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sábado, 20 de agosto de 2011

A Menina das Nuvens

Alexandre Freitas





Villa-Lobos. Mencionar seu nome desperta a altivez do brasileiro. Ele está entre nossos grandes artistas. Ninguém duvida.

Porém, no centro da nossa esquizofrenia nacional, o orgulho é diretamente proporcional à ignorância que temos da obra do músico carioca. Nos gabamos do rótulo, mas desprezamos o conteúdo. Não me lembro de outro compositor brasileiro que seja tão reconhecido e tão desconhecido ao mesmo tempo. Cinquenta e dois anos depois de sua morte, boa parte da obra permanece obscura no cenário nacional. Muitas nem editadas foram. Grande parte circula nas escolas de música e universidades em forma de fotocópias de originais há décadas fora de circulação.

Algumas faces de Villa-Lobos são particularmente estranhas ao público nacional. É o caso da sua inclinação lírica, de compositor de ópera. As oportunidades de conhece-la são raríssimas. Por isso, A Menina das Nuvens, em cartaz no Theatro Municipal de São Paulo, é preciosa ocasião para se aproximar do nosso principal compositor da chamada música clássica ou erudita. É com essa ópera que inaugura-se a temporada lírica do Municipal, reformado e novo em folha. Para se ter uma ideia da raridade da ocasião é preciso saber que a ópera foi apresentada somente em dois momentos: em 1960 no Rio de Janeiro e em 2009 em Belo Horizonte.

Para que a obra se concretizasse nessa bonita montagem com direção cênica de William Pereira, cenário de Rosa Magalhães e luz de Pedro Pederneiras, foi preciso que o maestro Roberto Duarte se debruçasse arduamente sobre o farto material musical, caoticamente organizado pelo ilustre compositor. O papel título é feito pela soprano Gabriella Pace, vencedora do Concurso Carlos Gomes do ano passado.

A unidade do aspecto cênico se encontrava com a heterogeneidade de uma música que, antes de ser brasileira, era autoral. “Não sou compositor brasileiro nem estrangeiro, sou Heitor Villa-Lobos”, disse um dia. A melancolia em tom de seresta de certas Bachianas Brasileiras iam de encontro ao requebrado de alguns de seus Choros que, por sua vez, se fundiam com um Debussy ou um Ravel completamente digeridos. Curioso que o lirismo parecia mais vinculado à parte orquestral. O canto era muitas vezes regido, sutil e intuitivamente, por uma lógica mais próxima à sintaxe da língua falada que da musical. No terceiro ato, tínhamos ao mesmo tempo esse canto meio falado, partes líricas orquestrais que se sobrepunham à configurações rítmicas dos sopros, um coro invisível fundido à massa orquestral e toda cor e luz de um cenário mágico e fantástico.

É verdade que algum incômodo pode surgir da trama, nem sempre muito bem amarrada, ou de certas frases e diálogos que despertam estranhamento em quem quer que seja. Um certo desequilíbrio entre o aspecto musical e o libreto não passa despercebido. É até mesmo gritante. De qualquer forma, é uma obra que vale ser feita, refeita, gravada, publicada e difundida. A harmonia e a graça da montagem, a vitalidade da música, a beleza das vozes e o equilíbrio do elenco compensam largamente.

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