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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Apesar da censura à arte



Rosa Minine
Bandolinistas cariocas de grande talento, Déo e Bruno Rian, são exemplos de amor ao Choro que, às vezes, parece que se transfere por gerações pelo plasma sanguíneo. Pai e filho, sempre presentes nas rodas, projetos, discos, shows, lutam pela sobrevivência da música cultural popular brasileira. No seu campo de batalha ainda predomina o grande boicote à arte do povo, comandado pela televisão, rádio e gravadoras no país, em benefício dos jingles e outros ruídos de baixo nível de qualidade, na forma e no conteúdo.

Déo Rian, nasceu em 1944, filho de uma família em que a música sempre esteve presente. Seu pai cantava, o irmão de seu avô tocava cavaquinho, os tios de sua mãe tocavam bandolim e formavam rodas de Choro em casa, desde o começo do século passado.

— Nasci e me criei dentro do Choro e a minha vida musical sempre foi dedicada a ele — declara.

Começou a tocar com cinco anos de idade. Aos quinze passou a estudar música com Moacir Arouca. Com dezoito, tocou pela primeira vez como profissional no rádio, fazendo parte do regional de Darli do Pandeiro.

— O Darli me levou para a Rádio Mauá. Comecei no programa Samba e Outras Coisas, apresentado por Henrique Batista. Lá, encontrei o Jacob do Bandolim e passei a tocar com ele. Depois conheci, na casa do violonista Canhoto, o Dalton Vogeler, produtor da gravadora RCA-Victor, e ele me levou para gravar o meu primeiro disco, em 1969, logo após a morte de Jacob do Bandolim, em 13 de agosto daquele ano — lembra Déo, que faz uma pausa e explica:

— O disco saiu em 1970, contendo somente músicas de Ernesto Nazaret, com o Quinteto Villa Lobos e Quarteto de Cordas da Escola Nacional de Música. Logo, fui convidado pelo violonista César Faria, pai do Paulinho da Viola, para integrar o conjunto Época de Ouro, no lugar deixado por Jacob do Bandolim.

A minha vida musical sempre foi dedicada ao Choro
Déo

Em 1974 gravou mais dois LPs, e dois anos depois o LP Saudades de um Bandolim , relançado em CD pela Revivendo. Déo fez parte do Época de Ouro até 1977.

Conta ele:

— Saí para trabalhar com Clara Nunes em seu espetáculo Canto das Três Raças, por oito meses e depois formei o meu próprio conjunto, Noites Cariocas, com o qual permaneço até esta data. Atualmente, além de mim, o conjunto conta com: um violão de seis cordas, Marcio Almeida; um violão de sete, André Bellieny; no pandeiro, Darli do Pandeiro; e no cavaquinho, Ubiratan.

Lá fora tem
Com o Noites Cariocas, Déo gravou o LP, Inéditos de Jacob do Bandolim , em 1980. Nesse mesmo ano, seu disco Ernesto Nazareth foi lançado no Japão, para onde viajou em 1991, apresentando-se em Tóquio, Osaka, Kioto, Kobe e Nagoya e gravando o CD Déo Rian com Choros e modinhas, acompanhado por músicos japoneses no violão, cavaquinho e pandeiro. Este disco, como tem sido comum acontecer com artistas que cantam a música cultural popular brasileira, foi muito bem sucedido no exterior e jamais lançado por aqui. Devido ao grande sucesso do Choro no Japão, Déo teve que retornar mais duas vezes àquele país.

Em 1993, gravou Raphael Rabello e Déo Rian , apenas com músicas eruditas e, em 1996, o CD Choro em Família , com seu filho Bruno. Sempre lutando em favor do Choro, Déo tem participado de vários projetos de música pelo Brasil e exterior, com sucesso de público.

— Fiz dois shows em Santiago, Chile, com o meu conjunto, e vi o quanto as pessoas ficaram entusiasmadas com a nossa música. O local ficou totalmente lotado nos dois dias que nos apresentamos. Tinha gente sentada no chão, em toda a parte — ele fala.

Não existe mais espaço para a música instrumental no Brasil
Déo

Déo começou a tocar profissionalmente por acaso. Economista, formado pela Faculdade de Economia e Finanças do Rio de Janeiro, em 1976, trabalhou e se aposentou na Embratur — Empresa Brasileira de Turismo. Tocava à noite e nos finais de semana. Quando o conjunto tinha que viajar, geralmente, era substituído por outro músico.

— Os músicos com quem eu sempre convivi eram profissionais, mas tinham outro emprego para sobreviver, porque acreditavam que a música, mais precisamente o Choro, já naquele tempo, não era valorizado, não dando um bom retorno financeiro. Meu pai também me aconselhava a ter outro emprego, e dava como exemplo o Jacob do Bandolim, que com todo o seu nome, nunca pode viver só de música — relata Déo.

Ele repete os conselhos que recebeu de seu pai ao seu filho Bruno:

— Sempre digo a ele que se puder viver só de música, que viva, mas tem que fazer arranjo, dar aulas, proferir palestras, enfim, ser muito versátil, caso contrário não irá conseguir.

Mas, no momento, Bruno está cursando História já sendo formado em administração de empresas.

— Bruno foi criado dentro do universo do Choro. Sempre esteve comigo nos ensaios e shows. Quando bem pequenino, subia no palco com um pente na mão, tentando nos imitar. Não o incentivei a ser músico, mas sempre teve vocação — revela Déo com indisfarçável orgulho.

Filho de peixe...
Apesar dos seus 24 anos apenas, Bruno toca bandolim há quinze e participa, há dez, do conjunto Sarau, que faz as rodas de Choro da Cobal do Humaitá, em Botafogo, Rio, todos os domingos, das 18:30 as 22:00h.

— Esse nosso movimento visa preservar o Choro e a música instrumental. É uma roda que recebe vários músicos, de todos os lugares do mundo, e que virou uma referência para o Choro no Brasil. Já tivemos aqui franceses, japoneses, norte-americanos, que gostam de Choro, aprenderam com brasileiros, tocam em seus países, e vem aqui beber da fonte — lembra Bruno.

O grupo Sarau é formado por Bruno Ryan, bandolim; Carlos Agenor, pandeiro; Sérgio Prata, cavaquinho; e André Bellieny, violão de sete cordas. Declara Bruno:

— Somos um grupo de Choro e tocamos outros tipos de músicas afins, mas com a linguagem dos chorões, porque, antes de ser um gênero, o Choro é uma linguagem, uma forma de se tocar.

O Choro é a minha vida
Bruno

Desde os dez anos de idade, no Rio de Janeiro, Bruno participa de vários projetos, ligados ao Choro. Aos quatorze estreou em disco, gravando o CD Choro em Família , ao lado do pai, em produção independente, e em seguida, passou a integrar o grupo Sarau. Em 1998 excursionou por Santa Catarina como integrante do Camerata Instrumental do Rio de Janeiro, sob a direção do maestro Edino Krieger. Em 1999, gravou com o Sarau o CD Cordas Novas, também produção independente. Em 2001, foi diretor artístico do disco do pai choro choro choro.com.Déo Rian, e nos anos seguintes participou de vários shows pelo Brasil.

Em dezembro de 2002, participou, juntamente com grandes bandolinistas brasileiros, do recital Ao Jacob, seu bandolins, evento que deu origem ao CD de mesmo nome, lançado em 2003 e vencedor do Prêmio Rival BR de Música, no ano seguinte. Em 2004, excursionou pelo interior do Rio de Janeiro, como solista do Época de Ouro, no projeto Um Piano na Estrada, do pianista Arthur Moreira Lima, e participou de homenagens aos bandolinistas Luperce Miranda e Jacob do Bandolim, por iniciativa do instituto Jacob do Bandolim, do qual é conselheiro.

No ano passado, marcou presença na tournê por São Paulo, com o Época de Ouro, shows e oficinas de Choro nos Festivais de Inverno de Friburgo e Teresópolis. No último mês de agosto, Bruno foi um dos solistas convidados pelo flautista Altamiro Carrilho para fazer parte de seu DVD.

— O Choro é a minha vida, o que eu gosto de viver, de tocar. Eu acho um gênero extremamente rico e com muitas possibilidades. Não é fácil tocar Choro, não é fácil — enfatiza Bruno referindo-se à complexidade deste gênero, exatamente por ser uma música extremamente rica, que abre leque para outros gêneros afins.

Muitos músicos e estudantes chegam a afirmar que após tocar Choro com desenvoltura, a pessoa está apta a tocar qualquer outro tipo de música.

Boicote ao Choro
E o amor pelo Choro é maior que as dificuldades enfrentadas pelo músico brasileiro. Déo confirma que viver de música no Brasil nunca foi fácil, mas hoje está muito pior. Os lugares que o músico pode se apresentar, em sua maioria não oferecem contrato nem pagam um valor justo para o músico. Querem que ele trabalhe à base do couvert artístico, que é o valor adicional cobrado, por pessoa, nos bares com apresentação de música ao vivo.

— Há alguns anos se fazia contrato com o músico. Hoje, ele tem que tocar à base do couvert, quer dizer, é o que der. Isso nos prejudica e muito. Eu, inclusive, evito tocar nesses lugares, porque já tive experiência desagradável — expõe Déo.

— No meu início de carreira, os barzinhos com música ao vivo, como hoje, não existiam, mas casas de shows, conhecidas como boates. Por exemplo, a boate Copacabana, com conjuntos de músicos e cantores contratados. Também, há alguns anos, o Choro tocava no rádio, que tinha seus programas do gênero e as suas orquestras contratadas. Músicos como Jacob do Bandolim e Técio Miranda, tiveram programas semanais. A Orquestra Tabajara, na Rádio Tupi, era notícia. Orquestras da Rádio Nacional, também. As rádios tinham os seus artistas. Hoje, não existe mais espaço para a música instrumental no Brasil. A televisão não mostra, o rádio não toca e as grandes gravadoras, de capital estrangeiro, não gravam — declara secamente.

O Choro, antes de ser um gênero, é uma linguagem, uma forma de se tocar
Bruno

— Esse boicote vem desde a década de 60, passando a ser mais forte a partir da de 90. Durante os anos 60 e 70, o nosso espaço começou a acabar no rádio, mas ainda tinha a televisão que mostrava a música instrumental, com suas orquestras. Eu mesmo trabalhei, juntamente com o meu conjunto, na TV Globo por um ano, no programa Alerta Geral. Fiz também participações na TV Tupi de São Paulo — lembra.

E prossegue:

— Do final da década de 80 para cá, a televisão demitiu os seus músicos, e os musicais praticamente acabaram. Alegaram que ficava muito caro e que não dava retorno comercial. Assim, não se vê musicais decentes na televisão brasileira, hoje, quanto mais no horário nobre. Com isso, os espaços para os músicos mudaram, deixando de ser a televisão, o rádio, as gravadoras, as boates, para se transfirirem aos tais barzinhos que tocam à base de couvert.

E logo se anima:

— Mas é claro que nós estamos resistindo, por exemplo, com a gravadora Acari, que tem feito um excelente trabalho no universo do Choro, e com os muitos músicos que gravam de forma independente. Além disso, tem muita gente jovem estudando música e tocando muito, e bem, o Choro. Eles estão com interesse cada vez maior pelo gênero, apesar de, praticamente, não ser divulgado. É que se trata de uma música de qualidade— explica Déo, acrescentando que atualmente tem gravado os seus discos de forma independente, distribuídos durante os shows que faz pelo país e pelo exterior.

Pai coruja, Déo é presença constante nas apresentações do filho, com o grupo Sarau.

— Estou sempre por perto, mas ele faz o seu trabalho e eu faço o meu. Quando me pergunta alguma coisa, aí eu oriento — confidencia Déo que, assim como o filho, tem planos de novos discos e muitos shows, com seus conjuntos, para os próximos anos.

Onde se fala em bandolim e Choro, esses dois estão. No Bandolim de Ouro — uma casa tradicional de instrumentos musicais, fundada em 1929, no centro do Rio-, por onde já passaram grandes instrumentistas, Bruno Rian dá aulas de bandolim, toda quinta-feira.

— Eu sou assíduo freqüentador daqui, desde 1964/65. O meu bandolim, que é de 1966, e o do Bruno, são daqui inclusive — revela Déo com alegria.

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