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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Leci dá show no mês da consciência negra

A sambista e Deputada Estadual Leci Brandão bateu um papo descontraído com a TV Vermelho durante o Décimo Terceiro Congresso do PCdoB.  "Sapateia muito bem/ Goleia com precisão/ Mas precisa sentar na mesa de decisão", a deputada recordou uma letra que em 1970 ja reivindicava espaço de poder. Acompanhe a lucidez presente em todo o depoimento.


Avança tramitação do Procultura na Câmara

A Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (27), o Projeto de Lei que cria o Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura (Procultura). De acordo com o relator, deputado Pedro Eugênio (PT-PE), o Procultura torna mais igualitária a distribuição de verba para a cultura entre estados e municípios, como também aos produtores independentes ou de pequeno porte. O projeto, aprovado por unanimidade na Comissão, substituirá a Lei Rouanet.


O projeto segue agora para análise na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados e caso seja aprovado, vai para apreciação no Senado.

Em seu relatório, o deputado Pedro Eugênio propõe que até 100% do incentivo a qualquer projeto cultural venha de renúncia fiscal. Atualmente, a Lei de Incentivo à Cultura restringe o benefício a apenas algumas manifestações artísticas, como teatro e música. Durante as discussões, foi apresentada emenda que acrescenta os produtores culturais de pequeno porte como beneficiários.

A concentração geográfica dos recursos oriundos de renúncia fiscal, para as atividades culturais, é um dos tópicos que o Procultura busca alterar. De acordo com o Ministério da Cultura (MinC), R$ 1,27 bilhão foi captado por meio da Lei Rouanet em 2012. A Região Sudeste concentrou 81% desses recursos. Em seguida estão as Regiões Sul (11,2%), Nordeste (4,4%), Centro Oeste (2,1%) e Norte (0,7%). A concentração também é notado pelo perfil da manifestação cultural.

Pela proposta, ao menos 30% dos recursos do Fundo Nacional de Cultura seriam destinados às unidades da Federação, o que corresponderia a cerca de R$180 milhões. “Estamos propondo aumentar os recursos para a cultura, tornando o acesso ao financiamento alcançável por todas as manifestações culturais”, comentou Pedro Eugênio.

Da Redação em Brasília
Com Agência Câmara

Conferência Nacional de Cultura discute diretrizes para o país

Teve início na noite desta quarta-feira (27), em Brasília, a 3ª Conferência Nacional de Cultura. O evento reúne 1.126 representantes de todos os estados e do Distrito Federal que irão discutir e votar uma lista de 64 diretrizes a serem seguidas pelos gestores culturais de todo o país. O tema central da conferência é Uma Política Nacional de Estado para a Cultura: Desafios do Sistema Nacional de Cultura. Até domingo (1º), a conferência reunirá cerca de 2 mil participantes.


Abr
 conferência nacional de cultura
Ministra Marta Suplicy e Jandira Feghali, entre outros, na abertura da Conferência no Teatro Nacional em Brasília. Foto: ABr
Criado em 2012, o Sistema Nacional de Cultura (SNC) pretende fortalecer a gestão pública da cultura em modelo que dá autonomia, em regime de colaboração, à sociedade civil, União, aos municípios, estados e ao Distrito Federal. "Cada ente federativo desenvolve o seu plano de cultura. Dessa forma um município de 10 mil habitantes vai fazer seu plano de cultura e vai ter o seu fundinho de Cultura e vai ter um Conselho de Cultura com participantes da prefeitura e da sociedade civil, quando tiverem todos esses itens nos municípios e estados, nós vamos começar a transferir os recursos para as cidades e os estados”, detalhou a ministra da cultura, Marta Suplicy, na abertura do evento.

Marta Suplicy ressaltou que o único estado que ainda não aderiu ao SNC, Minas Gerais, vai aderir nos próximos dias. Porém, de acordo com a ministra, apenas seis dos estados cumpriram os requisitos para começarem a receber os recursos do governo federal, que ultrapassarão os R$ 30 milhões em 2014. Dos mais de 5 mil municípios, 2.100 fizeram a adesão ao sistema.

As discussões da 3ª CNC começaram em junho deste ano, com as etapas municipais e intermunicipais de debates, sendo que todo o processo de priorização de propostas envolveu a participação de 450 mil pessoas em todo país. A conferência nacional pretende ampliar o espaço dedicado ao debate de propostas e também terá um balanço de gestão com foco no SNC. Ainda haverá um debate sobre políticas públicas na área da cultura voltadas para os jovens.

A ministra também falou sobre o Vale-Cultura, programa que tem alta adesão de empresas de pequeno porte. Ao todo 923 empresas aderiram ao programa e mais de 250 mil empregados poderão receber o benefício. O objetivo do programa é facilitar o acesso dos trabalhadores aos produtos e serviços culturais, estimulando a visitação a galerias, museus, teatros, cinemas, shows e a compra de livros, revistas e outros produtos artísticos.

A ministra disse que é a favor de que o Vale-Cultura abranja TV à cabo e jogos de vídeo-game, porém, cedeu ao pedido de grupos culturais que argumentaram que as pessoas iriam deixar de ir a eventos culturais para pagar a assinatura da TV. A ministra acentuou que não haverá nenhum tipo de censura para o uso do benefício. “Até [revista] pornográfica pode? Pode!”, disse a ministra, acrescentando que as pessoas devem poder escolher as linguagens às quais elas querem ter acesso.

Fonte: Agência Brasil

Deputadas acompanham movimentos culturais em suas reivindicações

 Na tarde desta quarta-feira (27), os parlamentares da Comissão de Cultura reuniram-se com o presidente da Câmara, deputado Henrique Alves (PMDB-RN), para debater a pauta da cultura na Casa. As deputadas Jandira Feghali (RJ) e Luciana Santos (PE), ambas do PCdoB, acompanharam a representação de delegados que participam da 3a Conferência Nacional de Cultura - que começou ontem em Brasília. 


Agência Câmara
Deputadas acompanham movimentos culturais em suas reivindicações 
Durante a audiência, entidades culturais cobraram mais recursos para o setor e respeito às diversas manifestações.  
Durante a audiência, entidades culturais cobraram mais recursos para o setor e respeito às diversas manifestações. Uma das reivindicações foi a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que vincula recursos orçamentários anuais ao setor (2% do Orçamento da União, 1,5% para os estados e 1% para os municípios).

Jandira, que é presidenta da Comissão de Cultura, destacou, além da PEC, a aprovação do Procultura, que ela considera essencial para o fortalecimento da cultura, e as emendas específicas para o setor. O projeto de lei que cria o Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura (Procultura) torna mais igualitária a distribuição de verba para a cultura entre estados e municípios. Pela proposta, ao menos 30% dos recursos do Fundo Nacional de Cultura seriam destinados aos estados.

A presidenta da Frente Parlamentar da Cultura, Luciana Santos, destacou ainda temas em debate na Comissão, como a regionalização da produção de rádio e TV e a resposta da Questão de Ordem apresentada pelo colegiado para anular as deliberações da comissão mista criada para regular alguns artigos da Constituição sobre o tema.

O presidente da Câmara anunciou para a próxima semana a realização de reunião entre representantes de diversas manifestações culturais e a ministra da Cultura, Marta Suplicy, para discutir todos os assuntos apresentados na reunião.

De Brasília
Márcia Xavier
Com agências 

BNDES vai investir R$14 milhões em produções de audiovisual

 O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai investir R$ 14 milhões em 16 produções nacionais. O valor foi anunciado nesta quarta-feira (27) junto com o edital do banco para a seleção de projetos cinematográficos de 2013. Desde 1995, quando foi lançado, 384 filmes nacionais foram contemplados com R$ 159 milhões. 


De acordo com o edital, os recursos serão liberados para seis produções de ficção, seis documentários, duas animações e dois projetos de finalização.

A chefe do Departamento de Cultura, Entretenimento e Turismo do BNDES, Luciane Gorgulho, explicou que a categoria de ficção terá dois grupos. No primeiro, dois projetos voltados a produções com maior potencial de público receberão R$ 1,5 milhão cada. O segundo, destinado a projetos para reforçar o cinema nacional no Brasil e no exterior e as disputas de prêmios, contará com R$ 1 milhão por produção.

Para os documentários, o BNDES definiu R$ 500 mil para cada projeto. Já os de finalização receberão R$ 500 mil por produção. Os dois longas de animação também contarão com R$ 1,5 milhão cada um.

Luciane Gorgulho lembrou que entre as produções já contempladas pelo banco, várias tiveram carreira de sucesso. Uma delas é Uma História de Amor e Fúria que está disputando uma indicação ao Oscar 2013 com 18 filmes da Categoria Animação. O longa dirigido por Luiz Bolognesi recebeu R$ 450 mil no edital BNDES de Cinema 2009.

”É um segmento que o BNDES vem apostando não só na área de cinema como na área de TV, mas como um setor que tem uma grande importância para reforçar a marca brasileira para criar personagens e a propriedade intelectual brasileira”, disse. 

As inscrições ficarão abertas até o dia 31 de janeiro de 2014 e os interessados terão que indicar, no momento da inscrição, o tipo de projeto a que pretende concorrer. As produções precisam ter protocoladas os pedidos na Agência Nacional do Cinema (Ancine), sem ser necessária, no entanto, a aprovação final do Sistema de Acompanhamento das Leis de Incentivo a Cultura (Salic). Os concorrentes da Categoria Ficção do Grupo 1 e os de finalização, terão que apresentar contrato de distribuição já assinado. Cada produtora poderá apresentar até três propostas.

O diretor da Área Industrial e Mercado de Capitais do banco, Julio Raimundo disse que desde 1990 o BNDES tem apoiado o cinema nacional e já faz história no setor de audiovisual. “Começamos a tratar o setor de audiovisual como política de desenvolvimento”, disse.

Julio Raimundo informou ainda que os investimentos do BNDES se estendem também à criação de salas de cinema. Hoje o banco anunciou a aprovação de financiamento de R$ 16,8 milhões para a construção de 14 salas em Alagoas, todas com sistema de projeção 3D e quatro no Rio Grande do Sul, duas com 3D.

Fonte: Agência Brasil 

CAMINHADA DO SAMBA

Acontece neste domingo, dia 01 de dezembro, a 
primeira edição da Caminhada do Samba

em homenagem ao Dia Nacional do Samba. O evento terá concentração a partir das 10h, na Praça da Liberdade, no Centro de Barra Mansa. A saída está programada para 11h, rumo ao Corredor Cultural, onde serão realizados vários shows. Na segunda-feira, dia 02, data em que se comemora do Dia Nacional do Samba, haverá palestras e mais shows no Corredor Cultural.

“Barra Mansa será a primeira cidade da região a realizar dois grandes eventos em homenagem ao Dia Nacional do Samba. Além das atrações musicais destacando o samba de raiz e os novos talentos, teremos também palestras e a participação de entidades carnavalescas de Barra Mansa”, contou Tico Balanço, coordenador do carnaval e articulador do evento.

Na manhã de domingo, os shows ficam por conta dos grupos regionais OP Samba, Reunião Papo de Samba, Empolgasamba, Kimanero e Partido Alto. À tarde, às 14h, o evento recebe sua atração principal: Nelson Sargento, um dos maiores sambistas do Brasil, vai cantar seus grandes sucessos e fazer uma homenagem ao samba de raiz. Já na segunda-feira, dia 02, a partir das 19h, o Corredor Cultural sedia uma conversa sobre samba com diversos convidados. E na sequência, às 20h, haverá show de samba de raiz com Thales e o Grupo Zagaia de Gancho.

“Não deixar passar em branco uma data como essa, que faz alusão a um gênero musical totalmente brasileiro, é mais uma forma de manter viva a memória cultural da nossa cidade. E, além disso, vamos trazer um dos maiores sambistas do país para comemorar conosco essa belíssima data. Com certeza a presença de Nelson Sargento deixa o evento muito mais especial”, disse Cláudio Chiesse, superintendente da Fundação de Cultura de Barra Mansa, convidando a população a prestigiar o evento.


A primeira edição da Caminhada do Samba é realizada em conjunto pela Fundação de Cultura de Barra Mansa, pelo Sesc Barra Mansa e pela Liac (Liga Independente das Agremiações Carnavalescas de Barra Mansa). O Corredor Cultural fica na Rua Custódio Ferreira Leite, no Centro, em frente ao Parque Centenário.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Renan: Meia-entrada vai a voto no Senado na próxima terça

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), anunciou nesta terça-feira (26) que vai colocar como primeiro item da pauta do Plenário da próxima terça-feira (3) o projeto que define regras para a concessão de meia-entrada nos eventos culturais e esportivos do país.  


Agência Senado
Renan: Meia-entrada vai a voto no Senado na próxima terça  
“Com a votação dessa proposta vamos fechar o ano com uma grande agenda cultural promovida pelo Senado”, disse Renan. 
“Com a votação dessa proposta vamos fechar o ano com uma grande agenda cultural promovida pelo Senado”, disse Renan a um grupo de representantes da área estudantil e da cultura, que veio pedir o apoio do presidente do Senado para aprovação do projeto.

A proposta estabelece reserva máxima de 40% dos ingressos dos eventos para meia-entrada e vai beneficiar estudantes regularmente matriculados em instituições de ensino, deficientes físicos e seus acompanhantes (quando a presença deles for necessária), pessoas com mais de 60 anos e jovens de 15 a 29 anos de baixa renda. No caso dos jovens carentes, eles devem estar inscritos no cadastro único de programas sociais do governo federal e sua renda familiar tem que ser de até dois salários mínimos.

Da Redação em Brasília
Com informações da Ass. de Imprensa da Presidência do Senado

Jandira Feghali: Mais conquistas, menos dívidas

 Desde a histórica emancipação da Comissão de Cultura em março deste ano, tornando-se comissão permanente da Câmara dos Deputados, a pauta cultural e sua integração particularmente com a educação e comunicação democrática tem ganhado velocidade e protagonismo únicos no Parlamento nacional. Sua voz estridente vem se demonstrando através do vigor que pleiteia espaço e vez alinhada às demandas sociais e fazendo a mediação com a gestão pública.


Por Jandira Feghali*


É com essa essência que entraremos hoje na 3ª Conferência Nacional de Cultura, na capital do país, onde são esperados inúmeros gestores, movimentos sociais e organizações culturais. Além de mais de 600 proposições feitas da sistematização de outras 1.400 apostas de estados e municípios, o encontro que se inicia terá eixos programáticos em debate na comissão e na sociedade brasileira.

Pautados pela democracia e diversidade, é preciso reafirmar a necessidade do fomento que garanta pluralidade dos meios de comunicação e evite oligopólios e centralização da mídia brasileira. A regionalização do conteúdo nas emissoras de rádio e TV abertas e a cota de produção independente precisam ganhar fôlego no debate do Congresso.

Também defendemos o tripé educação, cultura e cidadania, levando os saberes junto de uma visão mais transversal com a cultura. Não basta apenas aumentar os recursos para essas áreas, pois é preciso compreender a Cultura como parte integrante do processo educativo e da formação da civilização e da cidadania. São políticas públicas alinhadas nas duas áreas, trabalhando juntas, nas escolas.

O Ministério da Cultura precisa de mais recursos para possibilitar a potencialização da criatividade e intervenção popular.

A modernização e reforma do direito autoral também é uma missão em curso, após a aprovação da Lei do Ecad este ano com intenso esforço nosso. A lei do direito autoral atual, com efeito, transforma os cidadãos em infratores, proibindo comportamentos que não causam prejuízo efetivo à classe criadora, em suposta defesa do interesse dos autores — ao mesmo tempo em que não oferece a esses mesmos criadores defesas adequadas em face de práticas abusivas dos titulares derivados.

A ampliação e descentralização dos recursos como base de desenvolvimento econômico também é eixo estruturante a ser incentivado. É necessário ampliar os recursos do Ministério da Cultura para possibilitar a potencialização da criatividade e intervenção popular, chegando às populações mais distantes dos grandes centros.

A desburocratização das relações entre gestores e produtores de ações culturais precisa de um marco legal urgente, financiando e valorizando bons projetos de maneira transparente, mas com redução de normas que inviabilizam o desenvolvimento.

No universo de projetos estratégicos para a cultura está a Lei Cultura Viva, de minha autoria, ferramenta de fomento aos mais de 3 mil pontos de cultura do país. Sua aprovação tem urgência, transformando em política de Estado o programa do Ministério da Cultura e ampliando sua capacidade para outros 12 mil pontos.

A cultura é uma expressão antropológica, que nos define como sujeito com nossas características, raízes, saberes, fazeres, religiosidade e costumes, capacidade criativa e produtiva, e deve verdadeiramente ser desenvolvida como política estratégica de Estado. Ela revela nossa face diversa, integrando humanidades, costurando processos, nos relacionando com o território, valorizando diferentes estéticas e protagonizando transformações.

Que a conferência revele mais que diretrizes: reúna nossos sonhos e aspirações em objetivos concretos e reais. Que na próxima edição possamos comemorar mais conquistas e contabilizar menos dívidas com a cultura brasileira.

*É deputada federal pelo PCdoB do Rio de Janeiro e presidenta da Comissão de Cultura da Câmara

Bienal da Caricatura apresenta histórico de charges e cartuns

Dois séculos de charges e cartuns estarão em exposição a partir desta quarta-feira,(27) na capital fluminense e outras cidades do país, na 1ª Bienal Internacional da Caricatura. Evento inédito, mas que surge com a pretensão de ser um dos maiores do gênero em todo o mundo, a bienal terá ao todo 40 programações, entre mostras – cerca de 30 - debates e lançamentos de livros, até 30 de março de 2014.


Reprodução
Bienal Caricatura
Bienal Internacional da Caricatura é sediada na capital fluminense
Idealizada pelo caricaturista e historiador Luciano Magno (pseudônimo de Lucio Muruci), autor do livro História da Caricatura Brasileira, a bienal tem o apoio do Centro Cultural Justiça Federal (CCJF), do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) e de outras instituições culturais do país. As primeiras seis exposições serão abertas na noite desta quarta-feira, para convidados, no CCJF, e uma delas revive a obra de Manoel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879), o patrono da caricatura no Brasil.

“A bienal é um desdobramento natural do meu trabalho de historiador”, disse Luciano Magno, que há 27 anos dedica-se à pesquisa da trajetória da caricatura no Brasil. Seu livro, lançado no ano passado, recebeu vários prêmios, entre eles o da Associação dos Cartunistas do Brasil. “A minha preocupação foi reunir o histórico e o contemporâneo nas mostras da bienal”, informou.

Um exemplo dessa contemporaneidade é a mostra do cartunista Alpino, também exibida no CCJF. Blogueiro, Alpino demonstra a rapidez com que a caricatura, no contexto atual da internet, acompanha, de forma crítica, os movimentos sociais e o cotidiano da política. “Existe um ditado de que a caricatura corrige os costumes”, disse. Segundo ele, a internet amplifica esse papel das charges, que são rapidamente difundidas pelas redes sociais. 

Também faz parte da bienal um concurso aberto a cartunistas de todo o mundo, que premiará os artistas vencedores nas categorias Cartum, Charge e Caricatura, e Escultura Caricatural, com o troféu Seth, feito pelo escultor Genin Guerra. O nome do troféu é uma homenagem a outro caricaturista histórico brasileiro, Seth (Álvaro Marins, 1891-1949).

No MNBA, outras mostras homenagearão o pintor Di Cavalcanti, que também foi caricaturista, J. Carlos e Calixto Cordeiro. Desenhistas de humor histórico, como Appe e Carlos Estevão, também estão sendo lembrados na bienal, que nesta primeira edição presta ainda uma homenagem internacional, ao norte-americano Mort Walker, criador do Recruta Zero e do museu da caricatura dos Estados Unidos.

O Museu da República, no bairro do Catete, expõe a partir de sexta-feira (29), as caricaturas de Jorge Guidacci, um dos mais combativos desenhistas de humor dos anos 1970. Amazonense, Guidacci veio para o Rio com 15 anos de idade, estudou pintura e gravura na Escola Nacional de Belas Artes e foi professor de desenho na Universidade de Brasília (UnB). Começou a atividade de chargista em O Pasquim e colaborou com vários jornais e revistas, entre eles Jornal do Commercio, O Globo, Última Hora, Status e Mad.
Outra programação da bienal que ocorrerá no Museu da República serão os debates sob o tema Trajetórias Biográficas do Humor Brasileiro. Nos próximos dias 30 de novembro, 1º e 7 de dezembro, sempre a partir das 18h, artistas do desenho e pesquisadores vão trocar impressões sobre seus trabalhos e discutir as questões que envolvem a profissão. A série de encontros também vai homenagear o caricaturista Henfil (1944-1988), com a presença de seu filho Ivan de Souza, e o cartunista Lan.

A mostra no Museu da República (Rua do Catete, 153) fica em cartaz até 20 de fevereiro de 2014 e pode ser visitada, com entrada grátis, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. No CCJF (Avenida Rio Branco, 241), as exposições podem ser vistas até 12 de janeiro, de terça-feira a domingo, das 12h às 19h.

Fora do Rio de Janeiro, a 1ª Bienal Internacional de Caricatura terá exposições, debates e lançamentos de livros em São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, no Recife, em João Pessoa, Fortaleza, Teresina e Belém. A programação completa está disponível no site: www.bienaldacaricatura

Fonte: Agência Brasil 

Brasília sedia a 3ª Conferência Nacional de Cultura

 
Banner principal. 3ª Conferência Nacional da Cultura

A 3ª Conferência Nacional de Cultura (CNC) terá início nesta quarta-feira (27), às 20 horas, no Teatro Nacional, em Brasília-DF.  O evento reunirá cerca de 2 mil participantes – cerca de 70% representando a sociedade civil – dos 26 estados e o Distrito Federal, no encontro mais representativo já realizado no País, para tratar das políticas públicas desse setor.


A ministra da Cultura, Marta Suplicy fará a abertura do evento que nesta edição tem como tema central: Uma Política de Estado Para a Cultura: Desafios do Sistema Nacional de Cultura.

A Plenária Nacional ocorrerá até domingo (1º) reunindo cerca de 2 mil participantes, na busca por um consenso, que listará as 64 diretrizes a serem seguidas pelos gestores culturais. Mas as discussões da CNC começaram em junho deste ano, com as etapas municipais e intermunicipais de debates, sendo que todo o processo de priorização de propostas já envolveu a participação de 450 mil pessoas, em todo país.

A 3ª CNC reunirá 1.126 delegados com direito a voto, dentre os cerca de 2 mil participantes, previstos para a etapa nacional. Essa Conferência Nacional também ampliará o espaço dedicado ao debate de propostas, tendo apenas uma mesa de conferencistas, na tarde de quinta-feira (28). Nesse painel, o Ministério da Cultura fará um balanço de gestão, com foco no Sistema Nacional de Cultura (SNC).

Acompanhe todas as notícias relacionadas à Conferência Nacional de Cultura no portal do Ministério da Cultura

Serviço
3ª Conferência Nacional de Cultura
Abertura
Data: quarta-feira, 27 de novembro
Hora: 20h
Local: Teatro Nacional, Brasília (DF)

Conferência Nacional de Cultura
27 de novembro a 1º de dezembro - Centro de Convenções Brasil 21 – Brasília/DF
Assessoria de Imprensa

Senado aprova medida que beneficia bibliotecas públicas

A Comissão de Educação do Senado aprovou nesta terça-feira (26) projeto de lei relatado pelo senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) que prevê isenção de tarifas postais para a remessa de livros e outros materiais destinados às bibliotecas públicas. Pela proposta, a dispensa das tarifas valerá para bibliotecas previamente cadastradas.


Inácio Arruda destacou que a isenção deverá possibilitar à população maior acesso ao conhecimento e à cultura. Para ele, “as bibliotecas são efetivos instrumentos de democratização do exercício dos direitos culturais e do acesso às fontes da cultura nacional”.

O projeto altera a lei que trata dos serviços postais e seguirá agora para exame na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Como nessa comissão a votação será terminativa, a aprovação possibilitará o envio da matéria diretamente para avaliação na Câmara dos Deputados, a menos que haja recurso para avaliação final no Plenário do Senado.

Segundo a proposta, os acervos das bibliotecas públicas são limitados, tanto do ponto de vista quantitativo quanto qualitativo. A isenção das tarifas das remessas postais pode servir de estímulo para a colaboração espontânea de pessoas físicas e jurídicas, com doações que venham mitigar o quadro de insuficiência dos acervos. Uma vez transformado em lei, o projeto beneficiará bibliotecas municipais, estaduais e federais. 

Da Redação em Brasília
Com Agência Senado

Acervo de canções indígenas da Amazônia chega na internet

A diversidade musical das comunidades indígenas do norte do Amazonas e do Estado de Roraima foi reunida em uma inédita e rica coletânea. São quase quatro horas de 80 faixas musicais de grupos indígenas das etnias baniwa, wapichana, macuxi e tauepang, resultado do projeto intitulado “A Música das Cachoeiras” do grupo Cauxi Produtora Cultural.



Foto: Amazônia Legal

O nome é uma referência às correntezas da bacia do Alto rio Negro. O coordenador Agenor Vasconcelo define o projeto como um “registro etnográfico audiovisual”, no qual o principal foco é a música.

O lançamento em Manaus acontece no próximo dia 6 de dezembro, na Estação Cultural Arte e Fato. É partir desta data que o conteúdo completo estará disponível para download pelo endereço www.musicadascachoeiras.com.br. Uma prévia do material já pode ser acessada nos seguintes endereços: facebook.com/musicadascachoeiras e soundcloud.com/musicadascachoeiras.

Os autores do projeto “A Música das Cachoeiras” empreenderam uma expedição de janeiro a junho deste ano nas comunidades indígenas. Registraram a gaitada do músico Ademarzino Garrido e a embolada do pandeiro de comunidades do Alto Rio Negro, no Amazonas, a incomum mistura forró tradicional com a dança tradicional Parixara, o hip-hop dos índios taurepang, entre outros gêneros musicais indígenas.

Conheceram músicos de cada comunidade, além de compositores já consolidados nas cidades de São Gabriel da Cachoeira, no Alto Rio Negro, e em Boa Vista (RR), como Paulo Moura, Eliakim Rufino, Mike Gy Brás, Paulo Fabiano e Rivanildo Fidelis.

O projeto foi integralmente patrocinado pelo programa Natural Musical, no valor de R$ 100 mil, selecionado por meio de edital nacional em 2012, por meio da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura do Governo Federal. O acervo inclui gravação de músicas e vídeos, registros fotográficos, produção de uma cartilha e a criação de um site.

Os realizadores explicam que o projeto nasceu de uma ideia: resgatar a mesma expedição que etnógrafo alemão Theodor Koch-Grünberg (1872-1924) realizou nas comunidades do Alto Rio Negro e na região do Monte Roraima entre 1903 e 1913. Koch-Grünberg foi um pesquisador que morou na região e registrou em suas obras a cultura material e imaterial dos povos ameríndios.

Agenor Vasconcelos tomou conhecimento sobre a pesquisa do alemão na época em que fazia mestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). “O grande desafio após o término do mestrado seria poder viajar e colher as minhas próprias impressões, refazendo o trajeto já esmiuçado por mim diversas vezes mentalmente por meio dos registros de Koch-Grünberg. O que eu não esperava seria a possibilidade de formar um grupo expedicionário para pesquisar em equipe. Isso foi fantástico”, explicou.

Após a seleção no projeto Natura Musical, uma equipe de seis pessoas formada por músicos, fotógrafos, produtores e antropólogos iniciou a viagem pelas áreas escolhidas. Envolvidos de tal forma com os músicos de cada região, a equipe acabou também produzindo composições com os integrantes das bandas das comunidades.

“Mas não havia intervenção direta. Sempre estávamos preocupados em possibilitar uma gravação profissional independente das condições de trabalho. Na foz do rio Içana, por exemplo, ponto limítrofe da expedição no alto rio Negro, conseguimos reunir uma banda de teclado, guitarra e vocal. Havíamos levado pré-amplificadores, microfones condensadores, interface de áudio e muitos quilos de equipamentos para montar um estúdio aonde quer que fosse. Gravamos e os resultados são maravilhosos e divertidos”, explica.

Inspiração e aprendizado

Entre as boas surpresas encontradas na viagem, está Ademarzinho Garrido que, segundo Vasconcelos, é descendente de Germano Garrido, anfitrião de Koch-Grünberg na época em que o alemão esteve no Alto Rio Negro. Ademarzinho é líder da banda Maripuriana, onde toca violão e gaita. No registro feito pela equipe, Vasconcelos descreve a participação de Ademarzinho como o autor de “um solo de gaita, que dialoga com a guitarra em vários momentos da canção”.

A equipe também esteve na comunidade baniwa Itacoatiara-mirim, onde conheceu Luiz Laureno, e na comunidade Boa Vista, na foz do rio Içana, onde gravou com a banda Taína Rukena. Nesta mesma comunidade registrou hinos evangélicos cantados na língua nhengatu acompanhados em teclados eletrônicos e em ritmo calipso.

Nas comunidades indígenas de Roraima, o grupo registrou o som parixara, um ritmo “lento que se dança em longas filas e rodas e com cantos variados”, conforme descreve Agenor Vasconcelos, e o tukúi e marik, cantos interpretados pelos índios macuxi e taurepang.

Além do componente etnográfico e audiovisual, a equipe de “A Música das Cachoeiras” espera que o acervo seja uma fonte de pesquisa para futuras gerações e inspiração para os artistas. “Tanto músicos como pintores, literatos, poderão basear novas criações a partir dessa tão rica cultura Amazônica”, diz Vasconcelos.

O coordenador conta que a pesquisa foi também um aprendizado para eles próprios. “Pudemos aprender nuances da língua e da cultura dos povos que tivemos oportunidade de conhecer. Por meio da música figurativa, cantada, também percebemos a língua indígena viva no seio de um Brasil distante”, afirma..

O projeto “A Música das Cachoeiras” estará disponível gratuitamente no site oficial. Ele é composto por faixas, clipes e mini-documentários. Um livro-CD que também foi produzido terá 2/3 de seus exemplares distribuídos gratuitamente.

O indígena do Alto Rio Negro Moisés Luiz da Silva considera o registro e a divulgação da música de seu povo como fundamental para valorização da cultura baniwa. Moisés foi o principal articular entre a equipe do projeto e as lideranças da sua comunidade Itacoatiara-mirim. Entre os que participaram da gravação estão Luiz Laureano da Silva, mestre da maloca, Mário Felício Joaquim e Luzia Inácia.

“Recebi a notícia sobre o projeto pela professora Deisy Montardo (Ufam). Então o Agenor entrou em contato comigo e conversamos. O segundo plano foi consultar o povo e as lideranças baniwa, que concordaram em participar. Achamos que esse registro de gravações de músicas é uma forma de valorizar nossa cultura e divulgar para outras sociedades indígenas e não-indígenas”, afirmou Moisés.

O grupo baniwa já participou de outros projetos, como o Podáali Valorização das Músicas, patrocinado pela Petrobrás Cultural, e do Museu do Índio, em 2013.

Fonte: Amazônia Real

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Prefeitura de Barra Mansa empossa conselheiros municipais de Cultura

 
Conselho foi eleito em setembro e conta com representantes da prefeitura e da sociedade civil
O prefeito de Barra Mansa, Jonas Marins, deu posse na tarde desta segunda-feira, dia 25, aos novos componentes do Conselho Municipal de Cultura. Eleitos no dia 14 de setembro, durante o III Fórum de Cultura do município, os novos conselheiros e seus suplentes foram empossados no gabinete do prefeito, em cerimônia que contou com a presença de secretários, coordenadores e vereadores.
 Ao todo, 18 conselheiros e seus suplentes compõem a nova equipe do Conselho Municipal de Cultura. Do total, nove foram nomeados pelo prefeito e nove foram eleitos pelos participantes do Fórum e representam a sociedade civil. “Sabemos da importância que um conselho tem dentro de uma administração municipal. Então, que nos unamos para desenvolvermos, juntos, um trabalho de fomento da cultura em Barra Mansa”, disse aos conselheiros, o superintendente da Fundação de Cultura do município, Cláudio Chiesse.
 Nove segmentos constituíram a plenária do III Fórum de Cultura de Barra Mansa e cada um deles está representado pelo conselheiro e seu suplente. Literatura, Dança, Artes visuais, Música, Animador Cultural e Professor de Arte, Movimento Social e Entidades de Classe, Teatro Áudio e Visual, Cultura Popular e Urbana e Entidade Cultural estão devidamente representados no novo Conselho Municipal de Cultura. 
“Nosso governo quer a cultura na marca e diversas vitórias podem ser comemoradas este ano. O resgate do Carnaval, a implantação do Corredor Cultura, as leis de incentivo ao setor e o apoio às manifestações culturais são algumas delas”, destacou o prefeito Jonas Marins. “Barra Mansa tem vocação artística. Música, teatro e outras atividades culturais de qualidade nascem aqui todos os dias e o Conselho vai ajudar a administração municipal a valorizar esses talentos”, acrescentou o prefeito. 
Para o vereador Lia Preto, um dos empossados, o Conselho é a consolidação da luta pela Cultura de Barra Mansa. "Quando todos têm acesso ao processo de organização da criação dos projetos culturais, a chance de sucesso é muito maior e o Conselho vem nos prestar um auxílio na busca por este sucesso", destacou ele, que garante que a atuação do grupo vai ser fundamental para levar a cultura do município a todo o estado do Rio. 
O Conselho de Cultura tem funções deliberativas, normativas, fiscalizadoras e consultivas do governo municipal no setor cultural e tem por competência propor e fiscalizar ações e políticas públicas de desenvolvimento da cultura. Além disso, cabe ao conselho promover e incentivar estudos, eventos e atividades permanentes na área da cultura, colaborar na formulação das diretrizes da política cultural da cidade, colaborar na articulação das ações entre os organismos públicos e privados, emitir e analisar pareceres e acompanhar, avaliar e fiscalizar as ações culturais em desenvolvimento no município.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Suassuna analisa a Banda Calipso e pontua inversão de valores

Durante participação em palestra, o grande escritor e intelectual brasileiro, Ariano Suassuna, analisa a banda Calipso, fala sobre John Lennon e pontua a inversão de valores que existe no interior da formação social do Brasil.




O Vale-Cultura é mais uma revolução em curso, afirma ministra

“Vai mudar a vida do trabalhador. É uma injeção muito grande na área cultural e para o trabalhador. A partir de agora, todas as negociações coletivas deverão incluir o benefício”, declarou em entrevista à imprensa a ministra Marta Suplicy, ao falar sobre a  primeira adesão “no atacado” ao programa Vale-Cultura, por meio de convenção coletiva nacional dos bancários. 


Segundo ela, a possibilidade do Vale-Cultura vir a se tornar rotina em futuras negociações coletivas impactará significativamente e gerará tanto ganhos tangíveis como intangiveis para o Brasil. "O Vale-Cultura masi uma revolução em curso", afirma ministra

A ministra ainda pontuou a serão entre 250 mil e 300 mil trabalhadores que vão poder ter R$ 50 por mês para ir ao cinema, ir ao teatro, ao museu, comprar jornais ou livros. “Em tempos de nível elevado de emprego, as pessoas que se candidatam a uma vaga vão perguntar: ‘Tem Vale-Cultura?’ Na medida em que isso pesa numa decisão, pode passar a ser interessante para a empresa ter o benefício como atrativo”, disse a ministra. 

Além disso, ela acrescentou que uma ação como essa reconfigura as relações sociais e no trabalho: "A cultura tem um efeito muito grande em como a pessoa ver o mundo e isso, com certeza, reverbera no trabalho realizado. Então, será um ganho mútuo".

Marta ainda pontuou que não somente o trabalhador que saí ganhado, o empregador também. “Então, é inexplicável uma empresa não se dispor a conceder esse benefício, porque o ganho do funcionário em alegria, cultura, educação e qualidade de vida é muito grande. Isso dá retorno também em termos profissionais, porque o ganho cultural representa um efeito muito grande em como a pessoa se dedica, em como ela vê o mundo, em como analisa as questões. Isso tudo acaba reverberando no trabalho”, considerou.



Impactos

De acordo com informações do Ministério da Cultura, já são 570 empresas cadastradas no programa Vale-Cultura, o que representa 40 mil trabalhadores. O governo estima o potencial do programa em R$ 25 bilhões por ano.

A Comando nacional dos Bancários avalia que a adesão ao Vale-Cultura fará circular aproximadamente R$ 9,4 milhões por mês. O benefício começará a ser pago em janeiro, por meio de cartão magnético, com crédito cumulativo – ou seja, não precisa usar os R$ 50 no mesmo mês.

O Decreto nº 8.084, que regulamentou a Lei ­­nº 12.761, prevê que o benefício deverá ser oferecido ao trabalhador com vínculo empregatício e remuneração de até cinco salários mínimos mensais (R$ 3.390, em valores atuais). Depois disso, pode ser estendido a funcionários com salário maior. A fiscalização caberá ao Ministério do Trabalho e Emprego.
 
Joanne Mota, da Redação em São Paulo
Com informações da agências


Samico, aquele que abriu veredas no terreno áspero da beleza

Samico
Samico, em seu ateliê, em Olinda (PE)

Depois de Samico, a gravura brasileira nunca mais foi a mesma. O grande gravurista Gilvan Samico despediu-se da vida nesta segunda feira (25), aos 85 anos de idade, vencido por um câncer contra o qual lutava faz muitos anos. 

Por José Carlos Ruy


Samico foi um dos mais eminentes gravuristas brasileiros; brilhou na xilogravura aplicada em temas que, como seu grande amigo Ariano Suassuna, bebiam nas fontes populares, a que deu expressão erudita. Suas obras estão nos principais museus do Brasil e no exterior, entre eles o Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, na cidade do Recife, onde nasceu, em 1928, e onde desenvolveu sua arte.


Certa vez, em uma entrevista quando completou 80 anos de idade, definiu sua arte dizendo ser “uma coisa interior”, onde ficava difícil identificar as influências. “Eu trabalho hoje de tal forma que dificilmente você pode conhecer a lenda e identificar aquela origem cultural. Eu não faço um trabalho de ilustração. Estou me baseando numa lenda para construir um novo mundo. Em A caça, por exemplo, a figura principal originalmente era um esquimó. Mas eu não conseguiria enxergar um esquimó dentro de minha gravura. Então eu tirei a roupa dele e o transformei em um homem que pode ser de qualquer cultura. Uma situação corriqueira, como uma conversa com uma pessoa qualquer, pode dar origem a uma gravura que vai ser interpretada pelos outros por seus significados históricos e mitológicos, mas minha intenção era apenas contar uma história simples que me agradou e resolvi desdobrar. Por outro lado, quem conhece determinadas lendas pode também não conseguir enxergá-las na minha gravura, de tanto que eu modifico”. 

Mas ressaltava a influência do folclore nordestino. “Eu não posso ser chamado de judeu apenas por desenhar uma estrela de seis pontas. Existe um gravador cearense cujas figuras lembram desenhos egípcios, apesar de retratarem Padre Cícero e Lampião, mas ele dificilmente se inspirou nos egípcios”. 


Influência que recebeu também do amigo Ariano Suassuna. “O cordel e a gravura popular foram apenas um caminho, um mote, sugerido por Ariano Suassuna há mais de 40 anos. Eu já contei isso várias vezes. Eu vinha fazendo uma gravura muito carregada de preto, muito noturna, e ele me disse que o Nordeste era cheio de gravadores populares que valorizavam a luz, enquanto eu não parecia satisfeito com o caminho que eu estava tomando. Certos elementos que estão presentes na minha obra fazem parte do imaginário nordestino, mas estão em outras culturas também, em cada uma com um significado, como as criaturas bestiais e as próprias estrelas.” 

Referiu-se também a influências da conjuntura, como no quadro Rumores de guerra em tempo de paz, de 2001, quando ocorreram os ataques de 11 de setembro em Nova York. “Aquilo foi uma coisa curiosa”, disse. “Esse quadro foi uma invenção da minha cabeça, não veio nada de fora. Botei um título que é coerente dentro do que a imagem mostra. Não recebi nenhum aviso mágico ou algo assim. Coincidentemente, eu fiz essa gravura em julho e em setembro aconteceu aquilo em Nova York. Célida, minha mulher, me perguntou se eu estava adivinhando as coisas (risos)... Eu não faço reportagem. Tem artistas, inclusive gravadores populares, que fazem isso, retratam os fatos”.


Samico (aliás Gilvan José de Meira Lins Samico) foi pintor e desenhista, autor sobretudo de xilogravuras que refletiam a cultura popular nordestina, do nordeste brasileiro. Na década de 1970 fez parte do Movimento Armorial, cujo guru era Ariano Suassuna, e suas gravuras se tornaram o ícone do movimento. Mas sempre recusou o título de maior gravurista brasileiro. Na entrevista sobre seus 80 anos disse: “Quem diz [isso]? Eu não acredito, se dizem muitas coisas nesse mundo de crítica de arte. Umas coisas que são, e outras que não são. Às vezes, o elogio é até gratuito, porque tem que ser... Mas não sou eu que tenho que dizer nada, são as pessoas credenciadas.” 

As pessoas credenciadas, aliás, discordam dele e reafirmam sua grandeza. Vilma Eid, dona da Galeria Estadão, em São Paulo, é uma delas. "Ele era o maior xilogravador vivo no país", disse. "Eu diria que ele deixa uma obra fundamental para a compreensão da arte brasileira, porque é um artista que foi buscar na raiz do povo a matéria para seu trabalho." O amigo Ariano Suassuna concorda com ela e chamou a atenção para o "tino" de Samico ao abrir "veredas no terreno áspero e tirano da beleza".

Com agências

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Argélia promove semana cultural no Brasil

As cidades de Brasília e São Paulo irão receber a Semana da Argélia no Brasil. O evento teve início no último sábado (16) e vai até 25 de novembro na capital federal e de 25 a 28 de novembro na capital paulista, com exposições fotográficas e shows musicais.


 
Semana cultural
“O objetivo é mostrar a cultura argelina. É a primeira mostra do gênero e a estamos organizando por causa da celebração dos 50 anos da independência [da Argélia]”, explica Djamel Bennaoum, embaixador argelino em Brasília. O evento é organizado pela embaixada e pelo Ministério da Cultura da Argélia, com apoio da Câmara de Comércio Árabe Brasileira.

Bennaoum diz que a exposição ocorre no Brasil devido aos laços de cooperação e de amizade entre os dois países. “É para que o público brasileiro conheça um pouco da cultura argelina. Escolhemos Brasília por ser a capital federal e São Paulo por haver muito interesse em cultura”, afirma.

A semana será aberta em Brasília com a exposição “Argélia em imagens”, no Teatro Nacional. “A exposição de fotografias traz grandes fotógrafos argelinos que mostram partes do tesouro da natureza e do turismo da Argélia”, destaca o embaixador. Quem visitar a mostra vai poder conferir as imagens feitas por Ryad Guelmaoui, Samir Abchiche e Nadia Feroukhi.

Nos dias 20 e 21, o público brasiliense poderá assistir aos shows de Anissa Bensalah, Djmawi Africa e El Ferda. O destaque destas apresentações é a cantora Anissa, filha de mãe brasileira. “Ela canta em árabe e português”, conta Bennaoum. “Os outros grupos são muito conhecidos [na Argélia]. Eles têm um ritmo de dança africano que deve agradar ao público brasileiro”, avalia.

Em São Paulo, a exposição de imagens e os shows acontecem no Club Homs, na Avenida Paulista. As apresentações musicais ocorrem nos dias 26 e 27. Toda a programação da semana argelina é gratuita.

Serviço:
Semana da Argélia no Brasil

Brasília
De 16 a 25 de novembro
Local: Teatro Nacional
Exposição “Argélia em imagens”
Aberta ao público das 09 às 20 horas
Shows: dias 20 e 21, às 19 horas
Endereço: Setor Cultural Norte s/n, Via N2, Asa Norte

São Paulo
De 25 a 28 de novembro
Local: Club Homs
Exposição “Argélia em imagens” e shows nos dias 26 e 27 de novembro
Ainda sem horários definidos. Mais informações pelo telefone (11) 3289-4088
Endereço: Av. Paulista, 735

Entrada gratuita

Fonte: ANBA

Jandira Feghali promove reunião para desburocratizar a cultura

 Com o objetivo de tornar mais acessível e transparente a relação Estado e sociedade civil, a presidenta da Comissão de Cultura da Câmara, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), reuniu o Tribunal de Contas da União (TCU), a Controladoria Geral da União (CGU), os ministérios da Cultura, da Fazenda e do Planejamento e artistas da Cooperativa de Música de São Paulo. O objetivo é detectar os gargalos gerenciais e criar propostas para tornar a relação Estado e artistas mais produtiva e eficaz. 


Jandira destacou que inúmeras e diversas são as demandas e pedidos de ajuda que chegam a Comissão de Cultura para destravar os problemas enfrentados na parceria de artistas e produtores da cultura popular com o Estado.

Após a reunião, a Comissão de Cultura enviará uma sistematização do debate aos participantes da reunião e o grupo marcará outra reunião ainda este ano para então dar início à construção das propostas que simplifiquem a relação entre Estado e sociedade.

Segundo Marcelo Bemerguy, do TCU, os próprios órgãos são, na maioria das vezes, mais rígidos em suas instruções normativas e portarias do que a própria lei.

Ronnei Costa, da CGU, corrobora com a dificuldade posta pelos próprios ministérios ao afirmar que os órgãos de controle devem seguir as orientações estabelecidas não apenas pelas leis, mas pelas orientações dos órgãos convenentes, e que, no caso do Ministério da Cultura (MinC), dois fatores são importantes para entender as dificuldades: a descontinuidade nos repasses e o excessivo rigor no controle de mudanças nos planos de trabalho. 

Costa comentou ainda que, em análise realizada recentemente, detectou-se que 54% das descontinuidades dos trabalhos ou problemas na execução do plano de trabalho acontecem pela inconstância nos repasses.

São assim, inúmeros os casos de inviabilização de entidades pelo rigor dos processos infralegais (instruções normativas e portarias ministeriais), como o contado por Luis Felipe Gama, da Cooperativa de Música de São Paulo, que mesmo tendo cumprido com o objeto do convênio com a Fundação Nacional de Arte (Funarte) teve que devolver recursos ao Estado para não ser inviabilizado.

Daniel Castro e Marcelo Nóbrega, do MinC, ressaltaram que além do grupo de trabalho que o ministério irá criar ainda neste mês de novembro, integrando outras secretarias e diretorias, os instrumentos mais adequados neste momento seriam os prêmios, o conveniamento por dois anos dos Pontos de Cultura e um acompanhamento mais intenso do novo Marco Legal para as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips) em tramitação no Senado.

Quanto a ferramentas de acompanhamento e controle dos processos de convênio, Cleber Fernando de Almeida, do Ministério do Planejamento, reforçou que os sistemas correspondem diretamente às especificações dos órgãos demandantes, e que recentemente foram realizados encontros com usuários para melhorar a usabilidade do sistema.

Para fechar a reunião, o secretário Marcelo Bermerguy lembrou as experiências do Ministério da Educação com o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), assim como o PAA da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que podem servir de subsídio para encontrar mecanismos que facilitem o acompanhamento e controle dos convênios, uma vez que o custo de auditar uma prestação de contas hoje está na ordem de R$ 75 mil reais.

Da Redação em Brasília
Com informações da Comissão de Cultura

Projeto musical venezuelano pode ser adaptado aos CEUs

O Ministério da Cultura (MinC) patrocinou uma visita técnica de maestros à Venezuela para aperfeiçoar um projeto a ser implementado no Brasil nos moldes do bem-sucedido Sistema de Orquestras e Coros Juvenis, política pública que ficou mundialmente conhecido como El Sistema. Os maestros presentes na turnê farão uma proposta à ministra da Cultura, Marta Suplicy, de ensino música nos Centros das Artes e Esportes Unificados (CEUs), focados na inclusão social.


Neste domingo (17), os maestros brasileiros prestigiaram apresentação de orquestra binacional - formada por músicos brasileiros e venezuelanos. 129 músicos da Sinfónica Juvenil de Caracas e 51 integrantes de quatro orquestras brasileiras encerraram o 6º Festival Villa-Lobos, com um concerto dirigido pelo venezuelano Dietrich Paredes.

Os intérpretes são parte das orquestras Jovem de Goiás; Neojiba, de Salvador (Bahia); Jovem Vale Música, de Belém (Pará); a Orquestra de Recife (Pernambuco), além da Sinfônica Juvenil de Caracas. 



Visita ao El Sistema

O que mais impressionou os maestros no projeto venezuelano foi o trabalho com portadores de Síndrome de Down. Viram a alegria de sua participação no projeto e o acolhimento da coletividade. Na sala de aula não havia diferenças entre os alunos; sobressaia a alegria e a vontade de tocar juntos, conforme relataram.

"Este é um projeto social. Quem não tem condições de ser músico pode fazer outras coisas. Consertar instrumentos, administrar, ajudar a organização dos alunos. Enfim, a porta está aberta a todos e sem recorte de idade. Acolhemos crianças pequenas, mas são os jovens os que mais precisam deste projeto. Eles que estão em risco pela vulnerabilidade social", frisou o clarinetista Lenar, um jovem sem perspectivas e que foi resgatado pelo projeto.

Da Redação do Portal Vermelho,
com agências

Esquenta no Debate!!!!!!!!!!!!

Ela envia uma mensagem retrógrada com seus estereótipos dos negros.


Esquenta é o programa mais conservador da televisão brasileira. É uma versão barulhenta e colorida de velhos costumes. Num primeiro olhar, parece uma grande festa na periferia, na qual as gírias, danças e modas de regiões com IDH baixo e criminalidade alta são irradiadas para todo o país pela tevê.
Vemos meninos contorcendo as articulações em performances de passinho, meninas com minissaia e microvocabulário, rapazes negros com cabelos louros e óculos espelhados de cores berrantes rodando o salão felizes e eufóricos. A festa mistura samba, funk, estilo de vida despreocupado e despudorado, concurso de beleza, humor, artistas de novela, enfim, para usar um termo bem periférico, “tudo junto e misturado”.
Essas características, apenas, não me incomodam. Não sou quadrado, respeito e até admiro algumas formas de cultura vindas do gueto e abuso do direito de desligar a TV. O que me irrita, e muito, e faz com que chame o programa de conservador e escravocrata é a cor de pele predominante nessa festa maluca.
Certamente o Esquenta é o programa com o maior percentual de negros da TV aberta. Enquanto as novelas, seriados e telejornais são predominantemente caucasianos, quem manda ali são os negros e pardos.
É esse o ponto. O programa reforça o estereótipo dos negros brasileiros como indivíduos suburbanos, subempregados, mas ainda assim felizes, sempre com um sorriso no rosto, esquecendo-se das mazelas cotidianas por meio da dança, do remelexo, das rimas pobres do funk, do mau gosto de penteados e cortes de cabelo extravagantes.
Sou negro e não sei sambar, não pinto meu cabelo de louro, não uso cordões, não ando gingando nem falo em dialeto. Não sou exceção, felizmente. Sei que há muitos caras e moças como eu. Muitos são poliglotas, outros gostam de música clássica, vários gostam mais de livros do que de pessoas, outros reclamam do calor da Brasil, certamente há os que são introspectivos e de poucas palavras, e há os que nem sentem falta do feijão quando viajam para o exterior.
Embora o Esquenta não tenha a proposta de ser um programa sobre cultura negra, ele ajuda a construir um estereótipo. Por que as novelas não têm galãs negros ou musas negras? Faça a lista dos galãs e das musas televisivas e depois veja quantos são negros. O número será irrisório.
Esquenta ajuda a manter essa ordem. Em vez de rapazes elegantes, mostra dançarinos com cabelos bizarros. As moças, sempre de shorts minúsculos e prosódias vulgares, nunca serviriam de modelo para capas da Marie Claire ou da Claudia.
Regina Casé e seu programa parecem dizer aos jovens dos guetos: “Ei, isso mesmo, aprendam passinho, aprendam a rebolar até o chão, continuem com seu linguajar próprio, porque tudo isso é lindo, é legal, é Brasil, é tudo junto e misturado, continuem com seus empregos modestos, porque a vida é agora, é para ser vivida, curtida, com alegria, malemolência, sempre com um sorriso no rosto”.
E assim, aquela menina sentada no sofá vai continuar achando o máximo desfilar com pouca roupa e pelos das pernas pintados de loiros pela comunidade. Nunca vai pensar em aprender a falar alemão ou tentar entender os grafites de Banksy, da mesma forma que os rapazes nunca sonharão em trabalhar no Itamaraty e praticarão bullying contra os meninos polidos que não falam em dialeto e inventam de estudar violino, já que um programa televisivo de uma das principais emissoras do país legitima seu estilo de vida mal educado e de poucas perspectivas.
Como um coronel oligarca e cínico, o programa dá uma recado para a garotada negra e parda da periferia: “É isso, dancem, cantem, divirtam-se. Mas não saiam do seu lugar”.
Texto escrito por: Marcos Sacramento do site www.diariodocentrodomundo.com.br

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Ariano Suassuna - O arauto dos compadecidos

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Douglas Portari e João Claudio Garcia Rodrigues – de Brasília

Escritor, membro da Academia Brasileira de Letras, autor de Auto da compadecida e Romance d’a pedra do reino, Ariano Suassuna fala sobre globalização, manifestações populares, literatura e das relações entre cultura e desenvolvimento. E ressalta: “Eu faço uma distinção entre o sucesso e êxito. Eu não acredito que nenhum artista verdadeiro procure o sucesso”.
Ariano Suassuna é enfático. As palavras saem de sua boca como um texto já copidescado e revisado. Mas não se trata de uma fala formal, ao contrário. As entonações e a espontaneidade de suas frases exaltam a paixão de quem vê nas manifestações populares a afirmação do que o Brasil tem de melhor.
Nascido em João Pessoa (PB), em 1927, Ariano Villar Suassuna perdeu o pai, assassinado por motivos políticos, aos nove anos de idade. João Suassuna havia sido presidente – cargo equivalente ao de governador – da Paraíba e foi figura de destaque nos acontecimentos que desembocaram na Revolução de 1930.

Ariano viveu até os 15 anos na fazenda Acahuan, de propriedade de sua família, no sertão. Ainda adolescente, foi morar no Recife (PE), onde se formou em direito.

A carreira literária começou cedo, em 1947, com o lançamento de sua primeira peça, Uma mulher vestida de sol. Oito anos depois seria encenado o espetáculo que lhe deu projeção nacional, Auto da compadecida.

Professor de estética na Universidade Federal de Pernambuco entre 1956 e 1994, Ariano Suassuna construiu uma sólida carreira literária, materializada em 19 peças de teatro, cinco livros de prosa – entre os quais se destaca Romance d’A Pedra do Reino (1971) – além de vários volumes de poesia.

Entre 1975 e 1978 foi Secretário de Educação e Cultura do município do Recife e entre 1994 e 1998, foi Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, no Governo Miguel Arraes.

O vínculo com a alma popular o levou a estudar profundamente a Guerra de Canudos (1896-97). O arraial, construído por camponeses pobres liderados por Antonio Conselheiro, foi arrasado por forças federais, temerosas de uma organização popular autônoma.

Em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, proferido em agosto de 1990, Ariano sintetizou as lições do episódio: “O que houve em Canudos, e continua a acontecer hoje, no campo como nas grandes cidades brasileiras, foi o choque do Brasil oficial e mais claro contra o Brasil real e mais escuro”. Mais adiante, completou: “Na história recente, existem povos que souberam fazer de suas respectivas culturas instrumentos de luta e de resistência, como aconteceu, entre outros, com o Vietnã e a Argélia”.

Ariano Suassuna proferiu uma palestra na abertura das comemorações do aniversário do Ipea, em setembro último. Pouco depois, ele concedeu a entrevista que se pode ler nas próximas páginas.
Foto: Sidney Murrieta
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Quem escreve somente
com os elementos de seu
tempo, nas suas
circunstâncias, que são
acidentais, está desgraçado,
liquidado, fadado a ser
esquecido e deixado
de lado

Desafios do Desenvolvimento
 - O senhor diz que globalização é um novo tipo de colonialismo. Outros países têm políticas mais direcionadas para proteção da cultura nacional, como França, outras nações europeias e Estados Unidos. No Brasil, falta política pública para defender a cultura nacional face à globalização?

Ariano Suassuna - Olha, está melhor que quando eu era jovem. Hoje, ainda há uma certa preocupação. Com a criação do Ministério da Cultura, ele tem exercido um certo papel nesse caminho. Eu destaco no Ministério da Cultura um dado que me parece muito positivo, o estabelecimento dos chamados Pontos de Cultura, que serviram muito para a interiorização da cultura. Antigamente, pensava-se em cultura como uma espécie de perfumaria, quer dizer, algo que permanecia nas capitais. As poucas iniciativas do poder público, no sentido de fomentar e defender a cultura eram tomadas mais no litoral. Isso vem de um historiador baiano do século XVI, frei Vicente do Salvador, que dizia que os portugueses chegaram aqui e ficaram como caranguejos, arranhando a costa.
Desafios do Desenvolvimento - O Brasil hoje é um país com projeção maior no mundo. Do ponto de vista da cultura, não há benefício na globalização?

Ariano Suassuna - Para conversar comigo, você precisa fazer uma distinção entre isso que chamam de globalização e a universalidade da cultura. Veja bem, falo da globalização nos termos em que ela é feita hoje. Desse ponto de vista, é um mal terrível, porque é uma tentativa de uniformização das culturas, niveladas pelo gosto médio, que é uma das coisas piores que pode acontecer à cultura. Vou falar de um artista verdadeiro, como Villa-Lobos. Você está para me apresentar um artista de fora que tenha a importância de Villa- -Lobos. Eu tenho grande admiração por dois músicos franceses, Débussy e Erik Satie, que representam para a França o que Villa-Lobos representou e representa para nós. Você tem de fazer diferença entre um artista desse e um que atinge o sucesso, que é outra distinção fundamental para se entender o que há comigo. Eu faço uma distinção entre sucesso e êxito. Eu não acredito que nenhum artista verdadeiro procure o sucesso. O sucesso é efêmero por natureza. Outro dia, eu estava falando da época em que Michael Jackson ainda era vivo. Eu dizia que Michael Jackson e Madonna, e hoje eu diria Lady Gaga, têm mais sucesso que Euclides da Cunha, Cervantes, Dante ou Nero. E levando pro campo da música, têm mais sucesso que Mozart. Agora, a música de Mozart foi um êxito e vai ser assim daqui a três séculos, quando ninguém mais vai saber quem foi Lady Gaga. Mozart continuará sendo um dos músicos mais importantes que já existiu. Quando eu falo contra a globalização, é essa globalização de Lady Gaga, e não o valor universal de Mozart.
Foto: Sidney Murrieta
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Desenvolvimento - Apesar de o movimento regionalista de literatura ser anterior ao século XX, ele ganhou força no século XX, meio que como resposta ao movimento modernista. O movimento modernista, essa coisa de tentar deglutir o que vem de fora, estaria mais como uma aceitação da globalização ou uma universalização?

Suassuna - Naquele tempo não se cuidava muito de globalização porque não existia ainda. Mas eu não me considero um regionalista e, se você olhar bem, há distinções fundamentais. Eu considero regionalismo um neonaturalismo. Quando eu estava escrevendo a peça Auto da Compadecida, muita gente me perguntava se era uma peça regionalista. Eu dizia que era, porque não tinha nem como explicar na época. Mas eu sabia desde logo que haveria uma distinção fundamental. Porque eu não sou um escritor naturalista. Existe no que escrevo uma dose de fantástico e de poético que vem da literatura de cordel e de outros tipos de escritos pelos quais eu tenho muita admiração. Eu gosto muito do Apocalipse de São João, eu o considero uma obra prima literária. Eu acho a Bíblia, como um conjunto, a epopeia mais importante que já foi escrita. Superior à Odisseia, à Ilíada, no sentido literário, e não religioso. São João e o profeta Ezequiel são, para mim, os maiores autores da Bíblia, aqueles com os quais eu mais simpatizo. São grandes poetas e grandes escritores. Repare em São João, que coisa linda: “E viu-se um grande sinal do céu. Uma mulher vestida de sol e a lua estava sob seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre sua cabeça”. Jamais um naturalista escreveria isso. E o fundamento poético da minha primeira peça são esses versos de São João. Então, eu sabia que não era regionalista, mas entre o regionalismo e o modernismo, eu me ligo mais ao regionalismo.
Foto: Sidney Murrieta
A juventude brasileira está ansiosa 
para ouvir falar do Brasil.
Ela corre aos montes, a grande
maioria das pessoas que vão me ouvir
é constituída por jovens
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Desenvolvimento - Mas, como Tolstói dizia: “Se queres ser universal, pinta a tua aldeia”...

Suassuna - Isso aí já é outra coisa, você está discutindo a oposição local e universal. Na minha opinião, não existe obra que seja universal, obra importante. Todas as obras que eu conheço, e das quais eu gosto, de início são locais, nem regionais, nem nacionais. Dom Quixote é um livro que só poderia ter sido escrito na Espanha, em Castela e na Mancha. Quer dizer, Cervantes é um autor que só poderia surgir na Espanha. Dostoiévski é um escritor que só poderia nascer na Rússia. Eles são profundamente locais, mas eles são universais por causa da quantidade de sonho humano que eles conseguiram captar em seus livros. Eu não acredito em grande obra universal, mas em grande obra universalizada, pela qualidade e pela grande quantidade de sonho humano que ela recebe.
Foto: Sidney Murrieta
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Desenvolvimento - Professor, uma expressão bastante comentada no Brasil recentemente é o complexo de vira-lata, que Nelson Rodrigues já mencionava. Essa mania de desprezar o que é nacional e exaltar o que é estrangeiro continua bastante forte e arraigada no Brasil?

Suassuna - Está começando a melhorar e a ser superada. Eu assisti a duas, três ou quatro fases de desenvolvimento do Brasil. O pessoal da minha idade costuma dizer: “No meu tempo, era melhor”. Mas é mentira deles, eu sou testemunha e era muito pior no meu tempo. Eu estou com 84 anos, eu já recebi gente na minha casa. E tenho muita falta de sorte quanto a isso, porque tem gente que vai para dizer o que eu devo pensar e o que devo ler. Foi uma pessoa que disse: “Se você continuar com essas posições, você vai ser execrado pela juventude”. E eu disse: “Paciência, eu vou dizer o que penso, que é o que gosto e sei fazer. Se a juventude gostar, para mim tá ótimo, se não gostar, paciência. Eu não vou mentir”. Eu já posso dizer que percorri o Brasil inteiro, eu tenho ido do Amazonas ao Rio Grande do Sul, do Nordeste ao Centro-Oeste, Mato Grosso e Goiás, e em todos os lugares eu tenho dito isso, porque para mim a juventude brasileira está ansiosa para ouvir falar do Brasil. Ela corre aos montes, a grande maioria das pessoas que vão me ouvir é constituída por jovens.
Foto: Sidney Murrieta
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Desenvolvimento - Isso nos leva à próxima pergunta, exatamente sobre essas inf luências de infância. Sua infância foi bastante marcada pelo circo, pelo mamulengo, pela criança que brinca no campo, na terra. A criança de hoje é muito levada pelas novas tecnologias, brinca mais dentro de casa, em contato remoto com outras crianças. Haveria uma forma de as novas tecnologias recuperarem esse passado?

Suassuna - Essa é uma mudança inevitável. Nunca houve um tempo que se congelasse. Outro dia um jornalista escreveu um artigo e disse: “Ariano Suassuna precisa levar em conta que o homem que andava a cavalo hoje anda de moto”. Aí eu disse: “E você precisa levar em conta que o homem que anda a cavalo é o mesmo que anda de moto”.
Foto: Allan Patrick
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Eu acho que a cultura é a ponta
de lança do desenvolvimento.
A gente tem que colocar
um sonho na frente.
Porque se você for contar
somente com a razão e com
a ciência, você fica quieto
num canto e isso pode
te levar para um bom caminho
ou para os piores cantos
do mundo
Desenvolvimento - Mudou a ferramenta, não mudou o homem...

Suassuna - É claro. O ser humano é o mesmo, em todos os lugares e em todas as épocas. Os problemas do ser humano são os mesmos: fome, injustiça, ciúme, amor, paixão, morte, que é o principal problema de todos e o mais democrático, que atinge todo o mundo. Esses problemas, enquanto existir o ser humano, eles vão valer. Já que eu falei no Dom Quixote, hoje não é mais o tempo de Cervantes. Acontece que, quem escreve somente com os elementos de seu tempo, nas suas circunstâncias, que são acidentais, está desgraçado, liquidado, fadado a ser esquecido e deixado de lado. Do tempo de Cervantes, você sabe o nome de Lope de Vega, Calderón de La Barca e Góngora. E quantas centenas de escritores não têm hoje? Já desapareceram, e o Dom Quixote vai ficar. E a obrigação de Cervantes era recriar, na literatura, a Espanha de sempre, o espanhol de sempre, pelo espanhol de suas circunstâncias. Então, se Cervantes escrevesse hoje, o Dom Quixote teria a mesma grandeza.

Desenvolvimento - O que o senhor disse agora é uma resposta àqueles que atacam a defesa que o senhor faz da cultura brasileira, afirmando que é a defesa de uma cultura estática e fossilizada...

Suassuna - Eu escrevo sobre a fase que eu conheci. Minha obra está praticamente completa, estou agora escrevendo meu último livro. Então, ainda não aparece moto, mas aparece uma bicicleta. E podia aparecer uma moto. Se ela for boa, ela fica, se for ruim, não tem cavalo que a sustente. Nem moto. Eu acho muita graça disso, do povo que ficou vaidoso. Porque além de antipáticos, eles são burros. Nenhum escritor pode saber da importância de sua obra, se ela vai ficar ou não, enquanto ele é vivo. O passar do tempo é que decanta isso. Tanto que eu tenho grande admiração por Guimarães Rosa, fui amigo pessoal e tenho grande admiração por ele como escritor. Mas quando eu vou falar de um escritor que falou sobre o sertão, que apresentou os jagunços e o messianismo, eu prefiro falar de Euclides da Cunha. Por um motivo muito simples: já se passaram mais de 100 anos da publicação de Os Sertões, e Rosa foi meu contemporâneo. Tanto eu quanto ele temos de esperar, apelar para o tempo.

Desenvolvimento - O senhor disse que a juventude brasileira tem sede de conhecer o Brasil, que ela quer conhecer o verdadeiro Brasil. Qual é o caminho para facilitar esse conhecimento? Depende de uma ação da própria juventude, do governo?

Suassuna - Isso eu não sei. Vocês estão me chamando de professor, mas eu não sou sociólogo, nem antropólogo. Eu sou um escritor, eu estou fazendo o meu, porque literatura é o que gosto. Eu acho que o problema do desenvolvimento do país não pode ser olhado estritamente do ponto de vista econômico ou político, ele tem que ser visto como um todo, e eu acho que a cultura tem um papel fundamental nisso. Eu acho que a cultura é a ponta de lança, até do desenvolvimento. A gente tem que colocar um sonho na frente. Porque se você for contar somente com a razão e com a ciência, você fica quieto num canto e isso pode te levar para um bom caminho ou para os piores cantos do mundo. Basta dizer que o progresso científico do século XX levou para a bomba atômica.

Desenvolvimento - O Ipea assumiu isso, que o desenvolvimento não é uma q uestão só econômica...

Suassuna - É uma boa notícia. Eu acho que o sonho é o fundador da arte e da literatura. Então, eu falo do Brasil que sonho e do Brasil que há de vir. Fiquei muito satisfeito porque um escritor português falou que A pedra do reino era o apocalipse do sertão do Brasil que há de vir. “Que está a vir”, como uma força cósmica, semelhante à da Rússia. Do ponto de vista político, meu sonho é esse.

Desenvolvimento - Como profundo conhecedor do sertão, como admirador de Euclides da Cunha, como escritor que viajou o país inteiro: o que avançou do sertão que o senhor conheceu na infância e na juventude, que o inspirou em A pedra do reino, até hoje?

Suassuna - Avançou muito. Primeiro, as telecomunicações avançaram muito, hoje você não encontra mais aquele homem do sertão isolado, como Euclides da Cunha viu, como se fosse um país estranho. Não foi defeito dele não. Machado de Assis já dizia que existiam dois países no Brasil, o oficial e o real. Euclides da Cunha foi, como eu, nascido, criado, formado e deformado pelo Brasil oficial, mas ele teve a grandeza de perceber o Brasil real e se converteu para o Brasil real. Mas a conversão foi rápida demais, e ele ficou meio perturbado. Tanto que ele não conseguiu encarar e perceber o Brasil real das cidades. A favela é o sertão das cidades. Ele passou a identificar como Brasil real apenas o sertanejo. E para mim era até bom, porque eu sou sertanejo. Mas eu acho que, sem querer, ele foi até injusto com o Brasil das cidades. Inclusive ele não percebeu que, em Canudos, havia uma parcela do Brasil real recrutada pelo Brasil oficial para tirar dos seus irmãos. Existe uma coisa certa, uma coisa do símbolo, que para mim, como escritor, me toca muito. Eu não sei se você sabe, mas pra mim sempre chamou atenção, que eu não sei por que se chamam os aglomerados urbanos das grandes cidades brasileiras de favelas. Favela é o nome de um vegetal sertanejo. Estava escrito em Os Sertões. É um vegetal sertanejo, espinhoso. Aí eu disse: esse negócio só pode ter relação com a Guerra de Canudos. Fui pesquisar e é mesmo. Canudos era situado em uma zona baixa. Euclides descreve: Canudos era uma tapera situada dentro de uma furna, era cercada por um cinturão de serras. No lugar dessa serra que circunda a cidade, havia um chamado morro da favela, porque tinha muita favela nele. Então, quando acabou a guerra, os soldados e oficiais voltaram para as cidades, para o Rio inclusive. E, quando voltaram, os oficiais ficaram nas casas de baixo, como sempre. E os soldados subiram para o morro, que começou a ser chamado de morro da favela. Canudos foi o momento em que o Brasil real tentou levantar a cabeça e o Brasil oficial foi lá e cortou essa cabeça. E veja como isso se tornou importante.
Desenvolvimento - O tema do Sebastianismo, na obra do senhor, é bem recorrente. O senhor acha que o povo brasileiro tem muito disso, de esperar o salvador da pátria?

Suassuna - Teve e tem. Veja bem, eu tive de fazer uma reflexão crítica sobre mim mesmo. Eu tenho grande admiração pela figura de Dom Sebastião. O que me seduz nele é isso: o homem que procurou, além de si mesmo, ir atrás de um sonho. Mas hoje eu noto uma coisa que me desagrada muito: ele é um integrante privilegiado e diferenciado, mas é um integrante dessas pessoas que atacam o chamado terceiro mundo. Ele não é um bruxo, que ficou trancado lá, encastelado, e mandou os outros morrerem. Mas ele procurou alçar-se acima de si mesmo e, apesar de seus erros e de tudo que ele fez, a morte bela sagra a inteira. Então, como ele morreu belamente, depois de adulto eu notei que lá estava ele assaltando Canudos também. Eu, quando menino, peguei os fragmentos de uma cantiga sebastianista e decorei. Já depois de adulto, eu chamei meu amigo Antônio Madureira e passei para ele a música, fiz uma reconstituição literária da cantiga, da qual eu só tinha fragmentos esparsos. Fiz uma versão integral e dei a ele, que musicou. E esse romance de cantiga sebastianista está no romance A Pedra do Reino. E eu vou dizer para vocês a cantiga, porque ela é linda: “Nosso rei foi se perder nas terras do mal passar”, é o Dom Sebastião; “deitam sortes aventura quem o havia de ir buscar/ O cavaleiro escolhido não se cansa de chorar/ Vai andando, vai andando sem nunca desanimar/ Até que encontrou um mouro num areal a velar/ Por Deus te peço, bom mouro, me diga sem me enganar/ Cavaleiro de armas brancas, se o viste aqui passar/ Este cavaleiro, amigo, diz-me tu, que sinal traz/ Brancas eram suas armas, seu cavalo é Tremedal/ Na ponta de sua lança levava um branco sedal/ Que lhe bordou sua noiva, bordado a ponto real/ Este cavaleiro amigo, morto está nesse pragal/ Com as pernas dentro d’água e o corpo no areal/ Sete feridas no peito, cada uma mais mortal/ Por uma lhe entra o sol, pela outra o luar/ Pela mais pequena delas, um gavião a voar”. Esse gavião, para mim, é o símbolo da morte. O jovem rei morto ali, com sete feridas – olha o número mágico. Aí dizia lá: “Mas é mentira do mouro, seu desejo é me enganar/ O nosso rei encantou-se, nas terras do mal passar/ E um dia, no seu cavalo, nosso rei há de voltar”.
Foto: Sidney Murrieta
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Desenvolvimento - O senhor está como secretário especial da Cultura, e o senhor já teve outras experiências na administração pública. É mais difícil promover a cultura como intelectual ou como gestor público?

Suassuna - Para mim, o ideal seria permanecer como escritor. Eu sempre adverti as pessoas que me chamaram: olha, vocês estão convidando uma pessoa que não tem vocação, eu não tenho vocação administrativa. Ou seja, se vocês querem me pegar como uma espécie de bandeira, então eu concordo, porque aí eu torno mais eficaz a minha atuação de escritor. Eu tenho uma pena de político. O político decente – que existe, vocês sabem –, porque eles ficam no meio de um bombardeio e eles têm de ser astuciosos porque os do mal são mais astuciosos. Então, se eles forem ingênuos, como eu sou... Qualquer vereador de uma cidade menor de Pernambuco ou da Paraíba me enrola em dois minutos. Então, eu não posso. O doutor Arraes queria me fazer prefeito do Recife. Eu disse: me desculpe, mas um compromisso desse eu não aceito não. Eu gosto muito do Recife e não ia fazer um mal desses. E eu poderia inclusive ser atingido na minha reputação, porque que eu não ia roubar eu sei, porque não sou ladrão, mas se eu descobrisse que estão roubando... Eu vi Getúlio Vargas, e eu tenho grande admiração por ele. Ele tinha uma parte ruim que era o autoritarismo, mas também tinha projeto para o país e uma preocupação com os mais pobres. Isso ficou evidente, tanto que Fernando Henrique Cardoso se jactou, quando estava perto de terminar o governo, e disse que tirou os últimos vestígios do getulismo no Brasil, que era a legislação trabalhista, avançadíssima. E outra coisa, ele foi deposto não por causa do que ele tinha de ruim não, mas do que ele tinha de bom. Por causa exatamente dessa preocupação nacional e da preocupação com os mais pobres. A embaixada americana liderou a derrubada dele, articulou. Então eu vi Getúlio, que era honesto, honrado, e quando ele se viu cercado de ladrões e acuado pelos adversários, disse: “nunca pensei que estivesse cercado por esse mar de lama”. Aí deu um tiro no peito. Eu até falei em uma entrevista que, se os adversários do Lula pensam que vai ser igual, eles estão enganados, porque Getúlio Vargas não tinha, como Lula tem, a sabedoria, a astúcia e a paciência do povo brasileiro, porque ele não vai dar tiro no peito nenhum.