Conselheiro e em guerra contra o clero e o governo pelos rincões do país. Mas, prosseguem ainda mais fortes do que outrora, os intentos das classes dominantes em encobrir a verdadeira base e significado do que chamam genericamente de “conflitos no campo”. Ou seja, a secular e persistente luta dos camponeses pobres sem terra ou com pouca terra contra o sistema latifundiário.
“Nunca antes na história deste país” se investiu tanto na produção e difusão de teorias anti-científicas que visam mistificar a questão agrário- camponesa. Neste sentido, a polêmica travada por Facó é mais do que atual. Por trás do discurso politicamente correto do multiculturalismo de “povos tradicionais” e “territórios”, intelectuais pagos a peso de ouro pelo governo e ONGs imperialistas reinventam o discurso dos “fanáticos”.

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