GERALDO DO NORTE
O Poeta Matuto
Geraldo do Norte, vivendo hoje em Suruí (RJ), é uma viva representação da diversidade cultural do Rio de Janeiro. Nascido em Parelhas, sertão do Rio Grande do Norte, Geraldo produz e reproduz em solo carioca a mais legítima poesia dos bardos nordestinos revivendo em seus poemas a saga de um povo que extrai da terra – sua mais recorrente fonte de inspiração – a matéria lírica e a essência sertaneja que projetaram em todo o território nacional nomes como Patativa do Assaré, Zé Limeira e Cego Aderaldo.
A par de cativante talento para contar seus "causos" e versos, a verve do matuto pode ser apreciada pela espontaneidade que flui, perene como as águas de seu Seridó, "onde várzeas eram pomares / o leito tinha lugares / que dava o que se plantasse".
Alerte-se, no entanto, para que tal espontaneidade não seja confundida com falta de acuidade técnica, posto que, se preciso, o "véio" Matuto capricha em sextilhas ou septilhas, dispondo rimas alternadas, emparelhadas ou interpoladas, no mesmo rigor dos 'bilacs "parnasianos. Ou, para se respeitar a geografia sentimental, na mesma métrica do Mestre Patativa.
Apresentando-se sempre com indumentária do sertanejo, Geraldo "fala" seus textos com tanta sinceridade, com tamanha ligação entre o homem e a obra, que chamá-lo de intérprete ou de ator, seria vê-lo como uma contração. O verso chistoso e a palavra-chicote passeiam do riso franco ao açoite das consciências adestradas. Íntegro, homem e arte se completam, amalgamam-se o rude matuto e o sensível versador. "Cavalheiro cavalo" é como o matuto de Parelhas se autodefine num rojão de sua autoria, gravado por Nandinho do Pandeiro".
Os primeiros poemas de Geraldo podem ser encontrados no seu CD "Diário de um Poeta Matuto" produzido por Adelzon Alves, cujas prensagens, vendidas de mão a mão, num árduo trabalho de produção independente, esgotaram-se rapidamente em 12 meses, uma verdadeira façanha para quem não dispunha de publicidade e nem divulgação. Seu segundo trabalho em CD ,"Diploma de Nordestino", com a mesma produção do insuperável Adelzon, lançado no início de dezembro de 2000, já aparece sob o signo do sucesso, até onde um independente, debaixo de todos os percalços, pode assim ser considerado. Além dos poemas gerados da boa cepa nordestina, o bardo de Suruí reverencia uma lenda da poesia gaúcha, o velho pajeador Jayme Caetano Braun, reproduzindo dois poemas do vate dos pampas e homenageando-o com um definitivo "Tributo a Jayme Caetano Braun".
Batendo uma bola na área literária, Geraldo tem dois livros a caminho, já em trabalhos de revisão: "Brigando com a vida" é o título do primeiro; o segundo, "Sua Excelência, o matador". Ambos, embora no terreno ficcional, são baseados em "causos" e fatos ouvidos nas andanças.
No segmento musical, Geraldo foi vencedor do II Festival de Favelas do Rio de Janeiro e tem músicas gravadas com Jorge Costa, Eliezer Setton (grande atração nos meios artísticos de Alagoas), Nandinho do Pandeiro, Agepê, José Fábio, João Mossoró e outros.
Seus três CDs, os dois já citados e mais o terceiro, "Alma de Vaqueiro", lançado em maio de 2003, compõem um verdadeiro inventário da alma deste poeta matuto que em 2009, quando comemorará 50 anos de idade, estará lançando seu esperado quarto CD, acompanhado de livro e DVD.
Visite também: www.opoetamatuto.com.br
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terça-feira, 31 de maio de 2011
domingo, 29 de maio de 2011
Senhora das noites
Rosa Minine
Veterana nas noites cariocas, a cantora Áurea Martins, aos 70 anos de idade, está em pleno lançamento de seu terceiro cd, pela gravadora Biscoito Fino. Com uma voz rouca que encanta e uma postura que angariou muitos amigos, Áurea é considerada por artistas como Cristina Buarque, Aldir Blanc e Hermínio Bello De Carvalho, uma das mais importantes cantoras do Brasil. Apaixonada pelo samba canção, além da carreira solo, é uma das componentes da Orquestra Lunar, composta só por mulheres.
— Comecei minha carreira em 1962 com meus tios músicos. Um era clarinetista e saxofonista e o outro sax barítono. Minha avó tocava banjo. A princípio, eu fazia bailes no subúrbio. Depois, passei pela Rádio Nacional, cantando no programa do Paulo Gracindo, juntamente com muita gente importante, que na época estava só começando, entre elas a Elis Regina — conta Áurea.
— Fui afilhada do Paulo Gracindo, com quem tive uma afinidade muito grande. Inclusive foi ele e também o Mário Lago que me deram esse nome de Áurea. Na verdade, meu nome é Aldma, mas eles falaram que era muito difícil (risos) — comenta.
— Em 1969, venci um dos festivais de música brasileira, comuns naquele tempo. Uma pessoa me viu em um baile no subúrbio e pediu para me inscrever. Por ter a voz rouca, não acreditaram muito em mim lá, mas isso foi bom porque gosto de desafio. Quando chegou na hora, ganhei o primeiro lugar, sendo eleita por unanimidade. E olha que o júri não era qualquer coisa — diz com prazer.
Entre outros, fizeram parte do júri a atriz, cantora e diretora Bibi Ferreira, a cantora e compositora Maysa, o maestro Guerra Peixe, e o jornalista e escritor Austregésilo de Ataíde. O prêmio foi uma viagem a Portugal e a gravação de um disco, o primeiro de Áurea.
— Ficou lindo. Mas muita gente não sabe de nada disso, porque não deixam saber. É uma mídia massacrante, jogando o que quer para cima do povo e não tomando nem conhecimento das coisas de valor que os artistas fazem. Mas é até bom saber que não caímos no gosto dessa gentalha que trabalha contra o povo. Em compensação, têm uns poucos que reconhecem e valorizam nosso trabalho, como este jornal, o Alfredinho do Bip Bip, o Hermínio Bello, a Cristina Buarque — elogia.
Por conta dos cachês incertos, Áurea precisou trabalhar durante o dia, e acabou entrando para o serviço público. Foi inspetora de classe no colégio estadual André Maurois, que tinha como diretora Henriette Amado, esposa de Gilson Amado, fundador da TV Educativa.
— Quando os alunos se organizaram para promover um festival da canção na escola, me pediram para cantar, e assim, mesmo em outro serviço, eu cantava. Dona Henriette também costumava me chamar em sua sala para me ouvir cantar, em pleno expediente. Mas era época do regime militar e a escola era muito visada, por ser diferente. Então, tiraram dona Henriette e colocaram um general lá no lugar dela. E eu fui embora — diz.
Áurea presenciou o momento em que dona Henriette foi retirada do estabelecimento pelos militares. Traumatizada, não voltou nem sequer para dar baixa em sua carteira. Decidiu que, mesmo com muitas dificuldades, sobreviveria somente com os cachês.
Lutando pelo que gosta
— Foi nas noites que me senti mais à vontade, e consegui somar um público e fazer muitos amigos. A atriz Laura Cardoso, por exemplo, é uma que sempre ia me ouvir cantar. Consegui angariar amizade de uma atriz, uma dama do teatro, não tem preço. Certa vez, inclusive, fui assistir a uma peça sua e ela me homenageou quando acabou. Fiquei emocionada com o carinho — conta com alegria.
— Também ganhei a admiração de gente como Cacá Diegues e Zelito Viana. E minha vida até virou um filme, feito pelo Zeca Ferreira, filho da Cristina Buarque, que já ganhou muitos prêmios por onde passou. Recentemente, esteve em Portugal e em Marrocos — fala.
— É um curta que fala do meu trabalho nas noites. Em quinze minutos, o Zeca contou a minha vida, com uma sensibilidade incrível. Sou de Campo Grande, zona Oeste do Rio, bem afastado do centro, e ia para o Rio de Janeiro inteiro cantar nas noites. Depois, vim para a zona sul, mas morava de vaga, uma situação difícil, até chegar onde estou hoje — acrescenta.
Entre os bares que Áurea trabalhou, está o Carioca da Gema, que ajudou a inaugurar.
— Foram as melhores boates da zona sul que inaugurei, como Antonino e a 77706, famosa casa da década de setenta, umas das primeiras de samba autêntico no Rio de Janeiro. Trabalhava ao lado de Leila Rocha e Ângela Suarez, que é uma grande compositora de samba, parceira de Paulo César Pinheiro — diz.
— Canto música popular brasileira, geralmente samba canção, que amo. Mas não me considero uma sambista, porque canto outros gêneros também. Em meus discos tem samba canção do Elton Medeiros, Nelson Sargento, Dona Ivone, Milton Nascimento, João de Aquino, Dorival Caymmi. Era o que cantava nas noites. Inclusive não cantava nada que não gostasse. Quando alguém pedia, eu falava que não sabia a música e enrolava (risos). Ah, se eu não impuser meu trabalho, ninguém entenderá a minha mensagem — expõe.
Atualmente, Áurea não está mais se apresentando em bares nas noites. Veterana, se dá ao luxo de somente fazer shows.
— Estou circulando com o show do meu disco atual, lançado em dezembro, só com músicas do Hermínio Bello de Carvalho. Recentemente, me apresentei na sala Baden Powell e em Paquetá. E, durante todas as terças-feiras de maio, estarei no Rio Scenarium Bar, a partir das sete da noite. O negocio é não ficar parada — fala Áurea, que tem 1 vinil e 3 cds gravados e está preparando um dvd que deverá sair em breve.
Além da carreira solo, ela participa do grupo Orquestra Lunar, uma orquestra só de mulheres, fazendo voz. Para contatar Áurea: 2556-1029.
Veterana nas noites cariocas, a cantora Áurea Martins, aos 70 anos de idade, está em pleno lançamento de seu terceiro cd, pela gravadora Biscoito Fino. Com uma voz rouca que encanta e uma postura que angariou muitos amigos, Áurea é considerada por artistas como Cristina Buarque, Aldir Blanc e Hermínio Bello De Carvalho, uma das mais importantes cantoras do Brasil. Apaixonada pelo samba canção, além da carreira solo, é uma das componentes da Orquestra Lunar, composta só por mulheres.
— Comecei minha carreira em 1962 com meus tios músicos. Um era clarinetista e saxofonista e o outro sax barítono. Minha avó tocava banjo. A princípio, eu fazia bailes no subúrbio. Depois, passei pela Rádio Nacional, cantando no programa do Paulo Gracindo, juntamente com muita gente importante, que na época estava só começando, entre elas a Elis Regina — conta Áurea.
— Fui afilhada do Paulo Gracindo, com quem tive uma afinidade muito grande. Inclusive foi ele e também o Mário Lago que me deram esse nome de Áurea. Na verdade, meu nome é Aldma, mas eles falaram que era muito difícil (risos) — comenta.
— Em 1969, venci um dos festivais de música brasileira, comuns naquele tempo. Uma pessoa me viu em um baile no subúrbio e pediu para me inscrever. Por ter a voz rouca, não acreditaram muito em mim lá, mas isso foi bom porque gosto de desafio. Quando chegou na hora, ganhei o primeiro lugar, sendo eleita por unanimidade. E olha que o júri não era qualquer coisa — diz com prazer.
Entre outros, fizeram parte do júri a atriz, cantora e diretora Bibi Ferreira, a cantora e compositora Maysa, o maestro Guerra Peixe, e o jornalista e escritor Austregésilo de Ataíde. O prêmio foi uma viagem a Portugal e a gravação de um disco, o primeiro de Áurea.
— Ficou lindo. Mas muita gente não sabe de nada disso, porque não deixam saber. É uma mídia massacrante, jogando o que quer para cima do povo e não tomando nem conhecimento das coisas de valor que os artistas fazem. Mas é até bom saber que não caímos no gosto dessa gentalha que trabalha contra o povo. Em compensação, têm uns poucos que reconhecem e valorizam nosso trabalho, como este jornal, o Alfredinho do Bip Bip, o Hermínio Bello, a Cristina Buarque — elogia.
Por conta dos cachês incertos, Áurea precisou trabalhar durante o dia, e acabou entrando para o serviço público. Foi inspetora de classe no colégio estadual André Maurois, que tinha como diretora Henriette Amado, esposa de Gilson Amado, fundador da TV Educativa.
— Quando os alunos se organizaram para promover um festival da canção na escola, me pediram para cantar, e assim, mesmo em outro serviço, eu cantava. Dona Henriette também costumava me chamar em sua sala para me ouvir cantar, em pleno expediente. Mas era época do regime militar e a escola era muito visada, por ser diferente. Então, tiraram dona Henriette e colocaram um general lá no lugar dela. E eu fui embora — diz.
Áurea presenciou o momento em que dona Henriette foi retirada do estabelecimento pelos militares. Traumatizada, não voltou nem sequer para dar baixa em sua carteira. Decidiu que, mesmo com muitas dificuldades, sobreviveria somente com os cachês.
Lutando pelo que gosta
— Foi nas noites que me senti mais à vontade, e consegui somar um público e fazer muitos amigos. A atriz Laura Cardoso, por exemplo, é uma que sempre ia me ouvir cantar. Consegui angariar amizade de uma atriz, uma dama do teatro, não tem preço. Certa vez, inclusive, fui assistir a uma peça sua e ela me homenageou quando acabou. Fiquei emocionada com o carinho — conta com alegria.
— Também ganhei a admiração de gente como Cacá Diegues e Zelito Viana. E minha vida até virou um filme, feito pelo Zeca Ferreira, filho da Cristina Buarque, que já ganhou muitos prêmios por onde passou. Recentemente, esteve em Portugal e em Marrocos — fala.
— É um curta que fala do meu trabalho nas noites. Em quinze minutos, o Zeca contou a minha vida, com uma sensibilidade incrível. Sou de Campo Grande, zona Oeste do Rio, bem afastado do centro, e ia para o Rio de Janeiro inteiro cantar nas noites. Depois, vim para a zona sul, mas morava de vaga, uma situação difícil, até chegar onde estou hoje — acrescenta.
Entre os bares que Áurea trabalhou, está o Carioca da Gema, que ajudou a inaugurar.
— Foram as melhores boates da zona sul que inaugurei, como Antonino e a 77706, famosa casa da década de setenta, umas das primeiras de samba autêntico no Rio de Janeiro. Trabalhava ao lado de Leila Rocha e Ângela Suarez, que é uma grande compositora de samba, parceira de Paulo César Pinheiro — diz.
— Canto música popular brasileira, geralmente samba canção, que amo. Mas não me considero uma sambista, porque canto outros gêneros também. Em meus discos tem samba canção do Elton Medeiros, Nelson Sargento, Dona Ivone, Milton Nascimento, João de Aquino, Dorival Caymmi. Era o que cantava nas noites. Inclusive não cantava nada que não gostasse. Quando alguém pedia, eu falava que não sabia a música e enrolava (risos). Ah, se eu não impuser meu trabalho, ninguém entenderá a minha mensagem — expõe.
Atualmente, Áurea não está mais se apresentando em bares nas noites. Veterana, se dá ao luxo de somente fazer shows.
— Estou circulando com o show do meu disco atual, lançado em dezembro, só com músicas do Hermínio Bello de Carvalho. Recentemente, me apresentei na sala Baden Powell e em Paquetá. E, durante todas as terças-feiras de maio, estarei no Rio Scenarium Bar, a partir das sete da noite. O negocio é não ficar parada — fala Áurea, que tem 1 vinil e 3 cds gravados e está preparando um dvd que deverá sair em breve.
Além da carreira solo, ela participa do grupo Orquestra Lunar, uma orquestra só de mulheres, fazendo voz. Para contatar Áurea: 2556-1029.
RECOMENDAMOS
Cineasta Silvio Tendler lança o livro “Quatro baianos porretas”
Por Gabriela Moncau
Castro Alves, Milton Santos, Glauber Rocha e Carlos Marighella. Um poeta, um cientista, um cineasta e um guerrilheiro. Existe conexão entre esses importantes nomes da história brasileira, além de terem a Bahia como estado natal? Silvio Tendler, um dos grandes documentaristas do país que lançou recentemente “Utopia e Barbárie” (2010) acredita que sim. Conhecido como “o cineasta dos sonhos interrompidos”, dentre a sua extensa produção cinematográfica de cerca de 40 filmes entre curtas, médias e longas-metragens, Tendler dirigiu em diferentes momentos documentários que retratam a vida desses quatro baianos ilustres, ou porretas, como os caracteriza o próprio cineasta: “Castro Alves: o retrato falado do poeta” (1999), “Marighella: retrato falado do guerrilheiro” (2000), “Glauber, o filme: labirinto do Brasil” (2003), “Encontro com Milton Santos: o mundo global visto do lado de cá” (2007).
Não por acaso, agora o diretor está lançando um livro reunindo os roteiros integrais desses quatro filmes: “A matriz é Castro Alves. Glauber, Milton e Marighella eram castroalvistas. Todos admiradores do poeta, seus versos românticos e a verve revolucionária. Cada um deles foi Castro Alves, seja no cinema, na política ou na geografia, todos geniais”, explica Tendler. O livro, “Quatro baianos porretas”, está sendo lançado pela Editora Garamond e Editora PUC-RIO, junto com os quatro DVDs.
Castro Alves salta do século XIX em reconstrução documental. Pela ausência de imagens, Tendler lhe deu vida em um manifesto. Em “Marighella”, é a força libertária resistindo aos anos de chumbo que nos chama a refletir. Entre a realidade e o universo onírico, Glauber Rocha impôs aos brasileiros que era a hora e a vez do Terceiro Mundo. Este é o mesmo pensar de “Encontro com Milton Santos”. No momento em que o mundo aclamava a globalização neoliberal, Santos não se opôs pela negação, mas pela elaboração crítica sob os olhos de um mundo de exclusão.
O cineasta revela que na publicação do roteiro desses filmes vai um bom pedaço de sua vida, seus sonhos. “Eles representam o que sinto de uma vida revolucionária no mais amplo sentido do termo, seja no território de ação como a arte, a política ou a ciência e também nas atitudes de vida que os quatro sempre tiveram”, relata.
Ao final do livro, em uma longa entrevista que Tendler concede a Miguel Pereira, quando questionado a respeito do compromisso político do documentarista, diz que não é algo que ele obrigatoriamente tem que ter, mas que no seu trabalho não consegue ver a arte dissociada da política. “Gosto de interferir no mundo em que vivo. Contando histórias, formo consciências e como cineasta exerço minha cidadania. Meus modelos são artistas militantes, Boal e Thiago de Mello, por exemplo. Meu cinema é assim”, salienta para a Caros Amigos. Lembra também do conceito de “câmera militante” do documentarista Carlos Pronzato, “viajante solitário munido de uma pequena câmera, viaja buscando histórias como um navegador que vai desbravando territórios até então desconhecidos. Revelador no mais amplo sentido do termo, Pronzato é um companheiro da utopia”, conta.
No prefácio do livro, Orlando Senna brinca que muitas das ideias audiovisuais de Tendler ficam um tempo em maturação e quando menos se espera são lançadas, como julga ter acontecido com “Utopia e Barbárie”. Cita que um dos projetos que está em planejamento é o “Santiago de las Américas”, a respeito do cineasta cubano Santiago Álvarez. Se será seu próximo filme, no entanto, permaneceremos na curiosidade apesar de Silvio Tendler ter afirmado que pretende terminar o filme logo, “sem dúvidas”, mas faz uma confissão ao não elencar quais serão os próximos projetos: “Atualmente são tantos que me recuso a nomear todos para não correr o risco de ser chamado de mentiroso. Sonhador, sim”.
Por Gabriela Moncau
Castro Alves, Milton Santos, Glauber Rocha e Carlos Marighella. Um poeta, um cientista, um cineasta e um guerrilheiro. Existe conexão entre esses importantes nomes da história brasileira, além de terem a Bahia como estado natal? Silvio Tendler, um dos grandes documentaristas do país que lançou recentemente “Utopia e Barbárie” (2010) acredita que sim. Conhecido como “o cineasta dos sonhos interrompidos”, dentre a sua extensa produção cinematográfica de cerca de 40 filmes entre curtas, médias e longas-metragens, Tendler dirigiu em diferentes momentos documentários que retratam a vida desses quatro baianos ilustres, ou porretas, como os caracteriza o próprio cineasta: “Castro Alves: o retrato falado do poeta” (1999), “Marighella: retrato falado do guerrilheiro” (2000), “Glauber, o filme: labirinto do Brasil” (2003), “Encontro com Milton Santos: o mundo global visto do lado de cá” (2007).
Não por acaso, agora o diretor está lançando um livro reunindo os roteiros integrais desses quatro filmes: “A matriz é Castro Alves. Glauber, Milton e Marighella eram castroalvistas. Todos admiradores do poeta, seus versos românticos e a verve revolucionária. Cada um deles foi Castro Alves, seja no cinema, na política ou na geografia, todos geniais”, explica Tendler. O livro, “Quatro baianos porretas”, está sendo lançado pela Editora Garamond e Editora PUC-RIO, junto com os quatro DVDs.
Castro Alves salta do século XIX em reconstrução documental. Pela ausência de imagens, Tendler lhe deu vida em um manifesto. Em “Marighella”, é a força libertária resistindo aos anos de chumbo que nos chama a refletir. Entre a realidade e o universo onírico, Glauber Rocha impôs aos brasileiros que era a hora e a vez do Terceiro Mundo. Este é o mesmo pensar de “Encontro com Milton Santos”. No momento em que o mundo aclamava a globalização neoliberal, Santos não se opôs pela negação, mas pela elaboração crítica sob os olhos de um mundo de exclusão.
O cineasta revela que na publicação do roteiro desses filmes vai um bom pedaço de sua vida, seus sonhos. “Eles representam o que sinto de uma vida revolucionária no mais amplo sentido do termo, seja no território de ação como a arte, a política ou a ciência e também nas atitudes de vida que os quatro sempre tiveram”, relata.
Ao final do livro, em uma longa entrevista que Tendler concede a Miguel Pereira, quando questionado a respeito do compromisso político do documentarista, diz que não é algo que ele obrigatoriamente tem que ter, mas que no seu trabalho não consegue ver a arte dissociada da política. “Gosto de interferir no mundo em que vivo. Contando histórias, formo consciências e como cineasta exerço minha cidadania. Meus modelos são artistas militantes, Boal e Thiago de Mello, por exemplo. Meu cinema é assim”, salienta para a Caros Amigos. Lembra também do conceito de “câmera militante” do documentarista Carlos Pronzato, “viajante solitário munido de uma pequena câmera, viaja buscando histórias como um navegador que vai desbravando territórios até então desconhecidos. Revelador no mais amplo sentido do termo, Pronzato é um companheiro da utopia”, conta.
No prefácio do livro, Orlando Senna brinca que muitas das ideias audiovisuais de Tendler ficam um tempo em maturação e quando menos se espera são lançadas, como julga ter acontecido com “Utopia e Barbárie”. Cita que um dos projetos que está em planejamento é o “Santiago de las Américas”, a respeito do cineasta cubano Santiago Álvarez. Se será seu próximo filme, no entanto, permaneceremos na curiosidade apesar de Silvio Tendler ter afirmado que pretende terminar o filme logo, “sem dúvidas”, mas faz uma confissão ao não elencar quais serão os próximos projetos: “Atualmente são tantos que me recuso a nomear todos para não correr o risco de ser chamado de mentiroso. Sonhador, sim”.
domingo, 15 de maio de 2011
O DESCASO COM A CULTURA É GERAL!!!!
Gestão kassab abandona as Casas de Cultura
Importantes para o desenvolvimento de atividades da população nos bairros de São Paulo, os centros culturais foram praticamente esquecidos pela Prefeitura Municipal.
Por Joseh Sillva e Otávio Nagoya
As Casas de Cultura nascem, em São Paulo, com o propósito de criar um espaço para desenvolver a reflexão da cultura como direito social nas periferias da cidade. A partir desta premissa, institui-se um lugar para discussão, produção e incentivo à cultura popular. Apesar de oficializadas somente no início da década de 1990, as Casas de Cultura já eram debatidas, nas periferias, por grupos de cultura popular desde o final dos anos 1970.
As Casas de Cultura partem da concepção de que as expressões artísticas não são somente eventos ou espetáculos. Por isso, Luiz Fernando Herculano, atual presidente da Casa Popular de Cultura do M’Boi Mirim, na Zona Sul, acredita que é necessário valorizar a cultura popular. “Historicamente, aquilo que vem do povo parece não ter valor. Só depois de algum tempo as pessoas perceberam que o saber popular tem importância”, reflete Herculano.
A Casa de Cultura Tendal da Lapa, localizada na Zona Oeste de São Paulo, foi criada em 1989, a partir de uma ocupação cultural. “As primeiras apresentações eram feitas com luzes de lampiões, pois nem tinha luz elétrica”, relembra Marco Aurélio Ozzetti, que participa da Casa de Cultura Tendal da Lapa há 16 anos. Para Ozzetti, atualmente, a Casa de Cultura conta com boa participação da comunidade, “nas oficinas, passam em média duas mil pessoas por mês”, finaliza.
Segundo o grupo Rede Nossa São Paulo, em levantamento realizado em 2009, existiam apenas 85 centro culturais, espaços e casas de cultura em todo município. Desse total, apenas quatro distritos localizados na região central, Sé, Pinheiros, Lapa e Vila Mariana, concentram 64% do total. Além disso, acervo de livros, cinemas, equipamentos culturais públicos, museus, teatros e bibliotecas também estão aglomerados no centro da cidade. Para Marcelo Ribeiro, morador da Zona Sul da cidade e frequentador da casa de cultura M’Boi Mirim, “ninguém vê a opinião pública criticando isso, porque lá no centro tem financiamento, virada cultural, etc. Isso maquia muito o que está acontecendo nas bordas da cidade”.
Como em São Paulo, aqui em Barra Mansa onde temos o mínimo de aparelhos culturais, as casas de culturas são deixadas as traças, nenhum governo até hoje nesta cidade, investiu exemplarmente em cultura, para a qualificação e manutenção de culturas populares tanto regional quanto a nível municipal.
Aqui no PAC a manutenção do prédio e das ações socio-culturais são todas arcadas pelos aliados do PAC. Mas temos esperança em dias melhores e trabalhamos com paixão esperando tanto que a população entenda que ela também tem sua cota de responsabilidade, quanto os órgãos públicos.
Importantes para o desenvolvimento de atividades da população nos bairros de São Paulo, os centros culturais foram praticamente esquecidos pela Prefeitura Municipal.
Por Joseh Sillva e Otávio Nagoya
As Casas de Cultura nascem, em São Paulo, com o propósito de criar um espaço para desenvolver a reflexão da cultura como direito social nas periferias da cidade. A partir desta premissa, institui-se um lugar para discussão, produção e incentivo à cultura popular. Apesar de oficializadas somente no início da década de 1990, as Casas de Cultura já eram debatidas, nas periferias, por grupos de cultura popular desde o final dos anos 1970.
As Casas de Cultura partem da concepção de que as expressões artísticas não são somente eventos ou espetáculos. Por isso, Luiz Fernando Herculano, atual presidente da Casa Popular de Cultura do M’Boi Mirim, na Zona Sul, acredita que é necessário valorizar a cultura popular. “Historicamente, aquilo que vem do povo parece não ter valor. Só depois de algum tempo as pessoas perceberam que o saber popular tem importância”, reflete Herculano.
A Casa de Cultura Tendal da Lapa, localizada na Zona Oeste de São Paulo, foi criada em 1989, a partir de uma ocupação cultural. “As primeiras apresentações eram feitas com luzes de lampiões, pois nem tinha luz elétrica”, relembra Marco Aurélio Ozzetti, que participa da Casa de Cultura Tendal da Lapa há 16 anos. Para Ozzetti, atualmente, a Casa de Cultura conta com boa participação da comunidade, “nas oficinas, passam em média duas mil pessoas por mês”, finaliza.
Segundo o grupo Rede Nossa São Paulo, em levantamento realizado em 2009, existiam apenas 85 centro culturais, espaços e casas de cultura em todo município. Desse total, apenas quatro distritos localizados na região central, Sé, Pinheiros, Lapa e Vila Mariana, concentram 64% do total. Além disso, acervo de livros, cinemas, equipamentos culturais públicos, museus, teatros e bibliotecas também estão aglomerados no centro da cidade. Para Marcelo Ribeiro, morador da Zona Sul da cidade e frequentador da casa de cultura M’Boi Mirim, “ninguém vê a opinião pública criticando isso, porque lá no centro tem financiamento, virada cultural, etc. Isso maquia muito o que está acontecendo nas bordas da cidade”.
Como em São Paulo, aqui em Barra Mansa onde temos o mínimo de aparelhos culturais, as casas de culturas são deixadas as traças, nenhum governo até hoje nesta cidade, investiu exemplarmente em cultura, para a qualificação e manutenção de culturas populares tanto regional quanto a nível municipal.
Aqui no PAC a manutenção do prédio e das ações socio-culturais são todas arcadas pelos aliados do PAC. Mas temos esperança em dias melhores e trabalhamos com paixão esperando tanto que a população entenda que ela também tem sua cota de responsabilidade, quanto os órgãos públicos.
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Patrimônio histórico e arquitetônico deve passar por reformas
BARRA MANSA
Por Rebeca Ribeiro
Paredes descascadas, com infiltrações e mofo, janelas com estrutura e vidros quebrados e detalhes da fachada deteriorados fazem parte da descrição de alguns prédios históricos de Barra Mansa. O Palácio Barão de Guapi, onde funcionava a Câmara de Vereadores, e o Clube Municipal, que já recebeu a visita da princesa Isabel, estão marcados pelo tempo.
De acordo com o superintendente da Fundação de Cultura, Luiz Augusto Mury, um plano de restauração do Palácio Barão de Guapi está prestes a ser posto em prática. “Temos um projeto de restauração do prédio e dos canteiros, no entorno. Já temos a verba na Caixa Econômica, mas algumas exigências burocráticas devem ser atendidas antes de abrir a licitação”, informou, acrescentando que os itens pedidos pela instituição financeira devem ser respondidos ainda neste mês.
A verba para a reforma do palácio, que deve ser realizada sem modificar as suas características, segundo Mury, é de cerca de R$ 300 mil e vem do Ministério da Cultura, do governo federal.
Por alguns anos, o Clube Municipal esteve sob responsabilidade da prefeitura. Atualmente é administrado por um conselho de sócios presidido pelo ex-deputado Ademir Melo. Segundo ele, está em andamento um projeto na Secretaria Estadual de Cultura para restauração do casarão. “Estamos na fase inicial, mas já está adiantado. Queremos revitalizar tudo, mas é um processo demorado. Estamos fazendo o levantamento, porque a reforma tem que respeitar e manter as características do prédio. Com muita dificuldade, tentamos conservar e buscamos recursos para não deixar o Municipal morrer”, afirma.
Enquanto a reforma completa não começa, algumas obras de manutenção têm sido feitas. “Fazemos a manutenção com recurso próprio. Estamos tendo problemas com a parte interna, os encanamentos de água e esgoto, além do telhado”, diz.
De acordo com Ademir, cerca de três mil pessoas utilizam o clube, participando de atividades gratuitas, mas a intenção é atrair a população para conhecer a história do local. “A nossa ideia é colocar à disposição da sociedade a história, não só do Clube Municipal, mas de toda Barra Mansa”, conclui.
Apesar de não ser tão antiga quanto o palácio e o clube, ambos construídos no século XIX, a Ponte dos Arcos (Ataulfo Pinto dos Reis) parece castigada pelo tempo. Segundo a Superintendência de Obras e Serviços Públicos (Susesp), a iluminação da ponte havia passado por manutenção há pouco tempo, mas teria sido prejudicada pela chuva de granizo, no dia 9 de abril. Em nota, a autarquia garantiu que fez o pedido de compra e está aguardando a chegada das lâmpadas importadas, específicas para o local. Quanto à pintura da ponte, a Susesp afirmou que está preparando a licitação para contratação de empresa executante.
Um pouco de história
Palácio Barão de Guapi
Foi construído entre 1857 e 1865 para abrigar a Câmara Municipal de Barra Mansa, quando era presidente o comendador Joaquim José Ferraz de Oliveira, o Barão de Guapi. A partir de 1914, em seu pavimento térreo, passou a funcionar também a sede da prefeitura, que ficou lá até o início dos anos 80, quando se transferiu para o antigo Moinho, onde está até hoje.
Hoje, o Palácio Barão de Guapi abriga a Biblioteca Municipal e o Museu da História de Barra Mansa. A câmara passou a funcionar no prédio do antigo Fórum.
Ponte dos Arcos
Popularmente conhecida como Ponte dos Arcos, a Ponte Ataulfo Pinto dos Reis foi construída quando era prefeito o engenheiro Leonísio Sócrates Baptista. Sem recursos para realizar a construção, Leonísio pediu ajuda ao então governador do Estado do Rio de Janeiro, Miguel Couto Filho. O Estado, na época, tinha dívidas com o município, e pagou com a construção da ponte.
A ponte foi inaugurada em 1º de maio de 1958, com a presença de várias autoridades, inclusive do governador, e teve a denominação de Ponte Engenheiro Salo Brand. Posteriormente, em julho de 1968, ganhou o nome que tem até os dias de hoje. Em 11 de maio de 1982, às 3 horas, seu vão central cedeu e teve que ser reconstruído. A obra foi concluída e entregue à população em 17 de junho de 1984, quando era prefeito Luiz Amaral, com a presença do então governador, Leonel de Moura Brizola.
Igreja Matriz
Começou a ser construída em 1839, por Antonio Marcondes do Amaral, um grande benfeitor de Barra Mansa e doador de muitas terras, a exemplo de Custódio Ferreira Leite, o Barão de Ayuruoca. Sua construção terminou somente 20 anos depois, em 1859. Cem anos depois, em 1959, passou por uma reforma que mudou muito o seu interior, em especial, o altar-mór.
Fazenda da Posse
Marco do surgimento do município, o casarão conhecido como Fazenda da Posse foi erguido em 1764. Construído em estilo colonial, foi totalmente restaurado e hoje abriga um Centro Cultural, onde são realizados cursos e exposições de arte.
Antiga Estação Ferroviária
Com grande produção cafeeira, Barra Mansa teve na construção da ferrovia um marco em sua história urbana. Além de conferir agilidade ao escoamento da produção agrícola, facilitou a comunicação com os outros núcleos regionais e com o Rio de Janeiro. Posteriormente, colaborou – como tem colaborado – com o setor industrial.
Em 1996, parou de circular o famoso Trem Mineiro, que por muitos anos foi uma das principais ligações entre Barra Mansa e Minas.
Inaugurada em 1871 pela princesa Isabel e seu marido, o conde D’Eu, após sobreviver a um incêndio e passar por restauração, passou a abrigar o Centro Cultural Estação das Artes.
Fonte: Academia Barramansense de História, presidente Rozan Silva.
Por Rebeca Ribeiro
Paredes descascadas, com infiltrações e mofo, janelas com estrutura e vidros quebrados e detalhes da fachada deteriorados fazem parte da descrição de alguns prédios históricos de Barra Mansa. O Palácio Barão de Guapi, onde funcionava a Câmara de Vereadores, e o Clube Municipal, que já recebeu a visita da princesa Isabel, estão marcados pelo tempo.
De acordo com o superintendente da Fundação de Cultura, Luiz Augusto Mury, um plano de restauração do Palácio Barão de Guapi está prestes a ser posto em prática. “Temos um projeto de restauração do prédio e dos canteiros, no entorno. Já temos a verba na Caixa Econômica, mas algumas exigências burocráticas devem ser atendidas antes de abrir a licitação”, informou, acrescentando que os itens pedidos pela instituição financeira devem ser respondidos ainda neste mês.
A verba para a reforma do palácio, que deve ser realizada sem modificar as suas características, segundo Mury, é de cerca de R$ 300 mil e vem do Ministério da Cultura, do governo federal.
Por alguns anos, o Clube Municipal esteve sob responsabilidade da prefeitura. Atualmente é administrado por um conselho de sócios presidido pelo ex-deputado Ademir Melo. Segundo ele, está em andamento um projeto na Secretaria Estadual de Cultura para restauração do casarão. “Estamos na fase inicial, mas já está adiantado. Queremos revitalizar tudo, mas é um processo demorado. Estamos fazendo o levantamento, porque a reforma tem que respeitar e manter as características do prédio. Com muita dificuldade, tentamos conservar e buscamos recursos para não deixar o Municipal morrer”, afirma.
Enquanto a reforma completa não começa, algumas obras de manutenção têm sido feitas. “Fazemos a manutenção com recurso próprio. Estamos tendo problemas com a parte interna, os encanamentos de água e esgoto, além do telhado”, diz.
De acordo com Ademir, cerca de três mil pessoas utilizam o clube, participando de atividades gratuitas, mas a intenção é atrair a população para conhecer a história do local. “A nossa ideia é colocar à disposição da sociedade a história, não só do Clube Municipal, mas de toda Barra Mansa”, conclui.
Apesar de não ser tão antiga quanto o palácio e o clube, ambos construídos no século XIX, a Ponte dos Arcos (Ataulfo Pinto dos Reis) parece castigada pelo tempo. Segundo a Superintendência de Obras e Serviços Públicos (Susesp), a iluminação da ponte havia passado por manutenção há pouco tempo, mas teria sido prejudicada pela chuva de granizo, no dia 9 de abril. Em nota, a autarquia garantiu que fez o pedido de compra e está aguardando a chegada das lâmpadas importadas, específicas para o local. Quanto à pintura da ponte, a Susesp afirmou que está preparando a licitação para contratação de empresa executante.
Um pouco de história
Palácio Barão de Guapi
Foi construído entre 1857 e 1865 para abrigar a Câmara Municipal de Barra Mansa, quando era presidente o comendador Joaquim José Ferraz de Oliveira, o Barão de Guapi. A partir de 1914, em seu pavimento térreo, passou a funcionar também a sede da prefeitura, que ficou lá até o início dos anos 80, quando se transferiu para o antigo Moinho, onde está até hoje.
Hoje, o Palácio Barão de Guapi abriga a Biblioteca Municipal e o Museu da História de Barra Mansa. A câmara passou a funcionar no prédio do antigo Fórum.
Ponte dos Arcos
Popularmente conhecida como Ponte dos Arcos, a Ponte Ataulfo Pinto dos Reis foi construída quando era prefeito o engenheiro Leonísio Sócrates Baptista. Sem recursos para realizar a construção, Leonísio pediu ajuda ao então governador do Estado do Rio de Janeiro, Miguel Couto Filho. O Estado, na época, tinha dívidas com o município, e pagou com a construção da ponte.
A ponte foi inaugurada em 1º de maio de 1958, com a presença de várias autoridades, inclusive do governador, e teve a denominação de Ponte Engenheiro Salo Brand. Posteriormente, em julho de 1968, ganhou o nome que tem até os dias de hoje. Em 11 de maio de 1982, às 3 horas, seu vão central cedeu e teve que ser reconstruído. A obra foi concluída e entregue à população em 17 de junho de 1984, quando era prefeito Luiz Amaral, com a presença do então governador, Leonel de Moura Brizola.
Igreja Matriz
Começou a ser construída em 1839, por Antonio Marcondes do Amaral, um grande benfeitor de Barra Mansa e doador de muitas terras, a exemplo de Custódio Ferreira Leite, o Barão de Ayuruoca. Sua construção terminou somente 20 anos depois, em 1859. Cem anos depois, em 1959, passou por uma reforma que mudou muito o seu interior, em especial, o altar-mór.
Fazenda da Posse
Marco do surgimento do município, o casarão conhecido como Fazenda da Posse foi erguido em 1764. Construído em estilo colonial, foi totalmente restaurado e hoje abriga um Centro Cultural, onde são realizados cursos e exposições de arte.
Antiga Estação Ferroviária
Com grande produção cafeeira, Barra Mansa teve na construção da ferrovia um marco em sua história urbana. Além de conferir agilidade ao escoamento da produção agrícola, facilitou a comunicação com os outros núcleos regionais e com o Rio de Janeiro. Posteriormente, colaborou – como tem colaborado – com o setor industrial.
Em 1996, parou de circular o famoso Trem Mineiro, que por muitos anos foi uma das principais ligações entre Barra Mansa e Minas.
Inaugurada em 1871 pela princesa Isabel e seu marido, o conde D’Eu, após sobreviver a um incêndio e passar por restauração, passou a abrigar o Centro Cultural Estação das Artes.
Fonte: Academia Barramansense de História, presidente Rozan Silva.
Charles Landseer
Até o próximo dia 10 de julho, o Centro Cultural do IMS em São Paulo apresenta a exposição Charles Landseer: desenhos e aquarelas de Portugal e do Brasil – 1825-1826. É a maior exposição individual das imagens feitas por Landseer, considerado um dos mais importantes artistas que visitaram o Brasil nas duas décadas posteriores a 1808. Com curadoria de Leslie Bethell, professor emérito de história latino-americana na Universidade de Londres, a exposição reúne 90 desenhos e aquarelas e mais dois óleos, estes últimos feitos pelo artista anos após a missão, baseando-se nos registros feitos em Brasil e Portugal. Bethell respondeu a quatro perguntas feitas pelo blog do ims sobre a exposição.
Em que contexto histórico aconteceu a visita de Charles Landseer ao Brasil?
Landseer foi o artista oficial de uma missão diplomática ao Lisboa e Rio de Janeiro em 1825 chefiada por sir Charles Stuart, veterano diplomata britânico. Em nome de Portugal e da Grã-Bretanha, Stuart negociou os termos do reconhecimento da independência do Brasil. No dia 29 de agosto, no Rio, um tratado entre Portugal e o Brasil foi assinado, sendo ratificado imediatamente pelo imperador dom Pedro e, no dia 15 de novembro, pelo rei dom João VI em Lisboa. Stuart também negociou e assinou dois tratados solicitados pelo governo britânico como o preço do seu apoio ao novo Império, um comercial e outro pela abolição do tráfico negreiro, o que equivaleria ao reconhecimento pela Grã-Bretanha.
O Álbum de Highcliffe, composto por obras que retratam o Brasil pelos olhos de artistas consagrados como Debret, John Burchell e Charles Landseer, manteve-se por muito tempo fora do país. Como se deu a aquisição das obras de Landseer pelo Instituto Moreira Salles?
Mais de noventa por cento dos 340 desenhos e aquarelas do sketchbook (caderno) de Landseer são compostos por obras de Landseer mesmo. Ninguém sabe como algumas obras atribuídas a Debret e Burchell chegaram ao caderno que Stuart confiscou de volta à Inglaterra. O caderno permaneceu nas mãos da família Stuart no castelo de Highcliffe (por isso foi chamado mais tarde de o álbum de Highcliffe) por quase um século. Somente em 1926 o álbum seria adquirido pelo empresário e colecionador carioca Guilherme Guinle. Antes de morrer, em 1960, Guinle deu o álbum ao seu sobrinho, o banqueiro Cândido Guinle de Paula Machado. Em 1999, leiloada na casa Christie’s em Londres, o álbum foi arrematado pelo Instituto Moreira Salles.
Segundo o pesquisador Alberto Rangel, que localizou as obras de Landseer em 1924, dos seus trabalhos no Brasil “florescem os preliminares de uma arte, que se tornou mais completa, reforçada e solene”. Ele chegou a ter contato com artistas brasileiros da época que porventura tenham reforçado essa evolução?
Ninguém sabe se Landseer teve contato com artistas brasileiros ou estrangeiros no Brasil. Ele não deixou diários nem correspondência. Mas mais provavelmente ele conheceu o artista francês Jean-Baptiste Debret, que vivia no Rio desde 1816 e evidentemente influenciou algumas imagens de escravidão urbana realizadas pelo Landseer.
Ao retornar à Inglaterra, Landseer se dedicou à pintura de gênero e histórica. É possível afirmar que o Brasil foi determinante nessa escolha ou no país ele apenas a reforçou?
Após expor cinco óleos baseados nos desenhos e aquarelas de Portugal e o Brasil em Londres em 1827 e 1828, Landseer nunca mais retomou os temas portugueses e brasileiros. O seu caderno de 1825-26 estava nas mãos da família Stuart, e ele nunca voltou ao Brasil. Landseer passou os 50 anos seguintes pintando cenas da literatura e da história inglesas, chegando a expor mais de 120 obras, a maior parte delas na Academia Real, antes de seu falecimento em 1879.
Álbum de Highcliffe, aquarelas, Brasil, Charles Landseer, desenhos, Inglaterra, Portugal, retratos do Brasil, século 19
Em que contexto histórico aconteceu a visita de Charles Landseer ao Brasil?
Landseer foi o artista oficial de uma missão diplomática ao Lisboa e Rio de Janeiro em 1825 chefiada por sir Charles Stuart, veterano diplomata britânico. Em nome de Portugal e da Grã-Bretanha, Stuart negociou os termos do reconhecimento da independência do Brasil. No dia 29 de agosto, no Rio, um tratado entre Portugal e o Brasil foi assinado, sendo ratificado imediatamente pelo imperador dom Pedro e, no dia 15 de novembro, pelo rei dom João VI em Lisboa. Stuart também negociou e assinou dois tratados solicitados pelo governo britânico como o preço do seu apoio ao novo Império, um comercial e outro pela abolição do tráfico negreiro, o que equivaleria ao reconhecimento pela Grã-Bretanha.
O Álbum de Highcliffe, composto por obras que retratam o Brasil pelos olhos de artistas consagrados como Debret, John Burchell e Charles Landseer, manteve-se por muito tempo fora do país. Como se deu a aquisição das obras de Landseer pelo Instituto Moreira Salles?
Mais de noventa por cento dos 340 desenhos e aquarelas do sketchbook (caderno) de Landseer são compostos por obras de Landseer mesmo. Ninguém sabe como algumas obras atribuídas a Debret e Burchell chegaram ao caderno que Stuart confiscou de volta à Inglaterra. O caderno permaneceu nas mãos da família Stuart no castelo de Highcliffe (por isso foi chamado mais tarde de o álbum de Highcliffe) por quase um século. Somente em 1926 o álbum seria adquirido pelo empresário e colecionador carioca Guilherme Guinle. Antes de morrer, em 1960, Guinle deu o álbum ao seu sobrinho, o banqueiro Cândido Guinle de Paula Machado. Em 1999, leiloada na casa Christie’s em Londres, o álbum foi arrematado pelo Instituto Moreira Salles.
Segundo o pesquisador Alberto Rangel, que localizou as obras de Landseer em 1924, dos seus trabalhos no Brasil “florescem os preliminares de uma arte, que se tornou mais completa, reforçada e solene”. Ele chegou a ter contato com artistas brasileiros da época que porventura tenham reforçado essa evolução?
Ninguém sabe se Landseer teve contato com artistas brasileiros ou estrangeiros no Brasil. Ele não deixou diários nem correspondência. Mas mais provavelmente ele conheceu o artista francês Jean-Baptiste Debret, que vivia no Rio desde 1816 e evidentemente influenciou algumas imagens de escravidão urbana realizadas pelo Landseer.
Ao retornar à Inglaterra, Landseer se dedicou à pintura de gênero e histórica. É possível afirmar que o Brasil foi determinante nessa escolha ou no país ele apenas a reforçou?
Após expor cinco óleos baseados nos desenhos e aquarelas de Portugal e o Brasil em Londres em 1827 e 1828, Landseer nunca mais retomou os temas portugueses e brasileiros. O seu caderno de 1825-26 estava nas mãos da família Stuart, e ele nunca voltou ao Brasil. Landseer passou os 50 anos seguintes pintando cenas da literatura e da história inglesas, chegando a expor mais de 120 obras, a maior parte delas na Academia Real, antes de seu falecimento em 1879.
Álbum de Highcliffe, aquarelas, Brasil, Charles Landseer, desenhos, Inglaterra, Portugal, retratos do Brasil, século 19
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Melhoria da distribuição de renda é consequência de mais educação
Quarta-feira, 04 de maio de 2011 - 19:12
Estudos do economista Marcelo Néri, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), indicam que o aumento da escolaridade dos brasileiros se reflete diretamente na melhoria da renda. No período de 2000 a 2010, a escolaridade dos 20% mais pobres da população cresceu 55,6% e a renda 49,5%; no grupo dos 20% mais ricos, a escolaridade subiu 8,12% e a renda, 8,9%.
Néri analisou dados da década utilizando informações colhidas pela Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad) e a Pesquisa Mensal de Emprego (PME). No recorte educação, que faz parte do estudo divulgado na última terça-feira, 3, o economista também elaborou tabelas sobre as regiões, os estados e destacou o efeito educação sobre populações branca, preta, parda.
A comparação de dados sobre as regiões Nordeste, a mais pobre do país, e Sudeste, a mais rica, revela um crescimento expressivo do Nordeste. O efeito educação sobre a população nordestina foi de 30,68% na década, acompanhando de um crescimento de 29,49% da renda. No Sudeste, o crescimento educacional foi de 15,67%, enquanto a renda subiu 8,6%.
No Maranhão, considerado o estado mais pobre do país, o crescimento da educação na década foi de 42,34%, a renda aumentou 36,48%. Em São Paulo, que é seu contraponto, a educação cresceu 15,22%, e a renda, 1,54%.
Quando são analisados os dados sobre educação e as raças, pretos e pardos obtêm conquistas superiores aos brancos em todo o país. A escolaridade dos pretos subiu 30,77% na década e a renda, 31,48%; entre os pardos, a escolaridade cresceu 30,17% e a renda, 37,03%. Já entre os brancos, o estudo aumentou 16,10% e a renda aumentou em 12,42.
Especialistas comentam a pesquisa:
Clélio Campolina, reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – “Vários mecanismos promovem a ascensão social, mas a educação entre todos é o que tem um impacto brutal de mudança. O resultado da pesquisa da FGV mostra que o país está no caminho certo ao abrir mais vagas no ensino superior público e com o ProUni (Programa Universidade para Todos), mas ainda precisa valorizar muito mais o professor do ensino fundamental e médio. Essa valorização é com salário e formação.”
Priscila Fonseca da Cruz, diretora executiva do Todos pela Educação – “A pesquisa é muito importante porque chama a atenção do país para o papel da educação na redução das desigualdades. A ausência de educação gerou desigualdade social, e hoje é o acesso à educação que está modificando esse quadro e promovendo a equidade. Temos que prestar atenção num detalhe: durante um tempo, a escolaridade funciona, mas o desafio é aumentar a aprendizagem dos alunos jovens e adultos para atender um mercado de trabalho mais exigente e com mais tecnologia. Carreira e salário do professor da educação básica estão entre os pontos que devem ser considerados para obter esses avanços.”
Nilene Badeca, presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed) – “A educação é o presente e o futuro, ela prepara para o depois da escola, por isso é fundamental. A importância está no acesso à educação, hoje temos o ensino fundamental, que recebe 97% das crianças nesse nível educacional. Mas também é preciso garantir que as crianças e os jovens permaneçam na escola, para isso não é suficiente apenas proporcionar as vagas, é preciso garantir transporte escolar, merenda, material didático. Gestores, governadores e prefeitos têm que dar condições ao jovem para que permaneça na escola, os estados e municípios têm que se preparar para funcionar em tempo integral, para oferecer contraturno, capacitando e preparando os estudantes.”
Assessoria de Comunicação Social
Confira o estudo no portal da FGV.
Estudos do economista Marcelo Néri, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), indicam que o aumento da escolaridade dos brasileiros se reflete diretamente na melhoria da renda. No período de 2000 a 2010, a escolaridade dos 20% mais pobres da população cresceu 55,6% e a renda 49,5%; no grupo dos 20% mais ricos, a escolaridade subiu 8,12% e a renda, 8,9%.
Néri analisou dados da década utilizando informações colhidas pela Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad) e a Pesquisa Mensal de Emprego (PME). No recorte educação, que faz parte do estudo divulgado na última terça-feira, 3, o economista também elaborou tabelas sobre as regiões, os estados e destacou o efeito educação sobre populações branca, preta, parda.
A comparação de dados sobre as regiões Nordeste, a mais pobre do país, e Sudeste, a mais rica, revela um crescimento expressivo do Nordeste. O efeito educação sobre a população nordestina foi de 30,68% na década, acompanhando de um crescimento de 29,49% da renda. No Sudeste, o crescimento educacional foi de 15,67%, enquanto a renda subiu 8,6%.
No Maranhão, considerado o estado mais pobre do país, o crescimento da educação na década foi de 42,34%, a renda aumentou 36,48%. Em São Paulo, que é seu contraponto, a educação cresceu 15,22%, e a renda, 1,54%.
Quando são analisados os dados sobre educação e as raças, pretos e pardos obtêm conquistas superiores aos brancos em todo o país. A escolaridade dos pretos subiu 30,77% na década e a renda, 31,48%; entre os pardos, a escolaridade cresceu 30,17% e a renda, 37,03%. Já entre os brancos, o estudo aumentou 16,10% e a renda aumentou em 12,42.
Especialistas comentam a pesquisa:
Clélio Campolina, reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – “Vários mecanismos promovem a ascensão social, mas a educação entre todos é o que tem um impacto brutal de mudança. O resultado da pesquisa da FGV mostra que o país está no caminho certo ao abrir mais vagas no ensino superior público e com o ProUni (Programa Universidade para Todos), mas ainda precisa valorizar muito mais o professor do ensino fundamental e médio. Essa valorização é com salário e formação.”
Priscila Fonseca da Cruz, diretora executiva do Todos pela Educação – “A pesquisa é muito importante porque chama a atenção do país para o papel da educação na redução das desigualdades. A ausência de educação gerou desigualdade social, e hoje é o acesso à educação que está modificando esse quadro e promovendo a equidade. Temos que prestar atenção num detalhe: durante um tempo, a escolaridade funciona, mas o desafio é aumentar a aprendizagem dos alunos jovens e adultos para atender um mercado de trabalho mais exigente e com mais tecnologia. Carreira e salário do professor da educação básica estão entre os pontos que devem ser considerados para obter esses avanços.”
Nilene Badeca, presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed) – “A educação é o presente e o futuro, ela prepara para o depois da escola, por isso é fundamental. A importância está no acesso à educação, hoje temos o ensino fundamental, que recebe 97% das crianças nesse nível educacional. Mas também é preciso garantir que as crianças e os jovens permaneçam na escola, para isso não é suficiente apenas proporcionar as vagas, é preciso garantir transporte escolar, merenda, material didático. Gestores, governadores e prefeitos têm que dar condições ao jovem para que permaneça na escola, os estados e municípios têm que se preparar para funcionar em tempo integral, para oferecer contraturno, capacitando e preparando os estudantes.”
Assessoria de Comunicação Social
Confira o estudo no portal da FGV.
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