Na tarde deste domingo, 29/01, o seminário “Cultura e Sustentabilidade – Rumo à Rio+20″, realizado na Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre, teve foco na economia criativa, com a mesa “A dimensão econômica do desenvolvimento cultural”, que contou com a participação da secretária da Economia Criativa* do Ministério da Cultura, Cláudia Leitão, da especialista em economia criativa e desenvolvimento sustentável, Lala Deheinzelin, e do economista Leandro Valiati.
“A economia brasileira precisa de um novo eixo que deve ser a nossa diversidade. É necessário religar os conhecimentos. Entender os limites entre o que é institucional e o que está em movimento, como a cultura”, declarou Cláudia Leitão. Para a secretária do MinC, é preciso introduzir um novo olhar para o desenvolvimento sustentável e mapear os indicadores da economia criativa, que gera cerca de 6% do PIB do país. Cláudia lembrou que nesta segunda-feira, 30, o MinC promove junto ao IBGE uma oficina para construção da conta-satélite da Cultura, que irá aferir os números do setor.
Bens intangíveis
Lala Deheinzelin destacou que “os bens intangíveis não se esgotam com o uso, mas se renovam, o que mostra o papel estratégico da economia criativa”. A sustentabilidade deve considerar o tempo, pensar o passado, o presente e o futuro e este século é um canal de enormes mudanças, onde a cultura da sustentabilidade passa pelo intangível e não se reduz as questões ligadas ao meio ambiente. “Nós da cultura criamos mentalidades e hábitos. Somos o bolo e não só a cereja”.
“É necessário transformar o crescimento brasileiro em desenvolvimento”, afirmou, Leandro Valiati. O economista explicou que o bem estar econômico tem relação direta com o consumo cultural e não somente com emprego e renda. Para ele, a economia da cultura e criativa estão cheias de canais de inovação. Valiati pontuou que é necessário garantir que as gerações futuras tenham um nível de bem estar com a cultura do país.
Papel da Cultura na sustentabilidade
Para encerrar o seminário, a mesa “Diversidade e Sustentabilidade” recebeu o secretário de Políticas Culturais do MinC, Sergio Mamberti e Justo Werlang, membro do Conselho da Fundação Gaia, de Porto Alegre. A secretária de Meio Ambiente do Rio Grande do Sul, Jussara Cony, convidada a compor a mesa, não pôde comparecer ao seminário.
Justo iniciou sua fala apresentando o trabalho da Fundação e levou a discussão para as questões de recepção da arte e de sua produção: “o pensamento presente na gênese do trabalho artístico é que entrelaça a arte e a sustentabilidade”. Ao fazer uma análise de obras apresentadas de artistas plásticos, ele pensou o ato de criação inserido na lógica do pensamento sustentável.
O secretário Sergio Mamberti ressaltou a importância do Fórum Social Temático, pelo aprofundamento das discussões em relação à cultura, tendo em pauta tema como a própria informação como dimensão importante da cultura, sempre ameaçada, segundo Mamberti, pelos processos hegemônicos. “somente a dimensão da cultura pode propriciar o pensamento de uma nova sociedade”, disse.
Mamberti optou por um discurso otimista quanto às transformações que eventos como a Rio+20 suscitam na sociedade, apontando para o futuro: “estou convencido de que a cultura é o elemento crucial da sustentabilidade, concretizador do processo de mudança. Juntos poderemos mudar as coisas. O caminho é longo, mas temos de acreditar que podemos construir um mundo diferente, onde o Homem possa ser feliz”, continuou.
No encerramento do seminário, o secretário-executivo do MInC, Vitor Ortiz, fez um balanço das mesas e agradeceu ao grande público que prestigiou o evento. Segundo Ortiz, será ampliada a posição de todos os países do continente na contribuição do debate da Rio+20: “lá nós poderemos dar uma excelente contribuição para reforçar o papel da cultura. Que o debate ultrapasse as fronteiras do Brasil. A opinião dos países do Mercosul e outros países da América Latina será considerada na discussão sobre o tema”.
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terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Modigliani no MNBA
A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, estará presente na solenidade de abertura da exposição Modigliani: Imagens de uma Vida, marcada para esta terça-feira, 31, às 19h, no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), no Rio de Janeiro. O evento é um dos principais da programação do Momento Itália-Brasil e apresenta ao público brasileiro um acervo ainda inédito em outros países da América Latina, do qual fazem parte 12 pinturas em óleo originais e cinco esculturas em bronze, além de obras e documentos, fotos, desenhos, diários e manuscritos de Modigliani e de importantes artistas da sua época, num total de 230 peças.
No Rio de Janeiro, a mostra ficará aberta à visitação pública no período de 1º de fevereiro a 15 de abril. Todo o trabalho é resultado de parceria entre o Museu a Céu Aberto (MCA) e o Modigliani Institut Archives Légalés Paris-Roma. O primeiro estado brasileiro a receber a exposição foi o Espírito Santo, onde ficou em cartaz em Vitória, entre outubro e dezembro de 2011.
O público terá a oportunidade de realizar uma imersão na intimidade do artista Amedeo Modigiliani, nascido em 1884 na Itália e morto em 1920 na França. Com isso, será possível ter acesso a um rico panorama da vida artística parisiense e italiana do século XX, distribuído em cinco salas do MNBA.
Estilos artísticos
O roteiro da exposição se inicia com os estudos de Modigliani na Itália, passando por seus professores e o aprendizado. O apogeu da carreira chega à Paris modernista, sublinhando as manifestações artísticas, influências, confrontos criativos com amigos, como Picasso, André Derain, Max Jacob, Léonard Foujita, dentre outros expoentes que, juntos, revolucionaram a História da Arte.
Com uma vida intensa, marcada por grandes amores, guerra e infortúnios, como graves doenças, Amedeo Modigliani reflete em sua arte vários estilos artísticos e desnuda o homem de maneira reveladora. O artista teve a vida interrompida precocemente por enfermidades, porém sua contribuição para a História da Arte perdura de forma imortal. Depois do Rio de Janeiro, a exposição seguirá para o Museu de Arte de São Paulo (MASP).
Para que esta exposição fosse realizada, diversas instituições cederam obras de suas coleções, como o “Modigliani Institut Archives Légalés Paris-Roma” e vários colecionadores particulares. A curadoria é de Christian Parisot, presidente do Instituto.
Momento Itália-Brasil
O evento é uma parceria entre a Embaixada da Itália, em Brasília, com os Institutos Italianos de Cultura do Rio de Janeiro e São Paulo, e os consulados no território. A programação, que envolve cerca de 200 eventos, teve inicio em setembro de 2011 e se estende até junho de 2012.
(Texto: Marcos Agostinho, Ascom/MinC)
(Fonte: MNBA/MinC)
Escritores brasileiros agradecem Prêmio Casa das Américas
Os escritores brasileiros Marcus J. M. de Carvalho, Flavio Gomes e João José Reis agradeceram hoje o prêmio Casa das Américas para sua obra O Alufá Rufino: Tráfico, escravatura e liberdade no Atlântico negro (1822-1853).
A obra, que narra a escravatura no Brasil e África, mereceu a máxima distinção na categoria de literatura brasileira do 53 Prêmio Literário Casa das Américas 2012, recentemente efetuado em Cuba.
Em resposta à Prensa Latina via internet, os três escritores coincidiram em agradecer a distinção, e, particularmente, Marcus considerou "uma imensa honra receber este importantíssimo prêmio".
"Guardarei este momento com muito orgulho e carinho, pois é importante destacar que este livro foi em boa parte um fruto acadêmico da amizade pessoal e de respeito mútuo entre nós três", indicou.
Ele ressaltou que "por causa da pesquisa - que como aventura intelectual é também uma aventura pessoal - encontramos uma personagem (Rufino), cuja vida nos permitiu visualizar uma série de processos da história social do mundo escravista".
Marcus relatou a coincidência de que Rufino tenha estado em Salvador, onde vive João; no Rio de Janeiro, onde vive Flavio, e em Recife (Pernambuco), onde reside ele.
Por sua vez, Flavio afirmou que o prêmio Casa das Américas é muito significativo por sua dimensão, importância, prestígio e tradição literária, sobretudo para os países da América Latina e Caribe. "Estamos felizes e honrados", comentou.
"Através de uma investigação de mais de uma década, reunindo documentos de coleções e arquivos de vários países, nosso objetivo foi apresentar uma reflexão ampla sobre as experiências da diáspora africana a partir da escravatura, da liberdade e do trânsito atlântico dos navios negreiros", declarou.
"A história de Alufá Rufino clareia as possibilidades de entender ações, pensamentos, religiões, dilemas, identidades, opções e conflitos dos africanos escravizados nas Américas no século 19", afirmou Flavio.
De seu lado, João manifestou que "foi com alegria que recebemos a premiação, a Casa das Américas representa uma das principais, senão a principal, instituição que se dedica à integração de intelectuais, escritores e acadêmicos da América Latina".
Exaltou que a instituição cubana realiza essa integração sem censura ideológica e política, e com um espírito de promoção da cultura dos povos latino-americanos. Segundo ele, "foi uma honra receber o reconhecimento por nosso trabalho e pelo que o prêmio representa".
De acordo com ele, a obra pretende apresentar e esclarecer a complexidade da escravatura no Atlântico Sul, em meados do século 19, usando como guia uma personagem muito original, um africano muçulmano, escravo no Brasil, que consegue comprar sua liberdade.
A obra, que narra a escravatura no Brasil e África, mereceu a máxima distinção na categoria de literatura brasileira do 53 Prêmio Literário Casa das Américas 2012, recentemente efetuado em Cuba.
Em resposta à Prensa Latina via internet, os três escritores coincidiram em agradecer a distinção, e, particularmente, Marcus considerou "uma imensa honra receber este importantíssimo prêmio".
"Guardarei este momento com muito orgulho e carinho, pois é importante destacar que este livro foi em boa parte um fruto acadêmico da amizade pessoal e de respeito mútuo entre nós três", indicou.
Ele ressaltou que "por causa da pesquisa - que como aventura intelectual é também uma aventura pessoal - encontramos uma personagem (Rufino), cuja vida nos permitiu visualizar uma série de processos da história social do mundo escravista".
Marcus relatou a coincidência de que Rufino tenha estado em Salvador, onde vive João; no Rio de Janeiro, onde vive Flavio, e em Recife (Pernambuco), onde reside ele.
Por sua vez, Flavio afirmou que o prêmio Casa das Américas é muito significativo por sua dimensão, importância, prestígio e tradição literária, sobretudo para os países da América Latina e Caribe. "Estamos felizes e honrados", comentou.
"Através de uma investigação de mais de uma década, reunindo documentos de coleções e arquivos de vários países, nosso objetivo foi apresentar uma reflexão ampla sobre as experiências da diáspora africana a partir da escravatura, da liberdade e do trânsito atlântico dos navios negreiros", declarou.
"A história de Alufá Rufino clareia as possibilidades de entender ações, pensamentos, religiões, dilemas, identidades, opções e conflitos dos africanos escravizados nas Américas no século 19", afirmou Flavio.
De seu lado, João manifestou que "foi com alegria que recebemos a premiação, a Casa das Américas representa uma das principais, senão a principal, instituição que se dedica à integração de intelectuais, escritores e acadêmicos da América Latina".
Exaltou que a instituição cubana realiza essa integração sem censura ideológica e política, e com um espírito de promoção da cultura dos povos latino-americanos. Segundo ele, "foi uma honra receber o reconhecimento por nosso trabalho e pelo que o prêmio representa".
De acordo com ele, a obra pretende apresentar e esclarecer a complexidade da escravatura no Atlântico Sul, em meados do século 19, usando como guia uma personagem muito original, um africano muçulmano, escravo no Brasil, que consegue comprar sua liberdade.
Samuel P Guimarães: “Os ricos mais ricos e os pobres mais pobres”
Samuel Pinheiro Guimarães está fora do Itamaraty, a Chancelaria brasileira e é considerado um dos mais importantes intelectuais brasileiros. Trabalha há um ano como alto representante (diretor) do Mercosul por sugestão de Lula e aceitação unânime da Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai. Ele concedeu entrevista ao Página/12, em Porto Alegre:
Página 12: Não lhe toca um mundo fácil para estar responsável pelo Mercosul.
Samuel Pinheiro Guimarães: Não, ainda que as situações sejam diferentes em diferentes países e continentes. Na Europa predominam os programas de ajuste financeiro e pressão muito forte sobre a população em geral. Todas as medidas são contra os mais pobres e contra os trabalhadores. Ao mesmo tempo estamos vendo o resultado final do processo. Os bancos sofreram prejuízos. Receberam aporte dos governos para comprar títulos. Agora os governos nacionais aumentam impostos e reduzem programas sociais e modificam a situação do trabalho para pagar dívidas. Neste ponto a conta está chegando ao povo para que a pague. Os bancos e as companhias de auditoria iniciaram a crise e a montaram e depois explodiu tudo. Os governos socorreram os bancos. Os bancos seguramente vão terminar em boa situação. Os bancos que emprestaram sabiam que os governos não poderiam pagar. Mas emprestaram. Então vão contra o povo.
Página 12: E nos Estados Unidos acontece a mesma coisa?
SPG: É um pouco diferente. Há certa ênfase em aumentar os empregos, mas houve uma reação de direita muito grande. O governo quer aumentar impostos sobre os mais ricos e lhe dizem que isto é comunismo. Os bancos foram salvos, mas assim mesmo Barack Obama não se salva da agressão. Assim mesmo, como há certa necessidade de ajuste fiscal, o governo provavelmente acabe aumentando os impostos. A pergunta é: a quem ajustará? Aos mais ricos ou a os mais desfavorecidos?
Página 12: Ásia e China?
SPG: É diferente. Há uma grande preocupação de que se reduza drasticamente o crescimento pelo descenso da atividade nos Estados Unidos e Europa. Não estou tão seguro de que isso aconteça. Assim mesmo as taxas de crescimento serão elevadas. Pensavam que para 2010 a taxa seria de oito e foi de dez por cento.
Página 12: Que há no fundo da crise?
SPG: O problema é o controle político, a hegemonia política em longo prazo.
Página 12: O controle de que?
SPG: A crise é das pequenas e médias empresas. As grandes estão bem. E os trabalhadores estão mal. Os velhos, os jovens e as empresas de porte médio estão em dificuldades. Esta crise é diferente da crise de 1929, quando o capitalismo era muito mais nacional e o grau de globalização financeira e produtiva era menor. A pressão sobre o governo para resolver a crise era maior. Hoje é menor. Com o Occupy Wall Street não chega. Há que tomar medidas. O pré-candidato presidencial Mitt Romney pagou menos de 15% de Imposto de Renda e sua secretária, 30%. A demora em resolver a crise é preocupante e a instabilidade ronda. Por sorte hoje não tem como chegar a uma guerra como a Segunda Guerra Mundial, mas cuidado com as guerras localizadas.
Página 12: A América do Sul não está em crise.
SPG: Não. O problema é outro: os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
Página 12: Não melhorou essa situação?
SPG: Vou colocar em outros termos. Sou menos rico que o outro se ele tem mais que eu. Eu posso aumentar minha renda, mas ele pode estar se distanciando. É bom que 30 milhões de pobres tenham saído de sua situação vulnerável. Mas os super-ricos no Brasil têm rendimentos incríveis. Falo de pessoas. Os bancos não existem. Existem os acionistas dos bancos. Existem os mecanismos de concentração.
Página 12: E o Estado?
SPG: O governo tenta concretizar mecanismos de desconcentração, como bolsa-família, a ajuda aos estudantes, a Contribuição Universal por Filho na Argentina. E está muito bem. A fonte dos problemas é a distribuição da riqueza, não do ingresso. Mas temos que lembrar que os Estados são criados pelas classes hegemônicas. Incluo aí como são escolhidos os juízes, para dar o exemplo de um setor específico. Os governos em geral são instrumentos das classes hegemônicas. O Partido dos Trabalhadores, inclusive no Congresso, não só no Executivo, ocupa uma parte do poder, não todo o poder. As classes conservadoras querem participar com suas posições ante as tentativas de redistribuição. Dá-se em todos os campos.
Página 12: Em quais?
SPG: O que é o orçamento? É o que o governo ou o Estado arrecada com impostos. Depois se dá a luta para recuperar esses impostos. Estão os grandes empréstimos dos bancos oficiais a taxas de juros mais baixas. Os ricos estão contra as políticas sociais públicas, mas quando se aplicam querem que sejam privatizadas e terceirizadas. Falo deste assunto porque se avançou muito em tudo isso. O esforço foi muito grande, com uma resistência conservadora permanente que vem de séculos.
Página12: Como a crise afeta os países do Mercosul?
SPG: Hoje os países sofrem um impacto de diferente tipo. Um da China e outro dos Estados Unidos e da crise européia. Os chineses são grandes demandantes de produtos agrícolas e minerais. Isto afeta os quatro países. Isso, por um lado, gera um ingresso muito interessante. Por outro lado, a China é uma grande provedora de produtos manufaturados a preços baixos, o que afeta as estruturas industriais e o funcionamento do Mercosul em relação ao seu comércio interno. Diminuem os incentivos aos investimentos industriais. Se você é investidor não vai colocar seu dinheiro para montar uma fábrica para vender produtos manufaturados aos chineses, mas em agro ou mineração, para vender matérias primas a eles.
Página 12: É uma relação necessária e ao mesmo tempo contraditória.
SPG: O importante é como transformar a relação com China para que os chineses contribuam com o desenvolvimento industrial. As populações são urbanas. Tem de haver emprego urbano. A agricultura emprega cada vez menos porque é de grande escala. Com a mineração acontece a mesma coisa. Além disso, os países sofrem variação de preços das matérias primas. Têm que aproveitar essas relações, mas não pensar que se pode viver eternamente delas.
Página 12: Há um ano que é o virtual chefe do Mercosul. Está satisfeito?
SPG: Deixe-me lembrar algo. O Mercosul nasceu em 1991 sobre a base de governos neoliberais. Os que assinaram o Tratado de Asunción foram Carlos Menem, Fernando Collor, Andrés Rodríguez e Luis Lacalle, presidentes de governos tipicamente neoliberais, que pensavam na integração regional como um instrumento prévio à integração aberta com o mundo. E isso não pode ser. O regionalismo aberto é como um casamento aberto. É um contra-senso, porque os acordos de livre comércio com terceiros obviamente destruiriam o Mercosul em razão das tarifas zero. O casamento aberto implica que não há preferência. Isso dissolveria o Mercosul. Por isso ele tem que ser transformado em um instrumento de desenvolvimento industrial dos quatro países. Em qualquer sistema de integração os países maiores se beneficiam mais, mas deve haver mecanismos de compensação através da infra-estrutura. A visão atual do Mercosul ainda é de livre comércio. E essa visão choca com alguns exemplos da própria realidade. No comércio entre Brasil e a Argentina, 40% é automotivo, e não se trata de um intercâmbio surgido do comércio livre. É feito por multinacionais, não por empresinhas nacionais. Assim organizam a sua produção. Com liberdade de comércio e sem acordos, quiçá a indústria automobilística houvesse se concentrado em um só país. Terminar com essa visão, por isso, é urgente, e mais ainda pela ofensiva chinesa. O livre comércio não leva ao desenvolvimento. Leva à desintegração.
Página 12: Por onde haveria que começar?
SPG: Por convencer os países maiores. O fundo de compensação que existe hoje é um passo muito pequeno. O Mercosul é como um carro que atolou no barro. O motorista acelera e joga barro em todas as direções, mas o carro não sai do lugar. Que fazer? Que os passageiros mais fortes saiam do carro e o empurrem. Nisso estamos. Se não é muita reunião, mas não se resolve nada. Ao mesmo tempo devo dizer que o comércio se expandiu, há muitos investimentos, principalmente dos países maiores. Mas isso é comércio. E a integração é outra coisa.
Página 12: O senhor é embaixador, foi ministro de Lula e vice-chanceler. Como foi sua formação?
SPG: (Rindo) Uma explicação para aborrecer os diplomatas: meu tataravô ocupou o mesmo cargo.
Página 12: E outra explicação?
SPG: Bom, na família da minha mãe havia empresários. Do lado do meu pai a família era de políticos abolicionistas e republicanos. Mas na vida a gente vai se fazendo com todas as contradições. Fui a um colégio de elite, o Colégio dos Jesuítas São Ignácio, no Rio. E ao mesmo tempo jogava futebol com os garotos das favelas. Comecei a ver o que tinha cada um e como era. Foi meu contato com as diferenças. Meu pai simpatizava com Getúlio Vargas, com Juscelino Kubitschek. Era anticlerical e ateu e me colocou num colégio de jesuítas. Eu estava em meio às contradições. O mundo é muito complexo, não? Fui à universidade para estudar Direito em 1958, uma das épocas mais politizadas do Brasil. Ingressei na política estudantil na época da política exterior independente. E em 1961 ingressei no Itamaraty.
Página 12: Qual é seu maior orgulho como vice-chanceler de Lula?
SPG: Antes de Lula já me havia dedicado à luta contra a ALCA. Continuei e conseguimos, em 2005, que os países mais importantes da América do Sul não formassem uma área de livre comércio de toda a América. Também lembro a briga, no Brasil, contra os acordos de proteção de investimentos. A Argentina sofre muito, ainda hoje, com esses acordos que Menem assinou. O Ministério da Fazenda do senhor Antonio Palocci queria e eu não. Como sou amigo de Celso Amorim, que era chanceler, isso foi importante. Também pusemos muita ênfase na América do Sul. Foi uma diretiva do presidente Lula, mas faltava implementar. Fizemos. Aumentamos em 30% a dotação de nossas embaixadas. Obrigamos todos os diplomatas que tivessem como primeiro destino uma embaixada na América do Sul. Não na América latina, na América do Sul. É uma forma prática de compreender as realidades e as assimetrias. E bom, também está o terreno do pensamento. Já em 1975 escrevi sobre a importância de romper com o colonialismo português e com a África do Sul. Quando se estuda as coisas, a gente começa a compreender elas um pouco melhor, não é
Página 12: Não lhe toca um mundo fácil para estar responsável pelo Mercosul.
Samuel Pinheiro Guimarães: Não, ainda que as situações sejam diferentes em diferentes países e continentes. Na Europa predominam os programas de ajuste financeiro e pressão muito forte sobre a população em geral. Todas as medidas são contra os mais pobres e contra os trabalhadores. Ao mesmo tempo estamos vendo o resultado final do processo. Os bancos sofreram prejuízos. Receberam aporte dos governos para comprar títulos. Agora os governos nacionais aumentam impostos e reduzem programas sociais e modificam a situação do trabalho para pagar dívidas. Neste ponto a conta está chegando ao povo para que a pague. Os bancos e as companhias de auditoria iniciaram a crise e a montaram e depois explodiu tudo. Os governos socorreram os bancos. Os bancos seguramente vão terminar em boa situação. Os bancos que emprestaram sabiam que os governos não poderiam pagar. Mas emprestaram. Então vão contra o povo.
Página 12: E nos Estados Unidos acontece a mesma coisa?
SPG: É um pouco diferente. Há certa ênfase em aumentar os empregos, mas houve uma reação de direita muito grande. O governo quer aumentar impostos sobre os mais ricos e lhe dizem que isto é comunismo. Os bancos foram salvos, mas assim mesmo Barack Obama não se salva da agressão. Assim mesmo, como há certa necessidade de ajuste fiscal, o governo provavelmente acabe aumentando os impostos. A pergunta é: a quem ajustará? Aos mais ricos ou a os mais desfavorecidos?
Página 12: Ásia e China?
SPG: É diferente. Há uma grande preocupação de que se reduza drasticamente o crescimento pelo descenso da atividade nos Estados Unidos e Europa. Não estou tão seguro de que isso aconteça. Assim mesmo as taxas de crescimento serão elevadas. Pensavam que para 2010 a taxa seria de oito e foi de dez por cento.
Página 12: Que há no fundo da crise?
SPG: O problema é o controle político, a hegemonia política em longo prazo.
Página 12: O controle de que?
SPG: A crise é das pequenas e médias empresas. As grandes estão bem. E os trabalhadores estão mal. Os velhos, os jovens e as empresas de porte médio estão em dificuldades. Esta crise é diferente da crise de 1929, quando o capitalismo era muito mais nacional e o grau de globalização financeira e produtiva era menor. A pressão sobre o governo para resolver a crise era maior. Hoje é menor. Com o Occupy Wall Street não chega. Há que tomar medidas. O pré-candidato presidencial Mitt Romney pagou menos de 15% de Imposto de Renda e sua secretária, 30%. A demora em resolver a crise é preocupante e a instabilidade ronda. Por sorte hoje não tem como chegar a uma guerra como a Segunda Guerra Mundial, mas cuidado com as guerras localizadas.
Página 12: A América do Sul não está em crise.
SPG: Não. O problema é outro: os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
Página 12: Não melhorou essa situação?
SPG: Vou colocar em outros termos. Sou menos rico que o outro se ele tem mais que eu. Eu posso aumentar minha renda, mas ele pode estar se distanciando. É bom que 30 milhões de pobres tenham saído de sua situação vulnerável. Mas os super-ricos no Brasil têm rendimentos incríveis. Falo de pessoas. Os bancos não existem. Existem os acionistas dos bancos. Existem os mecanismos de concentração.
Página 12: E o Estado?
SPG: O governo tenta concretizar mecanismos de desconcentração, como bolsa-família, a ajuda aos estudantes, a Contribuição Universal por Filho na Argentina. E está muito bem. A fonte dos problemas é a distribuição da riqueza, não do ingresso. Mas temos que lembrar que os Estados são criados pelas classes hegemônicas. Incluo aí como são escolhidos os juízes, para dar o exemplo de um setor específico. Os governos em geral são instrumentos das classes hegemônicas. O Partido dos Trabalhadores, inclusive no Congresso, não só no Executivo, ocupa uma parte do poder, não todo o poder. As classes conservadoras querem participar com suas posições ante as tentativas de redistribuição. Dá-se em todos os campos.
Página 12: Em quais?
SPG: O que é o orçamento? É o que o governo ou o Estado arrecada com impostos. Depois se dá a luta para recuperar esses impostos. Estão os grandes empréstimos dos bancos oficiais a taxas de juros mais baixas. Os ricos estão contra as políticas sociais públicas, mas quando se aplicam querem que sejam privatizadas e terceirizadas. Falo deste assunto porque se avançou muito em tudo isso. O esforço foi muito grande, com uma resistência conservadora permanente que vem de séculos.
Página12: Como a crise afeta os países do Mercosul?
SPG: Hoje os países sofrem um impacto de diferente tipo. Um da China e outro dos Estados Unidos e da crise européia. Os chineses são grandes demandantes de produtos agrícolas e minerais. Isto afeta os quatro países. Isso, por um lado, gera um ingresso muito interessante. Por outro lado, a China é uma grande provedora de produtos manufaturados a preços baixos, o que afeta as estruturas industriais e o funcionamento do Mercosul em relação ao seu comércio interno. Diminuem os incentivos aos investimentos industriais. Se você é investidor não vai colocar seu dinheiro para montar uma fábrica para vender produtos manufaturados aos chineses, mas em agro ou mineração, para vender matérias primas a eles.
Página 12: É uma relação necessária e ao mesmo tempo contraditória.
SPG: O importante é como transformar a relação com China para que os chineses contribuam com o desenvolvimento industrial. As populações são urbanas. Tem de haver emprego urbano. A agricultura emprega cada vez menos porque é de grande escala. Com a mineração acontece a mesma coisa. Além disso, os países sofrem variação de preços das matérias primas. Têm que aproveitar essas relações, mas não pensar que se pode viver eternamente delas.
Página 12: Há um ano que é o virtual chefe do Mercosul. Está satisfeito?
SPG: Deixe-me lembrar algo. O Mercosul nasceu em 1991 sobre a base de governos neoliberais. Os que assinaram o Tratado de Asunción foram Carlos Menem, Fernando Collor, Andrés Rodríguez e Luis Lacalle, presidentes de governos tipicamente neoliberais, que pensavam na integração regional como um instrumento prévio à integração aberta com o mundo. E isso não pode ser. O regionalismo aberto é como um casamento aberto. É um contra-senso, porque os acordos de livre comércio com terceiros obviamente destruiriam o Mercosul em razão das tarifas zero. O casamento aberto implica que não há preferência. Isso dissolveria o Mercosul. Por isso ele tem que ser transformado em um instrumento de desenvolvimento industrial dos quatro países. Em qualquer sistema de integração os países maiores se beneficiam mais, mas deve haver mecanismos de compensação através da infra-estrutura. A visão atual do Mercosul ainda é de livre comércio. E essa visão choca com alguns exemplos da própria realidade. No comércio entre Brasil e a Argentina, 40% é automotivo, e não se trata de um intercâmbio surgido do comércio livre. É feito por multinacionais, não por empresinhas nacionais. Assim organizam a sua produção. Com liberdade de comércio e sem acordos, quiçá a indústria automobilística houvesse se concentrado em um só país. Terminar com essa visão, por isso, é urgente, e mais ainda pela ofensiva chinesa. O livre comércio não leva ao desenvolvimento. Leva à desintegração.
Página 12: Por onde haveria que começar?
SPG: Por convencer os países maiores. O fundo de compensação que existe hoje é um passo muito pequeno. O Mercosul é como um carro que atolou no barro. O motorista acelera e joga barro em todas as direções, mas o carro não sai do lugar. Que fazer? Que os passageiros mais fortes saiam do carro e o empurrem. Nisso estamos. Se não é muita reunião, mas não se resolve nada. Ao mesmo tempo devo dizer que o comércio se expandiu, há muitos investimentos, principalmente dos países maiores. Mas isso é comércio. E a integração é outra coisa.
Página 12: O senhor é embaixador, foi ministro de Lula e vice-chanceler. Como foi sua formação?
SPG: (Rindo) Uma explicação para aborrecer os diplomatas: meu tataravô ocupou o mesmo cargo.
Página 12: E outra explicação?
SPG: Bom, na família da minha mãe havia empresários. Do lado do meu pai a família era de políticos abolicionistas e republicanos. Mas na vida a gente vai se fazendo com todas as contradições. Fui a um colégio de elite, o Colégio dos Jesuítas São Ignácio, no Rio. E ao mesmo tempo jogava futebol com os garotos das favelas. Comecei a ver o que tinha cada um e como era. Foi meu contato com as diferenças. Meu pai simpatizava com Getúlio Vargas, com Juscelino Kubitschek. Era anticlerical e ateu e me colocou num colégio de jesuítas. Eu estava em meio às contradições. O mundo é muito complexo, não? Fui à universidade para estudar Direito em 1958, uma das épocas mais politizadas do Brasil. Ingressei na política estudantil na época da política exterior independente. E em 1961 ingressei no Itamaraty.
Página 12: Qual é seu maior orgulho como vice-chanceler de Lula?
SPG: Antes de Lula já me havia dedicado à luta contra a ALCA. Continuei e conseguimos, em 2005, que os países mais importantes da América do Sul não formassem uma área de livre comércio de toda a América. Também lembro a briga, no Brasil, contra os acordos de proteção de investimentos. A Argentina sofre muito, ainda hoje, com esses acordos que Menem assinou. O Ministério da Fazenda do senhor Antonio Palocci queria e eu não. Como sou amigo de Celso Amorim, que era chanceler, isso foi importante. Também pusemos muita ênfase na América do Sul. Foi uma diretiva do presidente Lula, mas faltava implementar. Fizemos. Aumentamos em 30% a dotação de nossas embaixadas. Obrigamos todos os diplomatas que tivessem como primeiro destino uma embaixada na América do Sul. Não na América latina, na América do Sul. É uma forma prática de compreender as realidades e as assimetrias. E bom, também está o terreno do pensamento. Já em 1975 escrevi sobre a importância de romper com o colonialismo português e com a África do Sul. Quando se estuda as coisas, a gente começa a compreender elas um pouco melhor, não é
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Paulo Vanzolini e a sabedoria do boêmio
Noite dessas, Paulo Vanzolini sonhou com uma poesia de Olavo Bilac que decorou quando ainda era rapazote. Os versos, que são muitos, vieram por inteiro. Aos 88 anos, o autor de composições que atravessaram gerações sem perder a força, como Ronda e Homem de Moral, conserva a prodigiosa memória e se mantém imperturbável diante da fama.
Por Ana Ferraz, em Carta Capital
Considerado por muitos o embaixador do samba de São Paulo, ele agradece o epíteto. “Não é verdade, mas eu gosto”, diz, sorriso nos lábios. Acomodado numa poltrona de couro na modesta casa do Cambuci, “bairro cheio de bares ótimos”, o homem culto que cresceu rodeado de livros e se tornou zoólogo de reputação internacional põe em perspectiva a criação de uma vida, 70 composições e 155 trabalhos científicos. “Que glória é essa, meu Deus”, questiona, num lapso, o declarado ateu, bisneto de anarquista. “É uma glória muito humilde. Não tenho motivos para ser vaidoso.”
Nesta sexta (27), semana em que São Paulo completa 458 anos, Vanzolini concederá ao público o privilégio de tê-lo na Choperia do Sesc Pompeia. Instalado numa mesa, cervejinha à mão, o artista acompanhará alguns de seus grandes sucessos, interpretados por Ana Bernardo e Carlinhos Vergueiro. Entre uma canção e outra, o show será pontuado pelas reminiscências do compositor que, junto com Adoniran Barbosa, de quem foi “amigo de muitas cachacinhas”, traduziu a cidade de forma definitiva.
“Adoniran era ótima pessoa, nos dávamos muito bem. O cara mais desligado que já conheci. Vinha de família italiana do Vêneto. De menino o chamavam de Joanim.” Os longos papos entre Vanzolini e João Rubinato (Adoniran), que em sua simplicidade dizia não entender bem o que o cientista fazia (“ele mexe com zoológico, sei lá”), jamais renderam samba. “Sempre me pedem para contar como era nossa conversa. Era muito cotidiana. Não tinha nada demais. Era nossa conversa.”
A famosa Tiro ao Álvaro, relembra, surgiu como um presente do jornalista e escritor Osvaldo Molles ao amigo Adoniran. Foi Molles também o criador do personagem Charutinho, de tiradas engraçadas embaladas por sotaque italianado, que interpretou com grande sucesso na Rádio Record.
“Adoniran acabou assumindo na vida real o personagem da ficção. No fundo, ele era mesmo só o Joanim.” Quando a saudade aperta, Vanzolini dirige-se ao Mercado Municipal, o Mercadão da capital paulista. “Colocaram uma estátua do Adoniran numa mesa. De vez em quando vou lá tomar uma cerveja com ele.”
A prosa animada de repente silencia. O olhar do compositor vagueia pela sala, ambiente que Ana Bernardo, sua atual mulher, define como “totalmente masculino”. Justifica-se a quase queixa: sobre um aparador, uma grande cobra de madeira exibe a boca aberta (souvenir comprado na Espanha). A seu lado, outra, bem mais modesta nas medidas, porém, verdadeira, exibe-se sobre um tronco.
Para alívio dos visitantes, o exemplar não se move, foi plastificado graças a uma técnica especial. A terceira fica na mesinha de centro. Ao lado da porta de entrada, o cabideiro dá pistas sobre a atividade profissional do dono da casa. Ali estão os chapéus que Vanzolini usava para adentrar o mato em busca de bichos.
Foi com a zoologia que o boêmio ganhou a vida. Ele fez-se médico pela Universidade de São Paulo somente para facilitar o doutorado em zoologia, em Harvard, nos EUA. Especialidade: répteis. “Nunca examinei um doente na vida.” Por motivos óbvios, tem grande apreço por lagartos e lagartixas. Até hoje mantém a postos seu kit de pegar bicho.
No ano passado, uma editora reuniu toda a sua produção científica. Também em 2011, a Fundação Conrado Wessel concedeu seu prêmio máximo a Vanzolini. “Vou receber em junho, na Sala São Paulo. É bom pra burro, são 300 mil reais”, admira-se. “Só que vou ter de pagar Imposto de Renda.”
Em um ano repleto de homenagens, Vanzolini receberá a Medalha Armando de Salles Oliveira. Um gesto de reconhecimento ao homem de números científicos robustos: 47 anos de trabalho no Museu de Zoologia, 31 deles como diretor, 40 mil animais capturados e a construção do mais completo acervo sobre répteis da América do Sul. A paixão pelos tais bichos começou quando ele ainda era imberbe. Aos 14 anos já estagiava no Instituto Biológico, onde foi iniciado na branquinha. “Todo fim de expediente rolava uma cachacinha, eu ganhava meia.”
No rastro dos répteis, muitas histórias. “Durante um trabalho na Argentina, fui comprar um disco da Mercedes Sosa e saí de braço dado com um soldado”, diverte-se. “O agente da polícia queria saber por que eu estava comprando aquele disco. Disse: ‘Ela é uma boa cantora’. O sujeito ficou olhando na minha cara. Me ameaçou, mas não podia fazer nada.”
Em tempos de ditadura, Vanzolini foi surpreendido por um convite impossível de ser recusado. O general Golbery do Couto e Silva, o “feiticeiro” do regime militar, o convocava a Brasília. Sem mais explicações. Enviou passagem aérea e limusine com motorista. “Ele mandou me chamar para passar um sabão. Queria me dizer que eu era contra o governo. E eu era. Me disse que isso poderia dar mau resultado.” Com calma inabalável, o cientista retrucou: “Isso vai depender de quem aguentar mais tempo, nós ou vocês”. Conversa encerrada, voltou para São Paulo.
Foi durante o tempo em que serviu na cavalaria que Vanzolini compôs um de seus maiores sucessos, Ronda, clássico que adquiriu a impressão digital de Márcia, sua mais reconhecida intérprete. “Eu sou Ronda”, já assumiu a cantora ao autor. A música é líder de pedidos nos karaokês até hoje. “As japonesas são as que mais pedem. No bar em que a Ana canta, vem escrito no guardanapo: Honda”, conta o compositor, rindo.
A verdade, confessa, é que sua relação com a canção inspirada nas mulheres que observava no entra e sai dos bares à procura dos parceiros se desgastou. “Sabe o que as minhas filhas dizem? Fez, agora aguenta!” Vanzolini argumenta que a composição, de melodia pungente, é uma piada. “Começa dando a impressão de que a mulher procura o sujeito para se reconciliar, mas é para desperdiçar um pente de revólver.”
Vanzolini começou a compor quando frequentava a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo. Diz não ter ideia de qual foi a primeira composição. “Aliás, lembro, mas joguei fora, não prestava.” Outra meia dúzia teve a mesma infausta sorte. A criação favorita? “Não me ocorre nenhuma.”
Dali a pouco cita aquela que considera uma de suas melhores, Longe de Casa eu Choro. “Fiz em Cambridge, pensando em São Paulo. Era uma poesia minha. O Paulinho Nogueira pegou o livro e disse: ‘Você não é poeta, é sambista. Aqui está cheio de letras de samba esperando música’. Paulinho era meu amigo de infância. Fez a melodia com Eduardo Gudin.” Outra que também teve o auxílio luxuoso de Paulinho Nogueira é Valsa das Três da Manhã. “Paulinho era um sujeito de qualidade humana excepcional.” A que mais rendeu? “Só uma deu dinheiro, Volta por Cima. Comprei livros para o Museu de Zoologia.”
Paradoxalmente, e para assombro de quem não o conhece, Vanzolini nada sabe de música. “Tenho péssimo ouvido. Não sei ler música, não sei o que é acorde”, jura. “Meu professor foi o rádio.” O método para preservar as composições consistia em decorá-las. “Se esquecesse perdia tudo. Dá uma mão de obra danada, por isso larguei”, diz. “Fica uma coisa obsessiva. Até que a música saia você não pensa em outra coisa.” O método Vanzolini de compor é outro mistério. “Inspiração a gente procura. Na cabeça. Geralmente começa com uma frase. Aí vem tudo junto, letra e melodia.”
Para quem supõe haver sempre algo autobiográfico em cada letra, o mestre desmente. “Nunca sofri com dor de cotovelo, por exemplo, é só um tema.” Na belíssima Quando Eu For Eu Vou sem Pena, interpretada por Chico Buarque em Acerto de Contas, coleção com quatro CDs que reúne a obra do autor (“essa caixa completou a minha vida”), o tom é triste. Uma tocante despedida. Mas não se trata exatamente disso. A inspiração atende pelos nomes de Miriam, Marina, Carol e Cris. “Eu estava numa fazenda, durante excursão do museu. Comecei a pensar em como seria quando partisse”, conta. “Eram as alunas que estavam ali, ele fez para elas”, entrega Ana Bernardo, diante do olhar risonho do poeta fingidor.
Boêmio de carteirinha, mulherengo apenas “na medida da necessidade”, Vanzolini adorava percorrer as ruas de São Paulo até altas horas, sozinho. Nesse périplo pela então metrópole da garoa, fez várias descobertas. “Uma vez abri uma porta e descobri os Macambiras. De outra, Virgínia Rosa.” Ana Bernardo, companheira dos últimos 15 anos, também foi um encontro patrocinado pela música. A filha do fundador dos Demônios da Garoa encantou o compositor com sua voz firme e melodiosa. “Ela entende a música que canta. É minha melhor intérprete.”
Autodefinido sambista tradicional, Vanzolini mantém o entusiasmo pela música. Ouve com admiração Noel Rosa, Dorival Caymmi, Nelson Cavaquinho, Sílvio Caldas, Cartola e Paulinho da Viola, entre outros grandes. E considera-se realizado. “Estou recebendo mais do que esperava. É muita recompensa no fim da vida”, comenta, com a sabedoria dos modestos. Na segunda-feira que antecede o carnaval, a Banda Redonda, fundada por Plínio Marcos, vai homenageá-lo. O enfarte que lhe surpreendeu em 2004, roubando-lhe 70% da capacidade cardíaca, provou ser incapaz de deter o poeta. “Estarei lá, lógico”, garante, com brilho no olhar.
Por Ana Ferraz, em Carta Capital
Considerado por muitos o embaixador do samba de São Paulo, ele agradece o epíteto. “Não é verdade, mas eu gosto”, diz, sorriso nos lábios. Acomodado numa poltrona de couro na modesta casa do Cambuci, “bairro cheio de bares ótimos”, o homem culto que cresceu rodeado de livros e se tornou zoólogo de reputação internacional põe em perspectiva a criação de uma vida, 70 composições e 155 trabalhos científicos. “Que glória é essa, meu Deus”, questiona, num lapso, o declarado ateu, bisneto de anarquista. “É uma glória muito humilde. Não tenho motivos para ser vaidoso.”
Nesta sexta (27), semana em que São Paulo completa 458 anos, Vanzolini concederá ao público o privilégio de tê-lo na Choperia do Sesc Pompeia. Instalado numa mesa, cervejinha à mão, o artista acompanhará alguns de seus grandes sucessos, interpretados por Ana Bernardo e Carlinhos Vergueiro. Entre uma canção e outra, o show será pontuado pelas reminiscências do compositor que, junto com Adoniran Barbosa, de quem foi “amigo de muitas cachacinhas”, traduziu a cidade de forma definitiva.
“Adoniran era ótima pessoa, nos dávamos muito bem. O cara mais desligado que já conheci. Vinha de família italiana do Vêneto. De menino o chamavam de Joanim.” Os longos papos entre Vanzolini e João Rubinato (Adoniran), que em sua simplicidade dizia não entender bem o que o cientista fazia (“ele mexe com zoológico, sei lá”), jamais renderam samba. “Sempre me pedem para contar como era nossa conversa. Era muito cotidiana. Não tinha nada demais. Era nossa conversa.”
A famosa Tiro ao Álvaro, relembra, surgiu como um presente do jornalista e escritor Osvaldo Molles ao amigo Adoniran. Foi Molles também o criador do personagem Charutinho, de tiradas engraçadas embaladas por sotaque italianado, que interpretou com grande sucesso na Rádio Record.
“Adoniran acabou assumindo na vida real o personagem da ficção. No fundo, ele era mesmo só o Joanim.” Quando a saudade aperta, Vanzolini dirige-se ao Mercado Municipal, o Mercadão da capital paulista. “Colocaram uma estátua do Adoniran numa mesa. De vez em quando vou lá tomar uma cerveja com ele.”
A prosa animada de repente silencia. O olhar do compositor vagueia pela sala, ambiente que Ana Bernardo, sua atual mulher, define como “totalmente masculino”. Justifica-se a quase queixa: sobre um aparador, uma grande cobra de madeira exibe a boca aberta (souvenir comprado na Espanha). A seu lado, outra, bem mais modesta nas medidas, porém, verdadeira, exibe-se sobre um tronco.
Para alívio dos visitantes, o exemplar não se move, foi plastificado graças a uma técnica especial. A terceira fica na mesinha de centro. Ao lado da porta de entrada, o cabideiro dá pistas sobre a atividade profissional do dono da casa. Ali estão os chapéus que Vanzolini usava para adentrar o mato em busca de bichos.
Foi com a zoologia que o boêmio ganhou a vida. Ele fez-se médico pela Universidade de São Paulo somente para facilitar o doutorado em zoologia, em Harvard, nos EUA. Especialidade: répteis. “Nunca examinei um doente na vida.” Por motivos óbvios, tem grande apreço por lagartos e lagartixas. Até hoje mantém a postos seu kit de pegar bicho.
No ano passado, uma editora reuniu toda a sua produção científica. Também em 2011, a Fundação Conrado Wessel concedeu seu prêmio máximo a Vanzolini. “Vou receber em junho, na Sala São Paulo. É bom pra burro, são 300 mil reais”, admira-se. “Só que vou ter de pagar Imposto de Renda.”
Em um ano repleto de homenagens, Vanzolini receberá a Medalha Armando de Salles Oliveira. Um gesto de reconhecimento ao homem de números científicos robustos: 47 anos de trabalho no Museu de Zoologia, 31 deles como diretor, 40 mil animais capturados e a construção do mais completo acervo sobre répteis da América do Sul. A paixão pelos tais bichos começou quando ele ainda era imberbe. Aos 14 anos já estagiava no Instituto Biológico, onde foi iniciado na branquinha. “Todo fim de expediente rolava uma cachacinha, eu ganhava meia.”
No rastro dos répteis, muitas histórias. “Durante um trabalho na Argentina, fui comprar um disco da Mercedes Sosa e saí de braço dado com um soldado”, diverte-se. “O agente da polícia queria saber por que eu estava comprando aquele disco. Disse: ‘Ela é uma boa cantora’. O sujeito ficou olhando na minha cara. Me ameaçou, mas não podia fazer nada.”
Em tempos de ditadura, Vanzolini foi surpreendido por um convite impossível de ser recusado. O general Golbery do Couto e Silva, o “feiticeiro” do regime militar, o convocava a Brasília. Sem mais explicações. Enviou passagem aérea e limusine com motorista. “Ele mandou me chamar para passar um sabão. Queria me dizer que eu era contra o governo. E eu era. Me disse que isso poderia dar mau resultado.” Com calma inabalável, o cientista retrucou: “Isso vai depender de quem aguentar mais tempo, nós ou vocês”. Conversa encerrada, voltou para São Paulo.
Foi durante o tempo em que serviu na cavalaria que Vanzolini compôs um de seus maiores sucessos, Ronda, clássico que adquiriu a impressão digital de Márcia, sua mais reconhecida intérprete. “Eu sou Ronda”, já assumiu a cantora ao autor. A música é líder de pedidos nos karaokês até hoje. “As japonesas são as que mais pedem. No bar em que a Ana canta, vem escrito no guardanapo: Honda”, conta o compositor, rindo.
A verdade, confessa, é que sua relação com a canção inspirada nas mulheres que observava no entra e sai dos bares à procura dos parceiros se desgastou. “Sabe o que as minhas filhas dizem? Fez, agora aguenta!” Vanzolini argumenta que a composição, de melodia pungente, é uma piada. “Começa dando a impressão de que a mulher procura o sujeito para se reconciliar, mas é para desperdiçar um pente de revólver.”
Vanzolini começou a compor quando frequentava a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo. Diz não ter ideia de qual foi a primeira composição. “Aliás, lembro, mas joguei fora, não prestava.” Outra meia dúzia teve a mesma infausta sorte. A criação favorita? “Não me ocorre nenhuma.”
Dali a pouco cita aquela que considera uma de suas melhores, Longe de Casa eu Choro. “Fiz em Cambridge, pensando em São Paulo. Era uma poesia minha. O Paulinho Nogueira pegou o livro e disse: ‘Você não é poeta, é sambista. Aqui está cheio de letras de samba esperando música’. Paulinho era meu amigo de infância. Fez a melodia com Eduardo Gudin.” Outra que também teve o auxílio luxuoso de Paulinho Nogueira é Valsa das Três da Manhã. “Paulinho era um sujeito de qualidade humana excepcional.” A que mais rendeu? “Só uma deu dinheiro, Volta por Cima. Comprei livros para o Museu de Zoologia.”
Paradoxalmente, e para assombro de quem não o conhece, Vanzolini nada sabe de música. “Tenho péssimo ouvido. Não sei ler música, não sei o que é acorde”, jura. “Meu professor foi o rádio.” O método para preservar as composições consistia em decorá-las. “Se esquecesse perdia tudo. Dá uma mão de obra danada, por isso larguei”, diz. “Fica uma coisa obsessiva. Até que a música saia você não pensa em outra coisa.” O método Vanzolini de compor é outro mistério. “Inspiração a gente procura. Na cabeça. Geralmente começa com uma frase. Aí vem tudo junto, letra e melodia.”
Para quem supõe haver sempre algo autobiográfico em cada letra, o mestre desmente. “Nunca sofri com dor de cotovelo, por exemplo, é só um tema.” Na belíssima Quando Eu For Eu Vou sem Pena, interpretada por Chico Buarque em Acerto de Contas, coleção com quatro CDs que reúne a obra do autor (“essa caixa completou a minha vida”), o tom é triste. Uma tocante despedida. Mas não se trata exatamente disso. A inspiração atende pelos nomes de Miriam, Marina, Carol e Cris. “Eu estava numa fazenda, durante excursão do museu. Comecei a pensar em como seria quando partisse”, conta. “Eram as alunas que estavam ali, ele fez para elas”, entrega Ana Bernardo, diante do olhar risonho do poeta fingidor.
Boêmio de carteirinha, mulherengo apenas “na medida da necessidade”, Vanzolini adorava percorrer as ruas de São Paulo até altas horas, sozinho. Nesse périplo pela então metrópole da garoa, fez várias descobertas. “Uma vez abri uma porta e descobri os Macambiras. De outra, Virgínia Rosa.” Ana Bernardo, companheira dos últimos 15 anos, também foi um encontro patrocinado pela música. A filha do fundador dos Demônios da Garoa encantou o compositor com sua voz firme e melodiosa. “Ela entende a música que canta. É minha melhor intérprete.”
Autodefinido sambista tradicional, Vanzolini mantém o entusiasmo pela música. Ouve com admiração Noel Rosa, Dorival Caymmi, Nelson Cavaquinho, Sílvio Caldas, Cartola e Paulinho da Viola, entre outros grandes. E considera-se realizado. “Estou recebendo mais do que esperava. É muita recompensa no fim da vida”, comenta, com a sabedoria dos modestos. Na segunda-feira que antecede o carnaval, a Banda Redonda, fundada por Plínio Marcos, vai homenageá-lo. O enfarte que lhe surpreendeu em 2004, roubando-lhe 70% da capacidade cardíaca, provou ser incapaz de deter o poeta. “Estarei lá, lógico”, garante, com brilho no olhar.
O homem que buscou as Raízes do Brasil
Obra inovadora e vida pessoal peculiar de Sérgio Buarque de Holanda emergem em incursão cinebiográfica de Nelson Pereira dos Santos.
Por Arlindenor Pedro*
Na história do cinema no Brasil vamos encontrar um destacado papel para a figura de Nelson Pereira dos Santos. Por sua importante produção, ele é, sem dúvidas, um dos construtores do prestígio que nosso cinema alcançou junto à critica internacional. Possui, na galeria de suas realizações, verdadeiras obras-primas, sendo nítida uma preferência para a passagem da literatura para a linguagem cinematográfica. São exemplos Vidas Secas, de Graciliano Ramos e filmes adaptados nas obras de Jorge Amado e Guimarães Rosa. Com sua arte, Nelson Pereira dos Santos ajuda a descobrir e entender esse Brasil tão complexo, do qual somos filhos.
Em uma de suas recentes realizações, ele incursionou por um tipo de cinema que chamamos cinebiografia. Trata-se de um projeto que visa aproximar o público da vida e da obra de um dos mais importantes pensadores da nossa história, Sérgio Buarque de Holanda. A produção tem o nome de Raízes do Brasil. É uma escolha apropriada: esse importante historiador buscou sempre o entendimento da nossa gênese, o essencial de nossa existência: para que pudéssemos, enfim, responder quem somos nós e qual o sentido desses imensos Brasis.
Nelson Pereira dos Santos nos coloca em contato com o historiador por meio de seus amigos, e com muita ênfase, do depoimento de sua família – notadamente, as três últimas gerações dos Buarque de Holanda (alguns conhecidos do público, por serem artistas, professores, intelectuais). É obra própria para ser vista em DVD, na calma de casa. Apesar da excelência de roteiro e condução de um dos maiores diretores do nosso cinema, a complexidade das questões levantadas exige os recursos da pausa e retorno, para refletir sobre o tema proposto. Trata-se de uma produção que deve ser entendida na sua totalidade – não como filme isoladamente.
O filme é distribuído em dois DVDs. O primeiro, um filme de cerca de 70 minutos, é divertida viagem, comandada pela força da presença da viúva, Maria Amélia. Somos conduzidos por uma ideia original de Ana Holanda e pela participação de Miúcha no roteiro. Através das lentes de Nelson Pereira dos Santos, vamos penetrando na intimidade do escritor, conhecendo aspectos relevantes do seu dia-a-dia, não nos retendo somente na sua obra literária ou nos episódios de sua vida pública. Conhecemos, então, um outro Sérgio Buarque de Holanda: gozador, espirituoso, devotado aos amigos e familiares que transformam sua casa em ponto de encontro de artistas e intelectuais.
No segundo DVD, o foco é dirigido para a produção intelectual do historiador. Surgem imagens raras da sua vida pública e de suas atitudes (já que ele esteve presente em grandes movimentos da nossa cultura e vida política). Tomamos contato, então, com dois de seus mais importantes livros: Raízes do Brasil, de 1936, e Visão do Paraíso, publicado em 1958, numa primeira edição limitada, para fins acadêmicos.
As duas obras pairam constantemente durante todo o filme, e são citadas em vários depoimentos. Em parte do segundo disco encontramos os depoimentos dos professores Maria Odília L.S.Dias e Antonio Prado, ambos da USP, que fogem dos rituais de uma palestra ou aula acadêmica para refletir sobre a construção do pensamento do professor Sérgio Buarque e a sua contribuição para a formação da teoria histórica do Brasil.
Tornou-se lugar comum dizer que Raízes do Brasil é, ao lado de Formação do Brasil Contemporâneo, de Caio Prado Junior, e Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freire, obra importante e essencial para quem deseja conhecer as bases reais da criação e desenvolvimento do Estado brasileiro. Por suas características revolucionárias e inovadoras, que mudaram o olhar que até então prevalecia nos estudos sobre nosso país, tornaram-se clássicos que fogem à temporalidade e impõem-se como fonte de pesquisa.
Interessante é verificarmos que Raízes do Brasil não era a obra mais cultuada pelo autor – que explicitou melhor seus pensamentos em Visão do Paraíso, escrito em sua maturidade intelectual. No documentário, Chico Buarque, seu filho, relata que ao dizer ao pai, quando já tinha cerca de 20 anos, que estava lendo Raízes, ouviu a sugestão de não dar muita importância à leitura – e, sim, ler Visão do Paraíso, que seria muito melhor.
Raízes do Brasil foi gestado no período em que Sérgio Buarque viveu na Alemanha, após sua ruptura com as diretrizes que nortearam o movimento modernista no Brasil e a influência dos conceitos teóricos europeus em voga naquele momento. Na obra, ele sustenta que os países ibéricos só vieram a se articular realmente com a Europa a partir da época dos descobrimentos.
Desenvolve a partir disto, a ideia de um homem peculiar, fruto de uma sociedade também peculiar e elemento decisivo para o processo de expansão colonizante. Argumenta que os homens formados nas sociedades ibéricas diferiam radicalmente dos cristãos europeus de países como a Inglaterra, França ou Alemanha.
Buarque trabalha com a categoria dos pares antagônicos de Weber, dividindo-os nas categorias de trabalhador e aventureiro e atribuindo características próprias a cada uma. Afirma que “nas obras da conquista e colonização dos novos mundos coube ao espírito de trabalho, no sentido aqui compreendido, papel muito limitado, quase nulo. A época predispunha aos gestos e façanhas audaciosas, galardoando bem os homens de grandes voos. E não foi fortuita a circunstância de se terem encontrado neste continente, empenhados nessa obra, principalmente as nações onde o tipo do trabalhador, tal como acaba de ser discriminado, encontrou ambiente menos propício.” (in Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda).
Para ele, os ibéricos, aí classificados como de espírito aventureiro, são individualistas, avessos a hierarquia e controle. “Esse tipo humano ignora as fronteiras. No mundo tudo se apresenta a ele em generosa amplitude e onde quer que se erija um obstáculo a seus propósitos ambiciosos, sabe transformar esse obstáculo em trampolim. Vive dos espaços ilimitados, dos projetos vastos, dos horizontes distantes”. (idem).
Esta interpretação difere em muito das análises dos historiadores de cunho marxista, mais tradicionais, tal como Nelson Werneck Sodré – que apóia sua interpretação na análise dos modos de produção e das classes sociais, agentes do processo produtivo. Por este ângulo, o individuo não joga um papel tão importante quanto o que lhe atribui o autor de Raízes do Brasil, naquele momento muito influenciado pelos conceitos weberianos. Sua conhecida tese da oposição entre o homem cordial e o civilizador nos leva a esse entendimento.
Se voltarmos no tempo, veremos que neste período – entre os séculos 14 e 15 –, Portugal, embora pequeno e com uma população diminuta, é um dos países mais avançados na Europa. Ao contrário das demais nações cristãs do continente, que ainda viviam o feudalismo, finalizara o processo de unidade territorial, ultrapassando a civilização visigótica românica, substituindo a civilização de regadio erigida após as invasões muçulmanas.
O país criara uma identidade nacional. Separando-se de Castela e acumulando recursos econômicos, militares e tecnológicos, por meio de um gradativo processo de expansão pelas costa da África, tornara-se a mais importante nação do período. Podemos dizer que a chegada a Calicute dos poderosos galeões da armada portuguesa está à altura das grandes conquistas da humanidade, semelhante ao peso que a chegada do homem à Lua teve para nós, no século passado.
Por quase um século, buscava-se um novo caminho de comércio que evitasse trafegar por dentro do império construído pelos árabes. Com seu feito, inédito, naquele momento, Vasco da Gama passa a ser um grande herói, uma espécie de Neil Armstrong de sua época.
Num mundo onde ainda prevaleciam os resquícios obscurantistas da Idade Média, Portugal pensa globalmente – está a anos-luz da maioria das nações europeias. Sua epopeia abrira para a Europa as condições para o maior movimento de expansão comercial da humanidade, somente inferior ao processo de globalização que vivemos hoje. Tornara realidade um sonho: vencer as barreiras do Mar Tenebroso, flanquear o Islã pelas costas da África, chegar às Índias, ao oriente, para monopolizar o comércio das especiarias.
Além de reeditar os grandes feitos das cruzadas, tinham a proposta de uma nova civilização – salvacionista, na visão de Darcy Ribeiro. Acreditava que sua utopia de um 5º Império representaria uma nova existência para toda a humanidade . Tudo isso só era possível por estar unido em um sentimento único – uma “visão de mundo” comum a todos os atores sociais.
É em Visão do Paraíso que Sérgio Buarque de Holanda nos coloca em contato com a gênese dessas utopias. O livro aborda a metáfora do Éden, que povoava e seduzia a mente dos navegantes e aventureiros à época dos descobrimentos. Referindo-se aos objetivos do livro o autor diz que: “O que nele se tencionou mostrar é até onde, em torno da imagem do Éden, tal como se achou difundida na era dos descobrimentos marítimos, se podem organizar num esquema altamente fecundo muitos dos fatores que presidiram a ocupação pelos europeus do Novo Mundo, mais em particular da América Hispânica, e ainda assim enquanto abrangessem e de certa forma explicassem o nosso passado brasileiro. Em tais condições bem poderiam servir estudo semelhante como introdução à abordagem de alguns fundamentos remotos da própria história do Brasil, e de outro – em que não se tocou nestas páginas – como contribuição para a boa inteligência de aspectos de nossa formação nacional ainda atuante nos dias de hoje”. (Sergio Buarque de Holanda, in Visão do Paraíso).
Visão do Paraíso é o livro mais erudito da extensa obra de Sérgio Buarque, e talvez de toda a historiografia brasileira. Trata-se de um estudo original e audacioso, claramente influenciado pelos conceitos da Escola dos Annales, que desenvolveu durante meio século, a partir França, um domínio historiográfico conhecido como “história das mentalidades”. Através desse método, que emprega de forma pioneira nos estudos feitos no Brasil, o autor traz para o primeiro plano – interiorizando as reflexões das ciências sociais – realidades humanas. Resgata-as da insuficiência com que eram tratadas tanto pela historiografia tradicional (centrada nos episódios, no tempo cronológico, no político e nas ações dos grandes personagens) quanto por aquilo que se designa como economicismo redutor, ou marxismo vulgar.
Com sua extensa bagagem cultural Sérgio Buarque mergulha no mundo mágico das lendas e das mitologias que povoavam o imaginário dos europeus à época das grandes navegações. A existência do Éden não era, então, vista da forma simbólica, como hoje. Acreditava-se que ele existiria de fato e – na medida do relato dos desbravadores – no “Novo Mundo”. Seriamos então os herdeiros do paraíso.
Em Raízes do Brasil, Nelson Pereira dos Santos nos põe diante do que movia Sérgio Buarque de Holanda: desvendar o mito, criando condições para nos conhecermos melhor. Ao apresentar o autor e sua obstinação em estudar o Brasil, aproxima-nos de sua obra – um convite a refletir e agir para que as lendas se tornem realidade.
Serra da Mantiqueira, janeiro de 2012
*Arlindenor Pedro é professor de História e especialista em Projetos Educacionais..
Fonte: Outras Palavras
Por Arlindenor Pedro*
Na história do cinema no Brasil vamos encontrar um destacado papel para a figura de Nelson Pereira dos Santos. Por sua importante produção, ele é, sem dúvidas, um dos construtores do prestígio que nosso cinema alcançou junto à critica internacional. Possui, na galeria de suas realizações, verdadeiras obras-primas, sendo nítida uma preferência para a passagem da literatura para a linguagem cinematográfica. São exemplos Vidas Secas, de Graciliano Ramos e filmes adaptados nas obras de Jorge Amado e Guimarães Rosa. Com sua arte, Nelson Pereira dos Santos ajuda a descobrir e entender esse Brasil tão complexo, do qual somos filhos.
Em uma de suas recentes realizações, ele incursionou por um tipo de cinema que chamamos cinebiografia. Trata-se de um projeto que visa aproximar o público da vida e da obra de um dos mais importantes pensadores da nossa história, Sérgio Buarque de Holanda. A produção tem o nome de Raízes do Brasil. É uma escolha apropriada: esse importante historiador buscou sempre o entendimento da nossa gênese, o essencial de nossa existência: para que pudéssemos, enfim, responder quem somos nós e qual o sentido desses imensos Brasis.
Nelson Pereira dos Santos nos coloca em contato com o historiador por meio de seus amigos, e com muita ênfase, do depoimento de sua família – notadamente, as três últimas gerações dos Buarque de Holanda (alguns conhecidos do público, por serem artistas, professores, intelectuais). É obra própria para ser vista em DVD, na calma de casa. Apesar da excelência de roteiro e condução de um dos maiores diretores do nosso cinema, a complexidade das questões levantadas exige os recursos da pausa e retorno, para refletir sobre o tema proposto. Trata-se de uma produção que deve ser entendida na sua totalidade – não como filme isoladamente.
O filme é distribuído em dois DVDs. O primeiro, um filme de cerca de 70 minutos, é divertida viagem, comandada pela força da presença da viúva, Maria Amélia. Somos conduzidos por uma ideia original de Ana Holanda e pela participação de Miúcha no roteiro. Através das lentes de Nelson Pereira dos Santos, vamos penetrando na intimidade do escritor, conhecendo aspectos relevantes do seu dia-a-dia, não nos retendo somente na sua obra literária ou nos episódios de sua vida pública. Conhecemos, então, um outro Sérgio Buarque de Holanda: gozador, espirituoso, devotado aos amigos e familiares que transformam sua casa em ponto de encontro de artistas e intelectuais.
No segundo DVD, o foco é dirigido para a produção intelectual do historiador. Surgem imagens raras da sua vida pública e de suas atitudes (já que ele esteve presente em grandes movimentos da nossa cultura e vida política). Tomamos contato, então, com dois de seus mais importantes livros: Raízes do Brasil, de 1936, e Visão do Paraíso, publicado em 1958, numa primeira edição limitada, para fins acadêmicos.
As duas obras pairam constantemente durante todo o filme, e são citadas em vários depoimentos. Em parte do segundo disco encontramos os depoimentos dos professores Maria Odília L.S.Dias e Antonio Prado, ambos da USP, que fogem dos rituais de uma palestra ou aula acadêmica para refletir sobre a construção do pensamento do professor Sérgio Buarque e a sua contribuição para a formação da teoria histórica do Brasil.
Tornou-se lugar comum dizer que Raízes do Brasil é, ao lado de Formação do Brasil Contemporâneo, de Caio Prado Junior, e Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freire, obra importante e essencial para quem deseja conhecer as bases reais da criação e desenvolvimento do Estado brasileiro. Por suas características revolucionárias e inovadoras, que mudaram o olhar que até então prevalecia nos estudos sobre nosso país, tornaram-se clássicos que fogem à temporalidade e impõem-se como fonte de pesquisa.
Interessante é verificarmos que Raízes do Brasil não era a obra mais cultuada pelo autor – que explicitou melhor seus pensamentos em Visão do Paraíso, escrito em sua maturidade intelectual. No documentário, Chico Buarque, seu filho, relata que ao dizer ao pai, quando já tinha cerca de 20 anos, que estava lendo Raízes, ouviu a sugestão de não dar muita importância à leitura – e, sim, ler Visão do Paraíso, que seria muito melhor.
Raízes do Brasil foi gestado no período em que Sérgio Buarque viveu na Alemanha, após sua ruptura com as diretrizes que nortearam o movimento modernista no Brasil e a influência dos conceitos teóricos europeus em voga naquele momento. Na obra, ele sustenta que os países ibéricos só vieram a se articular realmente com a Europa a partir da época dos descobrimentos.
Desenvolve a partir disto, a ideia de um homem peculiar, fruto de uma sociedade também peculiar e elemento decisivo para o processo de expansão colonizante. Argumenta que os homens formados nas sociedades ibéricas diferiam radicalmente dos cristãos europeus de países como a Inglaterra, França ou Alemanha.
Buarque trabalha com a categoria dos pares antagônicos de Weber, dividindo-os nas categorias de trabalhador e aventureiro e atribuindo características próprias a cada uma. Afirma que “nas obras da conquista e colonização dos novos mundos coube ao espírito de trabalho, no sentido aqui compreendido, papel muito limitado, quase nulo. A época predispunha aos gestos e façanhas audaciosas, galardoando bem os homens de grandes voos. E não foi fortuita a circunstância de se terem encontrado neste continente, empenhados nessa obra, principalmente as nações onde o tipo do trabalhador, tal como acaba de ser discriminado, encontrou ambiente menos propício.” (in Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda).
Para ele, os ibéricos, aí classificados como de espírito aventureiro, são individualistas, avessos a hierarquia e controle. “Esse tipo humano ignora as fronteiras. No mundo tudo se apresenta a ele em generosa amplitude e onde quer que se erija um obstáculo a seus propósitos ambiciosos, sabe transformar esse obstáculo em trampolim. Vive dos espaços ilimitados, dos projetos vastos, dos horizontes distantes”. (idem).
Esta interpretação difere em muito das análises dos historiadores de cunho marxista, mais tradicionais, tal como Nelson Werneck Sodré – que apóia sua interpretação na análise dos modos de produção e das classes sociais, agentes do processo produtivo. Por este ângulo, o individuo não joga um papel tão importante quanto o que lhe atribui o autor de Raízes do Brasil, naquele momento muito influenciado pelos conceitos weberianos. Sua conhecida tese da oposição entre o homem cordial e o civilizador nos leva a esse entendimento.
Se voltarmos no tempo, veremos que neste período – entre os séculos 14 e 15 –, Portugal, embora pequeno e com uma população diminuta, é um dos países mais avançados na Europa. Ao contrário das demais nações cristãs do continente, que ainda viviam o feudalismo, finalizara o processo de unidade territorial, ultrapassando a civilização visigótica românica, substituindo a civilização de regadio erigida após as invasões muçulmanas.
O país criara uma identidade nacional. Separando-se de Castela e acumulando recursos econômicos, militares e tecnológicos, por meio de um gradativo processo de expansão pelas costa da África, tornara-se a mais importante nação do período. Podemos dizer que a chegada a Calicute dos poderosos galeões da armada portuguesa está à altura das grandes conquistas da humanidade, semelhante ao peso que a chegada do homem à Lua teve para nós, no século passado.
Por quase um século, buscava-se um novo caminho de comércio que evitasse trafegar por dentro do império construído pelos árabes. Com seu feito, inédito, naquele momento, Vasco da Gama passa a ser um grande herói, uma espécie de Neil Armstrong de sua época.
Num mundo onde ainda prevaleciam os resquícios obscurantistas da Idade Média, Portugal pensa globalmente – está a anos-luz da maioria das nações europeias. Sua epopeia abrira para a Europa as condições para o maior movimento de expansão comercial da humanidade, somente inferior ao processo de globalização que vivemos hoje. Tornara realidade um sonho: vencer as barreiras do Mar Tenebroso, flanquear o Islã pelas costas da África, chegar às Índias, ao oriente, para monopolizar o comércio das especiarias.
Além de reeditar os grandes feitos das cruzadas, tinham a proposta de uma nova civilização – salvacionista, na visão de Darcy Ribeiro. Acreditava que sua utopia de um 5º Império representaria uma nova existência para toda a humanidade . Tudo isso só era possível por estar unido em um sentimento único – uma “visão de mundo” comum a todos os atores sociais.
É em Visão do Paraíso que Sérgio Buarque de Holanda nos coloca em contato com a gênese dessas utopias. O livro aborda a metáfora do Éden, que povoava e seduzia a mente dos navegantes e aventureiros à época dos descobrimentos. Referindo-se aos objetivos do livro o autor diz que: “O que nele se tencionou mostrar é até onde, em torno da imagem do Éden, tal como se achou difundida na era dos descobrimentos marítimos, se podem organizar num esquema altamente fecundo muitos dos fatores que presidiram a ocupação pelos europeus do Novo Mundo, mais em particular da América Hispânica, e ainda assim enquanto abrangessem e de certa forma explicassem o nosso passado brasileiro. Em tais condições bem poderiam servir estudo semelhante como introdução à abordagem de alguns fundamentos remotos da própria história do Brasil, e de outro – em que não se tocou nestas páginas – como contribuição para a boa inteligência de aspectos de nossa formação nacional ainda atuante nos dias de hoje”. (Sergio Buarque de Holanda, in Visão do Paraíso).
Visão do Paraíso é o livro mais erudito da extensa obra de Sérgio Buarque, e talvez de toda a historiografia brasileira. Trata-se de um estudo original e audacioso, claramente influenciado pelos conceitos da Escola dos Annales, que desenvolveu durante meio século, a partir França, um domínio historiográfico conhecido como “história das mentalidades”. Através desse método, que emprega de forma pioneira nos estudos feitos no Brasil, o autor traz para o primeiro plano – interiorizando as reflexões das ciências sociais – realidades humanas. Resgata-as da insuficiência com que eram tratadas tanto pela historiografia tradicional (centrada nos episódios, no tempo cronológico, no político e nas ações dos grandes personagens) quanto por aquilo que se designa como economicismo redutor, ou marxismo vulgar.
Com sua extensa bagagem cultural Sérgio Buarque mergulha no mundo mágico das lendas e das mitologias que povoavam o imaginário dos europeus à época das grandes navegações. A existência do Éden não era, então, vista da forma simbólica, como hoje. Acreditava-se que ele existiria de fato e – na medida do relato dos desbravadores – no “Novo Mundo”. Seriamos então os herdeiros do paraíso.
Em Raízes do Brasil, Nelson Pereira dos Santos nos põe diante do que movia Sérgio Buarque de Holanda: desvendar o mito, criando condições para nos conhecermos melhor. Ao apresentar o autor e sua obstinação em estudar o Brasil, aproxima-nos de sua obra – um convite a refletir e agir para que as lendas se tornem realidade.
Serra da Mantiqueira, janeiro de 2012
*Arlindenor Pedro é professor de História e especialista em Projetos Educacionais..
Fonte: Outras Palavras
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
“A educação é o caminho do futuro”, diz presidente
Angra dos Reis
A presidente Dilma Rousseff (PT) prestigiou, hoje, em Angra dos Reis, a inauguração do Cemei (Centro Municipal de Educação Infantil - o Júlia Moreira da Silva), no bairro Bracuhy. O prefeito em exercício, Essiomar Gomes (PP), e o ministro da Educação, Fernando Haddad, participarem do evento, além de outras autoridades municipais e regionais.
A presidente e sua comitiva chegaram à cidade por volta de 11 horas. Após descer de helicóptero, no Aeroporto da Japuíba, o grupo se deslocou para o local do evento. Antes de dar inicio à cerimônia de inauguração, Dilma e as demais autoridades visitaram as instalações do Centro Municipal. Logo após, inauguraram a creche, com o descerramento de uma placa alusiva.
Para a presidente, a inauguração da unidade é um avanço para toda a região da Costa Verde.
- Atualmente, estão sendo construídas no país 500 creches iguais a essa que foi erguida em Angra. Esse é o caminho para o nosso futuro. São mãos, corações e cabeças de crianças e, no dia em que não estivermos mais nesse mundo, elas é quem vão cuidar dessa nação - discursou.
- O que importa não é sermos a primeira, segunda ou terceira potência do mundo, mas, sim, darmos educação de qualidade a todos os brasileiros, garantindo a igualdade de oportunidades - acrescentou.
O ministro Fernando Haddad lembrou que, com a construção de creches iguais ao CEMEI, cerca de um milhão de meio de crianças terão acesso à educação, em todo o país.
- Hoje, foi a primeira vez que tive a oportunidade de visitar as instalações de uma das nossas unidades que estão sendo construídas no Brasil. E são creches dentro dos padrões de qualidade, que tem tudo de melhor a oferecer às crianças mais carentes. Podemos garantir que evoluímos muito em termos de educação. Hoje em dia, esses equipamentos vão garantir uma melhor vida a crianças de 0 a 5 anos, sendo que também estamos evoluindo na educação fundamental, na graduação e na pós-graduação - afirmou.
Cemei faz parte de programa do governo federal
A unidade foi construída em parceria com o governo federal, através do Proinfância (Programa Nacional de Reestruturação e Aparelhagem da Rede Escolar Pública de Educação Infantil), com a contrapartida do município, no valor de R$ 1.001.165,31.
- O que pudemos utilizar de mais moderno no mundo, nós usamos nessas unidades. São equipamentos e modelos de ensino que vão garantir o conhecimento necessário a todas as crianças do nosso Brasil. O futuro se constrói no presente, e hoje estamos construindo ele, investindo na educação dos nossos brasileirinhos - argumentou Dilma.
A unidade em Angra possui oito salas de aula, quatro banheiros, sala de leitura, sala de informática, lactário, cozinha, refeitório, depósito, vestiário, área de serviço, recepção, almoxarifado, sala de direção, sala de professores e secretaria.
O centro atenderá a 250 crianças, na faixa etária de seis meses a cinco anos, e contará com uma equipe de profissionais capacitados e comprometidos com uma educação pública de qualidade, contribuindo, assim, para uma melhor qualidade de vida. Os beneficiados não vão ser apenas crianças, mas também para suas famílias, uma vez que mães terão a possibilidade de ingressar no mercado de trabalho, sabendo que seus filhos estarão em segurança.
- Para nós, é uma honra receber a nossa presidente Dilma para inaugurar esse espaço que fará tão bem à população angrense. Espero que venham muitas outras creches como essa para Angra - destacou o prefeito Essiomar.
Todos os gastos do Cemei em Angra serão custeados pelo governo federal nos próximos 12 meses. Após esse prazo, haverá uma parceria com o município. Mesmo assim, Dilma Rousseff disse estar preocupada.
- Sabemos bem que hoje em dia muitas famílias não têm condições de dar um alimento necessário para seus filhos. Com essa creche, sei que, de segunda a sexta-feira, nos 200 dias letivos do ano, as crianças dessa cidade não passarão fome. Mas, agora, saio de Angra preocupada, pensando no alimento que elas precisam ter durante os finais de semana. E vamos ver essa questão também, pois todos do nosso Brasil merecem uma qualidade de vida muito melhor - finalizou.
Dilma comenta disputa de Haddad pela prefeitura de SP
Hoje, durante visita a Angra dos Reis, a presidente Dilma Rousseff (PT) fez comentários sobre o fato de o ministro da Educação, Fernando Haddad, ter entrado na disputa pela prefeitura de São Paulo.
Elogiando a trajetória de Haddad à frente da pasta, a petista destacou que ele merece todo o reconhecimento pelos projetos apresentados durante seu ministério, mas que irá passar por uma nova fase este ano, com sua participação direta nas próximas eleições.
- O Fernando Haddad contribuiu muito em nosso governo, e merece todo meu agradecimento por isso. Ele vai enfrentar outra realidade agora, porém, tenho que agradecer, pois ele nos mostrou muita coisa, e evoluiu muito a educação do nosso país - disse.
- Para mim, o mais importante que ele fez foi nos mostrar que a educação começa na infância, nas creches, nas escolinhas, pois é de lá que saem os adultos responsáveis. Haddad foi importante no nosso governo, um dos melhores ministros que já vi - salientou.
O governador Sérgio Cabral (PMDB) também não poupou elogios ao ministro.
- Nessa época de intensa democracia, não houve ministros tão bons como Haddad. Em tempos de imprensa livre, não se viu um ministro tão esforçado como ele, com uma gestão exemplar. Não há nenhum que se compare ao Fernando Haddad - exagerou.
Leia mais: http://diariodovale.uol.com.br/noticias/2,51586,“A-educacao-e-o-caminho-do-futuro”-diz-presidente.html#ixzz1jp70b0wJ
A presidente Dilma Rousseff (PT) prestigiou, hoje, em Angra dos Reis, a inauguração do Cemei (Centro Municipal de Educação Infantil - o Júlia Moreira da Silva), no bairro Bracuhy. O prefeito em exercício, Essiomar Gomes (PP), e o ministro da Educação, Fernando Haddad, participarem do evento, além de outras autoridades municipais e regionais.
A presidente e sua comitiva chegaram à cidade por volta de 11 horas. Após descer de helicóptero, no Aeroporto da Japuíba, o grupo se deslocou para o local do evento. Antes de dar inicio à cerimônia de inauguração, Dilma e as demais autoridades visitaram as instalações do Centro Municipal. Logo após, inauguraram a creche, com o descerramento de uma placa alusiva.
Para a presidente, a inauguração da unidade é um avanço para toda a região da Costa Verde.
- Atualmente, estão sendo construídas no país 500 creches iguais a essa que foi erguida em Angra. Esse é o caminho para o nosso futuro. São mãos, corações e cabeças de crianças e, no dia em que não estivermos mais nesse mundo, elas é quem vão cuidar dessa nação - discursou.
- O que importa não é sermos a primeira, segunda ou terceira potência do mundo, mas, sim, darmos educação de qualidade a todos os brasileiros, garantindo a igualdade de oportunidades - acrescentou.
O ministro Fernando Haddad lembrou que, com a construção de creches iguais ao CEMEI, cerca de um milhão de meio de crianças terão acesso à educação, em todo o país.
- Hoje, foi a primeira vez que tive a oportunidade de visitar as instalações de uma das nossas unidades que estão sendo construídas no Brasil. E são creches dentro dos padrões de qualidade, que tem tudo de melhor a oferecer às crianças mais carentes. Podemos garantir que evoluímos muito em termos de educação. Hoje em dia, esses equipamentos vão garantir uma melhor vida a crianças de 0 a 5 anos, sendo que também estamos evoluindo na educação fundamental, na graduação e na pós-graduação - afirmou.
Cemei faz parte de programa do governo federal
A unidade foi construída em parceria com o governo federal, através do Proinfância (Programa Nacional de Reestruturação e Aparelhagem da Rede Escolar Pública de Educação Infantil), com a contrapartida do município, no valor de R$ 1.001.165,31.
- O que pudemos utilizar de mais moderno no mundo, nós usamos nessas unidades. São equipamentos e modelos de ensino que vão garantir o conhecimento necessário a todas as crianças do nosso Brasil. O futuro se constrói no presente, e hoje estamos construindo ele, investindo na educação dos nossos brasileirinhos - argumentou Dilma.
A unidade em Angra possui oito salas de aula, quatro banheiros, sala de leitura, sala de informática, lactário, cozinha, refeitório, depósito, vestiário, área de serviço, recepção, almoxarifado, sala de direção, sala de professores e secretaria.
O centro atenderá a 250 crianças, na faixa etária de seis meses a cinco anos, e contará com uma equipe de profissionais capacitados e comprometidos com uma educação pública de qualidade, contribuindo, assim, para uma melhor qualidade de vida. Os beneficiados não vão ser apenas crianças, mas também para suas famílias, uma vez que mães terão a possibilidade de ingressar no mercado de trabalho, sabendo que seus filhos estarão em segurança.
- Para nós, é uma honra receber a nossa presidente Dilma para inaugurar esse espaço que fará tão bem à população angrense. Espero que venham muitas outras creches como essa para Angra - destacou o prefeito Essiomar.
Todos os gastos do Cemei em Angra serão custeados pelo governo federal nos próximos 12 meses. Após esse prazo, haverá uma parceria com o município. Mesmo assim, Dilma Rousseff disse estar preocupada.
- Sabemos bem que hoje em dia muitas famílias não têm condições de dar um alimento necessário para seus filhos. Com essa creche, sei que, de segunda a sexta-feira, nos 200 dias letivos do ano, as crianças dessa cidade não passarão fome. Mas, agora, saio de Angra preocupada, pensando no alimento que elas precisam ter durante os finais de semana. E vamos ver essa questão também, pois todos do nosso Brasil merecem uma qualidade de vida muito melhor - finalizou.
Dilma comenta disputa de Haddad pela prefeitura de SP
Hoje, durante visita a Angra dos Reis, a presidente Dilma Rousseff (PT) fez comentários sobre o fato de o ministro da Educação, Fernando Haddad, ter entrado na disputa pela prefeitura de São Paulo.
Elogiando a trajetória de Haddad à frente da pasta, a petista destacou que ele merece todo o reconhecimento pelos projetos apresentados durante seu ministério, mas que irá passar por uma nova fase este ano, com sua participação direta nas próximas eleições.
- O Fernando Haddad contribuiu muito em nosso governo, e merece todo meu agradecimento por isso. Ele vai enfrentar outra realidade agora, porém, tenho que agradecer, pois ele nos mostrou muita coisa, e evoluiu muito a educação do nosso país - disse.
- Para mim, o mais importante que ele fez foi nos mostrar que a educação começa na infância, nas creches, nas escolinhas, pois é de lá que saem os adultos responsáveis. Haddad foi importante no nosso governo, um dos melhores ministros que já vi - salientou.
O governador Sérgio Cabral (PMDB) também não poupou elogios ao ministro.
- Nessa época de intensa democracia, não houve ministros tão bons como Haddad. Em tempos de imprensa livre, não se viu um ministro tão esforçado como ele, com uma gestão exemplar. Não há nenhum que se compare ao Fernando Haddad - exagerou.
Leia mais: http://diariodovale.uol.com.br/noticias/2,51586,“A-educacao-e-o-caminho-do-futuro”-diz-presidente.html#ixzz1jp70b0wJ
Pablo Neruda assassinado? O que sabemos talvez seja pior
Em relação à morte de Pablo Neruda, as perguntas talvez não tenham respostas. Ele estava acamado, quando o golpe aconteceu. E se supunha que o ódio dos criminosos que depuseram o governo chileno, respeitasse um dos poucos prêmios Nobel da América Latina até ali. Seu provável assassínio, portanto, não é uma questão tão simples.
Por Enio Squeff*
Pablo Neruda
Parte da imprensa chilena, segundo a revista “Fórum”, está divulgando uma história que até bem pouco pareceria inverossímil: Pablo Neruda, prêmio Nobel de Literatura de 1971, teria sido assassinado. Em pleno golpe de estado levado a cabo pelo general Augusto Pinochet, Neruda, internado num hospital em Santiago do Chile, sofria de um suposto câncer na próstata, e talvez não tivesse muito tempo de vida. Foi quando alguém entrou em seu quarto, aplicou-lhe uma injeção na barriga e se retirou. Poucas horas depois, a se queixar de muitas dores, o poeta faleceu.
Aparentemente, e pelas conclusões dos legistas, a “causa mortis” teria sido um ataque cardíaco fulminante. O ex-motorista de Pablo Neruda, porém, preso em seguida à morte do escritor, reforça a versão do assassinato. A hipótese é que às dez mil mortes atribuídas a Pinochet e a Henry Kissinger (foi o ex-secretário norte-americano quem recomendou que as “coisas” - leia-se mortos “necessárias” - tanto no Chile, na Argentina, quanto no Brasil fossem “rápidas”), teria de ser acrescentada agora o assassínio do único Premio Nobel do Chile. Qualquer semelhança entre Pinochet e um dos maiores assassinos de todos os tempos, César Bórgia, filho do Papa Alexandre VI, pode ser um exagero. Mas poucos ressaltam o criminoso em Pinochet; já César Bórgia é uma unanimidade histórica desde o século XVI.
No caso de Neruda, seu possível assassínio por enquanto é apenas uma forte hipótese. Sabe-se que Pinochet roubou o quanto pôde enquanto esteve no comando absoluto do Chile. No começo, isso também era uma hipótese – até que foram localizados alguns milhões de dólares em sua conta pessoal. Feitos os cálculos aritméticos, somados os seus salários com os de presidente e de general, não dava para compatibilizar uma coisa e outra. Ou seja, além de assassino, ladrão.
César Bórgia foi bem mais objetivo: roubava principalmente dos padres e cardeais que o afrontavam, ou não. Bastava que mostrassem ter algum dinheiro, ou razoável fortuna pessoal, lá ia o filho do Papa com a guarda vaticana ou simples sicários. No dia seguinte, os corpos dos monges ou dos cardeais eram encontrados envenenados ou com algumas punhaladas no corpo. Como os prelados não tinham descendentes diretos por serem “oficialmente” celibatários, a riqueza passava para a Igreja. E dali para os Bórgias. O sistema chegou a ser adotado por alguns membros da repressão brasileira. Um deles foi explicitamente condenado num tribunal comum por roubo, embora seus maiores crimes fossem o que a justiça brasileira hoje em dia desconsidera, como assassínios e torturas.
Talvez não queira dizer muito que Pinochet tenha também um poeta famoso em seu saldo com Washington, que, aliás, comprovadamente patrocinou golpe de estado no Chile. Na política internacional, assassinos e vítimas, em geral, se esfumam na consideração de que as ordens de estado são sempre supervenientes. E, de fato, não deixam de sê-lo. Francisco Franco (1892-1975), ditador espanhol até a década de 70 do século XX, não deve ter considerado muito grave que um pelotão de falangistas que ele comandava, tenha incluído o poeta Federico Garcia Lorca entre os fuzilados que foram arrancados de uma prisão durante a revolução espanhola. Afinal, qual a diferença entre um poeta e pessoas comuns, igualmente inocentes – mas democraticamente trucidadas?
Parece uma pergunta pertinente. No fundo, as injustiças das mortes de civis não são mais graves, por incluírem poetas e artistas. Stálin e Hitler, cada um a seu turno, mataram vários, justamente por serem uma coisa e outra ou ambas. Morrer por ideais, inclusive, parece ser mais coerente - ou mais explicável - do que estar casualmente na mira da eventual bomba ou do tiro errático de um combatente – louco ou não. Seria o que aconteceu com o poeta chileno?
Pablo Neruda foi um dos comunistas mais notórios da América Latina do seu tempo. Nunca escondeu que era amigo de Salvador Allende, presidente derrubado por Pinochet e cujo suicídio, por sua vez, parece estar devidamente comprovado. Foi a exceção que talvez tivesse comprovado a regra. Imagina-se que Allende, como fez seu amigo poeta, poderia ter se entregado vivo às tropas golpistas chilenas: quem sabe fosse até poupado (uma cogitação quase fantasiosa, dada a sanha assassina dos golpistas e da CIA da época). Mas a Pablo Neruda sequer foi posta essa possibilidade: estava acamado, quando o golpe aconteceu. E se supunha que o ódio dos criminosos que depuseram o governo chileno, respeitasse um dos poucos prêmios Nobel da América Latina até ali [Nota do autor: Agradeço ao leitor Sérgio Rodrigues pela retificação; de fato, Gabriela Mistral recebeu o Nobel de Literatura em 1945]. Seu provável assassínio, portanto, não é uma questão tão simples.
É que poetas, jornalistas honestos, ou não oportunistas, são difíceis de fazer calar. Um certo Filofila, por exemplo, embora muito confiado no poder dos Orsini que disputavam o trono do Papa com os Bórgias, no século XVI, disse o que quis de Alexandre VI e de seus parentes – , principalmente os filhos, César e a filha, Lucrécia. Atos incestuosos entre os Bórgias, era o mínimo que divulgava em cartazes espalhados por toda a Roma no tempo em que a família Bórgia detinha o poder no Vaticano. Iludiu-se de que seu possível talento e seus protetores, o salvassem de suas ousadias – de seu talante, digamos. Equivocou-se. Um dia seu corpo horrivelmente mutilado foi descoberto nas ruas de Roma. Não chegou, porém, a ser uma morte vã: Victor Hugo, escritor romântico francês, valeu-se de muitos dos informes de Filofila para contar sobre a intensa criminalidade na alta Renascença Italiana.
Em relação a Pablo Neruda, as perguntas talvez não tenham respostas. No atual período democrático da America Latina há uma clara opção, menos pela violência do que pela compra de opiniões. Já agora e, por enquanto, parece estarem excluídas as execuções sumárias. Se existem denúncias a comprometer políticos ou homens poderosos, o melhor é a indiferença sob a forma de mutismo. Nesses casos, nem mesmo as possíveis dúvidas podem ser consideradas. Ou divulgadas. Se existem provas irrefutáveis contra alguém, e se tiver interessados na grande imprensa que ele não seja implicado – excluam-se as denúncias, por mais evidentes que sejam.
É o que talvez sobre em relação à morte de Pablo Neruda. Vivemos tempos de bonanças e de silêncios. E talvez importe menos saber se os corpos jogados num canto qualquer de uma cidade do Afeganistão sejam de pessoas assassinadas, do que terem seus cadáveres urinados por soldados. Atos delituosos não parecem ser mais a tortura e o assassínio, do que o xixi sobre mortos.
Aventemos, enfim, que importe pouco que Pablo Neruda tenha sido assassinado. Ele iria morrer de qualquer jeito.
*Enio Squeff é artista plástico e jornalista
Fonte: Carta Maior
Por Enio Squeff*
Pablo Neruda
Parte da imprensa chilena, segundo a revista “Fórum”, está divulgando uma história que até bem pouco pareceria inverossímil: Pablo Neruda, prêmio Nobel de Literatura de 1971, teria sido assassinado. Em pleno golpe de estado levado a cabo pelo general Augusto Pinochet, Neruda, internado num hospital em Santiago do Chile, sofria de um suposto câncer na próstata, e talvez não tivesse muito tempo de vida. Foi quando alguém entrou em seu quarto, aplicou-lhe uma injeção na barriga e se retirou. Poucas horas depois, a se queixar de muitas dores, o poeta faleceu.
Aparentemente, e pelas conclusões dos legistas, a “causa mortis” teria sido um ataque cardíaco fulminante. O ex-motorista de Pablo Neruda, porém, preso em seguida à morte do escritor, reforça a versão do assassinato. A hipótese é que às dez mil mortes atribuídas a Pinochet e a Henry Kissinger (foi o ex-secretário norte-americano quem recomendou que as “coisas” - leia-se mortos “necessárias” - tanto no Chile, na Argentina, quanto no Brasil fossem “rápidas”), teria de ser acrescentada agora o assassínio do único Premio Nobel do Chile. Qualquer semelhança entre Pinochet e um dos maiores assassinos de todos os tempos, César Bórgia, filho do Papa Alexandre VI, pode ser um exagero. Mas poucos ressaltam o criminoso em Pinochet; já César Bórgia é uma unanimidade histórica desde o século XVI.
No caso de Neruda, seu possível assassínio por enquanto é apenas uma forte hipótese. Sabe-se que Pinochet roubou o quanto pôde enquanto esteve no comando absoluto do Chile. No começo, isso também era uma hipótese – até que foram localizados alguns milhões de dólares em sua conta pessoal. Feitos os cálculos aritméticos, somados os seus salários com os de presidente e de general, não dava para compatibilizar uma coisa e outra. Ou seja, além de assassino, ladrão.
César Bórgia foi bem mais objetivo: roubava principalmente dos padres e cardeais que o afrontavam, ou não. Bastava que mostrassem ter algum dinheiro, ou razoável fortuna pessoal, lá ia o filho do Papa com a guarda vaticana ou simples sicários. No dia seguinte, os corpos dos monges ou dos cardeais eram encontrados envenenados ou com algumas punhaladas no corpo. Como os prelados não tinham descendentes diretos por serem “oficialmente” celibatários, a riqueza passava para a Igreja. E dali para os Bórgias. O sistema chegou a ser adotado por alguns membros da repressão brasileira. Um deles foi explicitamente condenado num tribunal comum por roubo, embora seus maiores crimes fossem o que a justiça brasileira hoje em dia desconsidera, como assassínios e torturas.
Talvez não queira dizer muito que Pinochet tenha também um poeta famoso em seu saldo com Washington, que, aliás, comprovadamente patrocinou golpe de estado no Chile. Na política internacional, assassinos e vítimas, em geral, se esfumam na consideração de que as ordens de estado são sempre supervenientes. E, de fato, não deixam de sê-lo. Francisco Franco (1892-1975), ditador espanhol até a década de 70 do século XX, não deve ter considerado muito grave que um pelotão de falangistas que ele comandava, tenha incluído o poeta Federico Garcia Lorca entre os fuzilados que foram arrancados de uma prisão durante a revolução espanhola. Afinal, qual a diferença entre um poeta e pessoas comuns, igualmente inocentes – mas democraticamente trucidadas?
Parece uma pergunta pertinente. No fundo, as injustiças das mortes de civis não são mais graves, por incluírem poetas e artistas. Stálin e Hitler, cada um a seu turno, mataram vários, justamente por serem uma coisa e outra ou ambas. Morrer por ideais, inclusive, parece ser mais coerente - ou mais explicável - do que estar casualmente na mira da eventual bomba ou do tiro errático de um combatente – louco ou não. Seria o que aconteceu com o poeta chileno?
Pablo Neruda foi um dos comunistas mais notórios da América Latina do seu tempo. Nunca escondeu que era amigo de Salvador Allende, presidente derrubado por Pinochet e cujo suicídio, por sua vez, parece estar devidamente comprovado. Foi a exceção que talvez tivesse comprovado a regra. Imagina-se que Allende, como fez seu amigo poeta, poderia ter se entregado vivo às tropas golpistas chilenas: quem sabe fosse até poupado (uma cogitação quase fantasiosa, dada a sanha assassina dos golpistas e da CIA da época). Mas a Pablo Neruda sequer foi posta essa possibilidade: estava acamado, quando o golpe aconteceu. E se supunha que o ódio dos criminosos que depuseram o governo chileno, respeitasse um dos poucos prêmios Nobel da América Latina até ali [Nota do autor: Agradeço ao leitor Sérgio Rodrigues pela retificação; de fato, Gabriela Mistral recebeu o Nobel de Literatura em 1945]. Seu provável assassínio, portanto, não é uma questão tão simples.
É que poetas, jornalistas honestos, ou não oportunistas, são difíceis de fazer calar. Um certo Filofila, por exemplo, embora muito confiado no poder dos Orsini que disputavam o trono do Papa com os Bórgias, no século XVI, disse o que quis de Alexandre VI e de seus parentes – , principalmente os filhos, César e a filha, Lucrécia. Atos incestuosos entre os Bórgias, era o mínimo que divulgava em cartazes espalhados por toda a Roma no tempo em que a família Bórgia detinha o poder no Vaticano. Iludiu-se de que seu possível talento e seus protetores, o salvassem de suas ousadias – de seu talante, digamos. Equivocou-se. Um dia seu corpo horrivelmente mutilado foi descoberto nas ruas de Roma. Não chegou, porém, a ser uma morte vã: Victor Hugo, escritor romântico francês, valeu-se de muitos dos informes de Filofila para contar sobre a intensa criminalidade na alta Renascença Italiana.
Em relação a Pablo Neruda, as perguntas talvez não tenham respostas. No atual período democrático da America Latina há uma clara opção, menos pela violência do que pela compra de opiniões. Já agora e, por enquanto, parece estarem excluídas as execuções sumárias. Se existem denúncias a comprometer políticos ou homens poderosos, o melhor é a indiferença sob a forma de mutismo. Nesses casos, nem mesmo as possíveis dúvidas podem ser consideradas. Ou divulgadas. Se existem provas irrefutáveis contra alguém, e se tiver interessados na grande imprensa que ele não seja implicado – excluam-se as denúncias, por mais evidentes que sejam.
É o que talvez sobre em relação à morte de Pablo Neruda. Vivemos tempos de bonanças e de silêncios. E talvez importe menos saber se os corpos jogados num canto qualquer de uma cidade do Afeganistão sejam de pessoas assassinadas, do que terem seus cadáveres urinados por soldados. Atos delituosos não parecem ser mais a tortura e o assassínio, do que o xixi sobre mortos.
Aventemos, enfim, que importe pouco que Pablo Neruda tenha sido assassinado. Ele iria morrer de qualquer jeito.
*Enio Squeff é artista plástico e jornalista
Fonte: Carta Maior
Dia de São Sebastião
Amanhã é comemorado o Dia de São Sebastião padroeiro de Barra Mansa. São Sebastião foi um mártir morto durante uma perseguição do imperador romano Diocleciano por ter seu coração voltado para Deus, procurando revelar o Pai aos soldados e prisioneiros. Foi julgado como um traidor. Foi amarrado a um tronco, varado por flechas. Ele foi tratado por uma viúva chamada Irene e se recuperou. Voltou ao imperador, o censurando das injustiças cometidas contra os cristãos. O imperador mandou o açoitar até a morte.
Amanhã milhares de pessoas participarão das procissões realizadas em várias cidades do país (que também tem o santo como padroeiro). Nessas procissões sempre me emociona a fé das pessoas. E a fé é o que move o ser humano. Independentemente das religiões existentes, em todas elas, a fé é o mais importante. Saber que temos um Deus que tudo pode e vê; que controla as nossas vidas; que apresentou seu único filho, Jesus, para nos salvar de nossos pecados; é a maior recompensa. A fé faz milagres, a fé cura.... a fé é o próprio Deus.
Postado por Ruth Coutinho - Ruthinha às 05:37
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
Na 53ª edição, Casa das Américas premia presença negra nas letras
Regina Reginha crespo
O escritor uruguaio Eduardo Galeano inaugura nesta segunda (16), em Havana, o Prêmio Literário Casa das Américas 2012, ao qual concorrerão cerca de 400 originais, a maioria da Argentina, Brasil e Colômbia. Os brasileiros Orlando Sena (teatro) e Regina Crespo (literatura) estão entre os jurados, que revelarão premiados dia 26.
A Sala Che Guevara da Casa se vestirá de gala para acolher às 22 personalidades que integrarão o júri nas seis modalidades convocadas nesta edição.
Em literatura para crianças e adolescentes, um dos gêneros mais representados, estarão a equatoriana Leonor Bravo, o ítalo-espanhol Carlos Frabetti, a boliviana Liliana de la Quintana, o dominicano Avelino Stanley e o cubano Nelson Simón.
Em teatro, os avaliadores das peças serão a salvadorenha Jorgelina Cerritos, o mexicano Angel Norzagaray, o brasileiro Orlando Senna, o cubano Osvaldo Doimeadiós e o argentino Victor Winer.
O júri de literatura brasileira está composto por Regina Crespo e Evando Nascimento junto ao cubano Rodolfo Alpízar. Em línguas caribenhas - francês ou creole - o trabalho será assumido pelo haitiano Arnold Antonin, o francês Francis Combes e a cubana Laura Ruiza Montes.
No júri de estudos sobre latinos nos Estados Unidos, estarão o portorriquenho Juan Flores, o cubano-estadunidense Lisandro Pérez e o estadunidense Renato Rosaldo.
Os responsáveis por avaliar as obras contemporâneas do prêmio extra sobre a presença negra na América e Caribe serão o costarriquense Quince Duncan, a argentina Rita Laura Segato e o cubano Esteban Morales.
Além dos livros ganhadores nas diferentes modalidades, serão entregues prêmios de honra a José María Arguedas, na categoria prosa; Ezequiel Martínez Estrada, ensaio; e José Lezama Lima, poesia.
Paralelamente, os júris intervirão em mesas redondas e painéis. Concertos, exposições e apresentações de títulos compõem o programa, ao qual o público terá acesso de maneira gratuita até o dia 26 de janeiro, quando serão anunciados os ganhadores.
Fundado em 1959, o prêmio Casa das Américas tem como principal objetivo estimular e difundir as letras do continente.
Fonte: Prensa Latina
O escritor uruguaio Eduardo Galeano inaugura nesta segunda (16), em Havana, o Prêmio Literário Casa das Américas 2012, ao qual concorrerão cerca de 400 originais, a maioria da Argentina, Brasil e Colômbia. Os brasileiros Orlando Sena (teatro) e Regina Crespo (literatura) estão entre os jurados, que revelarão premiados dia 26.
A Sala Che Guevara da Casa se vestirá de gala para acolher às 22 personalidades que integrarão o júri nas seis modalidades convocadas nesta edição.
Em literatura para crianças e adolescentes, um dos gêneros mais representados, estarão a equatoriana Leonor Bravo, o ítalo-espanhol Carlos Frabetti, a boliviana Liliana de la Quintana, o dominicano Avelino Stanley e o cubano Nelson Simón.
Em teatro, os avaliadores das peças serão a salvadorenha Jorgelina Cerritos, o mexicano Angel Norzagaray, o brasileiro Orlando Senna, o cubano Osvaldo Doimeadiós e o argentino Victor Winer.
O júri de literatura brasileira está composto por Regina Crespo e Evando Nascimento junto ao cubano Rodolfo Alpízar. Em línguas caribenhas - francês ou creole - o trabalho será assumido pelo haitiano Arnold Antonin, o francês Francis Combes e a cubana Laura Ruiza Montes.
No júri de estudos sobre latinos nos Estados Unidos, estarão o portorriquenho Juan Flores, o cubano-estadunidense Lisandro Pérez e o estadunidense Renato Rosaldo.
Os responsáveis por avaliar as obras contemporâneas do prêmio extra sobre a presença negra na América e Caribe serão o costarriquense Quince Duncan, a argentina Rita Laura Segato e o cubano Esteban Morales.
Além dos livros ganhadores nas diferentes modalidades, serão entregues prêmios de honra a José María Arguedas, na categoria prosa; Ezequiel Martínez Estrada, ensaio; e José Lezama Lima, poesia.
Paralelamente, os júris intervirão em mesas redondas e painéis. Concertos, exposições e apresentações de títulos compõem o programa, ao qual o público terá acesso de maneira gratuita até o dia 26 de janeiro, quando serão anunciados os ganhadores.
Fundado em 1959, o prêmio Casa das Américas tem como principal objetivo estimular e difundir as letras do continente.
Fonte: Prensa Latina
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
Europalia Teatro Oficina deixa os belgas fascinados com As Bacantes, último espetáculo do festival
O Europalia Brasil – edição do festival de cultura da Bélgica que a cada dois anos homenageia um país – acabou neste domingo, com a apresentação de As Bacantes, do Teatro Oficina, como a principal atração do evento, na cidade de Liège. O diretor Zé Celso Martinez Corrêa deixou os belgas extasiados, em seu louvor ao deus grego Dionísio. Foram cerca de seis horas dentro de um teatro lotado, em que, apesar do cansaço, o público elogiou o espetáculo. O presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), vinculada ao Ministério da Cultura, Antonio Grassi, esteve presente no evento. O MinC investiu R$ 30 milhões na realização do festival.
Antes de a obra começar, o diretor disse que, sim, era “pornografia” – há cenas com atores nus – e, quem não quisesse assistir, que saísse da sala. O espaço, por sinal, reproduziu o Teatro Oficina, em São Paulo. O grupo de Zé Celso se apresentou no Théatre de la Place Liège, local onde até os anos 80 funcionava uma caserna. (Leia entrevista com o diretor do Teatro Oficina)
Antropofagia
O curador do teatro, o brasileiro Rodrigo Albea, disse que conheceu a obra em 1996 e reviu a peça em 2010: “é o espetáculo que resume da melhor maneira o que é ser brasileiro e uma visão brasileira de arte. Trata-se de uma ponte profunda entre a Europa e o Brasil, nesta antropofagia de uma tragédia que fundou o teatro”, afirmou. Segundo ele, o teatro de Liège é o único espaço na Bélgica que poderia reproduzir o Oficina. De acordo com o diretor, a única adaptação da peça para a Bélgica foi a colocação de alguns signos europeus – uma atriz entra como Angela Merkel, em alguns momentos são usadas bandeiras da União Europeia.
A belga Violene Darge foi uma das pessoas que participaram durante vários momentos e disse que já havia assistido à peça Os Sertões, quando morou em São Paulo e, por isso, levou amigos para ver o grupo Oficina no Europalia. Além disso, segundo ela, há uma energia brasileira, diferente da belga que, na sua avaliação, é “um teatro mais racional”. “É uma mistura de teatro com realidade”, disse o amigo dela, Obes Tgva.
Reação positiva
A reação do público às provocações da trupe de Zé Celso foi bastante positiva, com grande participação, nos momentos em que a peça pede. No início da apresentação, inclusive, o diretor disse que o espetáculo seria tão melhor quanto maior fosse a participação da plateia. “Acho que para o público belga foi bem interessante, pois não está acostumado”, disse a cantora brasileira Jovinha Rocha, que saiu de Bruxelas, onde mora há nove anos, para Liège, apenas para ver a peça.
O brasileiro Ailton Sobrinho e seu amigo belga Jean Michel Debouer, moradores da cidade de Verviers, próxima à Liège, não conheciam o trabalho do Oficina e foram ver apenas porque era o encerramento do Europalia, numa cidade próxima a que vivem. “Foi espetacular”, disse Debouer, que foi escolhido para ser o boi – a pessoa da plateia que acaba ficando nua em cena. Ele comentou que em algum momento se sentiu acuado, mas os artistas o deixaram livre para improvisar. Lembrou, no entanto, que no início do espetáculo levou certo tempo para aceitar o estilo – apesar de não ter considerado pornografia. Já o brasileiro disse que achou um pouco chocante, sobretudo quando no telão aparecia algum zoom. “Não estava preparado para ver isso, mas fez jus ao nome do espetáculo”
Para o presidente da Funarte, uma das coisas mais interessantes do Europalia foi a diversidade cultural. Segundo Grassi, Zé Celso ajuda a compor esse leque, com uma energia do ritual que vai desde o candomblé até a bossa nova. “Ele usou todas as linguagens artísticas do Brasil para falar das bacantes”.
Sucesso da apresentação
O diretor do espetáculo considerou um sucesso os três dias de apresentação no Europalia. “O mundo em crise tem que retornar a Dionísio”, avaliou. E lembrou ainda da importância de a língua portuguesa falada no Brasil estar sendo dita na Europa, com o sucesso de Michel Teló (Ai se eu te pego), que ele acabou acrescentando na versão belga, por estar nas paradas de sucesso local.
Europalia.Brasil
Desde outubro, até o seu encerramento, o Europalia foi palco de mais de 500 eventos culturais, entre apresentações de grupos musicais, de artes cênicas, de filmes brasileiros, além da realização de eventos literários e exposições de artes visuais. Para realizar o festival, o MinC alocou recursos próprios e também contou com o patrocínio de grandes grupos empresariais brasileiros.
Apoiaram o evento parceiros institucionais como o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e a Embaixada do Brasil em Bruxelas. Também envolveram-se no trabalho instituições vinculadas ao Ministério da Cultura, como a Fundação Nacional de Artes (Funarte), o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Cinemateca Brasileira, dentre outros. O Europalia é realizado desde 1969 e já homenageou 18 países em suas 22 edições, com média de um milhão de visitantes a cada evento.
(Fonte: Ascom/MinC)
Mais cultura, mais expressão
Por Bruno Peron Loureiro, do Portal Bruno Peron
O governo federal do Brasil partiu de indicadores de desigualdades e exclusão (de como os brasileiros leem pouco ou raramente vão a museus, por exemplo) para elaborar a política do
Mais Cultura. O Programa teve início em 4 de outubro de 2007 e reconhece a cultura como necessidade básica pelos mesmos princípios como nos alimentamos e nos vestimos.
A cultura, através do Programa mencionado, insere-se no rol de políticas sociais com a finalidade de reduzir as desigualdades e a pobreza. Gestores da cultura apropriam-se desta estratégia em políticas públicas na medida em que se ancora em âmbitos que recebem orçamentos maiores do governo, como educação e saúde.
O orçamento do Mais Cultura foi de R$ 2,2 bilhões entre 2007 e 2010.
Notemos a diferença que existe entre uma demanda que se propõe a promover uma expressão cultural pouco conhecida da periferia, que poderia ser uma oficina de armação de pipas e técnicas de empiná-las, para atender aos caprichos de um grupo ou, diferentemente, se o pedido de financiamento governamental vier da mesma prática, mas com o argumento de que reduzirá o número de pedintes nos semáforos ou na entrada dos restaurantes.
Qual das duas terá maior capacidade persuasiva?
Este argumento reflete a abrangência e o atrativo de uma política cultural que depende dos usos que se podem atribuir a ela e que transcendam a mera expressão simbólica que residiria, por assim dizer, na beleza de ver uma pipa volitar no céu azul ou no sorriso de uma criança que ganhou os materiais (bambu, papel, linha, cola) para fazê-la.
O Programa Mais Cultura prevê a articulação de três dimensões: Cultura e cidadania; Cultura e cidades; Cultura e renda. O desenvolvimento econômico, destarte, não será o único aspecto
contemplado. Ainda, busca-se a participação da sociedade civil para que manifeste suas carências e demandas em relação a aparatos e meios que viabilizem a expressão de suas culturas.
O Mais Cultura prevê acordos com instâncias municipais e estaduais de governo, organizações internacionais e de sociedade civil. A parceria com bancos (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco Nacional do Nordeste, Banco da Amazônia, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Banco Interamericano de Desenvolvimento) se faz devido ao caráter público das instituições.
O conceito de "cidadania" vincula-se aos processos que ocorrem nas cidades e os direitos cívicos que nos garantem necessidades básicas, entre elas o de acesso a culturas e sua
preservação ao longo das gerações. A noção de desenvolvimento que emana de instituições progressistas é a que foge da univalência do crescimento econômico e adota posições a favor da realização das potencialidades humanas. Desenvolvimento não seria sinônimo, deste modo, de aumento do Produto Interno Bruto, mudança da taxa de juros, alteração do padrão de empréstimos, ou concessão de créditos.
Não se alcançou, até o momento, o estágio desejado e muito menos o ideal normativo, uma vez que as notícias sobre o Ministério da Fazenda continuam encabeçando o que se define como importante dentro da categoria "Brasil" ou "Nacional" nos meios de comunicação, enquanto a crise financeira recheia os tópicos de "Internacional" ou "Mundo", como se tudo estivesse em escombros.
Algumas ações do Mais Cultura envolvem a criação e promoção de bibliotecas e espaços de leitura, cinema, museu indígena, brincadeira e jogos, e microprojetos na Amazônia. Ressalta-se a tendência descentralizadora da produção cultural subjacente neste Programa, que recorda o muito que se produz em todo o Brasil a despeito da representatividade baixa nos meios de
comunicação. Seria pouco ainda se tivéssemos um canal de televisão para expressar as particularidades de cada bairro.
É triste lembrar que vultos de dinheiro público transferem-se a projetos culturais com a intervenção de lóbis infatigáveis através de leis de renúncia fiscal, como as que transformam a corporação transnacional Globo no mecenas do cinema brasileiro, aquele que logra a exibição, depois de tanto suor, nas grandes salas de cinema ao lado dos filmes hollywoodianos. A crítica não desmerece que ela tenha produção de qualidade excelente, não obstante.
O Mais Cultura joga com uma estratégia descentralizadora da produção cultural, traz à cena grupos marginalizados e balança o eixo de poder que determina o que é considerado cultura e o que não é, o que pode-se expressar e o que não pode.
Ainda é cedo para afirmar se houve mudanças estruturais no desenho e na eficácia das políticas culturais no Brasil, mas vale reconhecer que as políticas de Estado (e outros agentes envolvidos) redefinem a importância da cultura e elevam-na em sua pauta de ações.
O governo federal do Brasil partiu de indicadores de desigualdades e exclusão (de como os brasileiros leem pouco ou raramente vão a museus, por exemplo) para elaborar a política do
Mais Cultura. O Programa teve início em 4 de outubro de 2007 e reconhece a cultura como necessidade básica pelos mesmos princípios como nos alimentamos e nos vestimos.
A cultura, através do Programa mencionado, insere-se no rol de políticas sociais com a finalidade de reduzir as desigualdades e a pobreza. Gestores da cultura apropriam-se desta estratégia em políticas públicas na medida em que se ancora em âmbitos que recebem orçamentos maiores do governo, como educação e saúde.
O orçamento do Mais Cultura foi de R$ 2,2 bilhões entre 2007 e 2010.
Notemos a diferença que existe entre uma demanda que se propõe a promover uma expressão cultural pouco conhecida da periferia, que poderia ser uma oficina de armação de pipas e técnicas de empiná-las, para atender aos caprichos de um grupo ou, diferentemente, se o pedido de financiamento governamental vier da mesma prática, mas com o argumento de que reduzirá o número de pedintes nos semáforos ou na entrada dos restaurantes.
Qual das duas terá maior capacidade persuasiva?
Este argumento reflete a abrangência e o atrativo de uma política cultural que depende dos usos que se podem atribuir a ela e que transcendam a mera expressão simbólica que residiria, por assim dizer, na beleza de ver uma pipa volitar no céu azul ou no sorriso de uma criança que ganhou os materiais (bambu, papel, linha, cola) para fazê-la.
O Programa Mais Cultura prevê a articulação de três dimensões: Cultura e cidadania; Cultura e cidades; Cultura e renda. O desenvolvimento econômico, destarte, não será o único aspecto
contemplado. Ainda, busca-se a participação da sociedade civil para que manifeste suas carências e demandas em relação a aparatos e meios que viabilizem a expressão de suas culturas.
O Mais Cultura prevê acordos com instâncias municipais e estaduais de governo, organizações internacionais e de sociedade civil. A parceria com bancos (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco Nacional do Nordeste, Banco da Amazônia, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Banco Interamericano de Desenvolvimento) se faz devido ao caráter público das instituições.
O conceito de "cidadania" vincula-se aos processos que ocorrem nas cidades e os direitos cívicos que nos garantem necessidades básicas, entre elas o de acesso a culturas e sua
preservação ao longo das gerações. A noção de desenvolvimento que emana de instituições progressistas é a que foge da univalência do crescimento econômico e adota posições a favor da realização das potencialidades humanas. Desenvolvimento não seria sinônimo, deste modo, de aumento do Produto Interno Bruto, mudança da taxa de juros, alteração do padrão de empréstimos, ou concessão de créditos.
Não se alcançou, até o momento, o estágio desejado e muito menos o ideal normativo, uma vez que as notícias sobre o Ministério da Fazenda continuam encabeçando o que se define como importante dentro da categoria "Brasil" ou "Nacional" nos meios de comunicação, enquanto a crise financeira recheia os tópicos de "Internacional" ou "Mundo", como se tudo estivesse em escombros.
Algumas ações do Mais Cultura envolvem a criação e promoção de bibliotecas e espaços de leitura, cinema, museu indígena, brincadeira e jogos, e microprojetos na Amazônia. Ressalta-se a tendência descentralizadora da produção cultural subjacente neste Programa, que recorda o muito que se produz em todo o Brasil a despeito da representatividade baixa nos meios de
comunicação. Seria pouco ainda se tivéssemos um canal de televisão para expressar as particularidades de cada bairro.
É triste lembrar que vultos de dinheiro público transferem-se a projetos culturais com a intervenção de lóbis infatigáveis através de leis de renúncia fiscal, como as que transformam a corporação transnacional Globo no mecenas do cinema brasileiro, aquele que logra a exibição, depois de tanto suor, nas grandes salas de cinema ao lado dos filmes hollywoodianos. A crítica não desmerece que ela tenha produção de qualidade excelente, não obstante.
O Mais Cultura joga com uma estratégia descentralizadora da produção cultural, traz à cena grupos marginalizados e balança o eixo de poder que determina o que é considerado cultura e o que não é, o que pode-se expressar e o que não pode.
Ainda é cedo para afirmar se houve mudanças estruturais no desenho e na eficácia das políticas culturais no Brasil, mas vale reconhecer que as políticas de Estado (e outros agentes envolvidos) redefinem a importância da cultura e elevam-na em sua pauta de ações.
sábado, 14 de janeiro de 2012
Debate e noite de autógrafos do livro “A Privataria Tucana”
O livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr, que denunciou os esquemas fraudulentos do PSDB e do governo de Fernando Henrique Cardoso, já entrou para a história do Brasil. Na próxima quarta-feira, dia 18 de janeiro, ocorrerá um debate e uma noite de autógrafos no centro do Rio de Janeiro.
O livro revela o esquema de corrupção montado no governo FHC por ocasião das privatizações. A obra é uma reportagem investigativa de 200 páginas de texto, apoiada em mais de 140 páginas de documentos comprobatórios, todos oficiais, solicitados pelo autor em juntas comerciais, cartórios, no Ministério Público e na Justiça, autenticados e com firma reconhecida.
Assim que lançado já se mostrou fulminante, um sucesso de vendas que virou instrumento para a instauração da CPI da Privataria.
O pedido para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar os processos de privatizações do governo de Fernando Henrique Cardoso foi realizado pelo Deputado Federal, Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), e foi assinado por 206 parlamentares.
O debate e a noite de autógrafos, que contarão também com a presença do deputado Protógenes, ocorrerão no dia 18, às 18h30, no auditório do Sindicado dos Bancários (AV. Presidente Vargas, 502, 21° andar).
O livro revela o esquema de corrupção montado no governo FHC por ocasião das privatizações. A obra é uma reportagem investigativa de 200 páginas de texto, apoiada em mais de 140 páginas de documentos comprobatórios, todos oficiais, solicitados pelo autor em juntas comerciais, cartórios, no Ministério Público e na Justiça, autenticados e com firma reconhecida.
Assim que lançado já se mostrou fulminante, um sucesso de vendas que virou instrumento para a instauração da CPI da Privataria.
O pedido para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar os processos de privatizações do governo de Fernando Henrique Cardoso foi realizado pelo Deputado Federal, Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), e foi assinado por 206 parlamentares.
O debate e a noite de autógrafos, que contarão também com a presença do deputado Protógenes, ocorrerão no dia 18, às 18h30, no auditório do Sindicado dos Bancários (AV. Presidente Vargas, 502, 21° andar).
Diante da lei
Por Franz Kafka (*)
Diante da lei está um porteiro. Um homem do campo chega a esse porteiro e pede para entrar na lei. Mas o porteiro diz que agora não pode permitir-lhe a entrada. O homem do campo reflete e depois pergunta se então não pode entrar mais tarde.
- É possível - diz o porteiro - mas agora não.
Uma vez que a porta da lei continua como sempre aberta e o porteiro se põe de lado o homem se inclina para olhar o interior através da porta. Quando nota isso o porteiro ri e diz:
- Se o atrai tanto, tente entrar apesar da minha proibição. Mas veja bem: eu sou poderoso. E sou apenas o último dos porteiros. De sala para sala porém existem porteiros cada um mais poderoso que o outro. Nem mesmo eu posso suportar a simples visão do terceiro.
O homem do campo não esperava tais dificuldades: a lei deve ser acessível a todos e a qualquer hora, pensa ele; agora, no entanto, ao examinar mais de perto o porteiro, com o seu casaco de pele, o grande nariz pontudo, a longa barba tártara, rala e preta, ele decide que é melhor aguardar até receber a permissão de entrada. O porteiro lhe dá um banquinho e deixa-o sentar-se ao lado da porta.
Ali fica sentado dias e anos. Ele faz muitas tentativas para ser admitido e cansa o porteiro com os seus pedidos. Às vezes o porteiro submete o homem a pequenos interrogatórios, pergunta-lhe a respeito da sua terra natal e de muitas outras coisas, mas são perguntas indiferentes, como as que os grandes senhores fazem, e para concluir repete-lhe sempre que ainda não pode deixá-lo entrar. O homem, que havia se equipado com muitas coisas para a viagem, emprega tudo, por mais valioso que seja, para subornar o porteiro. Com efeito, este aceita tudo, mas sempre dizendo:
- Eu só aceito para você não julgar que deixou de fazer alguma coisa.
Durante todos esses anos o homem observa o porteiro quase sem interrupção. Esquece os outros porteiros e este primeiro parece-lhe o único obstáculo para a entrada na lei. Nos primeiros anos amaldiçoa em voz alta e desconsiderada o acaso infeliz; mais tarde, quando envelhece, apenas resmunga consigo mesmo. Torna-se infantil e uma vez que, por estudar o porteiro anos a fio, ficou conhecendo até as pulgas da sua gola de pele, pede a estas que o ajudem a fazê-lo mudar de opinião.
Finalmente sua vista enfraquece e ele não sabe se de fato está ficando mais escuro em torno ou se apenas os olhos o enganam. Não obstante reconhece agora no escuro um brilho que irrompe inextinguível da porta da lei. Mas já não tem mais muito tempo de vida. Antes de morrer, todas as experiências daquele tempo convergem na sua cabeça para uma pergunta que até então não havia feito ao porteiro. Faz-lhe um aceno para que se aproxime, pois não pode mais endireitar o corpo enrijecido. O porteiro precisa curvar-se profundamente até ele, já que a diferença de altura mudou muito em detrimento do homem:
- O que é que você ainda quer saber? pergunta o porteiro. Você é insaciável.
- Todos aspiram à lei - diz o homem. Como se explica que em tantos anos ninguém além de mim pediu para entrar?
O porteiro percebe que o homem já está no fim e para ainda alcançar sua audição em declínio ele berra:
- Aqui ninguém mais podia ser admitido, pois esta entrada estava destinada só a você. Agora eu vou embora e fecho-a.
(*) O escritor tcheco Franz Kafka viveu entre 1883 e 1924); o conto “Diante da Lei” é de 1919. Do livro Um Médico Rural (Contos). São Paulo, Editora Brasiliense, 1991.
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
Fidel Castro: A paz mundial pende por um fio
Ontem tive o prazer de conversar tranquilamente com Mahmoud Ahmadinejad. Não o via desde setembro de 2006, há mais de cinco anos, quando visitou nossa pátria para participar na 14ª Cúpula do Movimento de Países Não Alinhados que teve lugar em Havana, onde pela segunda vez Cuba foi eleita presidente dessa organização pelo tempo estabelecido de três anos.
Por Fidel Castro
Eu tinha ficado gravemente enfermo em 26 de julho de 2006, um mês e meio antes da mesma, e só podia sentar na cama. Vários dos mais distinguidos líderes que assistiam ao evento tiveram a amabilidade de visitar-me. Chávez e Evo o fizeram mais de uma vez. Um meio dia vieram quatro, dos quais sempre recordo: Kofi Annan, secretário-geral da ONU; um velho amigo, Abdelaziz Buteflika, presidente da Argélia; Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã; e um vice-ministro das Relações Exteriores do governo da China e atual chanceler desse país, Yang Jiechi, representando o líder do Partido Comunista e presidente da República Popular da China, Hu Jintao. Foi realmente um momento de importância para mim que com grande esforço reeducava a mão direita que havia sofrido um sério acidente na queda em Santa Clara.
Com os quatro comentei aspectos dos problemas que o mundo enfrentava naqueles instantes. Estes, certamente, tornavam-se cada vez mais complexos.
No encontro de ontem observei o presidente iraniano absolutamente sossegado e tranquilo, indiferente por completo às ameaças ianques, confiante na capacidade de seu povo para enfrentar qualquer agressão e na eficácia das armas, que em grande parte eles próprios produzem, para ocasionar aos agressores um preço impagável.
Na realidade quase não falou do tema bélico, sua mente se concentrava nas ideias expostas na conferência que fez no Salão Nobre da Universidade de Havana, centrada na luta pelo ser humano: “caminhar para chegar e alcançar a paz, a segurança, o respeito e a dignidade humana como um desejo de todos os seres humanos ao longo da história”.
Estou seguro de que, por parte do Irã, não se deve esperar ações irrefletidas que contribuam para o desencadeamento de uma guerra. Se esta for inevitavelmente desatada, será fruto exclusivo do aventureirismo e da irresponsabilidade congênita do império ianque.
Da minha parte penso que a situação política criada em torno do Irã e os riscos de uma guerra nuclear que dela emanam e a todos envolve – possuam ou não tais armas –, são sumamente delicados porque ameaçam a própria existência de nossa espécie. O Oriente Médio se converteu na região mais conflitiva do mundo, e a área onde são gerados os recursos energéticos vitais para a economia do planeta.
O poder destrutivo e os sofrimentos massivos que originavam alguns dos meios utilizados na 2ª Guerra Mundial motivaram uma forte tendência a proibir algumas armas como os gases asfixiantes e outras empregadas naquela guerra. Contudo, as lutas de interesses e os enormes lucros dos produtores de armas os levaram à confecção dos armamentos mais cruéis e destrutivos, até que a tecnologia moderna aportou o material e os meios cujo emprego em uma guerra mundial conduziria ao extermínio.
Sustento o critério, sem dúvida compartilhado por todas as pessoas com um sentido elementar de responsabilidade, de que nenhum país grande ou pequeno tem o direito de possuir armas nucleares.
Nunca estas armas deveriam ser usadas para atacar duas cidades indefesas como Hiroshima e Nagasaki, assassinando e irradiando com horríveis e duradouros efeitos centenas de milhares de homens, mulheres e crianças, em um país que já estava militarmente vencido.
Se o fascismo obrigava as potências coligadas contra o nazismo a competir com esse inimigo da humanidade na fabricação de tal arma, finalizada a guerra e já criada a Organização das Nações Unidas, o primeiro dever dessa organização era proibir tal arma sem exceção alguma.
Mas os Estados Unidos, a potência mais poderosa e rica, impôs ao resto do mundo a linha a seguir. Hoje possui centenas de satélites que espionam e vigiam a partir do espaço todos os habitantes do planeta. Suas forças navais, aéreas e terrestres estão equipadas com milhares de armas nucleares, manejam a seu talante, através do Fundo Monetário Internacional, as finanças e os investimentos do mundo.
Se se analisa a história de cada uma das nações da América Latina, desde o México até a Patagônia, passando por São Domingo e Haiti, poderá observar-se que todas, sem uma só exceção, sofreram durante duzentos anos, desde o início do século 19 até hoje, e de uma ou outra forma estão sofrendo cada vez mais, os piores crimes que o poderio e a força podem cometer contra o direito dos povos. Escritores brilhantes surgem em número crescente: um deles, Eduardo Galeano, autor de As veias abertas da América Latina, que fala sobre estes temas, acaba de ser convidado a inaugurar o prestigioso Prêmio Casa das Américas, como um reconhecimento a sua relevante obra.
Os acontecimentos se sucedem con incrível rapidez; mas a tecnologia os transmite ao público de forma ainda mais rápida. Um dia qualquer, como o de hoje, notícias importantes se sucedem com extraordinário ritmo. Um despacho telegráfico datado de ontem (11), dá textualmente a seguinte notícia: “A presidência dinamarquesa da União Europeia afirmou na quarta-feira que uma nova série de sanções europeias mais severas contra o Irã se decidirá em 23 de janeiro em razão de seu programa nuclear, atingindo não só o setor petrolífero mas também o banco central.
‘Iremos mais longe simultaneamente no que se refere às sanções petrolíferas e contra as estruturas financeiras’, disse o chefe da diplomacia dinamarquesa Villy Soevndal, durante um encontro com a imprensa estrangeira”. Pode apreciar-se com clareza que, a fim de impedir a proliferação nuclear, Israel pode acumular centenas de ogivas nucleares enquanto o Irã não pode produzir urânio enriquecido a 20%.
Outra notícia sobre o tema, de uma conhecida e qualificada agência informativa britânica, informa que: “A China não deu sinais na quarta-feira de ceder terreno às demandas dos Estados Unidos de que reduza suas compras de petróleo iraniano e considerou um excesso as sanções de Washington contra Teerã…”.
Qualquer pessoa se assombraria com a tranquilidade com que os Estados Unidos e a civilizada Europa promovem esta campanha com uma espantosa e sistemática prática terrorista. Bastam estas linhas trasmitidas por outra importante agência europeia de notícias: “O assassinato, na quarta-feira, de um responsável pela usina nuclear de Natanz, no centro do Irã, conta três precedentes desde janeiro de 2010.”
Em 12 de janeiro daquele ano, “um físico nuclear internacionalmente reconhecido, Masud Alí Mohamadi, professor na universidade de Teerã e que trabalhava para os Guardiães da Revolução, morreu na explosão de uma moto-bomba diante de seu domicílio.”
29 de novembro de 2010: “Majid Shahriari, fundador da Sociedade Nuclear do Irã e ‘encarregado de um dos grandes projetos da Organização iraniana de energia atômica’ [...] foi morto em Teerã pela explosão de uma bomba magnética fixada em seu automóvel.”
“No mesmo dia, outro físico nuclear, Fereydoun Abasi Davani, foi alvo de um atentado em condições idênticas quando estacionava seu carro diante da universidade Shahid Beheshti em Teerã, onde os dois homens eram professores.” – Só ficou ferido.
23 de julho de 2011: “O cientista Dariush Rezainejad, que trabalhava em projetos do Ministério da Defesa, foi morto a tiros por desconhecidos que se deslocavam em uma moto em Teerã.”
11 de janeiro de 2012: – no mesmo dia em que Ahmadinejad viajava da Nicarágua a Cuba, para dar sua conferência na Universidade de Havana – “O cientista Mustafa Ahmadi Roshan, que trabalhava na usina de Natanz, da qual era vice-diretor para assuntos comerciais, morreu na explosão de uma bomba magnética colocada sob seu automóvel, perto da universidade Allameh Tabatabai, a leste de Teerã”. Como em anos anteriores, o “Irã acusou novamente os Estados Unidos e Israel”.
Trata-se de uma carnificina seletiva de brilhantes cientistas iranianos sistematicamente assassinados. Li artigos de conhecidos simpatizantes de Israel que falam de crimes realizados por seus serviços de inteligência, em cooperação com os dos Estados Unidos e a Otan, como algo normal.
Ao mesmo tempo, desde Moscou as agências informam que “a Rússia advertiu hoje que na Síria está amadurecendo um cenário similar ao da Líbia, mas alertou que desta vez o ataque virá da vizinha Turquia.
O secretário do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev, sustentou que o Ocidente deseja ‘castigar Damasco não tanto pela repressão à oposição mas por sua relutância em interromper sua aliança com Teerã’.
…em sua opinião, na Síria está amadurecendo um cenário como o da Líbia, mas nesta oportunidade, as forças de ataque não virão da França, Grã-Bretanha e Itália, mas da Turquia.
Inclusive, se atreveu a adiantar que ‘é possível que Washington e Ancara já estejam definindo várias opções de zonas de exclusão de voos, onde exércitos armados de rebeldes sírios poderias ser treinados e concentrados’.”
As notícias não só procedem do Irã e do Oriente Médio, mas também de outros pontos da Ásia Central próximos ao Oriente Médio. As mesmas nos permitem apreciar a complexidade dos problemas que podem derivar-se dessa perigosa região.
Os Estados Unidos foram levados por sua contraditória e absurda política imperial a problemas sérios em países como o Paquistão, cujas fronteiras com outro importante estado, o Afeganistão, foram traçadas pelos colonialistas sem tomar em conta cultura nem etnias.
Neste último país, que durante séculos defendeu sua independência frente ao colonialismo inglês, a produção de drogas se multiplicou desde a invasão ianque, e os soldados europeus, apoiados pelos aviões sem piloto e armamento sofisticado dos Estados Unidos, cometem embaraçosas matanças que incrementam o ódio da população e afastam as possibilidades de paz. Isso e outras imundícies também se refletem nos despachos das agências ocidentais de notícias.
“Washington, 12 de janeiro de 2012 - O secretário estadunidense da Defesa, Leon Panetta, qualificou nesta quinta-feira de ‘absolutamente lamentável’ o comportamento de quatro homens apresentados como marines norte-americanos urinando sobre cadáveres no Afeganistão em um vídeo difundido pela internet.
‘Vi as imgens e encontro o comportamento (desses homens) absolutamente lamentável… Este comportamento é totalmente inapropriado da parte de membros do Exército estadunidense e não reflete em nenhum caso os critérios e os valores que nossas forças armadas juram respeitar’…”
Na realidade, nem o afirma nem o nega. Qualquer pessoa pode ficar com a dúvida e possivelmente o próprio secretário da Defesa.
Mas também é extremamente desumano, que homens, mulheres e crianças, ou um combatente afegão que luta contra a ocupação estrangeira, sejam assassinados pelas bombas dos aviões sem piloto. Algo também muito grave: dezenas de soldados e oficiais paquistaneses, que cuidavam das fronteiras do país, têm sido destroçados por essas bombas.
Em declarações do próprio Karzai, presidente do Afeganistão, este expressou que o ultraje aos cadáveres era “’simplemente desumano’, e pediu ao governo estadunidense que ‘aplique o castigo mais severo a quem quer que seja que acabe sendo condenado por este crime’.”
Porta-vozes dos talibãs declararam que “nos dez últimos anos se deram centenas de atos similares que não foram revelados…”
Inclusive sente-se lástima por aqueles soldados, separados de familiares e amigos, a milhares de quilômetros de sua própria pátria, enviados para lutar em países que nem sequer talvez tenham ouvido falar quando estavam nas escolas, onde lhes atribuem a tarefa de matar ou morrer para enriquecer empresas transnacionais, fabricantes de armas e políticos inescrupulosos, que dilapidam a cada ano os fundos que são necessários para a alimentação e a educação dos incontáveis milhões de famintos e analfabetos no mundo.
Não poucos desses soldados, vítimas dos traumas sofridos, terminam privando-se de sua própria vida.
Por acaso exagero quando afirmo que a paz mundial pende por um fio?
Fidel Castro Ruz
12 de janeiro de 2012, 21 h 14
Por Fidel Castro
Eu tinha ficado gravemente enfermo em 26 de julho de 2006, um mês e meio antes da mesma, e só podia sentar na cama. Vários dos mais distinguidos líderes que assistiam ao evento tiveram a amabilidade de visitar-me. Chávez e Evo o fizeram mais de uma vez. Um meio dia vieram quatro, dos quais sempre recordo: Kofi Annan, secretário-geral da ONU; um velho amigo, Abdelaziz Buteflika, presidente da Argélia; Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã; e um vice-ministro das Relações Exteriores do governo da China e atual chanceler desse país, Yang Jiechi, representando o líder do Partido Comunista e presidente da República Popular da China, Hu Jintao. Foi realmente um momento de importância para mim que com grande esforço reeducava a mão direita que havia sofrido um sério acidente na queda em Santa Clara.
Com os quatro comentei aspectos dos problemas que o mundo enfrentava naqueles instantes. Estes, certamente, tornavam-se cada vez mais complexos.
No encontro de ontem observei o presidente iraniano absolutamente sossegado e tranquilo, indiferente por completo às ameaças ianques, confiante na capacidade de seu povo para enfrentar qualquer agressão e na eficácia das armas, que em grande parte eles próprios produzem, para ocasionar aos agressores um preço impagável.
Na realidade quase não falou do tema bélico, sua mente se concentrava nas ideias expostas na conferência que fez no Salão Nobre da Universidade de Havana, centrada na luta pelo ser humano: “caminhar para chegar e alcançar a paz, a segurança, o respeito e a dignidade humana como um desejo de todos os seres humanos ao longo da história”.
Estou seguro de que, por parte do Irã, não se deve esperar ações irrefletidas que contribuam para o desencadeamento de uma guerra. Se esta for inevitavelmente desatada, será fruto exclusivo do aventureirismo e da irresponsabilidade congênita do império ianque.
Da minha parte penso que a situação política criada em torno do Irã e os riscos de uma guerra nuclear que dela emanam e a todos envolve – possuam ou não tais armas –, são sumamente delicados porque ameaçam a própria existência de nossa espécie. O Oriente Médio se converteu na região mais conflitiva do mundo, e a área onde são gerados os recursos energéticos vitais para a economia do planeta.
O poder destrutivo e os sofrimentos massivos que originavam alguns dos meios utilizados na 2ª Guerra Mundial motivaram uma forte tendência a proibir algumas armas como os gases asfixiantes e outras empregadas naquela guerra. Contudo, as lutas de interesses e os enormes lucros dos produtores de armas os levaram à confecção dos armamentos mais cruéis e destrutivos, até que a tecnologia moderna aportou o material e os meios cujo emprego em uma guerra mundial conduziria ao extermínio.
Sustento o critério, sem dúvida compartilhado por todas as pessoas com um sentido elementar de responsabilidade, de que nenhum país grande ou pequeno tem o direito de possuir armas nucleares.
Nunca estas armas deveriam ser usadas para atacar duas cidades indefesas como Hiroshima e Nagasaki, assassinando e irradiando com horríveis e duradouros efeitos centenas de milhares de homens, mulheres e crianças, em um país que já estava militarmente vencido.
Se o fascismo obrigava as potências coligadas contra o nazismo a competir com esse inimigo da humanidade na fabricação de tal arma, finalizada a guerra e já criada a Organização das Nações Unidas, o primeiro dever dessa organização era proibir tal arma sem exceção alguma.
Mas os Estados Unidos, a potência mais poderosa e rica, impôs ao resto do mundo a linha a seguir. Hoje possui centenas de satélites que espionam e vigiam a partir do espaço todos os habitantes do planeta. Suas forças navais, aéreas e terrestres estão equipadas com milhares de armas nucleares, manejam a seu talante, através do Fundo Monetário Internacional, as finanças e os investimentos do mundo.
Se se analisa a história de cada uma das nações da América Latina, desde o México até a Patagônia, passando por São Domingo e Haiti, poderá observar-se que todas, sem uma só exceção, sofreram durante duzentos anos, desde o início do século 19 até hoje, e de uma ou outra forma estão sofrendo cada vez mais, os piores crimes que o poderio e a força podem cometer contra o direito dos povos. Escritores brilhantes surgem em número crescente: um deles, Eduardo Galeano, autor de As veias abertas da América Latina, que fala sobre estes temas, acaba de ser convidado a inaugurar o prestigioso Prêmio Casa das Américas, como um reconhecimento a sua relevante obra.
Os acontecimentos se sucedem con incrível rapidez; mas a tecnologia os transmite ao público de forma ainda mais rápida. Um dia qualquer, como o de hoje, notícias importantes se sucedem com extraordinário ritmo. Um despacho telegráfico datado de ontem (11), dá textualmente a seguinte notícia: “A presidência dinamarquesa da União Europeia afirmou na quarta-feira que uma nova série de sanções europeias mais severas contra o Irã se decidirá em 23 de janeiro em razão de seu programa nuclear, atingindo não só o setor petrolífero mas também o banco central.
‘Iremos mais longe simultaneamente no que se refere às sanções petrolíferas e contra as estruturas financeiras’, disse o chefe da diplomacia dinamarquesa Villy Soevndal, durante um encontro com a imprensa estrangeira”. Pode apreciar-se com clareza que, a fim de impedir a proliferação nuclear, Israel pode acumular centenas de ogivas nucleares enquanto o Irã não pode produzir urânio enriquecido a 20%.
Outra notícia sobre o tema, de uma conhecida e qualificada agência informativa britânica, informa que: “A China não deu sinais na quarta-feira de ceder terreno às demandas dos Estados Unidos de que reduza suas compras de petróleo iraniano e considerou um excesso as sanções de Washington contra Teerã…”.
Qualquer pessoa se assombraria com a tranquilidade com que os Estados Unidos e a civilizada Europa promovem esta campanha com uma espantosa e sistemática prática terrorista. Bastam estas linhas trasmitidas por outra importante agência europeia de notícias: “O assassinato, na quarta-feira, de um responsável pela usina nuclear de Natanz, no centro do Irã, conta três precedentes desde janeiro de 2010.”
Em 12 de janeiro daquele ano, “um físico nuclear internacionalmente reconhecido, Masud Alí Mohamadi, professor na universidade de Teerã e que trabalhava para os Guardiães da Revolução, morreu na explosão de uma moto-bomba diante de seu domicílio.”
29 de novembro de 2010: “Majid Shahriari, fundador da Sociedade Nuclear do Irã e ‘encarregado de um dos grandes projetos da Organização iraniana de energia atômica’ [...] foi morto em Teerã pela explosão de uma bomba magnética fixada em seu automóvel.”
“No mesmo dia, outro físico nuclear, Fereydoun Abasi Davani, foi alvo de um atentado em condições idênticas quando estacionava seu carro diante da universidade Shahid Beheshti em Teerã, onde os dois homens eram professores.” – Só ficou ferido.
23 de julho de 2011: “O cientista Dariush Rezainejad, que trabalhava em projetos do Ministério da Defesa, foi morto a tiros por desconhecidos que se deslocavam em uma moto em Teerã.”
11 de janeiro de 2012: – no mesmo dia em que Ahmadinejad viajava da Nicarágua a Cuba, para dar sua conferência na Universidade de Havana – “O cientista Mustafa Ahmadi Roshan, que trabalhava na usina de Natanz, da qual era vice-diretor para assuntos comerciais, morreu na explosão de uma bomba magnética colocada sob seu automóvel, perto da universidade Allameh Tabatabai, a leste de Teerã”. Como em anos anteriores, o “Irã acusou novamente os Estados Unidos e Israel”.
Trata-se de uma carnificina seletiva de brilhantes cientistas iranianos sistematicamente assassinados. Li artigos de conhecidos simpatizantes de Israel que falam de crimes realizados por seus serviços de inteligência, em cooperação com os dos Estados Unidos e a Otan, como algo normal.
Ao mesmo tempo, desde Moscou as agências informam que “a Rússia advertiu hoje que na Síria está amadurecendo um cenário similar ao da Líbia, mas alertou que desta vez o ataque virá da vizinha Turquia.
O secretário do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev, sustentou que o Ocidente deseja ‘castigar Damasco não tanto pela repressão à oposição mas por sua relutância em interromper sua aliança com Teerã’.
…em sua opinião, na Síria está amadurecendo um cenário como o da Líbia, mas nesta oportunidade, as forças de ataque não virão da França, Grã-Bretanha e Itália, mas da Turquia.
Inclusive, se atreveu a adiantar que ‘é possível que Washington e Ancara já estejam definindo várias opções de zonas de exclusão de voos, onde exércitos armados de rebeldes sírios poderias ser treinados e concentrados’.”
As notícias não só procedem do Irã e do Oriente Médio, mas também de outros pontos da Ásia Central próximos ao Oriente Médio. As mesmas nos permitem apreciar a complexidade dos problemas que podem derivar-se dessa perigosa região.
Os Estados Unidos foram levados por sua contraditória e absurda política imperial a problemas sérios em países como o Paquistão, cujas fronteiras com outro importante estado, o Afeganistão, foram traçadas pelos colonialistas sem tomar em conta cultura nem etnias.
Neste último país, que durante séculos defendeu sua independência frente ao colonialismo inglês, a produção de drogas se multiplicou desde a invasão ianque, e os soldados europeus, apoiados pelos aviões sem piloto e armamento sofisticado dos Estados Unidos, cometem embaraçosas matanças que incrementam o ódio da população e afastam as possibilidades de paz. Isso e outras imundícies também se refletem nos despachos das agências ocidentais de notícias.
“Washington, 12 de janeiro de 2012 - O secretário estadunidense da Defesa, Leon Panetta, qualificou nesta quinta-feira de ‘absolutamente lamentável’ o comportamento de quatro homens apresentados como marines norte-americanos urinando sobre cadáveres no Afeganistão em um vídeo difundido pela internet.
‘Vi as imgens e encontro o comportamento (desses homens) absolutamente lamentável… Este comportamento é totalmente inapropriado da parte de membros do Exército estadunidense e não reflete em nenhum caso os critérios e os valores que nossas forças armadas juram respeitar’…”
Na realidade, nem o afirma nem o nega. Qualquer pessoa pode ficar com a dúvida e possivelmente o próprio secretário da Defesa.
Mas também é extremamente desumano, que homens, mulheres e crianças, ou um combatente afegão que luta contra a ocupação estrangeira, sejam assassinados pelas bombas dos aviões sem piloto. Algo também muito grave: dezenas de soldados e oficiais paquistaneses, que cuidavam das fronteiras do país, têm sido destroçados por essas bombas.
Em declarações do próprio Karzai, presidente do Afeganistão, este expressou que o ultraje aos cadáveres era “’simplemente desumano’, e pediu ao governo estadunidense que ‘aplique o castigo mais severo a quem quer que seja que acabe sendo condenado por este crime’.”
Porta-vozes dos talibãs declararam que “nos dez últimos anos se deram centenas de atos similares que não foram revelados…”
Inclusive sente-se lástima por aqueles soldados, separados de familiares e amigos, a milhares de quilômetros de sua própria pátria, enviados para lutar em países que nem sequer talvez tenham ouvido falar quando estavam nas escolas, onde lhes atribuem a tarefa de matar ou morrer para enriquecer empresas transnacionais, fabricantes de armas e políticos inescrupulosos, que dilapidam a cada ano os fundos que são necessários para a alimentação e a educação dos incontáveis milhões de famintos e analfabetos no mundo.
Não poucos desses soldados, vítimas dos traumas sofridos, terminam privando-se de sua própria vida.
Por acaso exagero quando afirmo que a paz mundial pende por um fio?
Fidel Castro Ruz
12 de janeiro de 2012, 21 h 14
Cuba reitera disposição para acabar com o analfabetismo mundial
Atualmente, existem no mundo por volta de 800 milhões de iletrados e 38 milhões de crianças que não têm acesso ao ensino primário. Diante desta conjuntura internacional, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) declarou a Década da Alfabetização (2005-2014) para reduzir o índice de analfabetismo em 50%, em 2013.
“Cuba reiterou sua disposição de contribuir, com suas modestas, mas provadas experiências, a este empenho a favor da humanidade”, destacou a ministra da Educação, Ena Elsa Velázquez, no bojo dessa declaração.
Leia também:
Venezuela comemora 6º ano de erradicação do analfabetismo
Programa cubano de alfabetização beneficiará 240 mil haitianos
A ministra chamou a atenção acerca do trabalho constante dos docentes cubanos para erradicar o analfabetismo em massa, esforço que trouxe resultados significativos em mais de 28 países do mundo, mediante a implementação dos métodos “Yo sí puedo” e “Yo sí puedo seguir”.
A titular do Ministério da Educação (Mined) acrescentou que o ensino cubano se defronta com os desafios atuais do país, que "não terão outra resposta que a elevação da qualidade do ensino em todas as ordens", expressou.
“Neste momento, o compromisso é estarmos à altura das exigências atuais e necessidades de desenvolvimento social do povo, que em matéria educativa representa aperfeiçoar e fortalecer o trabalho pedagógico, e especialmente a preparação metodológica do pessoal docente em exercício, assim como elevar a qualidade das aulas em todos os níveis de estudo”, afirmou.
Ainda, o desenvolvimento de uma formação vocacional e orientação profissional destinadas às especialidades que mais precisa o país para seu desenvolvimento econômico e social; e a consolidação do Ensino Técnico e Profissional, com sua missão estratégica de formar jovens educados no trabalho, para desempenharem com sucesso e responsabilidade na produção e nos serviços, são prioridades do setor.
Fonte: Granma
Tradução: Solidários
“Cuba reiterou sua disposição de contribuir, com suas modestas, mas provadas experiências, a este empenho a favor da humanidade”, destacou a ministra da Educação, Ena Elsa Velázquez, no bojo dessa declaração.
Leia também:
Venezuela comemora 6º ano de erradicação do analfabetismo
Programa cubano de alfabetização beneficiará 240 mil haitianos
A ministra chamou a atenção acerca do trabalho constante dos docentes cubanos para erradicar o analfabetismo em massa, esforço que trouxe resultados significativos em mais de 28 países do mundo, mediante a implementação dos métodos “Yo sí puedo” e “Yo sí puedo seguir”.
A titular do Ministério da Educação (Mined) acrescentou que o ensino cubano se defronta com os desafios atuais do país, que "não terão outra resposta que a elevação da qualidade do ensino em todas as ordens", expressou.
“Neste momento, o compromisso é estarmos à altura das exigências atuais e necessidades de desenvolvimento social do povo, que em matéria educativa representa aperfeiçoar e fortalecer o trabalho pedagógico, e especialmente a preparação metodológica do pessoal docente em exercício, assim como elevar a qualidade das aulas em todos os níveis de estudo”, afirmou.
Ainda, o desenvolvimento de uma formação vocacional e orientação profissional destinadas às especialidades que mais precisa o país para seu desenvolvimento econômico e social; e a consolidação do Ensino Técnico e Profissional, com sua missão estratégica de formar jovens educados no trabalho, para desempenharem com sucesso e responsabilidade na produção e nos serviços, são prioridades do setor.
Fonte: Granma
Tradução: Solidários
BNDES financiará o desenvolvimento do audiovisual
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai atuar como agente repassador dos recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Contrato firmado entre o banco e a Agência Nacional do Cinema (Ancine) entra em vigor este mês e prevê repasse de R$ 2 bilhões ao banco até 2015. “Serão R$ 400 milhões anuais”, declarou nesta quinta (12) o diretor presidente da Ancine, Manoel Rangel. “Esta é a nossa estimativa. Vai variar conforme a lei orçamentária de cada ano”, completou.
Os recursos serão aplicados no desenvolvimento do setor audiovisual, para a produção de obras para televisão, cinema e novas plataformas. Serão feitos investimentos também em desenvolvimento, capacitação e distribuição; além da estruturação de empresas programadoras “e outras empresas estruturantes do mercado audiovisual”, disse o presidente.
“Poderá ser investido também na expansão do parque exibidor nacional, do parque de salas de cinema do país. Ou seja, os recursos do fundo setorial são destinados ao desenvolvimento do mercado audiovisual brasileiro e ao atingimento dos objetivos de fazer do Brasil um grande centro produtor e programador de conteúdos audiovisuais”, acrescentou.
O contrato define o BNDES como o agente financeiro central do FSA. Caberá ao banco fazer a administração dos recursos e, em parceria com a Ancine, promover a seleção dos agentes operacionais que irão implementar as várias linhas de ação que serão definidas ao longo do tempo pelo comitê gestor do fundo.
“O BNDES vai emprestar a sua expertise e a rede de relacionamento que tem com as agências e bancos de desenvolvimento do país para o fundo setorial. E o comitê gestor vai definir as linhas de ação”. A partir dessa definição, as linhas de ação serão entregues aos agentes financeiros contratados para executar as diretrizes do BNDES e do FSA.
Desde a sua primeira chamada pública, o FSA totalizou, em três anos, investimentos de R$ 189,8 milhões na produção, distribuição e comercialização de obras para cinema e televisão. No ano passado, os recursos disponibilizados somaram R$ 84 milhões.
Os recursos do FSA são oriundos de tributos pagos pelo próprio setor, principalmente da Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Condecine) e do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel).
Fonte: Agência Brasil
Os recursos serão aplicados no desenvolvimento do setor audiovisual, para a produção de obras para televisão, cinema e novas plataformas. Serão feitos investimentos também em desenvolvimento, capacitação e distribuição; além da estruturação de empresas programadoras “e outras empresas estruturantes do mercado audiovisual”, disse o presidente.
“Poderá ser investido também na expansão do parque exibidor nacional, do parque de salas de cinema do país. Ou seja, os recursos do fundo setorial são destinados ao desenvolvimento do mercado audiovisual brasileiro e ao atingimento dos objetivos de fazer do Brasil um grande centro produtor e programador de conteúdos audiovisuais”, acrescentou.
O contrato define o BNDES como o agente financeiro central do FSA. Caberá ao banco fazer a administração dos recursos e, em parceria com a Ancine, promover a seleção dos agentes operacionais que irão implementar as várias linhas de ação que serão definidas ao longo do tempo pelo comitê gestor do fundo.
“O BNDES vai emprestar a sua expertise e a rede de relacionamento que tem com as agências e bancos de desenvolvimento do país para o fundo setorial. E o comitê gestor vai definir as linhas de ação”. A partir dessa definição, as linhas de ação serão entregues aos agentes financeiros contratados para executar as diretrizes do BNDES e do FSA.
Desde a sua primeira chamada pública, o FSA totalizou, em três anos, investimentos de R$ 189,8 milhões na produção, distribuição e comercialização de obras para cinema e televisão. No ano passado, os recursos disponibilizados somaram R$ 84 milhões.
Os recursos do FSA são oriundos de tributos pagos pelo próprio setor, principalmente da Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Condecine) e do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel).
Fonte: Agência Brasil
Museu Nacional de Belas Artes do Rio completa 75 anos
O Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), administrado pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), vinculado ao Ministério da Cultura, completa nesta sexta-feira (13) 75 anos de criação. Além de oferecer entrada gratuita aos visitantes, o museu dará um brinde exclusivo na entrada para quem comprovar, por meio de documento, que faz aniversário no mesmo dia.
Localizada no Rio de Janeiro, a instituição conta com um acervo de cerca de 70 mil itens distribuídos em um espaço de 13 mil m², incluindo pinturas, esculturas e arte sobre papel, além de outras coleções, dentre elas, arte decorativa, arte popular brasileira e estrangeira, arte africana e arte indígena.
Criado pela lei nº 378, de 13 de janeiro de 1937, o MNBA foi inaugurado em 19 de agosto do ano seguinte com a presença do então presidente Getúlio Vargas. O museu se volta para a aquisição, conservação, pesquisa e divulgação de obras de arte que evidenciem a evolução da produção artística brasileira e estrangeira.
Desde sua criação, a instituição instalou-se no edifício da Escola Nacional de Belas Artes, na Avenida Rio Branco, nº 199, no centro do Rio. O autor do projeto foi o arquiteto espanhol Adolfo Morales de los Rios, que tomou como modelo o Museu do Louvre, em Paris, mas durante a construção, o desenho seria alterado, possivelmente por Rodolfo Bernardelli, então diretor da escola, e mais tarde Archimedes Memoria acrescentou outras mudanças. O resultado foi uma construção eclética, com fachadas em diferentes estilos. A fachada principal é inspirada na Renascença francesa, com frontões, colunatas e relevos em terracota, representando as grandes civilizações da antiguidade.
Acervo
O Museu Nacional de Belas Artes é a instituição do Brasil que possui a maior e mais importante coleção de arte brasileira do século XIX. Através de suas galerias e corredores, o visitante pode ter um panorama completa da história das artes plásticas no Brasil desde seu início, até a contemporaneidade.
O acervo do museu teve origem na pequena coleção de quadros trazidos ao Brasil por Joachim Lebreton (1760-1819), chefe da Missão Artística Francesa, que chegou ao país em1816. Aessas obras foram acrescentadas outras pertencentes à coleção de Dom João VI, a fim de formar a Pinacoteca da Academia Imperial de Belas Artes.
Doações por parte de colecionadores e artistas e o fato de os alunos da Escola Nacional de Belas Artes, subsidiados pelo Governo, em seus estudos na Europa, enviarem obrigatoriamente certo número de trabalhos para o Brasil, contribuíram para o enriquecimento da coleção.
Além desses, ficaram no museu as obras premiadas nas Exposições Gerais de Belas Artes, promovidas pela Academia Imperial, e no Salão Nacional de Belas Artes, realizado pela Escola. Não menos significativo foi o mecenato realizado por ilustres personagens, como os Barões de São Joaquim, Luís Resende, Guilherme Guinle, entre muitos outros que doaram coleções completas de artistas notáveis.
O MNBA/Ibram/MinC conta com seção de conservação e restauro, setor de educação, biblioteca/mediateca Araújo Porto Alegre, além de espaços para exposições.
Fonte: Portal do Ministério da Culura.
Localizada no Rio de Janeiro, a instituição conta com um acervo de cerca de 70 mil itens distribuídos em um espaço de 13 mil m², incluindo pinturas, esculturas e arte sobre papel, além de outras coleções, dentre elas, arte decorativa, arte popular brasileira e estrangeira, arte africana e arte indígena.
Criado pela lei nº 378, de 13 de janeiro de 1937, o MNBA foi inaugurado em 19 de agosto do ano seguinte com a presença do então presidente Getúlio Vargas. O museu se volta para a aquisição, conservação, pesquisa e divulgação de obras de arte que evidenciem a evolução da produção artística brasileira e estrangeira.
Desde sua criação, a instituição instalou-se no edifício da Escola Nacional de Belas Artes, na Avenida Rio Branco, nº 199, no centro do Rio. O autor do projeto foi o arquiteto espanhol Adolfo Morales de los Rios, que tomou como modelo o Museu do Louvre, em Paris, mas durante a construção, o desenho seria alterado, possivelmente por Rodolfo Bernardelli, então diretor da escola, e mais tarde Archimedes Memoria acrescentou outras mudanças. O resultado foi uma construção eclética, com fachadas em diferentes estilos. A fachada principal é inspirada na Renascença francesa, com frontões, colunatas e relevos em terracota, representando as grandes civilizações da antiguidade.
Acervo
O Museu Nacional de Belas Artes é a instituição do Brasil que possui a maior e mais importante coleção de arte brasileira do século XIX. Através de suas galerias e corredores, o visitante pode ter um panorama completa da história das artes plásticas no Brasil desde seu início, até a contemporaneidade.
O acervo do museu teve origem na pequena coleção de quadros trazidos ao Brasil por Joachim Lebreton (1760-1819), chefe da Missão Artística Francesa, que chegou ao país em1816. Aessas obras foram acrescentadas outras pertencentes à coleção de Dom João VI, a fim de formar a Pinacoteca da Academia Imperial de Belas Artes.
Doações por parte de colecionadores e artistas e o fato de os alunos da Escola Nacional de Belas Artes, subsidiados pelo Governo, em seus estudos na Europa, enviarem obrigatoriamente certo número de trabalhos para o Brasil, contribuíram para o enriquecimento da coleção.
Além desses, ficaram no museu as obras premiadas nas Exposições Gerais de Belas Artes, promovidas pela Academia Imperial, e no Salão Nacional de Belas Artes, realizado pela Escola. Não menos significativo foi o mecenato realizado por ilustres personagens, como os Barões de São Joaquim, Luís Resende, Guilherme Guinle, entre muitos outros que doaram coleções completas de artistas notáveis.
O MNBA/Ibram/MinC conta com seção de conservação e restauro, setor de educação, biblioteca/mediateca Araújo Porto Alegre, além de espaços para exposições.
Fonte: Portal do Ministério da Culura.
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