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quarta-feira, 30 de março de 2011

SALÃO DE BELEZA - A oficina da estética feminina

                                         (Marcos Marques*)

            Tinha previsto para esta semana escrever sobre “Educação”, mas em virtude do dia / mês dedicado à Mulher, resolvi mudar e falar sobre a “Beleza”, tema mais ameno porem não menos importante.   Ano retrasado fiz um poema intitulado “Divinas Mulheres” (veja abaixo) onde proclamo a minha adoração pelas Mulheres de todas as matizes.   Quando elas desfilam nas ruas, atraem os meus olhos como imã e, no encontro dos olhares que se fixam, há um momento de encanto (acho porque os meus são verdes !) e depois se desviam por decoro; são tantas que quase fico com torcicolo diante de abundante beleza.   Mas esta visão maravilhosa não é privilégio só meu, pois os Homens da Terra – Brasilis e os estrangeiros nas se cansam de elogiar as beldades fluminenses, cariocas, brasileiras, em comparação com as de outros lugares.   Então ficava me perguntando: além do bem corporal e mental que faz a miscigenação das etnias, o ambiente e o clima tropical, e a melhoria progressiva e cultural da qualidade de vida do Povo Brasileiro, o que Elas fazem para realçar ainda mais a beleza natural e chamar tanto a atenção ?   Dias desses, a ficha caiu quando passei a notar a quantidade de Salão de Beleza que tem proliferado tanto nos centros das cidades quanto nos bairros periféricos, sendo que em alguns quarteirões mais densos eles concorrem em pontos comerciais lado-a-lado ou porta-a-porta, uns mais tradicionais e outros mais ecléticos, em opções acessíveis à maioria das bolsas e gostos.   No jargão da moda, virou festa “fashion” a freqüência – no mínimo -- semanal ao Salão de Beleza, seja da Dauziza, da Maria Claudia, da Nádia, da Sula ou da Valéria Almeida.
            O ambiente desse tipo de salão é, geralmente, um compartimento equipado com cadeiras especiais, lavador de cabelo, tesouras, escovas, secadores, alicates de unha, lixas, produtos de beleza, etc.   As profissionais e as clientes são, majoritariamente, Mulheres, motivo pelo qual reina aquele astral feminino, a alegre algazarra de vozes falando ao mesmo tempo em concorrência com a zoeira do secador.   Vou agora revelar um “segredo”: segundo os comentários à boca pequena que ouço por aí, enquanto esperam ou são atendidas, elas ficam “tricotando”, isto é, fazem fofoca sobre a vida alheia à torto e à direita.   Nesse ambiente aconchegante e intimista, também fazem cabelo (corte, escova, penteado, pintura, rinsagem, alisamento -- a febre do momento !), sobrancelhas, maquiagem, massagem, depilação, unhas das mãos e dos pés e por aí vai...
            Se deixei de mencionar alguma coisa essencial, peço às profissionais que me perdoem a falta de domínio sobre um campo de conhecimento tão específico e palpitante, entretanto, o principal objetivo desta crônica é anunciar para o mundo que considero o Salão de Beleza uma habilidosa e preciosa “Oficina da Estética Feminina”.   Com certeza são milhares (milhões ?!) de Salões de Beleza espalhados pelo país, verdadeiros espaços culturais a criar, artesanalmente, expressões faciais e modelagens corporais em suportes esculturais, transformando em maravilha o que já é uma bela arte.   (O longevo Oscar Niemeyer que executa projetos arquitetônicos tão famosos, diz que a sua inspiração vem da beleza e das curvas da Mulher Brasileira).
            Aqui homenageando as cabeleireiras, manicures, pedicures, podólogas, esteticistas, massagistas e todas as profissionais do Salão de Beleza, exalto com amor e reverência às Divinas Mulheres que enobrecem a paisagem paradisíaca do meu amado Brasil.
                    (* Professor da UFF / EEIMVR, Poeta e Presidente da APACRJ)

Divinas mulheres

sexta-feira, 25 de março de 2011

O educador Tião Rocha fala sobre folclore e cultura popular


TIÃO ROCHA. Foto: arquivo pessoal



O educador Tião Rocha, fundador do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, tem uma forma de se apresentar que já virou bordão: "antropólogo por formação, educador popular por opção política, folclorista por necessidade e mineiro por sorte." É, então, sobre a sua "necessidade" que nos interessamos na entrevista a seguir. Nela, discutimos o que pode ser entendido por folclore e a relação desse conjunto de saberes e expressões com o dia a dia da escola. Para ele, ainda há um salto a ser dado nessa área. "A escola não tem coragem de colocar o folclore na sua atividade básica", diz. "E com isso não se propõe a aprender a cultura das pessoas."



Como surgiram os estudos do folclore e com que viés foram produzidos os primeiros trabalhos na área no Brasil?

TIÃO ROCHA O termo folclore nasceu na Inglaterra praticamente junto com a Antropologia, na segunda metade do século 19 - época em que o Império Inglês vivia em plena expansão. Ao contrário do que fizeram os dominadores do século 16, que usaram seus mitos, por meio da cultura e da religião, para justificar a dominação das colônias, no século 19 recorreu-se à ciência para promover a aculturação. A Antropologia surgiu para estudar os povos chamados "primitivos" de fora da Europa. Mas os "primitivos" da Europa - camponeses e artesãos - também precisavam ser conhecidos, apreendidos e dominados. A palavra folclore surgiu, assim, para estudar os costumes e os valores dos povos que, dentro da lógica antropológica, eram cidadãos de segunda categoria. O sentido era tirar deles o que tinham e usá-los como instrumento de apropriação e dominação. Então, essa palavra traz consigo a característica de tomar o outro como desigual. No Brasil, os estudos de folclore começaram a ser realizados no início do século 20, e nossos intelectuais da época usaram isso como instrumento para estudar "os outros" - o estranho, o de longe, o da roça, o negro, o do meio do mato, o analfabeto. Todo esse ranço de discriminação infelizmente está aí até hoje.
O que ocorreu um pouco na contramão disso foi o movimento modernista de 1922. Ele propunha romper com a cultura européia e pensar na brasileira, partindo dos brasileiros, sem depender do controle externo. Além do desenvolvimento da pintura, da gravura e da música, a Semana de Arte Moderna também mostrou esse mergulho de procurar nas raízes da cultura brasileira o seu valor. Não mais no sentido do olhar sobre os desqualificados, mas buscando valores que pudessem se afirmar como uma nacionalidade brasileira. Esse movimento abriu perspectivas de estudos mais sistemáticos sobre cultura popular, que redundou em trabalhos como o de Luis da Câmara Cascudo, autor, entre outras obras, do Dicionário do Folclore Brasileiro, 1954 (Global Editora, 774 págs., 98 reais, tel. (11) 3277-7999), que já tem um sentido muito mais ligado à aprendizagem. A ideia desses folcloristas não era dominar, mas ainda trabalhavam sob a perspectiva do exótico, do diferente. Hoje já se pode dizer que há menos preconceito, mas infelizmente ele ainda existe. E as escolas continuam repetindo esse padrão.

Como podemos definir hoje o que é folclore?
 
TIÃO O que chamamos de folclore é a cultura popular tradicional, que se mantém pela tradição. As pessoas aprendem no fazer, dando resposta às suas necessidades. Imagine que um indivíduo teve uma necessidade de qualquer natureza: ele estava com fome, pegou uma fruta e comeu. Ele pôs na boca, porque achou que aquilo ia matar a sua fome. Com isso, descobriu muitas coisas: que tinha sabor, que era prazeroso, etc. Ou então que matava a fome, mas que dava dor de barriga. É ação e reação imediata. A partir de uma necessidade, ele precisa de uma resposta. Se essa resposta funcionou uma, duas, três vezes, você passa a usá-la. Isso chama-se uso. 'Eu uso isso quando tenho tal dor', por exemplo. Esse uso individual e rotineiro vai se constituir em um hábito. Quando isso sai do âmbito individual e vai para a coletividade da família, do grupo, esse hábito vira costume, porque deixou de ser uma resposta individual para ser do coletivo. As pessoas sabem que comer tal coisa funciona ou não, e repassam isso. Com o tempo, essas coisas vão sendo passadas e incorporadas e assim viram tradição. E a tradição não é algo do passado, é contemporânea, é o que você vê hoje, o que chegou aos dias atuais.

De que forma a escola pode trabalhar as culturas populares?
 
TIÃO Todos os meninos brasileiros poderiam encontrar na escola um espaço para levar, discutir e trocar a cultura apreendida em casa, na rua e no bairro. Trabalhar com as tradições que ainda se mantêm. Pode ser na avenida Paulista, na favela, no Morumbi ou no campo, no centro ou na periferia. O que as pessoas daquela rua, daquele prédio têm de tradições? Veríamos muitas coisas: regras, cantigas de ninar, provérbios, pensamentos, linguagem oral. E é isso que os meninos carregam consigo quando chegam à escola, essa cultura caseira - em qualquer família, não importa o nível econômico. Isso deveria ser usado para facilitar a entrada na escolaridade. As histórias que ouviram da avó, da mãe, as cantigas de ninar, os ritos de passagem - como a família comemora aniversários, casamentos, batizados -, os brinquedos, as brincadeiras. Conhecer tudo isso é melhor do que aprender sobre Saci - algo que para a maioria é um negócio quase extra-terrestre.

O trabalho estereotipado com mitos e lendas (como a do Saci, da Iara e do Curupira) tornou-se praticamente o único a ser realizado nas escolas. De onde vem essa tradição e por que ela é prejudicial?
 
TIÃO O modelo seletivo e discriminatório do início do século sobre a cultura popular continua a vigorar e se relaciona com as várias formas de preconceito existentes. Isso entra na escola porque nós vivemos numa sociedade bipolar, dicotômica: são os superiores e os inferiores, o branco e o negro, o homem da cidade e o da roça, o do centro e o da periferia. Essa dicotomia se reproduz na vida e também nos padrões de ensino. Mitos como o do Saci e do Curupira passaram pela "folclorização" da cultura popular, o que em si já é uma grande discussão. Transformaram-se, nessa abordagem, em uma coisa descontextualizada, que ficou presa num passado remoto e, em geral, acaba nem tendo sentido na atualidade. O problema é a cultura popular se resumir a emblemas que estarão presentes e serão comemorados apenas eventualmente na escola. É a mesma coisa que se fez com o índio, com o meio ambiente, com o dia da árvore: durante todo o resto do ano, esses temas não interessam. Isso transforma a cultura popular em um produto, algo sem sentido, desconectado de qualquer lógica que sobreviva por si. Infelizmente, o que a nossa escola vem fazendo com a cultura popular é um desperdício. Ela não tem coragem de colocar isso na sua atividade básica, não se propõe a aprender a cultura das pessoas.

É importante a escola trabalhar outras culturas populares, que não a da comunidade em que está inserida?
TIÃO Eu acho que é importante, desde que ela comece pela cultura de seu aluno. Se ela começa com aquilo que o aluno traz, fica mais fácil para ele entender todas as outras, do ponto de vista da diversidade cultural. A criança só pode entender a diversidade se ela se sente parte disso. Caso contrário, será sempre o outro, o diverso, que cai na perspectiva do exótico. O que é diferente costuma ser complicado, porque não figura como igual. Se as crianças perceberem que elas jogam amarelinha de um jeito em seus contextos, e que a brincadeira se faz de outra forma no bairro vizinho, elas passam a encarar as duas formas de brincar como semelhantes.

Qual a relação das culturas populares com a formação da identidade da criança e com a constituição de uma identidade nacional?
 
TIÃO As crianças precisam passar por um processo de apropriação coerente com a sua idade, o seu ritmo e seu contexto. Não faz muito sentido nem acelerar esse processo nem pular etapas. A criança não vai se sentir brasileira antes de reconhecer a sua família. Não adianta falar de outro mundo se ela não conseguir perceber a sua rua, o seu bairro, a sua pequena comunidade - aquilo que é visível, palpável, o que ela toca. Depois disso é que ela começa a perceber que consegue participar de outras coisas e vai se sentir brasileiro. A meu ver, esse é o processo para que ela se sinta cidadã do mundo. A escola tem que conversar com o mundo, mas não adianta querer falar da China só porque está na onda, é o país do futuro. Falar da China vem depois de se falar da gente.
 
Quando se pensa em folclore, é comum associar suas expressões à cultura oral. Isso dá margem a pensar que cultura popular e escrita são incompatíveis. Essa ideia tem fundamento?
 

TIÃO Isso tem a ver com as origens da cultura popular tradicional. Se o povo que era detentor da cultura não tinha acesso à escrita - linguagem que era própria das classes abastadas - ele era ágrafo. A oralidade tem sido o maior instrumento de manutenção, de manifestação e de preservação da cultura popular. Portanto, ela é muito mais vulnerável e a tendência é ela se perder porque não se cristaliza no registro, no documento escrito, sistematizado. Mas o fato de as pessoas passarem a dominar esses códigos e produzir registros escritos não significa que elas foram perdendo a sua tradição.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Arte desenhada


Roberta Caulo

Aulas que rendem belos trabalhos e lindas obras é o que pode ser visto no Centro de Cultura Estação das Artes, em Barra Mansa. A 3ª Mostra do Ateliê Escola já está exposta no local e recebe visitas até o dia 11 de abril. Composta por 45 desenhos produzidos pela turma de 2010, no período de oito meses, a mostra apresenta referência nas obras dos grandes mestres da pintura, na observação da paisagem natural e na prática de exercícios com natureza morta, as pinturas prometem encantar.
Segundo Paloma Rodrigues, estagiária do Centro de Cultura, os trabalhos são feitos em carvão sobre papel, uma técnica simples, mas que rende belos resultados. A técnica de desenho com carvão é proposital para que os alunos não se desviem dos objetivos do curso. Mais de 15 alunos estão com seus trabalhos expostos na Estação. A mostra é do coordenador e professor do Ateliê Escola, Francis Marques e seus alunos. Segundo o coordenador, o objetivo do curso é criar um núcleo de formação artística em Barra Mansa, além de contribuir para a formação de profissionais das áreas afins ao desenho pela explicitação da natureza dos meios plásticos da linha, do claro-escuro e da cor, do aspecto semântico da imagem e dos modos de composição artística.
- Contribuir junto ao público interessado, para ampliação da visão crítica das obras de Artes Visuais pelo esclarecimento dos fundamentos da produção da imagem artística e dar aberturas de possibilidades profissionais ao público em geral, incentivando as vocações artísticas locais são outros objetivos - explica Francis.
Segundo Marcos Marques, presidente do conselho gestor do PAC (Ponto de Ação Cultural), a exposição é em comemoração aos 32 anos do PAC e vem cumprir o objetivo de difundir e democratizar o acesso à cultura.
- O Ponto Cultural é a primeira casa de cultura estruturada pelo Governo do Estado no interior do Rio de Janeiro. Além do curso de desenho artístico, cursos de pintura e viola sertaneja também são dados por excelentes professores - lembra o presidente
Para Marcos, a exposição é o reflexo do bom trabalho produzido pelos alunos.

Conhecendo o curso

O Ponto de Ação Cultural (PAC) é uma casa de cultura localizada em Barra Mansa, que possui uma história de mais de 30 anos de resistência cultural no interior do estado do Rio de Janeiro. No início deste mês, o projeto comemorou 32 anos de existência como espaço cultural abrigado numa edificação característica da década de 50 do século passado. Vinculado na época à Secretaria Estadual de Educação e Cultura, o PAC foi criado para difundir as manifestações culturais locais/regionais.
Ao longo desses anos, vem cumprindo, apesar das dificuldades, a missão para o qual foi criado e amealhou um expressivo acervo de quadros (pinacoteca) doados pelos artistas que expuseram as obras de arte em sua galeria, bem como possui uma pequena biblioteca/hemeroteca especializada e uma sala de oficina de arte. Muitos barramansenses e cidadãos sul fluminenses que frequentaram as exposições, cursos e eventos nesse período, por certo têm marcantes lembranças e enriqueceram a sua formação humana, agregando valor à identidade cultural local e regional.
A sua sobrevivência deve-se à heróica resistência de bravos artistas, educadores, pessoas denodadas da comunidade, que trabalham voluntariamente pela sua revitalização. Um exemplo é o Curso de Desenho Artístico "Ateliê Escola", ministrado desde 2008, que conta hoje com um núcleo de pintura para formação de novos artistas e turmas de desenho básico para iniciação do estudo de artes.

Confira a programação de aniversário do PAC:

HOJE
19h - Abertura da exposição "Mulheres Artistas do PAC"
19h30 - Aula inaugural dos cursos de desenho artístico, pintura e viola sertaneja; palestra "De qual Cultura estamos falando", ministrada por Marcos Marques
20h30 - Confraternização e apresentação musical de Elias Viola e Os Sertanejos

Serviço

A 3ª Mostra do Ateliê Escola está no Centro de Cultura Estação das Artes, que funciona de segunda a domingo, das 10h às 18h, exceto feriados. Na Rua Orozimbo Ribeiro, s/nº, no Centro. Informações: (24) 3323-0496 begin_of_the_skype_highlighting              (24) 3323-0496      end_of_the_skype_highlighting. A mostra ficará na Estação das Artes até dia 11 de abril. Já o PAC - Ponto de Ação Cultural, fica na Rua Professor Pedro Vaz, nº 01, Centro, Barra Mansa. Informações: (24) 81468552 begin_of_the_skype_highlighting              (24) 81468552      end_of_the_skype_highlighting, pelo site http://www.pacrj.com ou no blog: www.pacrj.blogspot.com

ANA DE HOLLANDA O BBB-THANIA E SEU BLOG


A questão não está na só na Bethania ou em Ana, mas na Lei Rouanet que já nasce viciada e, portanto, beneficia a cultura de um sistema sem integridade, sem caráter, arrogante, além de desprezar a opinião da sociedade, porque corre nos corredores frios da zona do meretrício que é a máfia tributára o que está por trás de toda o extraordinário escândalo que é a Lei Rouanet. O problema é que esta lei criou uma linguagem própria, uma abrangência de si e tornou o incentivo a projetos culturais em componentes permanentes em substituição às políticas públicas de cultura sem paralelo no mundo cultural do planeta.
Nenhum dos dois, Bethania e MinC estão fora da lei que tem em sua ancestralidade a paternidade de Collor e que os economistas da cultura corporativa criaram um estilo próprio em todo o universo cultural brasileiro para que pudesse reduzir a pó todo o pensamento a partir dos seus desenhos e planos estratégicos.
A Lei Rouanet criou, além de muitos absurdos, uma nova relação de gueto e estrelato. Isso era considerado publicamente tolerável porque ela está a serviço do “berçário” dos novos gênios da cultura brasileira. A Lei Rouanet com sua lógica econômica, criou uma indústria de empregos temporários, ou seja, ficcionais com remuneração inflacionada, sobretudo para os produtores-captadores (hoje até com associação) a partir da indústria de projetos, o que tornou esta lei legendária para os corporatocratas e suas doutrinas neoliberais. O que não ajuda em nada neste momento a compreender esta questão é que no governo Lula, Gil e Juca trabalharam para derrubá-la e, agora, no MinC de Ana de Hollanda a veneta da ministra logo na primeira entrevista, antes mesmo de assumir a pasta, avisou de sua deslocação, usando os mesmos argumentos para travar as reformas da LDA para também travar as reformas da Lei Rouanet. E aí ela entrou no centro do roda-moinho com o episódio da Bethania.
Este é o problema, Ana está amarrada a esta questão e não há nada que a liberte deste suplício, pois ela se fez de pedra e mesa com sua onipotência para sustentar os benefícios dessa escandalosa lei. Então, transformou-se em um rolete de fumo. O que é na verdade R$1.800mil de Bethania perto do que arrecadou Jabor? Só com Eike Batista ele captou um valor cinco ou seis vezes maior que este, porque Jabor em entrevista manejou seu punho e sacudiu os ombros visivelmente se lixando para a opinião pública e dando uma resposta definitiva… “é mais ou menos pr aí, uns 12milhões” talvez mais (só do Eike), desdenhou Jabor. Tudo isso para expor um sopro de sua “genialidade” e sua bonita intenção de mostrar o que é viver de fato da “suprema felicidade” de uma lei.
Ana, na sua primeira entrevista, puxou a brasa para a sua sardinha e, sem gentileza ou amabilidade tentou fazer da primeira coletiva, sentada à mesa, um pano verde, dizendo-se convencida de que as reformas da LDA e da Rouanet tinham caido ali, pois ela tinha um royal street flash na manga contra as propostas de Juca Ferreira. Este é o toco trágico em torno da questão da Bethania. Ana blefou e, agora, vai pagar todas as contas daqui por diante.
O Itaú Cultural erguido na AV. Paulista, por exemplo, ensinou a muita gente como criar asas com os ingênuos recursos públicos vindos da Lei Rouanet. O Instituto Millenium usa e abusa de qualquer valor para fretar seus “intelectuais”, todos os recursos saídos do bolso do coitado do Zé Caipora que somos todos.
Todas aquelas beijocas que assistimos nas revistas de premiação de cinema com tapete vermelho e tudo nos coquetéis da Hollyood brasileira vem da pura covardia do planeta Rouanet a partir da meiguice de milhões extraídos do bolso da sociedade. A plebe aqui é quem paga as contas do ídolo heróico. E não adiantou a legião de revoltados que sistematicamente combatem a lei anos a fio porque a mídia dos Marinhos e Civitas têm suas fundações que passaram a existir a partir da Lei Rouanet que não foi feita pra beneficiar criaturas humanas.
Lembram-se do levante do Canecão feito pelos medalhões da Globo logo no começo da primeira gestão de Lula? Lembram-se de Cacá Diegues dando tapas na mesa e exigindo seus privilégios em frente ao Gushiken? O problema é que agora Ana de Hollanda colocou as suas impressões digitais contra as reformas que estavam sendo discutidas com a sociedade. E aí bastou vestígio do seu nome cada vez mais criticado por um rosário de questões para que a veneta da sociedade a colocasse no centro desse turbilhão, melhor dizendo, no centro do pilão para socar a sua imagem junto com a de Bethania. Este é o risco de uma coletiva fúnebre e caricatural que Ana de Hollanda deu com sua religiosa veneração ao Ecad e seus sutís medalhões, dando uma de adolescente deslumbrada, com ar sisudo e ideias anacrônicas.
Agora, com a língua amolada da sociedade, Ana virou picadinho de fumo junto com Bethania e acaba pagando a conta de uma lei imoral que já está aí há vinte anos e que fez a horta de muito marmanjo do show businnes comprar coberturas na delfim Moreira e cia.

Por:Carlos Henrique Machado

sexta-feira, 4 de março de 2011

De qual cultura estamos falando?

CULTURA & EDUCAÇÃO
                                                                     Marcos Marques *

                     “Cultura é a terra cultivada do espírito” (Francis Bacon)

            Na origem etimológica, Cultura veio de ‘cultum’, na qualidade de particípio do verbo latino ‘colere’, trabalho da terra;  culto indica o cuidado com a linguagem e mesmo com o corpo e a saúde.   Como substantivo, Cultura aplica-se tanto a quem cultiva o conjunto dos conhecimentos quanto àqueles rituais que conservam a memória dos antepassados, de um acontecimento histórico relevante ou de uma narrativa de natureza sobrenatural e religiosa.   Analogicamente temos Cultura das Letras, das Ciências, das Belas Artes.   Segundo o entendimento semântico da palavra, Cultura trata da ação de cuidar não da terra mas do espírito, dos conhecimentos, da sensibilidade estética ou da memória de um fato importante.   No sentido intelectual, é um germanismo oriundo de ‘kultur’ (Ratzel traduzia ‘kultur’ como um conjunto de disponibilidades mentais de um Povo para uma época); os norte-americanos tiveram ‘culture’ do alemão ‘kultur’; no Brasil não tivemos o vocábulo na acepção presente vindo de nenhum país latino e sim recebemo-lo dos norte-americanos como forma inicial e poderosa da influência intelectual deles na América do Sul.
            O que vemos hoje, sendo colocado de forma temerária por alguns arrivistas e governantes populistas, é uma visão da Cultura limitada a algumas expressões artísticas e ao entretenimento de massa, numa manipulação mercadológica / consumista geralmente de viés alienígena, gerando modismos superficiais e imbecilizantes, ou então como estratégia de alcance eleitoreiro, sem nenhuma preocupação ou esforço de transformação socioambiental e de fortalecimento da identidade cultural de nosso Povo.    Entretanto a Cultura tem uma abrangência bem mais ampla e nobre, e não pode ser vista nem tratada de forma restritiva, isolada e dissociada, principalmente, da Educação.   Para consubstanciar este posicionamento, vamos buscar amparo nos conceitos consolidados e nos pensamentos de proeminentes educadores e intelectuais sobre a Cultura.
            No século XVIII, Kant escreveu que “somos cultivados até um alto nível pelas Artes & Ciências, somos civilizados para exercer todos os tipos de decoro e conveniências sociais”.   Do entendimento oferecido pela antropologia do século XIX, o mais antigo é possivelmente o de Tylor (1871), quando a Cultura é considerada “o complexo total de conhecimentos, crenças, artes, moral, leis, costumes e quaisquer outras aptidões e hábitos adquiridos pelo Homem como membro da Sociedade”.   Já Herskovits é mais conciso e a define “como a parte do ambiente que é feita pelo Homem”.   Mais recentemente Ashley Montagu disse, em resumo, que a Cultura “é o modo de vida de um Povo, o ambiente que um grupo de Seres Humanos, ocupando um território comum, criou em forma de idéias, instituições, linguagem, instrumentos, serviços e sentimentos”.
            No livro ‘Civilização & Cultura’ publicado em 1973, Câmara Cascudo disserta que a Cultura “compreende o patrimônio tradicional de normas, doutrinas, hábitos, acumulo do material herdado e acrescido pelas aportações inventivas de cada geração;  ela é sempre uma formula de produção”.   Cascudo reuniu resultados de pesquisa sistematizados acerca das constantes etnográficas, discutidos enquanto professor de Etnografia Geral da Faculdade de Filosofia da UFRN, no período de 1955 a 1963;  defende que não há Culturas inferiores e nem superiores, há sempre Culturas, reuniões de técnicas suficientes para a vivência grupal;  considera a Cultura erudita e a popular como complementares e acredita que a legitimidade das crenças tradicionais encontra-se no Povo, que expressa esse saber autenticamente;  o Folclore, para ele um fenômeno sociocultural, tem a função de um cimento fundamental e antropológico, a partir do qual emergem os padrões maiores da História e da Cultura de um Povo.
            Subtende-se que só o Ser Humano é portador de Cultura, e por isso mesmo somente ele a cria, a possui, a transmite;  ela acompanha a marcha da Humanidade, está ligada a vida do Homem desde o ser mais antigo.   A Cultura se aperfeiçoa, se desenvolve, se modifica continuamente, nem sempre de maneira perceptível aos do próprio grupo;  é justamente isso que contribui para seu enriquecimento constante, através das novas criações da própria Sociedade e ainda do que é adquirido de outros grupos.   É influenciada pela língua, com suas variantes dialetais ou prosódicas, pelos comportamentos sociais ou hábitos cotidianos mais evidentes e por aquelas criações artísticas ou artesanais populares que se tornaram marcantes de um Grupo, de uma Comunidade, de um Povo ou de Populações, mesmo as que convivem em Estados políticos diferentes.   Sob tal ponto de vista, a Cultura é aquilo que atribui um caráter, uma espécie de essência espiritual;  por distinguir, identifica e transmite um sentimento de mútuo pertencimento étnico ou nacional.   Daí também a idéia de que a mudança ou um movimento real de transformação venha corroer ou descaracterizar os traços mais salientes desse caráter, pondo em risco uma identidade já constituída.
            Segundo Santiago Dantas, a Cultura “é o acervo dos controles tecnológicos e morais da Sociedade”, ou seja, as Sociedades subjugam o meio físico logrando dar respostas aos problemas com que se depara e, ao mesmo tempo, adquirindo o conhecimento do próprio Homem, penetram seu interior e revelam normas para disciplinar e orientar subjetivamente a vida individual e comunitária mantém sua estrutura e conseguem governar o emprego dos meios de domínio da natureza.   A perda da eficácia de qualquer desses controles é a causa imediata da decadência de uma Civilização ou de um Grupo Social;  nossos tempos são tempos de crise porque as Sociedades não conseguem manter nível adequado à sua capacidade de exercer, de modo eficaz, as técnicas de controle tecnológicos e morais.
            Em seu artigo ‘A força construtiva de uma Nação’, Paulo Roberto Direito afirma que “fazer Cultura é aumentar os espaços para a humanização das Sociedades, permitindo que a manifestação cultural seja a expressão da liberdade da Pessoa, sem o que será impossível crescer qualitativamente”;  continua dizendo que “somos Nação porque vivemos a Cultura que produzimos, não apenas produtos de talentos e da vocação de muitos, mas sim pela criação do dia-a-dia de cada Cidadão, associado na criação de hábitos, costumes e transformação da natureza, qualidade que pertence ao Homem comum, a todos nós, quantas vezes aflitos passageiros do tempo que sempre queremos melhor que os de antanho”.
            No universo latino, isto nos leva à ‘excolere animum’ (cultura da alma) e à ‘humanitas’, ou seja, à educação e à formação do Homem, na qual se incluem, simultaneamente, o domínio de si (autoconhecimento), a compreensão da natureza, o exercício moral e a participação na vida pública.   A acepção clássica de Cultura vincula a vida coletiva à vida privada, ou seja, procura estabelecer um sentido entre a sociedade e o indivíduo.   A Cultura constitui-se fenômeno integral de uma coletividade;  trata-se de um patrimônio ao mesmo tempo material e intelectual, compartilhado e relativamente estável, composto de linguagem, forma de comportamento e de pensamento que atribuem sentido às relações humanas ou divinas, símbolos representativos, técnicas empregadas e objetos produzidos.   Queira ou não, tenha-se ou não consciência disso, o Homem se manifesta como ser cultural.   Isto significa que a Cultura abrange as relações sociais e os modos de vida material e simbólico de uma Sociedade, incluindo características e valores econômicos, técnicos, criações artísticas, comportamentos éticos-morais, crenças, formas educativas e estruturas políticas.
            Assim, todo o arcabouço conceitual e reflexivo exposto anteriormente está condensado e representado na Constituição da República Federativa do Brasil (a Constituição Cidadã de 1988), demonstrando a importância cultural da Lei Maior que todos nós temos a obrigação de conhecer, respeitar e cumprir, em especial o Título VIII, Capítulo III, Seção II – Da CULTURA, cujo artigo 216 diz que
            “Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial...portadores de referência à identidade, à ação, `a memória dos diferentes grupos formadores da Sociedade Brasileira, nos quais se incluem: I ) as formas de expressão;  II ) os modos de criar, fazer e viver;  III ) as criações científicas, artísticas e tecnológicas;  IV ) as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;  V ) os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.”    
O seu parágrafo 1º complementa e ordena que
            “O Poder Público, com a colaboração da Comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.”
            Para se ter uma idéia da relevância das Constituições Federal / Estadual e das Leis Orgânicas Municipais, o primeiro ato do Presidente da República, dos Governadores dos Estados e dos Prefeitos Municipais – ao tomarem posse diante do Poder Judiciário e da Sociedade – é fazer o juramento de respeito e cumprimento das Leis, sob o risco de perderem os seus mandatos caso as desobedeçam.    Como Cidadãos precisamos, em primeiro lugar, dominar os deveres e direitos legais, para então cobrar as responsabilidades dos governantes eleitos para tal.   Esta é a Cultura do Estado Democrático de Direito que vivemos e temos de fazer valer.
            No Ponto de Ação Cultural = PAC, é neste panorama amplo que orientamos e pautamos a teoria e a prática dos assuntos culturais, e difundimos na Comunidade.   Há tempos atrás defendíamos a Educação como prioridade principal, mas atualmente, com o aprofundamento e envolvimento no seio cultural, passamos a promover a CULTURA do nosso Povo Brasileiro (e em particular a do Povo da Bacia do Paraíba), é claro que associada intrinsecamente à Educação (e sobre isto trataremos oportunamente no próximo artigo), como carro-chefe de qualquer proposta de política pública a ser apresentada.   E por falar nisto, encerro lembrando que seria conveniente os Planos Estadual e Municipal de Cultura, que em 2011 estarão na ordem do dia para serem elaborados / aprovados pelos Governantes e a Sociedade organizada, observassem o entendimento abrangente, integrador e propulsor da Cultura.             * Professor da UFF / EEIMVR; Poeta; Presidente da APACRJ.

Bibliografia: Câmara Cascudo, Luís da.  Civilização & Cultura – Global Editora, SP/2004;  Cunha, Newton.  Cultura e Ação Cultural – Edições SESC/SP;  Revista ‘O Prelo’ – Ano IV nº 13, Janeiro – Fevereiro 2007;  Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.