A Barca, a partir da esquerda: Ari Colares, Juçara Marçal, André Magalhães, Lincoln, Sandra Ximenez, Thomas Rohrer, Renata Amaral, Chico Saraiva e Marcelo Pretto
Grupo de amigos que se juntou na capital paulista para tocar o repertório que conhecia, A Barca resolveu voltar os olhos para a música regional brasileira, não só no repertório, mas também para o aprendizado desses ritmos e gêneros. Trabalhando um novo diálogo musical, o grupo buscou inspiração nos registros de viagem de Mário de Andrade e fez sua própria pesquisa de campo, resultando em gravações e apresentações de música popular cultural de vários estados do país.
— Começamos nossas atividades em 1998, a princípio para tocarmos o repertório que já conhecíamos, mas ficamos com vontade de experimentar algo novo, de ter uma experiência renovada com a música. E o nosso foco foi a cultura chamada popular ou tradicional — explica Lincoln Antônio, um dos componentes do grupo.
— Fomos muito guiados e inspirados pelo trabalho do Mário de Andrade, que na sua época foi um pioneiro em voltar os olhos para esse assunto. Ele foi a campo para recolher documentos musicais muito importantes que haviam sido registrados. Além dos registros do Mário de Andrade, que são muito ricos e diversos, também tivemos a nossa experiência de campo — continua.
— Tivemos vontade de conhecer mais o Brasil, de investigar melhor a incrível diversidade de ritmos que existe no nosso país. E ao invés de procurar algo como identidade, estávamos mais interessados justamente no oposto, nas diferenças, pela variedade de cultura. Para nós foi uma grande viagem de redescobrimento do país, voltando para essa música, para esse grupo de poetas populares — declara.
Lincoln diz que A Barca tem trabalhado uma relação mais estreita com esses grupos e outros envolvidos com a cultura popular, fazendo uma movimentação entre eles.
— Fomos aprender esse repertório da tradição brasileira junto aos mestres tradicionais, e temos cada vez mais intensificado o diálogo com esses grupos. Tivemos a oportunidade de trazer grupos de mestres aqui para São Paulo, e também levá-los para outros lugares. Por exemplo, fizemos uma temporada no teatro Rival, no Rio de Janeiro, com o pessoal do Maranhão — conta.
A Barca conta com nove integrantes: três cantores, dois percussionistas, baixo, violão, piano e rabeca.
— A formação atual do grupo é basicamente a mesma de quando começou. Nem todos somos originalmente de São Paulo, mas vivemos aqui há muito tempo. Por exemplo, o Thomas, que toca rabeca, é da Suíça e mora no Brasil a mais de 15 anos. Aqui ele conheceu a rabeca e se tornou rabequeiro. Eu sou de Santos, mas vivo em São Paulo há anos — comenta Lincoln.
— O trabalho d’A Barca inclui coletar músicas nos locais onde acontecem as manifestações e criar arranjos e até mesmo novas composições baseadas nesse material. Temos até o momento 3 discos gravados. O primeiro foi o Turista aprendiz, que é bem próximo do material do Mário de Andrade. Recriamos várias músicas que ele anotou, e o nome pegamos emprestado do seu livro, que reúne os diários de viagem — relata.
— Depois veio o Baião de princesas, com a colaboração da Casa Fanti-Ashanti de São Luís do Maranhão. Tocamos especialmente o repertório deles. O terceiro é uma caixa com 1 dvd e 3 cds, o Trilha, toada e trupé, gravado depois de uma longa viagem com shows e oficinas. É um pouco o resultado desse aprendizado. Além dos discos d’A Barca produzimos vários de outros grupos — continua.
ABARCANDO PESSOAS
O nome do grupo tem vários sentidos, e todos significam alguma coisa dentro dos seus ideais.
— Pode ser 'abarca', fazendo um sentido de abarcar algo, um termo usado em vários estados brasileiros para dizer que pegou, alcançou, juntou. No nosso caso: abarcar o público, abarcar pessoas em um mesmo ideal. Também é o nome de uma dança dramática que existe na Paraíba, uma brincadeira popular. E pode significar também a barca, que navega em busca de alguma coisa — explica Lincoln.
— Todo o nosso trabalho de pesquisas é coletivo. Cada um de nós tem trabalho solo fora do grupo, mas normalmente não gravamos ou usamos nossas composições dentro d’A Barca. Das novas gravações a maior parte é de domínio público e autores desconhecidos do grande público. Agora até estamos pensando em uma coisa mais autoral, de fazermos composições para o grupo — expõe.
— O repertório que levamos para os palcos é também o que juntamos em nossas viagens e pesquisas, mostrando a cultura popular através da música. Não fazemos exatamente shows de disco. Só na época de lançamento. Apresentamos um apanhado de músicas que vamos juntando e temos a intenção de não ficarmos presos em formatos prontos de shows — diz.
O grupo tem se apresentado em várias partes do país, em teatros, praças, ruas, colégios, etc. Em qualquer lugar montam seu cenário, geralmente bem colorido.
— Nossas apresentações são bem abertas, gostamos de convidar gente e dialogar com mundos diferentes. Fizemos um longo projeto de viagens, apresentações, gravações, que agora está todo disponível no site Acervo Barca. São quase sessenta horas de música que gravamos em nove estados brasileiros. Agora estamos em um momento mais tranquilo, fazendo alguns shows e pensando em um projeto futuro, ainda não definido — finaliza Lincoln.
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