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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

O Estado da arte - Galeristas e colecionadores veem o decreto como agressão ao direito privado

Antonio Gonçalves Filho e Jotabê Medeiros - O Estado de S.Paulo
Um decreto publicado no Diário Oficial da União pela presidente Dilma Rousseff no último dia 18 muda consideravelmente os conceitos de coleções pública e privada de arte, além de modificar as noções de posse, de mercado internacional, de comercialização e, possivelmente, também de apreçamento de obras.
Obras da casa do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, em 2011 - Paula Pacheco/ Estadão
Paula Pacheco/ Estadão
Obras da casa do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, em 2011
Pelo decreto (que regulamenta a Lei 11.904, de 14 de janeiro de 2009, que cria o Estatuto de Museus do País), de agora em diante, podem ser declarados de interesse público os bens que atualmente estão em museus (musealizados) públicos e privados e também os que ainda não estão em museus, mas em coleções particulares. Enquadram-se na lei todos os objetos de arte “cuja proteção e valorização, pesquisa e acesso à sociedade representarem valor cultural de destacada importância para o País, respeitada a diversidade cultural, regional, étnica e linguística”.
Em resumo: caso seja definido como “de interesse para o País”, uma tela, uma escultura ou outros bens poderão começar a ser monitorados pelo Estado brasileiro, por meio do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram, órgão do Ministério da Cultura). A venda das obras terá de ser aprovada pelo governo. Mas o nó górdio da coisa toda, o que está causando maior polêmica, é o seguinte trecho do decreto: o proprietário da obra de arte “não procederá à saída permanente do bem do país, exceto por curto período, para fins de intercâmbio cultural, com a prévia autorização do Conselho Consultivo do Patrimônio Museológico ou, caso se destine a transferência de domínio, desde que comprovada a observância do direito de preferência do Ibram”.
O texto colocou em polvorosa colecionadores, museólogos, leiloeiros e outros profissionais da área de artes visuais. O proprietário ou responsável pelo bem cultural declarado de interesse público, após ser notificado de que sua coleção é agora protegida, não poderá vender, restaurar ou emprestar sem comunicar o Ibram. E deverá manter informado o Estado sobre a condição da peça, sob o risco de ser responsabilizado nas esferas administrativa, civil e penal pelos prejuízos causados. A edição do decreto levou 4 anos de estudo, segundo o governo, que informou que não se trata de exercer preferência, mas de “salvaguardar determinados bens”.
De todos os artigos do decreto que regulamentou a lei 11.904, o que mais agitou o mercado diz respeito à manutenção de um cadastro específico dos bens declarados de interesse público que poderá, segundo o dispositivo legal, fazer parte de outros instrumentos da política nacional de museus. Embora exista quem considere o cadastro positivo - principalmente para monitorar obras desaparecidas -, que outros instrumentos da política de museus poderiam ser acionados para monitorar peças de arte? Essa é a pergunta de galeristas, marchands, colecionadores e até diretores de museus consultados pelo Caderno 2, apreensivos diante dos amplos poderes concedidos ao Ibram por um cadastro desse tipo.
Segundo a lei, ele será usado "para fins de documentação, monitoramento, promoção e fiscalização" desses bens. Qualquer interessado, além do proprietário de uma obra de arte, poderá requerer ao Ibram a instauração de um processo administrativo para declarar de interesse público um bem cultural. No momento em que o mercado internacional disputa obras de artistas brasileiros em leilões e feiras de arte, aqui e lá fora, é natural que artistas e donos de galeria vejam o decreto como uma intervenção negativa do governo na esfera privada - o artigo 39 da referida lei permite ao Ibram, por exemplo, realizar "inspeção administrativa" no local onde se encontre o bem cultural.
"Isso me parece invasão da privacidade", diz a galerista Marília Razuk, argumentando que a exportação de obras de arte não deve ser vista como danosa para o País. Ela lembra que obras iconográficas como Abaporu, tela de Tarsila do Amaral, ou a coleção de arte concreta de Adolpho Leirner, foram oferecidas a museus brasileiros antes de serem vendidas para museus estrangeiros. "A venda de obras brasileiras a colecionadores e instituições estrangeiras agrega valor", observa a galerista. "Acho que todo mundo vai mandar suas coleções para Miami com esse decreto."
Fato semelhante aconteceu durante o governo Hugo Chávez, que buscou atingir colecionadores milionários resistentes à política do líder venezuelano, expropriando seus acervos. Grandes coleções privadas da Venezuela foram enviadas aos EUA antes do decreto chavista. Até hoje, colecionadores venezuelanos cedem obras para exposições internacionais na esperança de vender seu patrimônio fora do país.
O advogado Saulo Kibrit, diretor da Bienal de São Paulo e também colecionador, avalia que o decreto configura uma "desapropriação indireta" das obras de arte privadas. "Restringe o direito da propriedade e pode gerar indenização", afirma Kibrit, que prevê uma "briga danada" pela frente. "Quem é que vai querer comprar algo que é restrito? A lei restringe o seu direito".
"O irônico é que as peças que estão na mão do governo estão em péssimo estado. Basta ver o que acontece com os Profetas de Pedra lá de Congonhas do Campo", afirmou o empresário Renato Whitaker, que era o maior colecionador privado de obras do Aleijadinho até anos atrás, com 52 peças. "Me desfiz de quase toda a minha coleção. Aqui, o colecionador é um fora da lei, jogam sobre ele essas leis todas para tirar aquilo que ele encontrou e preservou. Obras que estão nas mãos de particulares estão bem melhor do que nas mãos do governo", afirmou Whitaker.
O advogado Pedro Mastrobuono, cuja família é conhecida colecionadora das obras de Volpi, considera positiva a ideia do banco de dados do Ibram, mas prevê uma enxurrada de ações legais no Judiciário contra o decreto, pois "ele cria um atrito com dispositivos legais superiores que preservam a propriedade privada". Outro item criticado por ele diz respeito ao direito de imagem. "Ele continua sendo do autor e da família, no caso de sua morte, por 70 anos, e a reprodução das obras seria uma usurpação desse poder."
O curador-chefe do Masp, Teixeira Coelho, implica com a "fúria legislativa" do Brasil e o decreto, que obriga proprietários de obras a notificar as que, eventualmente, sejam de interesse público. "Se um colecionador não quer publicidade, é um direito dele." No momento em que uma obra se insere nesse escopo, qualquer curador, diz ele, terá dificuldades para organizar exposições, pois os colecionadores vão naturalmente se retrair e deixarão de emprestar obras aos museus.
PRINCIPAIS PONTOS
InícioApós processo administrativo, o dono do bem é
notificado da declaração de interesse público
A cobrançaApós homologação pelo Ministro da Cultura, começa
a cumprir as condições (e ser fiscalizado)
As restriçõesObra não pode ser restaurada ou vendida sem consulta prévia
As penalidades Caso não cumpra lei, dono é responsabilizado civil e penalmente

sábado, 28 de dezembro de 2013

Dicionário Amoroso do Recife - letra A


Estátua Antonio Maria. no Recife
Estátua de Antonio Maria, no Recife (PE)

Na Rua do Bom Jesus existe uma escultura de Antônio Maria. Não poucas vezes, andando pelo Recife, paro diante da figura do cronista fundamental. Ali a vontade que me assalta é de chamar as pessoas que passam e com elas conversar sobre ele. Começaria por um “você sabe quem é?”, em lugar de um “você sabe quem foi”. No entanto, jamais poderia imaginar uma conversa involuntária que tive sobre Antônio Maria, impossível de reprimir.


Por Urariano Mota


Foi numa sexta-feira, por volta das 11 da manhã, quando eu caminhava pela Rua do Bom Jesus somente pelo prazer de voltar àquela rua, à qual tantas vezes fui na adolescência. Súbito, ao subir a calçada, eis que noto um aglomerado de senhoras e senhores, em pequeno tumulto ao redor da estátua de Antônio Maria. O que é isso? me pergunto. E chego mais perto, como se de passagem eu parasse de repente. Então pude ver turistas, o que se notava pelas cores das roupas e vermelhão recente nas peles abrasadas. E por um certo estar muito à vontade também. As senhoras, como jamais fariam as nativas do Recife em público, as senhoras sentavam-se no colo da estátua do cronista, agitavam-se nos quadris e davam gritinhos. Antônio Maria não despregava um sorriso no concreto, enquanto as demais senhoras gritavam também e os risonhos senhores aplaudiam. Eu já deixava a cena como um intruso na festa, quando a um sinal o grupo se recompôs entre gritinhos que morriam. Destacado, passou então a falar um jovem, que se vestia como um recifense fantasiado de turista no Recife. Camisa florida, boné, óculos escuros, tênis cintilante. Era o guia. Olhem, explicações a turistas em excursão, para os ouvidos de um nativo, são tediosas. 

Mas a fala do jovem guia tinha colorido, ele falava com exemplos de pedagogia de cursinho para vestibulares. Sabem? aquelas aulas agradáveis que simplificam o que não pode ser simplificado. Curioso, resolvi ficar, e pude ouvir:

- Este senhor é meio gordinho, não é? Uma graça. Pois saibam que este homem é autor do primeiro frevo composto em Pernambuco.

Eu fiquei parado, estático, hipnotizado e tonto. O jovem guia continuava a falar as coisas mais inverossímeis e absurdas sobre Antônio Maria, que eram recebidas em altíssimo grau de aprovação por todos. Nem passava pela cabeça de ninguém que o frevo tinha mais de 100 anos – de registro em jornal -, e portanto Antônio Maria não poderia compor música nos primeiros anos do século XX. Pois Maria, apesar de genial, também tinha o direito de nascer, depois do primeiro frevo de Pernambuco. Na hora, essas razões não me acudiam, porque ninguém pesquisa em livros, artigos e anotações no instante em que fala Apenas me socorri da memória, que me disse: “peraí, Antônio Maria não compôs Vassourinhas nem Borboleta não é ave”. E fiz sinal, educado, ao guia professor de aulão para vestibulares. Ele surpreendido me concedeu a palavra, talvez por não saber o que viria de um nativo vestido de recifense. E falei, entre gaguejos e pausas, procurando clareza à medida que seguia a linha da lembrança:

- Acho que houve um pequeno engano. Antônio Maria não é autor do primeiro frevo em Pernambuco. Ele é autor do Frevo n◦. 1 do Recife.

- Ah, ele é autor do primeiro frevo do Recife. Não é de Pernambuco.

- Não, ele é autor do frevo número 1 do Recife. Esse é o nome. É o número 1 de Antônio Maria, para ele que fez, entende?

- Ah...

E me senti então estimulado a continuar a conversa, porque grande era o desconhecimento do guia e guiados na Rua do Bom Jesus.

- Antônio Maria não é autor só de frevos. Ele compôs sucessos mundiais da música popular brasileira. Vocês já ouviram “Ninguém me ama”? Pois é, Nat King Cole gravou a música e virou sucesso em todo o mundo. Não era pra menos, não é? Manhã de Carnaval – já ouviram falar? – pois, é outra canção em que ele botou letra. Mas além de compositor, Antônio Maria foi, é um cronista dos melhores do Brasil de todos os tempos. Sabem que diz isso? É Luis Fernando Veríssimo quem diz.

“Bah!”, ouvi. Confesso que tive vontade de falar mais, de contar o amor e desengano de Antônio Maria por Danuza Leão, de transmitir suas frases espirituosas, e, acima de tudo, falar daquelas crônicas imortais, escritas com os dedos transformados em coração. Uma coisa violenta e terna de pernambucano, que não põe meio termo. Mas aí era faltar à educação e misericórdia para com o guia. Puxei brusco um freio de mão e parei. O guia então, por gentileza, puxou aplausos. Acho que ele fez mais isso por gentileza ritual, algo assim como o costume recente de aplaudir de pé um show medíocre. O certo é que agradeci e sai andando, confuso e perturbado, o resto da rua.

Mas o que não falei ali, tentarei falar nestas linhas, atento aos limites do espaço.

O cronista Antônio Maria, falecido em 15/10/1964, foi, é, um homem que todos deveriam ter como um companheiro de jornada e de leitura permanente. Não fosse ele o compositor de canções eternas como Frevo número 1, como Ninguém me ama, Manhã de carnaval, Menino grande, Suas mãos, O amor e a rosa, Valsa de uma cidade, não fosse o autor de um grito, "nunca mais vou fazer o que o meu coração pedir, nunca mais ouvir o que o meu coração mandar", não fosse ele o autor de letras que são a ternura em quintessência, ainda assim ele deveria ser lido todos os dias, como uma lição e dever para educar sensibilidades.

Numa coluna de revistas de curiosidades e fofocas, poderia ser dito que ele foi marido de Danuza Leão, roubada por ele do seu patrão, o grande jornalista Samuel Wainer. E que, ao receber o troco mais adiante, ficou só, morreu de fossa e de amor em uma madrugada três e cinco, talvez. Que feio, grande e gordo, conquistava mulheres pelo poder da lábia e da inteligência. Que foi ameaçado por Sérgio Porto (sim, o Stanislaw), por ter servido de conselheiro sentimental, de modo muito interessado, a uma namorada de Sérgio Stanislaw Ponte Preta. E que ao se apresentar como Carlos Heitor Cony a uma madame, levou-a para a cama, para depois contar ao verdadeiro Heitor, “Cony, você broxou”.

Mas ele poderia ter sido lembrado, reverenciado, e lido principalmente por suas crônicas, que estão entre as maiores e melhores já escritas no Brasil. Suas crônicas, quase digo, suas mãos, misturavam humor, crueldade e lirismo, a depender dos dias e da vida, que não eram iguais, para ele ou para ninguém. Como neste perfil arguto de Aracy de Almeida:

"Não é bonita, sabe disso e não luta contra isso. Não usa, no rosto, baton, rouge ou qualquer coisa, que não seja água e sabão. Ultimamente corta o cabelo de um jeito que a torna muito parecida com Castro Alves... Faz de cada música um caso pessoal e entrega-se às canções do seu repertório como quem se dá um destino. Não sabe chorar e não se lembra de quando chorou pela última vez. Mas a quota de amargura que traz no coração, extravasa nos versos tristes de Noel: `Quem é que já sofreu mais do que eu?/ Quem é que já me viu chorar?/ Sofrer foi o prazer que Deus me deu´... e vai por aí, sem saber para onde, ao frio da noite, na espera de cada sol, quando o sono chega, dá-lhe a mão e a leva para casa".

Ou aqui, dias antes de morrer:

“Há poucos minutos, em meu quarto, na mais completa escuridão, a carência era tanta que tive de escolher entre morrer e escrever estas coisas. Qualquer das escolhas seria desprezível. Preferi esta (escrever), uma opção igualmente piegas, igualmente pífia e sentimental, menos espalhafatosa, porém. A morte, mesmo em combate, é burlesca...

Só há uma vantagem na solidão: poder ir ao banheiro com a porta aberta. Mas isto é muito pouco, para quem não tem sequer a coragem de abrir a camisa e mostrar a ferida”.

Ou nestas considerações sobre o sono:

"** Ah, que intensos ciúmes, no passado e no futuro, sobre a nudez da amada que dorme! Só você a viu, só você a verá assim tão bela!
** Nas mulheres que dormem vestidas há sempre, por menor que seja, um sentimento de desconfiança.
** A amada tem sob os cílios a sombra suave das nuvens.
** Seu sossego é o de quem vai ser flor, após o último vício e a última esperança.
** Um homem e uma mulher jamais deveriam dormir ao mesmo tempo, embora invariavelmente juntos, para que não perdessem, um no outro, o primeiro carinho de que desperta.
** Mas, já que é isso impossível, que ao menos chova, a noite inteira, sobre os telhados dos amantes".

E finalmente aqui, ao lembrar o carnaval na sua infância:

“Muitas vezes, de madrugada, o menino acordava com o clarim e as vozes de um bloco. Eles estavam voltando. O canto que eles entoavam se chamava ‘de regresso’. Não sei de lembrança que me comova tão profundamente. Não sei de vontade igual a esta que estou sentindo, de ser o menino que acordava de madrugada, com as vozes de metais e as vozes humanas daquele Carnaval liricamente subversivo”.

A boa memória conta que Antônio Maria, ao narrar uma partida de futebol, exclamava no rádio quando via um jogador chutar fora do gol: “Bola no fotógrafo!”. Para a barbárie ou ignorância que não o lembra, vale dizer: bola no fotógrafo.

Entrevista: O novo velho Mano Brown

"É um novo Brasil, novos médicos, novos advogados, novos pedreiros, novos motoboys, novos motoristas. O que todo mundo bebe, vai ser; o que todo mundo come, vai ser; o que todo mundo respira, vai ser. Daqui a 20 anos, você vai ver o país que está sendo implantado pelo Lula, pela Dilma, pelos Racionais, pelo Bill, pelo Facção Central. Daqui a 20 anos, vai ter um povo que vai ter essa cara." Confira a primeira parte da entrevista com o rapper Mano Brown, capa da edição 120 da Revista Fórum.




Mano Brown / foto: Guilherme Perez

“Eu sou o Brown mais velho, macaco velho. Estou menos óbvio, menos personagem e mais natural. Comecei a tomar cuidado. Nunca fui oportunista, vivo de música, não sou um político que faz música.” Essa é uma das formas pelas quais o líder e vocalista do Racionais MC’s se define hoje, 25 anos depois de o grupo de rap conseguir levar sua mensagem não apenas às periferias de todo o Brasil, mas também a muitos lugares e pessoas que não tinham intimidade com o ritmo.

A mensagem de Brown sempre foi forte e contundente, mas hoje o músico prepara o lançamento de um álbum solo, no qual o soul e o romantismo predominam. Isso não significa, nem de longe, que o seu pensamento tenha se modificado, até porque muito do contexto que propiciou o nascimento do Racionais ainda está presente na realidade brasileira. “Eu não estava falando de chacina, de nada disso, estava preparando um disco de música romântica, aí começou a morrer gente aqui e tive de fazer alguma coisa.”

O músico se refere à chacina que matou sete pessoas na região do Campo Limpo, zona sul paulistana, em 5 de janeiro. Entre as vítimas, DJ Lah, em um primeiro momento tido como autor de um vídeo que denunciava a execução de um comerciante no mesmo local, feita por policiais. A informação foi desmentida depois, mas o espectro de que se tratava de uma vingança paira sobre a população do lugar. E Brown fala sobre as possíveis consequências para quem viu e sentiu a tragédia de perto. “Essa ferida não vai cicatrizar, quem mora naquele lugar onde morreu o Lah não vai esquecer, os moleques vão crescer, mano. Quem viveu aquilo não vai esquecer.”

Na entrevista a seguir, Mano Brown fala sobre a falta de oportunidades na periferia, do racismo, de um sistema que oprime, mas também ressalta o que ele considera ser o nascimento de um novo Brasil, destacando o papel da nova geração. Assim, ele mesmo tenta se “reinventar” para seguir na luta que sempre foi dele e de muitas outras pessoas. “Para dar continuidade ao trabalho, temos de caminhar pra frente, a juventude precisa de rapidez na informação, não dá pra ficar debatendo a mesma ideia sempre. É fácil para o Brown ficar nessas ideias, fácil, é até covarde ficar jogando mais lenha, então fui buscar as outras ideias, que passam pela raça também, com certeza.”

Fórum: Você esteve em uma reunião do pessoal do rap com o então candidato a prefeito de São Paulo Fernando Haddad, e ali disse que não iria falar sobre cultura, mas sim denunciar que os jovens estavam morrendo na periferia. Recentemente, houve o assassinato do DJ Lah, e mortes violentas de músicos da periferia têm sido muito comuns em São Paulo, na Baixada Santista, por exemplo. Como definir essa situação?

Esses moleques cantam o que eles vivem. Geralmente, quando você chega nas quebradas, têm poucos lugares que são espaços de lazer, e o lugar onde teve a chacina era um ponto de lazer, querendo ou não. Um ponto meio marginal, mas tudo que é nosso é marginal. Era um bar, tinha a sinuca, tinham os amigos, o bate-papo com a família, tem o fluxo, é o centro da quebrada. O barzinho vende de tudo, vende pinga, vende leite, vende tudo, e o Lah gostava de ficar por ali, vários caras gostavam, era o quintal das pessoas.

O que aconteceu ali foi execução, crime de guerra. Tem a guerra e tem os crimes de guerra. As pessoas não estavam esperando por aquilo ali, não estavam preparadas pr’aquilo. É o que tem acontecido neste começo de ano, e aconteceu no final do ano passado, as mortes todas têm o mesmo perfil: moleque pobre em proximidade de favela. Os caras encontram várias fragilidades ali, várias formas de chegar, matar e sair rápido, e o governo simplesmente ignora o que aconteceu. existem as facilidades. O cara vai lá e mata sabendo que não vai ser cobrado.

Mas você acha que, por conta dessas ocorrências, há uma coisa dirigida contra o rap?

Acho que não, se dissesse isso seria até leviano, porque muitas pessoas que morreram não tinham nada a ver com o rap. Gente comum, motoboy, entregador de pizza, moleque que saiu da Febem e estava na rua, com uma passagenzinha primária e morreu… E o rap tá na vida da molecada mesmo, tá nos becos, nas esquinas, no bar, na viela, geralmente o moleque que curte rap tá nesses lugares. É uma coisa dirigida, mas é dirigida à raça. Dirigida a uma classe.

Se você for fazer a conta de quantas pessoas morreram no final do ano, mortes sem explicação, crimes a serem investigados, e somar o tanto de gente que morreu em Santa Maria… Morreu muito mais aqui. Lá foi comoção total pela forma que ocorreu, lógico, todo mundo é ser humano, mas veja a repercussão de um caso e a repercussão de outro caso, quanto tempo demorou pra mídia acordar pra chacina? Quanto tempo demorou pras pessoas perceberem a cor dos mortos? Coisa meio que normal, oito pretos mortos, quatro aqui, três ali… É uma coisa meio cultural, preto, pobre, preso morto já é uma coisa normal. Ninguém faz contas.

E quem está matando nas periferias?

A polícia. O braço armado, conexões armadas, de direita.

Você tem um histórico de estranhamentos com a polícia…

Houve a época em que soava o gongo, a gente saía dando porrada pra todo lado, não olhava nem em quem. Outra época, a gente procurava a polícia pra sair batendo. Hoje em dia, espera pra ver quem vai vir. Não é só a polícia, são vários poderes. A gente não foca na polícia, a polícia é um tentáculo do sistema, o mais mal pago. Mas é armado e chega com autoridade, é um tentáculo perigoso. E tem várias formas de matar, de matar o preto.

Da última vez que você deu entrevista à Fórum, há mais de 11 anos, boa parte da conversa foi sobre isso. Você é um ator importante dentro desse cenário, como está atuando para mudar a situação, está fazendo intervenções no governo, conversando com pessoas, ou só se manifestando pela sua arte mesmo?

Se eu disser que não uso meus contatos, estou mentindo. O que tem acontecido traumatizou todo mundo, então ficamos todos aqui com muita raiva, lógico que alguma coisa a gente fez. Mas não posso dizer o quê. Tenho minhas armas, mas não posso expor, parado a gente não ficou.

A partir do momento em que a gente nota realmente que nossa quebrada tem fragilidades, vê as famílias das pessoas com muitas mulheres e poucos homens, homens com pouca liberdade, pouca liberdade de movimento, vida pregressa com problema, pouca mobilidade na sociedade, caras condenados a viver no submundo, você começa a criar um exército na comunidade, de gente que vê aquele entra e sai da cadeia, de homens com vida pregressa que não conseguem mais arranjar emprego. As casas perdem esses caras, que deixam de ser úteis dentro de casa. Você vê a morte do homem da casa, cinco mulheres chorando; as famílias estão num processo que vai demorar, de restauração pra uma vida mais rotineira, mais calma, é uma corrente que tem de quebrar.

Um cenário de guerra, mesmo.

É, não passou a ser guerra agora, depois da chacina, já vivia em guerra. As mães também lamentam os filhos que vão pra vida do crime, perder pra droga… A molecada negra tá muito exposta ao perigo, o salário é baixo, o risco é alto. A sociedade cobra muito, você tem de ter as coisas, tem de estar, tem de ser, tem de aparentar ser… Aparentar ser já custa caro, “ser” é outro estágio. O pessoal acha que é vaidade boba a pessoa gostar de marca, de perfume bom, mas são coisas que ajudam a pessoa a circular, a arrumar um emprego, a arrumar uma gata, tudo melhora. No momento em que no Brasil começa a sobrar um dinheirinho pra categoria, pra raça, o outro lado já começa a cobrar com a vida também. O excesso de gente usufruindo deste novo Brasil… Não pode, é excesso, tem de limpar. Tudo que é moleque de moto… Os excessos que o pessoal começa a reclamar, todo mundo com celular no busão. Antigamente, quando só o rico tinha, ninguém reclamava. Pobre com celular, com moto, não pode, o sistema cobra.

Você entende isso como uma reação da elite?

Uma reação. Três governos de esquerda eleitos pelo povo, o Brasil pagou a dívida, a classe C tomando espaço e a Globo expondo isso na novela, todo mundo analisando, os autores são mais jovens e começaram a mudar a mente, as ideias começaram a ir pra tela e os movimentos ganhando força a partir das ideias, muita coisa junto… Os caras reagiram. O que aconteceu em São Paulo aconteceu no resto do Brasil. Em Alagoas, o índice de negros mortos é muito alto, em Belém do Pará, Goiás…

E você pediu o impeachment do governador Geraldo Alckmin em um evento na Assembleia…

Pedi o impeachment do Alckmin e ele tem de tomar providências. Naquela altura, estava em um estágio em que dava a impressão de que o Alckmin não estava nem aí. As declarações que ele deu foram piorando, chegou num ponto de eu achar que ele não sabia o que estava acontecendo. Era suicídio, como ele vai se eleger a qualquer coisa com esses números de morte?

Muitas vezes, acho a mídia com tanto medo e, de repente, vai um canal de direita, que é a Record, que começou a investigação. A gente conversava e sentia que tinha o medo no ar, eram jornalistas com medo, quando eu vi o [André] Caramante isolando e as pessoas pedindo pra ele não voltar, pensei: “Os caras tão com medo, o governo tá junto”. E as declarações que ele [Alckmin] estava dando mostravam isso, que não ia voltar atrás e era um movimento aprovado pelo povo, o povo estava com ele. Redução da violência, crime organizado, a guerra do PCC, o povo leu isso como uma coisa benéfica pra sociedade, mas estavam morrendo os filhos deles mesmos.

Será que o povo leu isso desse jeito?

Pelo número de PMs que foi eleito, percebo que o povo está se dirigindo a votar dessa forma, tem medo. Primeira coisa que se pensa: segurança. Segurança é polícia, entre um cantor de rap, um padre e um policial, ele vai eleger um policial. O voto explica.

Qual a sua opinião sobre o PCC?

O PCC hoje tem tanto poder que eles nem precisariam da contravenção pra existir. Aí seria realmente um poder incontestável, e pelo número de mortes que foi reduzido em São Paulo, a gente sabe que muito tem a ver com eles. Já existe o PCC, não precisa fazer nada mais contra a lei. Se é que houve alguma coisa contra a lei… Não seria mais necessário usar contravenção, já existe a autoridade, existe a autoridade instalada, o povo aceitou.

Como você vê a ascensão dos movimentos sociais hoje em São Paulo?

Sou privilegiado de ver acontecer isso, minha geração. Acho digno e muito importante mesmo todos os saraus, as reuniões, os diálogos, todo o movimento de jovens dedicado a isso, a conhecer as causas do Brasil, não só reclamar. É uma geração que não só reclama, que faz, que desce o beco da favela, vai trabalhar, vai bater nas portas. É um novo Brasil, novos médicos, novos advogados, novos pedreiros, novos motoboys, novos motoristas. O que todo mundo bebe, vai ser; o que todo mundo come, vai ser; o que todo mundo respira, vai ser. Daqui a 20 anos, você vai ver o país que está sendo implantado pelo Lula, pela Dilma, pelos Racionais, pelo Bill, pelo Facção Central. Daqui a 20 anos, vai ter um povo que vai ter essa cara.

Fale um pouco mais de sua concepção desse novo Brasil.

Tenho 42 anos, sou fruto daquela geração dos anos 1980, aquela “geração lixo”. “Geração lixo”. Eu sou aquilo, com todos os defeitos e qualidades. Já os nossos filhos, nós que já aprendemos e sofremos um pouquinho mais, vão ser melhorados, mais ligeiros, mais práticos que eu, e não vão rodar tanto em volta do objetivo, vão direto ao foco.

Agora, os meus filhos, a molecada em geral… Ainda temos de lavar a roupa suja. Eu e eles. Não gosto de puxar a orelha dos moleques por revista e nem por entrevista, mas temos roupa suja pra lavar nas favelas, nas vielas, nas ruas, nos palcos, tem muita coisa pra melhorar ainda.

Mas existe um orgulho hoje de quem vive na periferia, ele não se esconde mais. Há marcas que nascem na periferia. 

É o que o judeu fez, o italiano fez, o japonês fez e o preto foi proibido de fazer. Nos dias de hoje, faz, monta time de futebol, loja, grupo de rap. Forma a família, que é onde está o foco nosso, a família, dialogar, organizar… Historicamente foi proibido pra nós, a gente vive correndo, se escondendo, um comportamento de foragido que talvez essa geração não vá ter mais.

Será que esse não é o susto das elites, perceber que daqui a 20 anos o Brasil não vai ser mais esse? 

O Brasil atrasado, os brancos também não querem isso, os brancos ligeiros não querem mais isso. Foi um ganho o branco acordar e o preto acordar também.

“Fim de semana no parque” fez vinte anos agora. Você acha que essa foi a principal mudança nesse período, além do ganho econômico, também a elevação da autoestima?

Começa pela raça, pelo orgulho do que você é, de você ter na sua família a sua raiz. Se você não tem vergonha da sua mãe você vai ouvir mais ela, se você acha sua mãe bonita, seu pai bonito… Eu sou de uma geração em que muitos não tiveram pai, não tive pai, vários amigos não tiveram. Tive de aprender a ser meu pai, o homem da casa sempre fui eu. Isso também fez eu ser quem eu sou, mas acho que seria melhor se tivesse tido um pai. Em várias casas faltam um pai. Acho que a periferia vive este momento de fluxo de cadeia, da molecada se envolvendo na criminalidade, perdendo o direito de ir e vir, de oportunidade de emprego por conta de passagem [na polícia], então vai limitando e as famílias vão ficando empobrecidas. Mesmo que o governo faça, vai estar sempre correndo atrás, essa corrente tem de cortar. Dar oportunidade pra molecada – principalmente para os homens –, que não tem como demonstrar nada numa sociedade em que você tem de parecer que é, pelo menos. A molecada não tem oportunidade.

Falando em oportunidade, o que você acha das cotas?

Como tudo que envolve o negro, é polêmico. Agora, se você negar que o Brasil prejudicou a raça negra… [As cotas] não vão resolver o problema, mas dizer que o negro não é merecedor disso é racismo. Historicamente teria de ter, mas, dentro da raça negra, o lance de cotas é tão dividido ou mais que entre os brancos. Se você chegar na inteligência negra, perguntar ali o que acha da cota… Mano, é treta! Você vai ter cara crânio que é contra, vai falar pra ele que tem de ser a favor… É dividido, acho bom ser polêmico. O problema tem de ser debatido, depois faz o acordo, mas de cara tem de conversar.

Qual a sua avaliação do movimento negro no Brasil?

O movimento negro evoluiu muito, tenho muito orgulho de ver como o movimento atua hoje, algumas reuniões em que eu fui, moleques muito inteligentes… Dá vontade de parar de falar e deixar só os moleques falarem. No dia do evento mesmo, antes tinha falado um garoto do movimento negro, ele já tinha falado tudo. Eu nem quis falar muito porque ele já tinha falado tudo. Antigamente, ia nos movimentos e era um debate muito primário, ranço de 300 anos debatido nos anos 1980, nós estamos em 2013 e a molecada já está debatendo outras coisas, outros poderes, não só os visíveis. Já não querem só a roupa de marca, os caras querem poder, os moleques vêm pesado na reivindicação, no direito, na história. São terríveis e estão vindo aí. Tenho orgulho, já foi um movimento confuso, hoje não é mais. É um movimento prático.

Existe uma crítica de que somente o empoderamento econômico não traria consciência social para as pessoas, mas o seu depoimento não diz isso.

Traz. Traz porque o tempo é dinheiro pra todos, inclusive pra classe C. O micro-ondas, o carro que anda melhor vai fazer você chegar com mais conforto em casa, no seu trabalho, você vai ter tempo pra melhorar. Por que é conforto pro rico e pro pobre não? O pobre vai ficar bobo alegre, por quê? É preconceito. O que faz a vida do cara ter conforto, permitir organizar o tempo, poder estudar, trabalhar e cuidar do filho… Daqui a 20 anos, tá ele formado, o filho estudando, se ele não tivesse o carro, com certeza não trabalhava, não estudava, tinha cuidado só do filho. Ele não tinha estudado e era só o filho, não eram duas rendas, era uma. Bem material “aliena o pobre”, porque pobre é alienado, esse é o discurso… O pobre não tem inteligência… Sabedoria do povo é sabedoria do povo, tem de escutar, tem de entender a mensagem.

Leia a segunda parte da entrevista no domingo (29).

Você pode comprar a edição de março da Fórum, com Mano Brown, aqui. Ou assine a Fórum por 1 ano e ganhe as cinco últimas edições aqui.
 
Fonte: Revista Fórum

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Estreia, nesta sexta, filme sobre a Corrida de São Silvestre

  A cineasta Lina Chamie faz um dos documentários mais bonitos e sensoriais do ano em "São Silvestre", filme que estreia no país nesta sexta-feira (27), às vésperas da histórica corrida, realizada na virada do Ano Novo. 


O filme não tem nada de um documentário convencional. É, acima de tudo, impressionista e uma grande homenagem à cidade de São Paulo, cujas ruas servem de cenário para a competição.

Em sua geografia, São Paulo oferece planícies e ladeiras, alívios e obstáculos para corredores do mundo todo. Nessa dinâmica urbana, Lina inscreve sua câmera que captura a beleza e opressão, o verde e o concreto, a Avenida Paulista e o centro velho, os contrastes e paradoxos, as alegrias e melancolias. Mas todos esses cenários são mera moldura para quem está nas ruas correndo.

Como num dos longas mais famosos da diretora, "A Via Láctea", São Paulo é uma personagem crucial. Mas, se naquele filme a cidade se dissolvia na mente de um homem que estava morrendo, fazendo conexões estranhas entre ruas distantes, caminhos improváveis e impossíveis, aqui é a São Paulo real, aquela que determina os itinerários em suas ruas de mão única e conversões proibidas.

Ainda assim, seja antes ou durante a corrida, São Paulo é fragmentada, impossível de ser capturada em sua totalidade. Acontece que a competição também tem esse caráter pós-moderno, por mais que acompanhemos pela televisão, por mais que vejamos mapas, simulações, imagens aéreas, é impossível dar conta do todo, temos de nos contentar com pedaços, segmentos que fazem um retrato aproximado dessa cidade tão paradoxal.

Durante a primeira parte do filme, Lina e sua câmera traçam parte do percurso no começo da manhã, com um sol ameno, ruas vazias e a calma de quem pode admirar o que há para se ver.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Sinfônica de Barra Mansa vence concurso de bandas



FOTO: DIVULGAÇÃO
Secretária de Estado de Cultura, Adriana Rattes entrega o troféu de primeiro lugar ao representante da Banda Municipal de Barra Mansa

BARRA MANSA/RIO DE JANEIRO
A Banda Sinfônica de Barra Mansa foi a grande campeã do projeto Banda Larga 2013- Programa de Atualização para Bandas de Música do Estado do Rio de Janeiro.
O projeto Banda Larga é uma realização da Secretaria de Estado de Cultura em parceria com a Associação de Amigos da Sala Cecília Meireles, e conta com a supervisão geral de João Guilherme Ripper, diretor da Sala Cecília Meireles, em colaboração com o Prof. José Maria Braga, diretor da Escola de Música Villa-Lobos. A Coordenação Pedagógica é de Carlos Belém, e a produção, da Zucca Produções. A edição de 2013 contou, mais uma vez, com o patrocínio da Petrobras, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro.
O evento, foi realizado no último fim de semana e contou com a presença de dez bandas marciais de cinco municípios do estado do Rio de Janeiro reuniram-se no palco do Teatro João Caetano. Com o objetivo de preservar as bandas e profissionalizar seus músicos, o projeto premiou a Banda Sinfônica de Barra Mansa com R$ 8 mil, pela 1ª colocação; a Banda de Música do Colégio Salesiano Santa Rosa, de Niterói, com 5 mil reais pelo 2º lugar; a Sociedade Beneficente Euterpe Friburguense, de Nova Friburgo, com 3 mil reais pelo 3º lugar; e a Banda Municipal de Itaguaí, levou o troféu de ganhadora do voto popular. 
Cada banda executou três peças: um dobrado (gênero específico para bandas), uma obra livre e a peça de confronto “Abertura para Banda”, de Ernani Aguiar, membro da Academia Brasileira de Música e professor da Escola de Música da UFRJ.  A peça foi encomendada ao compositor especialmente para a Maratona de Bandas.
Os professores que acompanharam as bandas nos cinco polos por onde o projeto Banda Larga passou este ano formaram a comissão julgadora.  Coube ao Coordenador Pedagógico Carlos Belém – que está no projeto desde a primeira edição – encabeçar a banca, que contou também com o supervisor José Maria Braga, da Escola de Música; os maestros e professores de regência Antônio Henrique Seixas e Marcelo Jardim; e o professor de sax e clarineta José Rua. Além dos jurados, houve também votação popular.
Enquanto todos aguardavam a apuração dos votos, a Banda Filarmônica do Rio de Janeiro, a convite da organização do projeto, fez um concerto especial para o público. Apresentação, aliás, mais do que especial, já que três integrantes da orquestra fizeram parte do projeto Banda Larga: o maestro Antônio Henrique Seixas, José Rua (clarineta) e Marco Túlio (sax soprano).
Além da competição, a Maratona de Bandas foi também um momento de homenagens carregadas de emoção. A Sociedade Beneficente Euterpe Friburguense, de Nova Friburgo, que completa 150 anos de existência, aproveitou para entregar a distinção de Embaixadora Sesquicentenário à Secretária de Estado de Cultura, Adriana Rattes.

Oficina de teatro infantil é concluída


FOTO: DIVULGAÇÃO
Atriz e pedagoga Kelly Oliveira coordenou projeto na Casa de Cultura

ANGRA DOS REIS
A Fundação Cultural de Angra (Cultuar), encerrou as atividades da oficina de teatro infantil realizada em seus espaço culturais neste ano. Subiram ao palco do Teatro Dr. Câmara Torres, no Centro Cultural Theophilo Massad, 23 crianças e adolescentes, que desde maio iniciaram a oficina de teatro infantil na Casa de Cultura.
Para 2014 a Cultuar espera abrir novas turmas do projeto de teatro infantil no centro e também nas comunidades distantes do centro.
Neste ano, as aulas aconteceram duas vezes por semana e reuniu crianças e adolescentes com idade entre 8 e 14 anos. Com o teatro lotado de amigos e familiares, os jovens puderam sentir o gostinho de se apresentarem para um grande público.
As aulas foram ministradas pela professora Kelly Oliveira, atriz da Angra Cia de Teatro. Durante a formatura os alunos encenaram quatro esquetes: “Aula de Inglês”, “Os mentirosos”, “Filhos de desquitados” e “Fala sério, mãe!”. Na platéia, prestigiando o evento e fazendo a entrega dos certificados, estavam o diretor da Casa de Cultura, Bruno dos Anjos, e os atores Edilene Vieira, Edvam Maria da Silva, Marlene Ponciano, entre outros.
Segundo a professora, depois de seis meses de curso as crianças estavam ansiosas para mostrar o resultado do trabalho e o talento de cada uma. “A ansiedade é natural nas crianças. Esse grupo já estava me surpreendendo ao longo do projeto, mas durante a apresentação eles foram perfeitos. Fiquei muito feliz com o resultado final”, disse a professora.

Postado em 19/12/2013 09:15:46

Inscrições abertas para cursos de pintura e desenho em Barra Mansa




A Estação das Artes de Barra Mansa está com pré-inscrições abertas para as aulas do atelier escola. O objetivo do curso é formar pessoas interessadas em produção e execução de desenhos e pinturas. Atualmente, há duas turmas em andamento: uma durante a semana, com aulas às quartas-feiras, das 14h às 16 horas; e outra aos sábados, com aula de 9h às 12 horas. De acordo com o professor Francis Marques, orientador do curso, a previsão é que mais duas turmas sejam formadas em 2014.
“Hoje nós contamos com duas turmas de vinte alunos cada e já temos, na pré-inscrição para o próximo ano, pelo menos 50 alunos interessados nas aulas. Devido a grande demanda e a possibilidade de que uma nova professora chegue para dar aulas, a tendência é que mais duas turmas sejam formadas para 2014, inclusive com aulas noturnas”, disse o professor.
Durante o curso, os alunos aprendem e aperfeiçoam técnicas de sombreamento, traços fortes, contorno, expressão e outras para profissionalização do desenhista. Para o designer Bruno Oliveira, de 21 anos, o curso tem contribuído para aprimorar suas técnicas de composição. “Desde que entrei nas aulas tenho buscado o aperfeiçoamento da arte de desenhar. Melhorei bastante minha composição e o curso está me auxiliando em outras áreas da arte, inclusive a arte digital”, disse o designer.
Para Thiago de Oliveira Silva, de 32 anos, o curso é a realização de um sonho. “Desde criança eu desenho quadrinhos, mas muitas vezes não gostava da composição dos meus desenhos. Hoje, depois de aprimorar as técnicas, vejo que o sonho de compor histórias em quadrinhos está mais perto”, revelou Thiago.
O superintendente da Fundação de Cultura, Cláudio Chiesse, afirmou que cursos como este fortalecem os talentos da cidade. “Estamos nos empenhando bastante em dar oportunidade para que as pessoas da cidade e, até mesmo da região, mostrem seus talentos. E nesse trabalho, a ideia é aprimorar suas técnicas e fazer com que lucrem através dos seus trabalhos. O Centro de Cultura Estação das Artes tem sido o espaço utilizado por nós para esse fim e o resultado tem sido bem positivo”, disse Chiesse.
Os cursos de desenho são gratuitos. Os interessados podem se inscrever no Centro de Cultura Estação das Artes, na Rua Orozimbo Ribeiro, no Centro. Podem participar crianças, adolescentes e adultos de ambos os sexos.  Maiores informações podem ser obtidas pelo telefone (24) 3323-0496.

Arte que renova

Objetos são confeccionados com palitos de picolé, retalhos de tecido, sobras de lã e caixa de leite
Transformando em arte: Objetos são confeccionados com palitos de picolé, retalhos de tecido, sobras de lã e caixa de leite

Franciele Bueno
franciele.bueno@diariodovale.com.br 


"Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo. É renovar as esperanças na vida e o mais importante... Acreditar em você de novo" (Paulo Roberto Gaefke).
A segunda exposição de artesanato dos detentos da Casa de Custódia de Volta Redonda é resultado do trabalho voluntário da professora Clara Fernandes, que realiza há sete anos o projeto Reciclar-te, com os detentos da Casa de Custódia Doutor Franz de Castro Holzwarth. A mostra, que pode ser conferida no Espaço das Artes Zélia Arbex, teve início no dia 13 dezembro e pode ser vista até o dia 5 de janeiro, das 10h às 19h. Até o momento, mais de 500 pessoas já passaram pelo local. E se você gostar de alguma peça, uma boa notícia: os objetos da exposição estão à venda.
A professora semanalmente visita os detentos e leva todo o material de artesanato. Clara utiliza palitos de picolé, pregador de roupa, retalhos de tecido, sobras de lã, linha, caixa de leite, tampinhas diversas, papel crepom e outros materiais recicláveis. Segundo ela, os presos participam ativamente e gostam muito das atividades, pois ocupam seu tempo.
- Desde que iniciei este projeto, todos os presos me tratam com muito respeito e carinho. Toda semana eu vou até eles e realizo as atividades de artesanato na quadra da prisão. Atualmente, temos 100 mesas para realizarmos os trabalhos - fala.
A professora Clara conta que as atividades são realizadas em sistema de rodízio, pois há 300 presos na Casa de Custódia. Ela atende a cada semana uma cela diferente, e comenta que, durante a confecção dos objetos, sempre tem um detendo que domina mais o jeito de fazer o trabalho.
- Existe muita solidariedade entre eles, um acaba ajudando o outro no manuseio das peças. Alguns já dominam a prática e eu nem preciso ensinar muita coisa. O que me chama a atenção é a solidariedade que existe entre eles. Aquele que sabe mais está sempre disposto a ajudar o outro - diz.
A professora conta que a motivação dos presos é a família. Quando os detentos terminam uma peça, seja ela qual for, a primeira coisa que fazem é presentear seus familiares durante as visitas.
Clara revela que durante as visitas é muito raro ver algum preso ou familiar chorando, a alegria é sempre constante neste momento. Os familiares ficam muito felizes ao receber o artesanato de presente. De acordo com a professora, essa atividade ajuda muito os detentos, principalmente na melhoria de sua autoestima.
- A atividade ajuda muito os presos. Eles ocupam seu tempo, sua mente e melhora a autoestima, eles se descobrem, muitos não sabiam que tinham talento para desenvolver trabalhos tão bonitos - salienta.
Mesmo desenvolvendo um trabalho voluntário com compaixão ao ser humano, Clara recebe muitas críticas.
- Constantemente eu recebo críticas, muitas pessoas me condenam, pois pensam que os detentos não devem ser ajudados, não merecem. Muitos me falam que eles devem ser punidos até o fim. Mas, para mim, eles precisam ser resgatados, recuperados para saírem da prisão melhores. Hoje eles estão detidos, amanhã estarão entre nós - ressalta.

Começo 
Clara Fernandes iniciou o projeto Reciclar-te em 2006, com ao apoio da secretaria municipal de Ação Social (Smac). Ela resolveu dedicar todo o seu tempo para ajudar outras pessoas, depois da perda de seu esposo.
- Quando fiquei viúva, me senti sozinha e tive medo de entrar em depressão, então, resolvi ocupar meu tempo, foi a partir daí, que iniciei este trabalho me dedicando a outras pessoas que precisam de atenção - conta.
Quando Clara Fernandes visitou pela primeira vez a Casa de Custódia, recebeu de um preso uma flor.
- Quando fui pela primeira vez a Casa de Custódia, quando eu estava passando pela cela, um preso me estendeu a mão e me deu uma flor. Percebi naquele momento, que era aquele lugar que eu precisava ajudar, levando atenção e carinho para aqueles detentos - relembra.
A professora pretende continuar com o trabalho, porém, irá diminuir o ritmo.
- Quero continuar sim, mas pretendo diminuir o ritmo deste trabalho. Já estou com 69 anos e preciso ir mais devagar. Vou seguir com o projeto, mas vou fazer algumas adaptações, pretendo trabalhar com pequenos grupos da Casa de Custódia - fala.


Serviço


A segunda exposição de artesanato dos detentos da Casa de Custódia de Volta Redonda pode ser conferida até dia 5 de janeiro de 2014, das 10h às 19h, no Espaço das Artes Zélia Arbex, na Vila Santa Cecília, em Volta Redonda. Informações pelo telefone (24) 3350-8586.


Leia mais: http://diariodovale.uol.com.br/noticias/3,82980,Arte-que-renova.html#ixzz2obGxOdQr

Em novela, Globo deturpa informações sobre conflito na Palestina

Minha ressaca pós-Natal foi interrompida pelo orientalismo. Pois bem, agora toma... Dançando o dabkeh na cara da Globo!


Por Moça, você é orientalista*





Eu não tinha a menor ideia de que houvesse uma judia e um palestino na novela das 9 (e ainda não entendi o que eles foram fazer no Rio, se o resto dos brimos estão em SP), mas graças a eles, a Moçx, você é orientalista dedica à Rede Globo o prêmio Orientalista 2013. 

O pouco que consegui ler sobre as personagens e a revelação bombástica (trocadilhos infames) de que o palestino havia sido um terrorista (?) me levou a identificar três graves e recorrentes problemas:

1) Reforçar estereótipos: todo árabe é ou já foi um terrorista (e as causas para tal decisão são ignoradas, dando a entender que a violência faz parte desse povo)

2) Equiparar a violência do opressor com a resistência do oprimido: a violência só é admitida para “manter a ordem”, ou seja, para preservar a atual estrutura da sociedade e o privilégio dos poderosos. 

3) Impedir o acesso à informação: mostrar a questão da Palestina como um conflito sem causa e sem fim, fruto das mais completa falta de civilidade de um povo atrasado. 

A ideia da Globo não é esclarecer a questão: parecem, inclusive, desconhecerem o assunto. Mencionam várias vezes sobre a guerra da Palestina, enquanto na verdade o país se vê oprimido por um duro sistema de colonização, ocupação e apartheid. Logo, se ninguém sabe nada sobre o assunto, vamos fazer o que sabemos fazer de melhor: um romance proibido água com açúcar.

Para a Globo, a questão da Palestina baseia-se em uma confusão étnico-religiosa entre judeus e palestinos, generalizando e descaracterizando esse povo, ignorando, inclusive, que palestinos possam ser judeus, como o mano Jesus. Ou seja, a melhor forma de solucionar o conflito é através do amor e da não-violência (lindo sqn). Cometem o descalabro de dizer que judeus e palestinos podem se casar em Israel, o que é proibido pela Lei da Cidadania, que pune o cônjuge judeu com a perda de sua cidadania israelense. Pérsio diz ter lutado na guerra da Palestina: mas que guerra? Primeira ou Segunda Intifada? Setembro Negro? Yom Kippur? Revoltas de 36? De que cazzo você está falando, manolo? Também diz ter participado de uma célula terrorista, mas não menciona o grupo e nem quais eram suas atividades, o que faz com que qualquer ato de resistência possa ser enquadrado enquanto terrorista. Afinal, o que é e quem decide o que é terrorismo?

A definição oficial de terrorismo é: uso da violência física ou psicológica, através de ataques localizados, com o intuito de incutir o medo na população. Esse método já foi aplicado tanto por grupos de esquerda quanto de direita. Porém, na prática, qualquer atitude que desagrada a ideologia dominante costuma ser enquadrada enquanto uma prática terrorista, fazendo que atirar pedras em um tanque seja igual a um ataque suicida. Não se trata de uma ode à violência ou achar que toda forma de resistência é válida, mas quem decide e reavalia os meios de luta são os oprimidos. Outro fator oportuno é o silêncio a respeito do terrorismo de Estado, sobre a mão de ferro com que governos reprimem seus dissidentes para garantir a tal da governabilidade. Logo, se não sabemos o ataque cotidiano que um povo sofre na mira de um governo ou regime, não seremos solidários quando esses se levantarem com as ferramentas que tem nas mãos, sejam elas pedra, paus, câmeras ou kalashnikova.

É um crime negar à população o direito à informação. Pior, estimular a banalização de preconceitos como a arabofobia e islamofobia. O medo todo é que, uma exposição sincera dos fatos poderia trazer simpatia ao povo palestino e nenhum grande meio de comunicação quer isso, afinal, eles são bancados pela classe dominante para espalharem suas ilusões na classe trabalhadora. É verdade que a internet democratizou a disseminação de conteúdo, mas ainda é pouco e muito marginal. 

Considerando que as televisões no Brasil funcionam a base de concessão pública, a tv pertence ao povo e não às empresas que se apropriam dos canais. Num primeiro momento a vontade que dá é de tocar fogo na Globo, mas isso é ingênuo. O que seria bonito mesmo era que a classe trabalhadora e os oprimidos pudessem se ver na tv, que o alvo das piadas fossem os banqueiros e os barões, não as mulheres, os negros e os homossexuais. Taí, certo mesmo era a Globo na mão dos trabalhadores! 

A página Moçx, você é orientalista deseja a todos muita serenidade e vontade de romper com preconceitos, para conquistarmos em 2014 tudo que ainda ficou entalado na garganta. Para muito além de línguas, religião ou posição geográfica, a divisão mais profunda e irreconciliável que existe é a da burguesia e a classe trabalhadora. E você? De que lado você samba? 

*Página no Facebook


Prêmio de estímulo ao circo vai liberar R$ 10 milhões

O edital do Prêmio Funarte Carequinha de Estímulo ao Circo 2013 foi lançado dia 19 de dezembro, pela ministra da Cultura, Marta Suplicy, e pelo presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), Guti Fraga.


 
 Projeto circense.
Nesta edição de 2013, os projetos circenses receberão R$ 10 milhões, que representam R$ 4 milhões a mais do que o ministério investiu no ano passado. O número de prêmios também aumentou. Agora serão 200, enquanto em 2012 foram 159. Serão seis as categorias contempladas: Circos de Lona; Números; Espetáculos; Formação; Residência Artística e Pesquisa.

Durante a cerimônia, na Sala Sidney Miller, no Palácio Gustavo Capanema, no centro do Rio, a ministra disse que o edital foi modificado para permitir o uso do vale-cultura por trabalhadores. Ela explicou que, em cidades onde não há teatros e cinemas, os circos podem também promover apresentações incluindo essas manifestações artísticas.

“O circo tem uma alma muito brasileira. O circo vai chegar nesses lugares mais distantes. E ele vai possibilitar levar cultura nesses recôncavos, onde as pessoas têm muita dificuldade. A gente já percebeu que a fome de conhecimento é muito grande”, destacou.

A presidente da Cooperativa Brasileira de Circo, Bel Toledo, presente no lançamento do prêmio, deu a sugestão para a ministra sobre o uso do vale-cultura pelos circos. Segundo ela, além de dar uma força para o setor, o esquema vai incentivar as produções locais.

“A gente vai com o circo para a cidade e recebe outros grupos de música, teatro e dança da região. A gente passa a ser um espaço cênico para receber, e não é só um espetáculo de circo. Por exemplo, eu sou de São Paulo e vou com a minha lona para o Amapá. Isso vai fomentar as atividades, não só a circense. Em muitas comunidades o primeiro contato com a atividade cultural é com o circo”, explicou, ressaltando que o pessoal do circo vai se envolver com as outras manifestações artísticas.

Para a ministra, o vale-cultura, que já começou a ser distribuído, “vai bombar no ano que vem”. Ela comentou que com a ligação com o circo o setor consegue um apoio para se desenvolver no país. “Acho muito importante o circo fazer esse trabalho de capilaridade. O circo, se você não ajuda, ele está em um processo difícil, porque as cidades muitas vezes não acolhem o circo, dizem que não têm espaço e têm preconceito contra o circo. O circo é vida, é tão real. Para a criança é sonho”, ressaltou.

Guti Fraga concordou com a ministra sobre o uso do vale-cultura. “Vai bombar. Se levar um circo para uma cidade à beira de uma fábrica, todo mundo que tem vale-cultura vai para lá. Em cidades que não têm nada, com a chegada do circo, é a possibilidade de gastar o vale. É um passo legal este que estamos vivendo”, disse o presidente da Funarte. 

Após a publicação do edital no Diário Oficial da União, os interessados em concorrer ao Prêmio Funarte Carequinha de Estímulo ao Circo 2013 terão o prazo de 45 dias para se inscreverem. Mais informações sobre o edital pode encontrar no endereço eletrônico: circo.funarte@gmail.com ou ligar para o telefone (21) 2279-8034.

De acordo com dados da Funarte, nos últimos quatro anos, 250 lonas de circos pequenos e médios foram trocadas em diversas partes do país. No mesmo período, foram feitos 40 trabalhos na área de pesquisa.

O palhaço Carequinha, um dos mais conhecidos do Brasil, que dá nome ao prêmio, morreu em 2006, aos 90 anos. No fim do discurso de lançamento do concurso, Marta Suplicy homenageou o palhaço com um "viva Carequinha".

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Faleceu o projecionista que inspirou o filme “Cinema Paradiso”

Aos 92 anos, o projecionista italiano Mimo Pintacuda faleceu em sua casa na Sicília. Ele serviu de inspiração para o personagem Alfredo do filme Cinema Paradiso de Giuseppe Tornatore.




Assim como no filme, onde Alfredo ensina o pequeno Toto a magia de um projetor de cinema, se passou na vida real com Pintacuda e Tornatore. Pintacuda trabalhava em um cinema na cidade de Bagheria, onde o cineasta nasceu e aprendeu a operar seu prieiro projetor de cinema. 

Pintacuda reconhecia ser a inspiração para o filme e guardava um álbum de fotos do pequeno Tornatore. Ao longo da vida, ele montou uma coleção de 13 mil fotogramas do cinema italiano, hoje no Arquivo Fratello Alinar, em Florença. A presença de Tornatore era esperada no velório de Pintacuda, marcado para esta segunda-feira (23).

Com agências

Mostra na capital paulista reúne ilustrações de livros infantis

A Mostra de Arte Contemporânea em Literatura Infantil leva à capital paulista 70 trabalhos que ilustram livros de vários autores. Entre eles, 28 obras da série Telefone sem fio, de 2011.


 
 Mostra na capital paulista reúne ilustrações de livros infantis
A Caixa Cultural apresenta a 1ª Mostra de Arte Contemporânea em Literatura Infantil, uma exposição com obras que ilustram livros de literatura voltados para as crianças, mas que vão além dessa função pelo diálogo proposto com a arte contemporânea e pela comunicação com públicos como o jovem e adulto, além do infantil. Esta mostra conta com a curadoria de Aline Pereira, Favish Tubenchlak e Flavia Corpas.

O trabalho dos artistas visuais brasileiros Favish Tubenchlak, Renato Moriconi e do associado da SIB Fernando Vilela, somado ao da argentina Juliana Bollini, da israelense Ofra Amit e do americano John Parra resultam neste conjunto de mais de 70 obras nas mais variadas técnicas, indo da xilogravura ao desenho digital. A trilha original composta por Rubens Tubenchlak permeia todo o espaço expositivo da mostra e faz com que os visitantes viajem nas histórias contadas em cada série de ilustrações.

As técnicas utilizadas são variadas (acrílica sobre tela ou placa de ilustração, óleo sobre madeira, xilogravura, fotografia, escultura e desenho digital) na busca por procedimentos, materiais e poéticas próprias. Por vezes o artista se utiliza de mais de uma dessas técnicas para chegar ao produto final, o que, sem dúvida, é uma das características da arte contemporânea. O resultado pode ser uma belíssima impressão em fine art, uma escultura ou uma pintura original.

Fonte: SIB


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Em entrevista exclusiva, Ariano Suassuna diz que fez 'pacto com Deus' para terminar seu livro

Na tarde/noite daquele dia, quase quatro meses depois de sofrer um infarto (agora ele revela terem sido dois) e tratar um aneurisma cerebral, o escritor e dramaturgo recebeu a Folha em sua casa no Recife para uma entrevista exclusiva, a primeira depois de duas internações e do repouso forçado.



"Mexeu com o físico, mas com a cabeça não buliu não. Se você quiser, recito todinho o episódio de Inês de Castro, de 'Os Lusíadas'", brincou Ariano Suassuna, 86, na última terça-feira.
Fazia alusão ao copioso trecho do clássico português, mas deu várias outras provas de que falava a verdade.
Na tarde/noite daquele dia, quase quatro meses depois de sofrer um infarto (agora ele revela terem sido dois) e tratar um aneurisma cerebral, o escritor e dramaturgo recebeu a Folha em sua casa no Recife para uma entrevista exclusiva, a primeira depois de duas internações e do repouso forçado.
Dizendo-se cansado, optou por falar deitado em sua cama. Acabara de posar para fotos e na véspera retomara suas aulas-espetáculos com um tributo ao compositor Capiba, uma palestra intercalada por shows de música e dança que durou 1h45min.
Mais magro que o habitual e aparentemente mais fraco (recusou o lanche que lhe chegou, uma fatia de bolo e água de coco), mantém, porém, a cabeça a mil. Em uma hora de entrevista, não perdeu em nenhum momento a lucidez ou a argúcia.
Recitou de memória versos inéditos de sua autoria que estarão no romance em que trabalha há 33 anos e cujo primeiro volume, após seguidos adiamentos, ele diz ter enfim concluído, sob pressão dos problemas de saúde.
 Leo Caldas/Folhapress 
O escritor e dramaturgo Ariano Suassuna em sua casa, no Recife
O escritor e dramaturgo Ariano Suassuna em sua casa, no Recife
Para pôr fim ao primeiro livro daquela que considera a obra de sua vida -e que deverá ter sete volumes, mesclando romance, poesia, teatro e gravura-, Ariano afirma ter tido uma ajuda divina.
"Fiz um pacto com Deus: se ele achasse que o romance tinha alguma coisa de sacrílego ou de desrespeitoso, que interrompesse pela morte."
A obra concluída -ainda sem previsão de lançamento- será um romance epistolar, chamado "O Jumento Sedutor", homenagem a "O Asno de Ouro", do escritor Lucius Apuleio, do século 2. A série completa levará o nome de "A Ilumiara".
O autor de "Romance da Pedra do Reino" e "O Auto da Compadecida" falou ainda sobre morte e a aversão que sentiu da UTI e de política.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
*
Folha - O sr. enfrentou problemas graves de saúde, acaba de pular uma fogueira braba...
Ariano Suassuna - [interrompendo] Na verdade eu pulei três fogueiras: eu tive dois infartes e um aneurisma estourou no meu cérebro.
Foram dois infartos, então?
Foram.
Pois é, e depois de quase quatro meses entre internações e repouso, o sr. retomou as atividades públicas ontem numa aula-espetáculo. Como se sente?
Eu fazia muita questão de dar essa aula. Eu disse para mim mesmo que só não dava a aula se não tivesse a menor condição. E queria avaliar minhas forças, para saber se podia continuar, dentro desse pequeno prazo que a gente ainda tem [no mandato de Eduardo Campos, que deixará o cargo até abril para disputar a Presidência], podia continuar a programação que a gente vinha seguindo [de aulas-espetáculos]. Combinei que a gente faria essa no Recife e, de acordo com o comportamento do meu corpo, a gente daria outra em Pombos [agreste de PE].
Deu para avaliar como o corpo reagiu?
Deu. Dá para ir, senti que dá para retomar num ritmo mais leve.
O sr anda falando muito o nome da Caetana, que é como o sr chama a morte. De onde vem esse nome?
No sertão da Paraíba e de Pernambuco chamam a morte de Caetana.
Que é uma moça, mas pode ser também uma onça...
Não, isso aí [de ser onça] já foi invenção minha. Eu aproveitei e comecei a recriar literariamente um mito que foi criado pelo povo. Como o povo sertanejo é machista, só criou a morte feminina. Aí eu, de minha parte, já inventei a contrapartida masculina. Eu acho que a morte aparece como mulher aos homens e como homem às mulheres.
E com que nome?
Caetano.
O sr. já disse que se recusava a morrer e que toda morte é como um suicídio. Como essa experiência afetou o modo com que o sr. lida com ela?
Não afetou não. É claro que, objetivamente, eu sei que vou morrer. Não sei se você já notou, mas nenhum de nós acredita que morre, o que é uma bênção. A gente se porta a vida toda como se nunca fosse morrer, o que é muito bom. Porque se a gente for pensar na morte como uma coisa fundamental, inevitável e próxima, a gente vai perder o gosto de viver, vai perder o gosto de tudo. Eu digo isso procurando verbalizar uma inclinação que acho que é de todo mundo. A gente tem uma tendência a acreditar que não morre.
[Pensar que vai morrer] prejudica um pouco a qualidade de vida, e eu sou um apaixonado pela vida, amo profundamente a vida. Olhe que essa maldita tem me maltratado, mas eu gosto dela.
No "Romance da Pedra do Reino", Quaderna tem um sonho no qual a Caetana [a morte] como que dita para ele palavras de fogo. O sr. teve algum sonho ou alucinação durante este período?
Não. Ordinariamente não tenho... Às vezes eu tenho uns sonhos que se transformam em literatura. Tenho um poema chamado "Sonho" que foi um sonho. E às vezes quando não estou acordado ainda, mas não estou mais dormindo, é o momento em que invento muita coisa, muito criativo.
Essa experiência mudou alguma coisa no seu jeito de perceber o mundo e as pessoas?
Não. Poucos dias antes de adoecer eu dei uma entrevista em que me perguntaram se eu tinha medo da morte. E eu disse: eu não gosto de contar valentia antecipada, acho que a gente só pode dizer que não tem medo de alguma coisa depois de enfrentá-la. Agora, até onde eu vejo, eu não tenho medo da morte. Eu tenho pena de morrer sem ter realizado certas coisas. Por exemplo: se visse que não dava para terminar o romance que escrevo, aí teria muito pena de morrer.
Engraçado, quando eu estava lá [no hospital] nos primeiros momentos, que descobri que tinha tido um infarto –fui saber disso no hospital– eu me agoniei muito porque tinha deixado o manuscrito aqui [em casa]. Eu disse: preciso conversar com Carlos Newton [Junior, professor universitário, especialista na obra do escritor], dizer a ele como era, para levar adiante [o livro].
Primeiro eu dividi o livro grande em vários livros. Cada capítulo do livro é escrito em forma de cartas, sob certo aspecto é um romance epistolar, e toda carta termina do mesmo jeito. Porque eu digo lá que fiz um pacto com Deus, e fiz mesmo: se ele achasse que o romance tinha alguma coisa de sacrílego ou de desrespeitoso, que interrompesse pela morte –coisa com a qual desde agora eu me declaro de acordo. Meu acordo não vale nada num caso desse, mas por outro lado tem uma vantagem. É que eu dou ideia da minha conformidade e da minha resignação e tô conseguindo, com a minha megalomania, um parceiro extraordinário.
O primeiro volume são seis cartas, todas seis terminam do mesmo jeito, com as mesmas palavras.
Qual é o jeito, quais são as palavras?
[uma assessora afirma: "Não diga o que não puder dizer"] A gente tem uma tendência a responder a verdade, né? É uma tentação desgraçada. Bom, todas terminam com um verso, um martelo gabinete e um martelo agalopado [martelos são formas poéticas usadas pelos cantadores nordestinos]. O martelo gabinete é um martelo de seis versos de dez sílabas, e o martelo agalopado são dez versos de dez sílabas.
Deixa eu ver se me lembro do martelo. Diz assim: "O circo, sua estrada e o sol de fogo/ Ferido pela faca na passagem/ meu coração suspira sua dor/ entre os cardos e as pedras da pastagem./ O galope do sonho, o riso doido/ e late o cão por trás desta viagem".
E o martelo agalopado diz: "Pois é assim: meu circo pela estrada/ Dois emblemas me servem de estandarte/ No sertão, o arraial do bacamarte/ Na cidade, a favela consagrada/ Dentro do circo há vida, onça malhada/ Ao luzir do teatro o pelo belo transforma-se num sonho, palco e prelo/ e é ao som deste canto na garganta que a cortina do circo se levanta para mostrar meu povo e seu castelo".
Então se eu morrer o romance está terminado. E para justificar isso eu cito uns versos de Fernando Pessoa dos quais eu gosto muito. Ele fala do navegador que descia a costa da África à procura do caminho das Índias e, quando ele parava em algum lugar na costa da África, plantava um marco. Ele diz: "O esforço é grande e o homem é pequeno/ Eu, Diogo Cão, navegador, deixei/ Este padrão ao pé do areal moreno/ E para diante naveguei./ A alma é divina, a obra é imperfeita./ Este padrão sinala ao vento e aos céus/ Que, da obra ousada, é minha a parte feita:/ O por-fazer é só com Deus".
O sr. já deu por encerrado o trabalho várias vezes, mas sempre o retomou. Os acontecimentos recentes forçaram o sr a finalmente encerrar pra valer?
Forçaram. Eu me forcei a dar o ponto. Mas repare bem: mesmo assim, só há poucos dias eu tomei a decisão definitiva. Primeiro, eu, com medo por causa do infarto, decidi que publicaria as duas primeiras cartas. Depois do infarto, já em casa, resolvi que dava para juntar mais duas, quatro. Depois mais duas, seis. O primeiro volume está concluído.
O nome do primeiro volume, "O Jumento Sedutor", está mantido?
Está mantido. O nome geral é "A Ilumiara".
Serão cinco volumes?
Eu acho que são sete. Mas o por-fazer é só com Deus.
Numa entrevista que me deu há dez anos, o sr. contou que o protagonista do livro se chama Antero Savedra, e o antagonista é Quaderna [da "Pedra do Reino"]. Isso está mantido?
Está mantido, mas o negócio ficou mais complexo, porque Antero Savedra desdobrou-se. Fiz de Antero Savedra um alter ego mais próximo de mim, e criei uma outra máscara chamada... Porque o nome Antero é muito importante... São quatro irmãos: Altino, Auro (ou Áureo), Adriel e Antero. Altino é poeta; Áureo é romancista; Adriel é dramaturgo; e Antero é encenador e ator. Antero diz que tem um parentesco com Orestes e Hamlet, ambos filhos de reis assassinados. Ele cita inclusive uma frase de Hamlet, que diz: "Sou arrogante, vingativo, ambicioso; tenho mais crimes na consciência do que [pensamentos para concebê-los, imaginação para desenvolvê-los,] tempo para executá-los".
Então ele procura um alter ego mais manso, mais conciliador, capaz de perdoar os inimigos. Ele diz uma hora que tem mais facilidade de rezar a Ave Maria do que o Pai Nosso, porque no Pai Nosso se diz "perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos...".
Agora, o nome dele de verdade é Paulo Antero. Aí ele assina os primeiros versos P. Antero Shabino.
E o Savedra não tem mais?
Tem, a família é Shabino de Savedra, todos os dois escritos com s. Paulo Antero Shabino, e ele assina P. Antero Shabino. Os inimigos começam a chamá-lo de Pantero, depois Dom Pantero. Ele aí adota o nome. Quando cria o outro alter ego é Dom Pantero.
"A Ilumiara" tem dois nomes [subtítulos]: "A Ilumiara - Autobiografia musical, dançarina, teatral, poética e videocinematográfica". Na página seguinte tem: "A Ilumiara - Romance musical, dançarino, teatral, poético e videocinematográfica."
E tem uma epígrafe de um professor daqui, que foi meu aluno e de quem eu gosto muito –Roberto Motta, filho de Mauro Motta–, ele escreveu um dia num artigo de jornal: "Todos os livros são autobiografias. Mas ele conhece os segredos das máscaras com que nos defendemos da morte".
Esse primeiro volume já pode ser lançado em breve?
Ainda vai depender. Eu terminei meu texto. Mas ele está grande, em folhas de tamanho ofício. Precisa ser reduzido para o tamanho do livro. As ilustrações eu fiz, já estão prontas. Tem muita ilustração baseada em pintura rupestre. Porque eu quero pegar a cultura brasileira desde o começo mesmo, mostrar que isso aqui não envelhece não. Uma obra de arte está feita para ser reinterpretada, revista, revisada. E também me baseei muito em desenhos barrocos.
Os outros volumes vão todos seguir a forma epistolar?
Vão.
O sr. vai incluir essa fogueira que pulou?
Vou. Mas não nesse primeiro volume. E vou incluir uma coisa que foi muito importante para mim e aconteceu ao mesmo tempo [da internação]: a morte de [Gilvan] Samico [gravurista pernambucano morto em novembro]. Considero Samico um artista de importância mundial. Para mim não há em nenhum lugar do mundo –Alemanha, França, Rússia, Estados Unidos, Inglaterra– um gravador como ele. Para mim foi o gravador de nossa época, no mundo inteiro.
Do ponto de vista formal ele é incomparável. Pela importância dele para o nosso tempo e o nosso país... Ele significa para o Brasil o que Goya significa para a Espanha e Dürer para a Alemanha.
O sr. incluirá figuras públicas entre os personagens do romance?
De certa maneira sim. Não são personagens propriamente, faço alusões. Tem um momento em que escolhi sete pessoas importantes do Brasil: um arquiteto negro e analfabeto do Estado do Rio de Janeiro chamado Gabriel Joaquim dos Santos, por quem tenho grande admiração, é o autor da Casa da Flor. Escolhi Villa-Lobos, e sai por aí...
Do que mais sentiu falta na internação. Conseguiu ler e escrever?
Olhe, um dos piores lugares do mundo é a tal da UTI. Vixe, nossa senhora, que lugar horroroso. A pessoa não tem privacidade para coisa nenhuma, uma coisa horrível. Não tem autonomia, é ruim demais. Ficar no hospital no quarto eu até não reclamo muito não. Mas a tal da UTI... Minha atividade nesse período foi zero.
O sr. tem uma ótima memória, que já definiu como "memória de cachorro vingativo". Ela está intacta?
Está, mexeu com o físico, mas com a cabeça não buliu não –a cabeça está boa. Se você quiser eu recito o episódio de Inês de castro, de "Os Lusíadas", todinho [risos].
O sr. sempre apoiou Lula e Dilma e sempre apoiou também Eduardo Campos. Mas em 2014 eles serão adversários. O sr já declarou apoio a Campos. Isso significa rompimento com Lula e Dilma?
Vejo as coisas muito individualmente. Não simpatizo muito com o PT. Nunca dei declaração [de apoio ao PT], senão no começo [do partido], quando eu dizia que os partidos precisavam ter alguma coisa das antigas ordens religiosas, e o único que eu via nessa linha era o PT. Nesse tempo o dr [Miguel] Arraes não tinha entrado no PSB –o PSB era uma academia de letras, não tinha eficácia política nenhuma. Quando dr. Arraes veio me procurar, eu disse a ele que entrasse no PSB. Ele disse que precisava fazer coligação e que entraria no PMDB. Agora, quando ele entrou no PSB, aí eu entrei –nunca tinha entrado num partido político.
Então eu sempre faço uma diferença. Lula é Lula. Não faço restrição nenhuma a Lula, continuo um entusiasta dele, do mesmo jeito que fui quando ele era presidente. Agora, pelo meu gosto, Lula apoiaria Eduardo. Nem houve rompimento com Dilma, gosto muito dela também, mas meu relacionamento com ela é menos fraterno do que com Lula.
Acredita que há chance concreta de Eduardo Campos ser eleito presidente?
Isso eu não sei não. Vou fazer como Capiba [compositor pernambucano morto em 1997]. Ele era torcedor fanático do Santa Cruz, e ia haver um jogo muito importante do Santa Cruz no domingo. Um jornalista telefonou a ele pedindo opinião sobre o jogo. Ele deu várias opiniões, até que o jornalista perguntou: "E qual vai ser o placar?". Aí ele disse: "Me telefone segunda-feira". Me telefone no dia seguinte à eleição que eu digo.
O sr. costuma dizer que conhece Eduardo Campos desde menino, que foi amigo do pai e do avô dele. Trata-se de um apoio mais afetivo que político?
Não, veja bem, eu digo isso realmente, e é verdade: Dudu foi companheiro de infância de meus filhos, morava aí na frente [numa casa defronte à do escritor], vivia aqui em casa. Então tinha uma relação afetiva com ele de um tio para um sobrinho. E ainda mais ele casou-se com uma sobrinha de Zélia [mulher de Suassuna].
Mas eu digo, e realmente é: considero Eduardo Campos o político mais brilhante que já conheci. Ele é de uma capacidade de articulação que você não pode imaginar. Outra coisa: é paciente, é obstinado. Ele tem todas as qualidades de um político. Eu digo sempre: um político tem que ser astucioso, principalmente se ele for boa pessoa. Porque senão ele cai –não faz safadeza, mas cai na mão dos que fazem.
Há críticas ao fato de ele se utilizar dos mesmos métodos que critica. Fez campanha pra eleger a mãe para o TCU, formou uma coalizão de 14 partidos, com aliados como Inocêncio Oliveira e Severino Cavalcanti. Com o sr. vê essas críticas?
Entram por um ouvido e saem pelo outro. Isso é uma necessidade da ação política. Achei até muita graça quando Inocêncio Oliveira o apoiou. Estava todo mundo cortejando o apoio de Inocêncio, o PT, todo mundo. Quando ele apoiou Dudu, vieram dizer que ele aceitou o apoio de Inocêncio Oliveira. Política é assim mesmo. Eu é que não gosto de fazer esse tipo de coisa nunca entrei na política e nunca entrarei.
E como avalia a gestão Dilma?
Não sou homem político, sou um escritor que tem preocupações políticas, com meu país e com meu povo. Eu gostava mais do governo de Lula. Tô gostando do governo de Dilma. Entre Dilma e o PSDB, prefiro Dilma. Mas entre Dilma e Lula, prefiro Lula.
O sr. é bacharel em direito, foi advogado, nos principais livros do sr há julgamentos. Como o sr. viu o julgamento do mensalão no Supremo? O que achou do resultado?
Aquilo foi uma coisa triste. O que acho triste ali é que de repente houve uma crispação desse problema. Não tenho elemento pra provar nem ninguém tem, mas a gente sabe que isso não foi inaugurado naquele momento. Essas práticas existiam em todos os governos e tem havido até agora. Se você não fizer isso você não governa. Tem que questionar a própria existência do Congresso. É bom que exista o Congresso? Eu acho que é. Agora, no Congresso existe esse tipo de coisa? Existe e vai continuar existindo.
A compra de apoio político?
Sim. Sim. Todo mundo sabe que essa ideia de dois mandatos não foi obtida de graça não.
O sr. se refere ao esquema de compra de votos no Congresso para aprovar a emenda da reeleição durante o governo Fernando Henrique Cardoso [revelado pela Folha em 1997, mas nunca investigado]...
Sim.
O sr. é um homem muito religioso, católico devoto de vários santos. Qual avaliação faz do novo papa, Francisco, dos primeiros passos do pontificado dele?
Ah, eu estou entusiasmado com esse papa. Logo no início. Só o fato de ele ter escolhido o nome de Francisco, vi logo que ele era alguma coisa de novo. Era o que a Igreja estava precisando. Estou entusiasmadíssimo. Eu de certa maneira acompanhei, porque um grande amigo meu foi para lá fazer a cobertura, que é Gerson Camarotti [comentarista e repórter do canal Globo News], e conversei muito com Gerson. Até fiz uma introduçãozinha para o livro dele ["Segredos do Conclave", Geração Editorial, 304 págs., R$ 34,90].
Olhe, ele foi o primeiro papa jesuíta, o primeiro chamado Francisco e o primeiro papa latino-americano. Três novidades de uma vez.
Folha